Curto-Circuito escrita por Biazitha


Capítulo 1
Faísca


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Pois bem, eu estou TÃO ansiosa com essa fanfic. Meu deus, não sei nem explicar. Eu tenho mais duas NejiTen no gatilho, mas a ideia para essa chegou como um soco na minha cara e eu precisava escrever se não ficaria doida. Fluiu fácil, o plot não é profundo e pretendo terminar bem rápido. No máximo quatro capítulos, creio eu.
DBH é o meu jogo preferido e NejiTen é o meu casal amado, juntei os dois e deu nisso!

AVISO: mesmo quem não conhece a ideia do jogo ou o jogo em si, não tem problema. Eu fiz de tudo para deixar bem resumido e mastigado, a fanfic não vai focar tanto nos acontecimentos do jogo, mas sim na relação dos dois.

Eu queria deixá-los como humanos, então achei dois nenês perfeitos para o papel: Eri Tachibana e Shuntaro Yanagi. Eles serão Neji e Tenten nessa fanfic ♥
Agradeço imensamente a capista DemonhadoYoda pela capa tão delicada e feita sob medida para a história. Deixo o link do blog nas notas finais ♥


Boa leitura!



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A chuva forte já completava três dias sem pausas, transformando toda a atmosfera em algo úmido e escorregadio. Os habitantes da cidade encolhiam-se em guarda-chuvas multicoloridos e toucas de lã, bufavam logo que abriam os olhos pela manhã e escutavam os pingos batendo ininterruptos em suas janelas. O clima não ajudava-os a levantar da cama e enfrentar mais um dia; era como se estivessem ainda mais deprimidos e cansados longe do calor do sol.

Poucos eram os felizes com aquela torrencial água caindo do céu, uns ousavam até dizer que suas almas estavam sendo lavadas e agradeciam por cada gota.

Tenten Mitsashi não estava feliz, por mais que os seus belos lábios avermelhados estivessem curvados para cima. A blusa branca e fina fora uma escolha errada para aquele dia e para o seu estado, sentia-se fria. O resfriado a deixava lenta e daria tudo para estar debaixo das suas cobertas quentinhas, mas não poderia se permitir faltar ao trabalho. Não quando sabia que era tão... Substituível.

A televisão na sala de espera mostrava um dos seus maiores temores – aquilo que a deixava ainda mais rabugenta e aguçava os seus pensamentos mau humorados naquele momento –, a versão melhorada e sem defeitos dos humanos: os androides.

Há quatro anos Detroit era considerada território dos androides e cada pedaço da cidade era marcada por um momento histórico da revolução. Por um tempo, quase toda a população humana abandonou suas casas e vidas, temendo pelo desconhecido e deixando todo o território para aquela tecnologia pensante. Aos poucos a famosa cidade de Michigan foi se tornando um misto de espécies, a estranheza deu lugar a indiferença – ou aceitação – e haviam pessoas de todo canto morando ali.

A maioria dos androides havia optado por tirar o característico LED piscante de suas têmporas e, depois de tantos anos após a revolução, ficava cada vez mais difícil dizer quem era humano de verdade e quem não era.

A tecnologia estava em seu ápice, comentavam os especialistas, máquinas pensando sozinhas e vivenciando sentimentos.

What a time to be alive!

Mas Tenten não achava tão espetacular assim. Ela passava grande parte do seu tempo, principalmente no trabalho, temendo ser substituída, invejando secretamente a perfeição daquele monte de plástico e thirium.

Trabalhava na clínica de psicologia como recepcionista há um bom tempo – três longos anos –, gostava de conversar com os pacientes e aprender com os profissionais. Era um trabalho agradável e interessante, por mais que muitos pensassem que ela apenas atendia telefonemas e marcava os horários das terapias. Depois de ter perdido o cargo de Analista de Qualidade em uma fábrica de alimentos para uma androide bem mais eficiente, buscou amargurada por profissões que enchessem o seu vazio e garantissem estabilidade.

Como quase toda ocupação era preenchida por um androide, havia sido uma busca árdua.

Há cinco anos existia o modelo ST300 específico para trabalhar com atendimento e recepção, no entanto a fundadora da clínica era uma senhora de idade com aversão a tecnologia; referia-se a si mesma como saudosista e por vezes dizia que queria ter nascido nos anos 80 ou 90. Ela defendia que a psicologia era antiga demais para deixar-se cair na tentação da modernidade, que “robô” nenhum poderia fazer o trabalho que um humano fazia e jamais deixaria uma máquina com os seus pacientes na sala de espera.

