Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1) escrita por scararmst


Capítulo 13
Separação


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa o atraso kkkkk Eu acabei ontem muito tarde e não deu para esperar a betagem
Então tá aí, segunda de manhã para vocês
Espero que gostem :D



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21 de julho de 1988

Harry não estava mesmo brincando, Rony percebeu, dias depois. Ao chegar na casa do amigo, com malas prontas para um bom tempo, imaginou que Harry o deixaria ali por um dia ou dois em observação e depois mandá-lo embora. Mas não era bem isso, e percebia agora. Já fazia quatro dias, e o jovem sequer tinha ideia de onde o amigo havia escondido sua varinha.

Ele suspirou à mesa do café, bebericando o chá servido a ele por Monstro. Harry estava lendo o Profeta Diário, e a imagem parecia demais com seu pai, Rony pensou. Estavam mesmo ficando tão velhos assim?

Pigarreou. Tentaria mais uma vez, mesmo tendo quase certeza de que não obteria uma resposta diferente. Por que teria? Não era como se algo tivesse mudado nos últimos quatro dias.

— Harry, eu quero a minha varinha.

O amigo abaixou o jornal, olhando para Rony.

— Vai conversar comigo dessa vez?

— Não.

— Ótimo. Sem varinha então — respondeu, voltando a ler o jornal.

Rony bufou. E mais essa agora, conversar? Que coisa mais ridícula!

— Você não tem o direito de apreender minha varinha desse jeito! Virou o quê agora, meu pai?

— Não. Seu chefe. 

Harry colocou o jornal de lado de vez. O amigo se inclinou sobre a mesa, pegando um pão para si e parecendo pensar. Rony não queria mais pensamentos ou resmungos incoerentes. Queria a droga da varinha e o direito de ir embora para casa. Mas nem isso podia, afinal, Harry tinha falado com sua mãe, e Molly tinha sido categórica na resposta: “Pois então ele vai ficar aí pelo tempo que for necessário, e se tentar voltar antes da hora eu mesma o arrasto de volta”.

E para completar, ainda vinha usar a carta do “chefe” para cima dele. Soava demais com a baboseira de “O Eleito” do sexto ano, e Rony ainda tinha uma raiva considerável daquela época. Tinha raiva de bastante coisa, parando para pensar.

— Rony, você precisa resolver isso. Esses seus rompantes de violência podem ser perigosos. Você sempre foi muito impulsivo, mas agora está ficando ridículo. A guerra acabou. Você precisa entender isso, e relaxar. É sério.

— Beleza. Me dê minha varinha e eu vou fazer uns feitiços de relaxamento.

Harry negou com a cabeça. Ele fez um sinal para Monstro, e o elfo serviu mais chá para os dois.

— Nada de feitiços. Você precisa aprender a se acalmar sem a varinha por perto. Ficar com essa varinha só te dá sensação de segurança porque você sabe que pode atacar com ela.

— Que besteira! Desde quando você virou minha mãe? Está falando que nem ela! Ou pior, que nem a Hermione!

E nesse exato segundo Rony se deu conta do que tinha acabado de dizer. Oh. Oh.

— Hermione te falou isso?

Harry então terminou o resto do chá e se levantou. A falta de resposta foi uma confirmação exata, e Rony soltou um palavrão alto o suficiente para Monstro congelar a meio caminho de recolher os pratos sujos da mesa.

— Rony, eu só quero ajudar, tá legal? Todas as vezes que tem algo errado com você ou comigo, a gente briga antes de tentar resolver. No quarto ano, com o Torneio Tribruxo. No quinto, com os monitores. No sexto, com a Gina, o Eleito, o Clube do Slug e as coisas todas. Já chega. Eu estou cansado de lutar contra meus inimigos e não vou de forma alguma fazer isso com meus amigos. Agora, eu não vou sentar aqui e fingir que sei resolver os seus problemas. Mas a Hermione sempre teve mais tato. Talvez fosse bom você ouvi-la um pouco.

Há, tá certo. Como se ele pudesse falar com Hermione sobre os pensamentos em sua cabeça. Não havia a menor chance.

— Não posso falar com ela.

