Venha Comigo. vol 4: Presente escrita por Cassiano Souza


Capítulo 9
Finalizado


Notas iniciais do capítulo

Então, BOA LEITURA!



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Pálido, o sol brilhava, esgueirando-se o seu brilho por entre as frestas das acinzentadas e densas nuvens, que despetalavam-se vagarosamente, em pequenos flocos gélidos e angelicais de neve, e assentando-se desde o conflito frente ao Volga, até os degraus da circular escadaria da torre. Era o último deck, onde se havia um vasto espaço para observação inimiga, e vasto também, o bastante, até mesmo para um duelo.

Gordon e Verum-1, se encontravam em espera, onde o humano contemplava sério para a vista, e o homem de cabelos verdes, impaciente, fitando o céu, de braços cruzados por de trás das suas costas, e o seu sorriso provocante, enfeitando lhe a cara. Os cabelos da dupla, eram bagunçados pelo vento, e os sinalizadores dos transmissores piscavam. Porém, também piscando, logo uma chamativa e ofuscante luz rugiu pelo deck, onde uma leve imagem fantasmagórica de um caixote azulado se estabeleceu, mas, que logo tomando forma por completo, se revelou uma cabine telefônica de polícia inglesa.

— Verum-1. - Disse ansioso, Verum-2, se retirado da caixa, juntamente ao Senhor do Tempo, e a humana. – Adcacas. - Saudou.

— Adcacas. - Correspondeu o outro, sorrindo malévolo.

— Então, está na hora de nos resolvermos. - Se encaravam fixos, em certos metros de distância. Onde todos os outros presentes, apenas se entreolhavam tensamente quietos. – Estraguei a nossa vida, mas, tentei consertar, e você ignorou.

— O que está feito está feito. Olhos para frente, soldado. Nenhum soldado ganha a guerra dando a vida por sua nação, e sim, fazendo com que o inimigo dê a sua vida para a dele.

— Entendo o seu ódio.

— Bom, que bom. - Sorriu. – Hoje ele será honrado.

Mas, desmanchando o sorriso, logo a mais tortuosa face de agonia tomou Verum-1, levando-o a cair de joelhos, e deitar-se ao chão metálico e congelado. Todos, se espantaram com a cena, mas, o humano Gordon não.

— Verum-1?! - Chamou Verum-2, preocupado.

— O que houve?! - Disse o Doutor, correndo até o miserável rastejante, junto de Verum-2.

Mas, sem explicar, Verum-1 apenas revelou as suas mãos que outrora estavam por de trás de suas costas, notavelmente agora sujas de um liquido azulado e viscoso. Os olhos do Senhor do Tempo e acompanhante, se estremeceram chocados. Aquele era o sangue do homem.

— O que aconteceu?! - Questionou o Doutor ao ferido, que sorria contente.

— Isso precisava acabar logo, Doutor. - Comentou Gordon, e o Doutor em imediato, encarou-o furioso. – A guerra deles precisa acabar, e você sabe.

— Você fez isso?!

— Foi necessário. - Disse frio.

— Mas ele era o último de sua raça! - Protestou Verum-2. – E o meu oponente! Você roubou a minha vitória, a minha honra!

— Então assim está melhor. - Disse Verum-1. – Eu não serei honrado, mas, sem a minha derrota... Você também não. - Riu. – Essa, é a minha vitória.

— Está morrendo! Isso não é vitória. O seu sangue está perdido, e o seu povo varrido da história.

— Nortenho maldito.

— Sulista cretino.

— Queria tanto ver o seu passado...Ver os seus erros, e apontar em sua cara. Mas... Não consigo. Por que não consigo?

E prestando atenção na conversa, Grace se manteve pensativa sobre os indivíduos. Para ela, parecia haver algo de errado.

— Esperem aí. - Pediu a humana, em um tom onde todos a deram atenção. – Verum-1 e 2, vocês são do mesmo planeta, porém, de raças distintas e rivais, certo?

— Grace, acho que não é a melhor hora. - Aconselhou o Doutor.

— Doutor, cale a boca.

E assim ele fez. A ruiva continua:

— Me respondam, sim ou não? - Replicou, aos homens de cabelo verde.

— Sim, correto. - Responderam os mendacai, simultaneamente.

— E vocês tem culturas diferentes, correto?

— Correto.

— Com roupas, comida, cortes de cabelo, biologia, e demais costumes e modos de falar, diferentes, correto?