Algumas vezes os outros psicólogos discutiam entre si e com a mulher, argumentando que não poderiam ficar parados no tempo e que chegaria o dia em que sobrariam apenas os androides. E nesses momentos Tenten sentia o medo de ser trocada novamente por uma versão mais ágil e competente dela.

Mesmo assim, eram poucas as ST300 que ainda queriam trabalhar como recepcionistas, a divergência havia feito com que quisessem arriscar novas vidas e aquilo garantia mais alguns anos para a humana.

A morena fungou baixinho, sem perder o sorriso forçado, e deu uma olhada na lista de nomes que seriam atendidos no dia seguinte. O seu expediente na quinta-feira chuvosa estava terminando e aquela informação a animava por dois motivos:

1 - Poderia ir embora para casa descansar e se recuperar como deveria;

2 - O último paciente agendado era o seu preferido.

Ela suspirava pelos cantos cada vez que o encontrava, apertando as próprias mãos em animação e estendendo uma conversa animada por bons minutos. Ele tinha um nome tão belo quanto os atributos físicos: Neji Hyuuga.

Carismático, amável, engraçado e charmoso. Cabelos compridos até os ombros, um par de olhos excentricamente claros e um rosto suave, quase angelical. Exalava um cheiro cítrico que preenchia o ambiente todo assim que chegava e sempre tinha as mãos adornadas com belos anéis brilhantes. Parecia ser muito bem resolvido em todos os aspectos da sua vida, ainda mais por fazer terapia duas vezes na semana. Feito um príncipe encantado do mundo moderno, a mulher desejava muito ser a sua princesa. Não tinha mais idade para acreditar em contos de fadas, porém se permitia fantasiar com uma realidade mais colorida e mágica ao lado dele.

Neji frequentava a sala do doutor Collins há quase dois anos e desde o primeiro dia uma conexão estranha havia sido criada entre ele e a recepcionista. Era como se faísca saísse de seus corpos a cada interação que tinham; o sorriso dele era capaz de acender cada célula da mulher e suas conversas eram sobre assuntos diversos, mas pouco sabiam sobre a vida pessoal um do outro, temiam ultrapassar alguma barreira que os deixasse em uma posição desconfortável depois.

Tenten flertava de modo sútil e recebia flertes sutis de volta, nunca passava daquilo. Ainda não havia juntado coragem para chamá-lo para sair e parecia que ele também não. Bom, havia também toda a conduta e ética que ela precisava seguir na clínica que muitas vezes era como um balde de água fria em suas divagações fantasiosas.

A porta de madeira abriu com cuidado e a morena logo se arrumou na cadeira, tentando parecer distraída. O cheiro, como sempre, chegou antes dele e ela respirou fundo.

Não se contendo de alegria, a Mitsashi olhou por cima do seu computador e sentiu-se quente de imediato com a visão. Ele trajava uma blusa marrom, um cachecol listrado azul e calças escuras. Metade do cabelo estava preso e as franjas caíam despojadas em volta do rosto.

— Olá! Como está?

— Boa tarde, kikyou. — Neji insistia em chamá-la daquela forma, dizia que era uma flor muito bela do Japão e também uma personagem de anime que ele gostava. Sentia-se realizada por ter um apelido próprio. Por vezes se pegava imaginando-o sussurrando palavras em japonês que ela nem ao menos sabia o significado em seu ouvido. Por mais que tivesse traços asiáticos, ela havia vivido a sua vida toda em Detroit e pouco sabia sobre os países de longe. — Estou ótimo e você?

— Um pouco resfriada e cansada.

— Oh, sinto muito. Tomou algum remédio? — ela negou e o homem torceu a boca, a repreendendo em silêncio. Apoiou um braço no balcão e esticou-se para segurar uma das mãos geladas dela. — Por que não desliga o ar condicionado? Além de estar frio lá fora, você não pode ficar exposta assim.

Acatando a sugestão, a morena desligou o aparelho gelado e voltou a olhar o pedaço do paraíso na sua frente.

— Não precisa colocar os pacientes sempre em primeiro lugar. — ele comentou sério enquanto se afastava alguns passos, enfiando as mãos nos bolsos da calça.