— Então é melhor explicar isso em pessoa, porque ela já deve estar chegando aí.

— Espera... O quê?

E Harry aparatou, deixando Monstro e Rony sozinhos na cozinha.

O garoto deixou o queixo cair. Harry não teria feito isso. Era alguma piada, não era? E Hermione jamais concordaria com isso, ficar um dia inteiro numa casa com um elfo doméstico? Não. Sem chance.

— Monstro, vá atrás da Hermione e diga a ela para não vir — Rony pediu, se levantando da mesa do café.

— Não posso, senhor Weasley. Meu senhor Potter disse que na ausência dele, a senhorita Granger vai dar as ordens.

— Você só pode estar tirando uma com a minha cara!

Nisso, um forte estalo se fez ouvir na sala. Soltando um muxoxo de desagrado, Rony se levantou da mesa, indo até o aposento para encontrar Hermione ali, com uma mochila nas costas.

O problema, claro, não era Hermione estar ali. Rony jamais acharia ruim passar um tempo com ela. Mas ele sabia porque ela estava ali, e como insistiria em conversar e todo o resto, e não queria. Não queria de forma nenhuma.

— Eu não sabia que você vinha — ele disse, apenas.

— Eu sei que não. Eu disse a Harry para não avisar.

Rony suspirou. Estavam os dois conspirando, então? Ótimo. Muito bom.

— Minha senhora — Monstro cumprimentou, fazendo uma reverência. — Preparei aposentos para a senhora Granger. Me acompanhe, por favor.

Ela suspirou. Sim, estava enfezada, dava para ver. Rony tinha certeza, isso acabaria acontecendo... E pelo visto, não tinha demorado nadinha.

— Monstro, eu mesma encontro. Conheço a casa, muito obrigada.

A garota sorriu para o elfo e sumiu pelo corredor. E, como agora o circo já estava armado e não tinha mais como impedir, Rony decidiu dançar conforme a música.

Ele tomou um banho, vestiu um suéter limpo e as calças jeans menos surradas, penteou o cabelo com menos esmero do que sua mãe julgaria aceitável e desceu para a sala. Hermione estava sentada no sofá, lendo algum livro bem grosso. Ele se aproximou, devagar, sentando na ponta oposta do sofá.

Ficaram em silêncio, por algum tempo. Rony estava esperando ser bombardeado de perguntas quando a garota chegasse, então não entendeu muito bem qual era o propósito daquela reação silenciosa. Ele inclusive se perguntou se ela tinha o percebido ali.

— Hm… O que está lendo?

Hermione o olhou com uma considerável surpresa no rosto. Ok, não se lembrava de jamais ter feito essa pergunta a ela, mas o silêncio estava incômodo demais naquele momento.

— Verdades e Revelações: Um Guia para Interrogar Suspeitos sem o Uso de Magia. Foi uma recomendação do Ministério. Não podemos usar Veritaserum na corte e nem feitiços da verdade fortes demais, então é importante saber perguntar as coisas certas.

— Você está fazendo interrogatórios no Ministério?

— Estou. Foi assim que descobrimos a casa onde Aleto e Amico escondiam o relógio dele.

Isso explicava muita coisa. Talvez o próprio tratamento de silêncio fosse uma tática louca para fazê-lo falar. Bem, ele tinha iniciado o assunto, não tinha? Rony resmungou, se levantando irritado e caminhando casa adentro. Ia se fechar no quarto. Foda-se. Não ia participar dessa patetice toda. Muito provavelmente era Monstro quem estava incubido de guardar sua varinha, e não ia adiantar pedir ao elfo e nem tentar encontrá-la. Então, se estava prisioneiro nessa situação toda, ao menos ficaria quieto sob suas próprias regras.

Rony se fechou no quarto pelo resto do dia. Não fazia ideia de como Hermione estava se ocupando pela casa, e não queria saber. Sem ter muito para fazer, ficou brincando com Pichitinho, sua coruja, e jogando Snap Explosivo sozinho. Mais próximo à hora do jantar, Monstro veio chamá-lo, e ele se recusou a descer. Harry e Hermione estariam lá embaixo, é claro. Conversando. Como sempre. Sem ligar para ele. Tendo ideias maravilhosas e solucionando casos e problemas. Exatamente como nas viagens de acampamentos de quando estavam caçando as horcruxes de Voldemort.