— Correto.

— Mas dividem algo de semelhante uma raça à outra?

— Não, nada.

— Então... Por que a mesma saudação, por que as mesmas características físicas, e principalmente... Como são Verum-1 e Verum-2?!

E os dois indivíduos, se encararam confusos. O Doutor sorriu animado, e Gordon, permaneceu atônito.

— Não há nomes numéricos entre estranhos. - Explicou Verum-1, franzindo o queixo de dor. – No sul, apenas se em um casal, houver mais de um filho, e esse filho... Ganhar um irmão. Ele tem de honrar o mais velho, e se tornar uma homenagem. - Franziu a testa, dolorido.

— E no norte, Verum-2? - Indagou Grace, extremamente curiosa.

— No norte... - Tentava Verum-2, recordar. – No norte... Eu não sei, eu não...

— O quê?

— Eu não me lembro. - Revelou, fazendo esforço, e Grace sorri. – Eu não me lembro de nada sobre lá!

— E você pode ver o passado de qualquer um, certo? - Se referiu a Verum-1.

— Não qualquer um, não podemos canibalizar os nêutrons de luz dos nossos povos, apenas... Estrangeiros. Não posso ver o passado de quem for um de nós.

Revelou inocente. Grace arregalou os seus olhos, e sorriu animada, assim, como o Senhor do Tempo, que se mostrou completamente impressionado. Verum-1 e 2, de acordo com o que sugeria Grace, não seriam apenas homens tentando se matar, seriam homens com laços sanguíneos tentando assassinar-se.

Verum-1 e 2, se encararam sem palavras. Aquilo era por completo impensável por parte deles.

— Vocês não são rivais ou inimigos! - Comentou Grace, feliz. – Vocês são sobreviventes! Sobreviventes do mesmo povo, do mesmo reino, e com certeza da mesma família! Não precisam se matar!

Mas o ódio, no olhar de Verum-1 apenas se expandiu.

— E como não perceberíamos isso?! - Questionou descrente, Verum-1.

— Bem. - Pensou Grace. – Ah, essa parte eu não sei mais explicar. Doutor?

— Obrigado. - Entrou o Doutor. – E dessa vez, fique você quieta!

Grace deu a língua. O gallifreyano esclarece:

— Mas vamos lá, não há respostas claras. Olhando para vocês... Parecem diferentes, mas... Creio que não exatamente.

— Somos diferentes! - Insistiram os homens de cabelos verdes.

— São? Então digam novamente quais eram as suas antigas funções em Mendacaium durante a guerra.

— Mestre, mestre de guerra. - Revelou Verum-1, franzindo a testa novamente.

— Cobaia de guerra. - Revelou Verum-2.

Grace, abre a boca para falar, mas, o Doutor sinaliza silêncio, e assim, ela cruza os braços ofendida.

— Ok, e o que fazem mestre e cobaia? - Continuou o Doutor.

— O mestre de guerra, é um general de classe fora da linha de frente. - Começa a explicar Verum-1, ofegante. – Ele apenas... Se mantem por dentro de uma simulação, uma simulação da realidade, por onde tem o dever de achar soluções estratégicas para a guerra de fora, e... Repassa-las aos generais das linhas de frente.

— Ótimo. E a cobaia?

— A cobaia... - Se recordava Verum-2. – Ele é o inimigo dentro da simulação. Nunca pode ser alguém distinto, deve ser alguém com a mesma forma do mestre pensar, as mesmas ideias, as mesmas emoções, a mesma índole. Para garantir que o mestre se supere, e sendo assim, acabam sempre sendo... Clones. - Abriu a boca surpreso, com as suas próprias palavras.

Todos ficaram surpresos, a verdade, estava sendo lentamente desbulhada, e ao que tudo indicava, mestre e cobaia eram frutos da mesma arvore.

— Mas como não perceberíamos?! - Indagou descrente, Verum-2. – Olhando para você, parece alguém completamente diferente de mim!

— Impossível! - Reforçou Verum-1, sobre os fatos.

— Parecem diferentes uns aos outros, e para qualquer outro na verdade. - Contou o Doutor. – Se fazem parte de uma simulação estratégica militar, sendo um, um inimigo... Nunca poderiam se notar com são realmente.

— Há algo então impedindo a nossa percepção? - Questiona Grace.

— Sim, com certeza um filtro, onde imagem, audição, e concentração são confundidos, embaralhados.