— Você sabe que é mais fácil falar do que fazer. Eu não me importo de passar um pouquinho de frio e evitar que alguém acabe se aborrecendo comigo. Não posso arriscar esse emprego.

— Eles nunca perderiam alguém como você, Tenten. Com certeza é a pessoa mais dedicada que conheço.

Antes que pudesse agradecer, uma série de espirros cortou qualquer palavra que pudesse sair de sua boca. Constrangida, virou-se de costas e esperou até que o aperto no peito passasse. Limpou delicadamente o nariz com um papel, depois prendeu os cabelos em um rabo de cavalo, de repente se sentia quente. Torcia para que não fosse febre.

Neji esperava paciente pela mulher, olhando-a com nítida preocupação. Retirou a peça quente do pescoço e logo que ela se virou encontrou-o com o braço estendido.

— Fique com o meu cachecol. A chuva não vai dar uma trégua e você não está bem agasalhada.

— Não se preocupe, Neji. A minha casa não é tão longe. — esperava que as bochechas não evidenciassem muito a sua vergonha. Por que ele tinha que ser tão cavalheiro?

— Não posso aceitar um "não" como resposta nesse caso. Você pode me devolver depois, não vou precisar dele.

Sorriu confiante deixando o pano azul em cima do balcão para que ela pegasse. Tenten enrolou-o em volta do pescoço e, mesmo com as narinas trancadas, se deliciou com o cheiro dele que estava começando a impregnar em sua roupa. Neji observou os lábios pintados de vermelho abrirem em um sorriso agradecido e engoliu em seco, desviando a sua atenção para o corredor iluminado ao seu lado. O seu peito palpitava com aquela cena, por mais que não tivesse um coração real, e esperava que ela não percebesse o seu encanto.

Poucos minutos depois Neji entrou na sala do seu psicólogo com um sorriso discreto ainda brincando em seus lábios. A última visão que havia tido era da morena com o seu cachecol azul e os olhos brilhantes enquanto despediam-se com um breve abraço.  

— Boa tarde, como foram os últimos dias?

O homem de cabelos loiros estava acomodado com as pernas cruzadas em sua poltrona preta, esperando que o Hyuuga sentasse em sua frente. O sorriso não havia passado despercebido por ele.

— Tranquilos, me sinto cada vez mais preparado para voltar. Na terça passei a noite toda assistindo a um seriado policial e não me senti desconfortável em momento algum.

— É um grande avanço, mas você tem mais alguns meses de licença ainda, não se force tanto e respeite o seu próprio tempo.

O moreno assentiu e suspirou fundo sob o olhar atento que recebia; a CyberLife criara uma atualização a qual os androides respiravam assim como os humanos, tentando fazer com que se sentissem mais vivos e inclusos no mundo.

Neji havia procurado ajuda psicológica poucos meses antes de pedir licença do departamento de polícia, a pressão constante não havia feito bem para a sua saúde mental. Após a sua divergência, lidar com os novos sentimentos e emoções havia sido difícil, contudo nada se comparava com o estresse e as ameaças que recebia. Era odiado quando fazia o certo segundo a justiça, prendendo os criminosos e aplicando as leis, e era ainda mais perseguido quando sua equipe cometia algum equívoco.

Era um androide modelo PM600, depois da revolução buscou modificar alguns aspectos da própria aparência para se sentir mais humano e único. Havia tirado o LED da têmpora logo que as manifestações pacíficas de Markus haviam começado em 2038. Era fascinante se sentir... Vivo.

Antes da revolução trabalhava como patrulheiro das ruas em uma cidade pequena do Japão, nada acontecia e tudo estava sempre sob controle. Quando recebeu um upgrade e foi realocado para a cidade de Detroit para ajudar em diversas investigações, o seu corpo e sua mente colapsaram aos poucos. Foi afastado do cargo.

— Ontem saí para encontrar alguns colegas da polícia. — comentou com orgulho de si mesmo; havia passado meses trancado em seu apartamento, fugindo de quase todas as interações. Apenas Collins, uma velha amiga e Tenten conseguiram quebrar a sua casca protetora. E levando em conta que um deles era um profissional preparado para lidar com a dureza de Neji, a mulher de belos olhos escuros era quase uma feiticeira por deixá-lo tão confortável com a sua presença sem precisar de muito.