Pois Rony tinha feito sim muita diferença. Salvara a vida de Harry, infernos, entrando naquele lago ferrando de gelado para pegar a praga da espada de Gryffindor. Grande coisa. Grande espada especial, já empunhada por três alunos da casa em menos de sete anos. Que divertido ser especial em algo que Harry já tinha feito antes.

Ele ouviu, nesse momento, batidas na porta.

— Não quero — disse, sem nem mesmo saber do que se tratava.

Não queria nada. Estava cansado. Cansado, irritado e traído.

— É jantar. Tem sopa de abóbora — Hermione respondeu. — E torta.

Torta? Rony resmungou, baixinho, mas sentiu seu estômago roncar em protesto. Não tinha comido nada além de petiscos desde o café da manhã.

Ele acabou cedendo e abrindo a porta. Hermione entrou, levitando a bandeja com a varinha e fechando a porta atrás de si. Rony percebeu dois pratos de sopa e dois pedaços de torta na bandeja. Ela tinha subido para jantar com ele.

— E Harry? — O garoto perguntou, quase sem querer fazer a pergunta.

Hermione deu de ombros.

— Está comendo lá embaixo. Posso me sentar?

Rony olhou para a cama, distraído, vendo o emaranhado de cobertores e travesseiros bagunçados espalhados ali, sem muita organização. Ele arrumou tudo às pressas, deixando o lugar o mais organizado possível em alguns segundos, e se sentou, deixando espaço para Hermione do lado.

Ela pegou seu prato de sopa e começou a tomá-la em silêncio mais uma vez. Rony pegou o próprio prato, mas não começou a tomar. Estava confuso com a atitude dela. Droga, precisava saber.

— O que há com o tratamento de silêncio?

Hermione engoliu uma boa colherada de sopa e soprou ar quente da boca, dando um suspiro antes de responder.

— Não é tratamento de silêncio. Harry e eu sabemos que você não está bem. Eu acho que você não pode ficar sozinho agora, e se não quer conversar, estava esperando que minha companhia talvez fosse o bastante.

A companhia dela era, por si só, excelente. Mas Rony sabia exatamente o assunto dessa afirmação. Não. Não era o bastante para ele esquecer o resto todo.

— Não tem o que conversar — ele murmurou, por fim. — Aconteceu. É isto. Aconteceu a todos nós. Uma hora vai passar. Não tem bem o que fazer no meio tempo.

Ele começou, enfim, a comer. E Hermione devia saber como ele vinha se alimentando mal, pois não o interrompeu até ter esvaziado o prato e comido toda a torta. Mesmo com o apetite um pouco abatido, Rony era capaz de comer bastante, e de alguma forma ter Hermione ali estava ajudando ao menos com isso.

Talvez pudesse ajudar com mais.

Quando ela se levantou para descer com os pratos, Rony se levantou também.

— Hm… Você quer… Quer dormir aqui, essa noite? Quer dizer… Aqui aqui, literalmente, no quarto. Não na casa. Quer dizer, sim, na casa, estamos na casa, mas…

— Tudo bem — ela respondeu, apenas. — Eu vou me trocar. 

Rony aproveitou esse tempo para se trocar também. Vestiu uma camiseta e calça de malhas confortáveis e chamou Monstro para colocar um colchão ali para ela. Quando Hermione voltou ao quarto, já estava tudo ajeitado. Rony foi de súbito acometido por uma crise de gentileza e pareceu achar uma excelente ideia Hermione ficar com a cama e ele com o colchão, então se adiantou a deitar no colchão antes da garota o fazer.

Ela não discutiu, ajeitando-se na cama sem maiores argumentos. Rony se lembrou de quando os três tinham dormido naquela casa, antes de invadirem o Ministério. Na ocasião, Hermione tinha se ajeitado no sofá para segurar a mão dele ao dormir. Parte dele queria isso acontecendo de novo.