E assim, os dois conterrâneos se encararam embasbacados, tudo aquilo era inacreditável demais para aceitarem e se conformarem, logo após um ter arrasado os sonhos do outro.

— Se for assim... - Se esforçou Verum-1 para falar. Sangue escoria por sua boca. – O que nos tirou do simulador?

— Comigo foram os nossos ancestrais. - Contou Verum-2. – A gaiola de almas chamava por mim, e isto, me trouxe a lucidez da realidade. Não havia mais escolhas, e parti sem rumo, como um peregrino, por entre as estrelas, a seguir outra capsula de fuga. Uma, em comando de possessos.

— A simulação foi interrompida antes da hora. - Supôs o Doutor. – Isso explica os distúrbios de memória e humor que sofrem.

— E após décadas de hibernação e perseguição com a minha capsula... - Continuou Verum-2. – O meu banco de dados foi bombardeado por mensagens desconhecidas, mas, algo positivo o-suficiente para convencer a IA a vir até aqui, esta pedra escarrada por demônios. 

— Segui você. - Contou Verum-1. – Mas não tive tanta sorte, como sempre.

— Foi corajoso até o final, é o que importa.

— Mas e a capsula dos vermes, o que aconteceu? - Questionou o Doutor.

— Não teve tão agracio divino, se desintegrou após a atmosfera.

— Mas ainda assim lavras sobreviveram, se não, a ameaça não estaria aqui.

— Sim, as encontrei, e logo... Me encontraram, pessoas más. Mas a minha alma gêmea me resgatou.

O Doutor se mostrou curioso. Verum-2 revelou distante:

— Vassili. Ele terá o seu nome lembrado, não terá, Doutor?

— Terá, por alguns, e em alguns lugares, mas nada de tão estrondoso.

— Pois merecia que fosse.

— Não poderia viver com ele, sinto muito, mas a história também iria contra.

— Senhores do Tempo e as suas regras. Vocês são tão odiáveis.

— Eu sei.

— Mas, Verum-2. - Chamou Verum-1 a atenção. – Se somos mesmo os últimos, eu sinto muito, mas terei de dizer que éramos.

— Não diga isso. - Pediu Verum-2, encarecido. – Seja forte, seja incrivelmente corajoso como foi ao me desafiar!

— Temo que isto esteja fora dos meus alcances.

— Não posso ficar sozinho! Se o inimigo se foi... Somos os campeões, somos os herdeiros da batalha. A honra, deve viver conosco!

— Deve, e por isso o inimigo nunca deve ser poupado.

— Sim, mas ele já se foi.

Verum-1 sorri.

— Acho que não. - Disse ele. – Mas antes que eu me vá, que se mantenha o nosso costume, e que eu repasse um segredo a um amigo.

— Pode contar.

— Bem, chegue mais perto.

E assim, Verum-2 fez, aproximando o seu ouvido até a boca fria e tremula do outro.

— O que eu tenho a lhe dizer é... Sabe o que dizem os superiores até nós e aos soldados, nas beiras das fogueiras, por entre as fronteiras?

— Não. O quê?

— Nunca confie no adversário. Ele pode estar caído, ensanguentado, e com os seus segundos contados, mas... Ainda é muito traiçoeiro, e ainda respira. - Sorriu enfraquecido.

Verum-2, não entendeu, e antes que questionasse sobre, logo foi interrompido. Quatro disparos altos e claros foram escutados por todos, e logo, Verum-2 caía estirado no chão, com a mão no peito ferido, que não parava de jorrar sangue. O Senhor do Tempo e a acompanhante, não tinham outra reação, se não, estarem completamente boquiabertos.

— Missão cumprida. - Disse Verum-1, fechando os seus olhos, e terminando falecido de braços abertos.

O Doutor, notou a arma na mão cadáver, uma pistola Tokarev. Devia estar escondida por entre as suas vestes. Mas, logo mirou o Senhor do Tempo o seu olhar sério, até o inglês. E Grace, logo corre para tentar conter o sangue do recém baleado.

— Acabou senhor, a história está segura. - Disse Gordon.

— Sabia de tudo. - Incriminou o Doutor. - Você colaborou! 

— Mas você mesmo disse, esse povo é uma lenda, eles não existem mais. Acabaram em uma guerra, terrível e quase a ameaçar toda a galáxia! Não acha que o universo estará melhor sem eles?