A Mitsashi era como um bálsamo para suas feridas internas; sempre que conversavam ele conseguia se sentir verdadeiramente tranquilo e interessado. Cada aspecto do dia e da vida dela o cativavam, por mais que pouco conversassem sobre assuntos tão pessoais. Ele sentia a necessidade de saber mais e mais sobre ela.

Meses atrás, ao se pegar pensando nela em momentos aleatórios acompanhado de um palpitar acelerado no thirium do seu sistema, trouxe o assunto para o psicólogo. O homem foi certeiro ao apontar que talvez estivesse experimentando os sintomas de uma paixão ou atração.

Já havia se apaixonado antes, porém não se lembrava de ter ficado tão bobo e deslumbrado daquela forma.  

— Muito bom. E como foi?

— Consegui relaxar um pouco, me diverti mais do que achei que me divertiria. Eu acho que me sinto pronto para sair e conhecer novos rostos, como o senhor havia recomendado.

— Sabe por onde começar? Como se sente com essa decisão?

— Um tanto nervoso. Tenho alguém em mente e creio que o senhor deve saber quem é. — doutor Collins imaginava, entretanto queria ouvir da boca de Neji. Após o curto silêncio e um remexer ansioso das pernas, falou: — Tenten Mitsashi. Ela não sai da minha cabeça.

O loiro sorriu em concordância.

— Quero sair com ela, a conhecer melhor e tentar algo. O senhor acha que estou sendo muito precipitado?

— Eu não acho nada, Neji. Você é quem precisa estar confortável com as vontades que tem e você decide o que fazer com elas. Desde que te faça bem e seja saudável, me basta como seu psicólogo.

Sentado no sofá da sua sala, Neji digitou rapidamente as palavras e apertou "enviar" na mesma velocidade, temendo perder a coragem que havia há custo reunido. As luzes estavam desligadas e o clarão do celular iluminava o seu rosto de modo fantasmagórico.

Se tivesse um estômago, com certeza estaria revirado e apertado de ansiedade.
 

Boa noite kikyou, espero que esteja melhor. Se precisar de alguma coisa fico lisonjeado em ajudar. — 09:20 pm

No entanto gostaria de te fazer um convite antes. - 09:21 pm

Tenten estava assistindo televisão quando o seu celular vibrou e ela engasgou ao ver quem era. Eles não conversavam muito por mensagens, guardavam todo o assunto para as terças e quintas-feiras. Receber aquela notificação do homem era inesperado, mas ao mesmo tempo muito bom.

A mulher já começava a imaginar o que ele queria e todos os seus pensamentos fantasiosos a enchiam ainda mais de felicidade.
 

Boa noite Neji. Estou melhorando, agradeço pela preocupação. — 09:23 pm

E sobre o que seria o convite? - 09:23 pm

O androide segurou o lábio inferior entre os dentes, um hábito que havia adquirido após tanto tempo convivendo com os colegas sempre tão apreensivos da polícia.

Enquanto escrevia e apagava algumas vezes, os seus pés não demoraram para começar a bater no assoalho em um pá pá pá irritante. Por um momento amaldiçoou a CyberLife por ter feito uma sequência de códigos tão perfeita que o permitia ficar ofegante em certas situações emocionais; a sua caixa torácica doía.

Você aceita sair comigo no sábado? — 09:25 pm

Quero te conhecer melhor. — 09:25 pm

Faz um tempo que venho ensaiando esse pedido. — 09:26 pm

A morena soltou um grunhido animado, jogando o celular longe na cama e depois o pegando na mesma velocidade. Os dedos se mexiam praticamente sozinhos, com vida própria.

Tinha certeza de que as orelhas e o pescoço estavam vermelhos.
 

Claro, fico feliz com esse convite. Tem algum lugar em mente? - 09:27 pm

O Hyuuga por fim sorriu e sentiu um peso enorme sair dos seus ombros.
 

Tenho sim, mas é surpresa. — 09:29 pm


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Notas finais do capítulo

Postada em: https://www.spiritfanfiction.com/historia/curto-circuito-15942342/



O nome deles está de forma ocidental porque... Bom... Detroit não é asiático lkjkkk
Espero que tenham gostado. Caso algo tenha ficado confuso é só me avisar ♥
Também espero vê-los nos comentários, não tenham medo de me dizer o que acharam.

Novamente, muito obrigada a capista pela capa MARAVILHOSA!
http://american-edits.blogspot.com/


Até o próximo!



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