Como se seus pensamentos tivessem sido verbalizados, a garota se virou na cama, deixando o braço cair para o lado do colchão. Rony olhou para cima, seus olhos cruzando com os dela e vendo um brilho um pouco desanimado ali. Ela estava cansada também. É claro. Todos estavam. E ainda assim, ele conseguia fazer seus dois melhores amigos gastarem tempo se preocupando com ele quando deveriam estar descansando.

Rony segurou a mão dela, entrelaçando seus dedos nos da garota. Era uma boa sensação. Da última vez na qual dormira com Hermione por perto, tinha finalmente conseguido descansar. Quem sabe, dessa vez?

De fato, o garoto dormiu. Isso foi até fácil. O difícil foram os acontecimentos seguintes.

Os pesadelos ainda estavam ali, e dessa vez, nem ter Hermione por perto os manteve longe. Tudo aquilo que vinha tentando afastar, as memórias e os acontecimentos de seu tempo fugindo dos sequestradores, esperando, por favor, reencontrar os amigos na próxima parada, voltou como um furacão. Rony dormiu por horas a fio atormentado por seus pesadelos, e apenas quando a madrugada já ia longe, acordou, cansado e sobressaltado, segurando um grito na ponta da garganta.

Ele olhou em volta, assustado. A sensação de desespero e desalento que seguia esses seus pesadelos era, num modo geral, acalmada ao segurar a varinha na mão. Mas a varinha não estava ali. Rony sabia ser essa a forma de Harry de tentar forçá-lo a se acalmar sem recorrer a agressividades, mas por Merlin, agora não queria saber disso!

Rony se levantou, devagar. Precisava beber um copo de água e não ia chamar Monstro. Queria um pouco de sossego. O garoto olhou para a mesa de cabeceira, vendo a varinha de Hermione casualmente colocada ali, e mesmo se culpando um pouco por isso, a pegou. A varinha não teve problemas em obedecer o comando simples de um lumus, e Rony desceu até a cozinha com ela.

Pronto. Estava tudo bem. Só tinha ido até ali beber um copo de água, não havia mal nenhum nisso. Ele serviu seu copo, sentando-se na cadeira da mesa e começando a beber. Precisava manter a calma. Era só manter a calma. A guerra tinha acabado. Não existiam mais sequestradores, ou comensais. Estavam todos presos. Estava seguro. Seus amigos estavam seguros. Sua família…

Fred…

Não. Não, Rony. Pensamento tranquilos. Pensamentos felizes. Pensamentos tranquilos…

Nisso, ele ouviu um som surdo de algo batendo em alguma coisa no final do corredor. Ele não pensou. Seu coração acelerou, ele se lembrou de seus pesadelos, de suas fugas e de seus temores.

Alguém estava ali fora. Tinha alguém ali. Poderiam ter vindo atrás dele. Mas estava tudo bem. Era só atacar primeiro, como sempre tinha feito.

Pegou a varinha em um gesto automático, e a mirou na direção do som, atirando um estupefaça mirado no escuro. Então ele ouviu um gritinho agudo, e com a luz da varinha ainda acesa apontada para o corredor, Rony viu Hermione caída, assustada, claramente tendo se jogado ao chão para escapar do feitiço.

Puta merda.

Os dois se olharam por um instante, o choque percorrendo a visão de ambos. Rony ouviu passos pesados, mas dessa vez não se assustou. Era Harry, óbvio, vindo ver o que raios tinha acontecido. E não precisou mais de meio olhar em todo o cenário para os três entenderem a situação.

Primeiro, Harry foi ajudar Hermione a se levantar. Ela enxugou os olhos, apavorada, e suas mãos tremiam um pouco. Rony não disse nada. Ele apenas devolveu a varinha a ela.

— Volte para o seu quarto — ele comentou. — Você não deveria ficar comigo agora.

— O que quer dizer, Rony? — Ela perguntou, pegando a varinha de volta.

— Você sabe o que eu quero dizer.

E ele deu as costas aos amigos, voltando ao seu quarto. Harry tinha razão. Ele precisava ficar longe de sua varinha agora, e de preferência, longe daqueles a quem amava também.


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Notas finais do capítulo

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