E o Doutor, não obteve palavras, nunca esperaria aquilo de seu amigo. Mas, algo em sua mente lhe tentava convencer de que talvez sim, ele estivesse certo.

— Doutor?! - Berrou Grace. – Ajude! Ele está perdendo muito sangue, está falecendo! - Tentava amparar Verum-2. As suas mãos, já sujas estavam de azul.

— Acho que não haja mais jeito, Grace. - Avisou o Senhor do Tempo, abatido.

— Mas tem de haver! - Porém, observando melhor, logo Grace notou a morte em sua frente. Verum-2 acabara de falecer. – Não. - Disse descrente. – Não!

— Eu sinto muito.

— Faça alguma coisa! - Implorou, mas o Doutor, apenas desviou o seu olhar. – Doutor, faça alguma coisa!

— Não. - Respondeu cabisbaixo.

— "Não"?!

— Não.

— Como não?!

— Grace, se os dois continuarem a baterem os seus corações, a respirarem... O que adiantará? Apenas voltarão à morte. Nenhum deles seria capaz de esquecer o ódio que sentem.

— Então salve apenas um! - Implorou. – Se trazer os dois de volta irá leva-los ao túmulo, salve algum que seja! Verum-2 pelo menos! Mas não deixe que uma raça desapareça em sua frente.

— E valeria a pena, ser o último, ser o único?

— “Valer a pena”?! Estamos falando de vidas! Sempre vale a pena!

— Não quando se tem todo o fardo de milhões de vidas em suas costas, não quando se é responsável pela desgraça de seus amigos, familiares, conhecidos, não quando tudo o que terá pela frente será remorso e depressão.

— Não. - Negou a humana, ficando frente ao opositor. – Se é assim... Por que aquela vez interferiu entre o Zelador e o presidente? Poderia ter ignorado, e deixado o Zelador pagar por seus erros. Mas não, você foi lá, e você foi o Doutor.

— Foi diferente.

— Não, não foi.

— Foi. - Reafirmou, onde assim, se encararam um ao outro, revoltados. – O Zelador tentou ser diferente, tentou ser melhor, deixar de ser o verme que era. Verum-1 nunca conseguiria, está cego, cego por sua loucura. E Verum-2, tentou salvar o seu lar, mas, a qual custo? Arrasar outro!

— Certo. - Blefou decepcionada. – Mas, faz isto mesmo por precauções, ou... O ódio por ter a amiga feria? Pelo que me lembro, o Zelador feriu todo um universo.

— Grace, por favor, eu sei o que eu estou fazendo. - Disse, tentando ser paciente.

— Eu também sei. - Riu triste. – Está fazendo um genocídio, é isso que está fazendo.

— Sinto, mas há responsabilidades maiores aqui.

— Ah, então é isso. Senhor do Tempo, não é se preocupar com o bem universal, é só com o bem do universo. E se uma raça estiver prestes a sumir do mapa, então... Que se exploda, não é mesmo?! Só os seus narizes temporais importam!

— Grace! Narizes temporais?!

— Não mude de assunto! - Deu uma pausa, carregada de descrença. – É isso que são, maquinas movidas por orgulho e frieza.

E o Doutor, suspira emburrado. Amizade e valores pessoais estavam em jogo, mas, o que escolher? O que dizer? Ele precisava se posicionar novamente, mas, onde logicamente a sua racionalidade se sobressairia, porém, antes que o-fizesse, os temerosos sinos do claustro tocaram, e os holofotes se voltaram à TARDIS. 

— Conversamos outra hora. - Deu as costas o Senhor do Tempo, partindo à nave. – E Gordon, traga os corpos, por gentileza. - Ordenou, já indo.

A imagem do Senhor do Tempo, adentrando a caixa se consolidou revoltante, até, que a humana desviou o seu olhar enraivada.

— Senhorita? - Referiu Gordon a Grace. – Poderia me ajudar? - Segurava Verum-1, por de baixo de seus ombros.

— Sim, claro. - Respondeu Grace, abatida, apanhando o cadáver por suas pernas.

Winston, havia recusado a ajudar o amigo Senhor do Tempo, a procurar por sua amiga humana, e preservar a sua vida. E o amigo Senhor do Tempo, havia recusado a ajudar a amiga humana, em seu pedido, referente a também salvar vidas. Para Grace, o Doutor já havia partido, aquele a pouco não era mais um Doutor, e sim, agora o Guerreiro.

O Doutor, chegou ao console, e puxou para si o monitor. Lá, estava uma mensagem dizendo-lhe: “parabéns, missão cumprida”. E juntamentea mensagem trazia também novas coordenadas. A verdade, estava próxima.

Grace e Gordon, terminaram de trazer a dupla extinta até a TARDIS, e logo, o Doutor puxou a grande alavanca.

***

A máquina do tempo parou, e assim, notou o Doutor e os outros, a materialização da nave. No monitor, via-se jardins, e um dia ensolarado, em algum lugar de grama invejavelmente vistosa e robusta.

— Interior de Sheffield. - Interpretou os dados o Doutor. – 02 de setembro de 1945, último dia da guerra.

— Aquilo é uma casa de campo. - Observou Grace ao monitor.

— Sim, nos arriscávamos por aí, enquanto uma grande inteligência tirava férias. O interior sempre é mais seguro! Fiquem aqui.

E assim, os humanos fizeram. Enquanto o Senhor do Tempo, emergiu porta afora, contemplando o sol forte, e o belo jardim florido, por envolta da casa, onde borboletas pairavam. Os seus passos eram ansiosos, eram sedentos, e revoltados. O Doutor, estava determinado a saber quem lhe fez tanto sofrer pondo em risco a vida de sua amiga, e ao mesmo tempo, lhe revelou uma ameaça à história.

Mas, girando depressa a maçaneta da porta, e a abrindo impaciente, logo o Doutor estava frente a frente do responsável. 

— Olá, docinho. Chegou cedo do trabalho. O que houve? - Questionou uma mulher, sentada em uma cadeira, por de trás de uma mesa de madeira, e de pernas cruzadas sobre ela, trajada em um vestido arroxeado, e sobretudo em mesmo tom, chapéu florido, e cabelos castanho escuro, levemente cacheados. – Ah, e que cara é essa? Quer bolo? Está uma delícia! - Apontou a um bolo todo confeitado ao seu lado, e faltando um pedaço.

— Sorri, enquanto eu... Choro. Pôs a minha amiga em perigo. - Disse, impacientemente sério, mas, contido.

— Eu sei, foi tão excitante! Fugir, se arriscar, e... Morrer. Tão romântico aquilo tudo o que passaram. 

O Doutor, toma a sua postura boquiaberta, não conseguia ingerir tanto deboche diante de tanta fúria sentida por si. A mulher, completa, encarando as unhas:

— Mas, infelizmente um final feliz muito clichê! 

— A minha amiga se feriu por sua causa!

— A história está salva por minha causa!

— Tudo poderia ter dado errado!

— Eu sei, eu sei, mas, eu felizmente conhecia um casal de enxeridos. - Deu uma pausa, lambendo dedo a dedo, sujos pela cobertura do bolo. – O homem sensível, e a mulher forte. Uma dupla, disposta a elevar um ao outro, aos extremos, em busca de mais, ou em busca de pausas. Ela não pode te parar, mas também, não é daquelas que jogará tudo fora por você.

— O que importa aqui é a vida da Grace, não estar comigo, sempre foi.

— E a minha vida?

— Eu não lhe conheço, senhorita.

A mulher, sorri maliciosa. O Doutor dispensa: 

— E não estou nem um pouco interessado.

— Bem, vocês sempre dizem isso, mas no fundo, apenas se fazendo de difíceis! - Zombou, arrumando o cabelo.

— O que você quer? Ajuda?! Poderia ter simplesmente pedido, não ter posto toda a história da raça humana em perigo, não toda a vida da minha amiga! - Esbravejou.

— “Minha amiga isso, minha amiga aquilo”, blá, blá, blá! Desse jeito vou ficar com ciúmes!

E o gallifreyano, recuou com os ombros.

— O que foi? - Indagou a mulher. — Temos um relacionamento muito complexo, querido.

O Doutor, ergue cauteloso uma sobrancelha:

— Quem é você?

— Eu sou a Missy.

— Missy quem?

— Eu!

— Sim, mas quem é Missy?!

— O Mestre! - Revelou impaciente, deixando o Doutor sem expressões conclusivas.

— O Mestre?!

— Mestra, na verdade. Mas, tive que mudar, sabe? Ficaria obvio demais!

— E como sempre... Apenas tentando me arruinar, me derrubar, me causar dor. Uma falsa amizade. - Disse, em tom pesaroso, onde a Missy, tomou também uma profunda tristeza.

— Não é uma falsa amizade! - