Eles entregaram as guitarras e o baixo para os staffs e saíram do palco. Charlie já estava os esperando há alguns minutos, logo que começou a tocar Saturday. "Alguém conseguiu avistar a Lilly lá de cima?" nenhum deles a vira. "Ela me mandou uma mensagem dizendo que iria se atrasar, mas não pensei que fosse demorar tanto."

   Estando aquilo fora do controle deles, foram para a sala reservada como camarim deles, se surpreendendo ao ver a garota sentada numa cadeira, de cabeça baixa.

   "Lilly?" perguntou um deles. Ela levantou o rosto, imediatamente forjando um sorriso.

   "Desculpem ter perdido o show." ela disse.

   "O que aconteceu no seu rosto?" Charlie correu para perto da amiga, ajoelhando-se na frente dela e segurando sua face firme, fazendo os rapazes notar o pequeno corte na maçã do rosto, brilhando com o sangue que dali escapava.

   "Jeremy." respondeu Lillian, alarmando a outra. "Aparentemente, ele não aceitou o fim do namoro muito bem. Disse que eu fiz ele perder tempo demais." continuou, seus olhos repletos de lágrimas.

   "Está doendo?" perguntou a mais baixa, tocando o machucado com a manga. Lilly negou. "Foi o susto?"

   A garota assentiu, tirando o cabelo do rosto. "Não pensei que ele fosse fazer algo assim, mas ele estava completamente alterado. Ainda estava usando a aliança quando..." sua voz morreu ao notar que lágrimas teimosas escorriam até seu queixo, o contornando e desaparecendo no pescoço.

   Patrick permaneceu atônito, parado à porta. Estava num debate interno, decidindo se deveria contratar alguém para acabar com a vida do bastardo de uma vez ou se o mataria com as próprias mãos. Precisou de apenas alguns segundos. "Onde ele está agora?" ele perguntou, tentando parecer calmo.

   "Provavelmente no pub do Johnny." ela balbuciou, secando as lágrimas.

   "Charlie, as chaves do seu carro." o rapaz estendeu a mão, pegando no ar o chaveiro que ela jogara.

   "Você está louco?" perguntou Pete, segurando o braço de Patrick. "Não sabe lutar, eu vou com você." o ruivo o puxou junto, aceitando a oferta, mas Wentz não se moveu. "Pensando bem, eu também não luto. Joe, pode ir junto?"

   "Por que eu?" Joe indignou-se.

   "Estou indo." anunciou Patrick, saindo sem se importar se teria companhia ou não. Se bem que seria de alguma ajuda se alguém dirigisse, ele não conseguiria chegar ao destino daquele jeito.

   Assim que eles saíram, Lilly se deu conta do que sucedera. "Por que ninguém o impediu?" perguntou, nervosa.

   "Porque ele não nos ouviria." Andrew suspirou, largando-se numa poltrona.

   "Se não queria que ele fosse, por que disse onde Jeremy estava?"

   "Eu não sei, saiu, simplesmente." ela tentou se explicar, inutilmente. "Ótimo, ele vai voltar quebrado, por culpa minha." Lillian suspirou, afundando o rosto nas mãos. "E agora?" falou entre seus dedos.

   "Agora esperamos." disse Charlie, tentando olhar nos olhos da amiga, sorrindo. "Não devem demorar."


   Os rapazes voltaram pouco tempo depois, embora Patrick pudesse jurar que o caminho de volta demorara muito mais. O contorno do seu olho esquerdo ardia, e, ao passar a mão, ele notou que já estava terrivelmente inchado. Jeremy o socou sem piedade, e o rapaz agradeceu imensamente por estar usando lentes de contato - por causa do show - em vez de seus costumeiros óculos.

   "Pat!" Lillian levantou-se subitamente ao vê-los ali, e apressou-se em examinar o olho roxo dele. "Seu jacu!" disse de repente, batendo nele sem força. "Sabe o que podia ter acontecido com você?"

   "Por isso Joe estava comigo. Acho que ele quebrou o nariz daquele retardado." esquivou-se quando ela virou para o moreno, checando seu olho agora vermelho refletido no espelho bem iluminado.

   "Peça gelo, por favor, Pete." pediu Lilly, olhando para o olho inchado de Patrick. "Mas é um demente! Para que fazer tamanha burrice?!"

   "Seth me disse que você nunca gostou muito daquele idiota. Então, por que...?" Patrick disse, girando o corpo para ficar frente a frente com ela.

   "Pat, posso responder outra hora?" foi o que ela deu como resposta, dando a entender que não deviam ter companhia ao ter aquele tipo de conversa.

   "Ok, não nos importamos. Mas vocês vão ter que nos dar um desfecho mais cedo ou mais tarde." Charlie disse, representando todos os espectadores.

    "Vou anotar na agenda." disse uma sarcástica Lilly, recebendo gelo envolto em um pano. "Ponha no olho." dirigiu-se a Patrick.

   "Não podemos ficar muito mais tempo, esse lugar fecha cedo." Andy lembrou-os.

   "Você vai voltar para casa mesmo?" perguntou Charlie, falando apenas com a outra garota.

   "Não tive coragem de contar a Tiff ainda. Mas preciso dos meus livros do ano passado."

   "O que está acontecendo e eu não sei?" o ruivo perguntou a Pete, tentando manter sua voz baixa.

   "Lilly largou a faculdade. Vai tentar Artes Visuais mais no final do ano." respondeu o moreno, surpreso pelo fato do outro não saber. Patrick olhou para a garota, e sentiu um pouco de inveja de Pete, e da estranha proximidade que ele tinha dela. Ao se despedir, Lilly deu-lhe um abraço apertado, enterrando seu rosto no pescoço de Patrick, e ele sabia que significava um agradecimento e um pedido de desculpas ao mesmo tempo.

   Ele não queria soltá-la, mas o longo abraço foi finalmente cortado, e Lillian sorriu tristemente ao encará-lo.

   "Posso ficar com a sua aliança?" pediu Pete, já livrando o dedo anelar direito do objeto. Antes que ela indagasse, acrescentou: " Não vai mais precisar dela, vai?" ela meneou a cabeça, confusa; contudo sorrindo.

   "Mantenham contato. Não deve demorar muito para voltarmos." despediram-se os dois outros rapazes.

   A última imagem das garotas foi a de elas entrando no Dodge preto de Charlie e desaparecendo de vista.




   Rumando a outro estado, Patrick nada fazia além de permanecer deitado na cama de cima, olhando para o teto, sem se importar com o balançar do ônibus. Mais uma vez ele estava a deixando, e mais uma vez sem dizer o que ele realmente queria dizer. Fora estranho, de uma boa maneira, tê-la por perto novamente, e vê-la tão diferente, e ainda assim, tão igual. Sem notar, seus lábios se moviam, e dele saía a letra de uma música.

I sleep with your old shirts
And walk through this house in your shoes
I know it's strange. It's a strange way
Of saying I'm supposed to love you
I'm supposed to love you.

   "Ainda digo que ele foi besta." Patrick ouviu os três amigos seus conversando.

   "Ele está triste o tempo todo."

   "A Lilly não está muito feliz também. Os e-mails dela encurtaram bastante."

   *Não posso deixar as coisas como estão*, pensou ele. A semana passara, e mesmo que os shows continuassem perfeitos, a cabeça de Patrick girava com os milhares de pensamentos turbilhando. Sabia que poderia dar certo desde o início, mas ele teria de deixar seus receios de lado e correr atrás do final feliz.

   "Preciso pegar um avião." disse em voz alta, fazendo as três vozes cessarem.

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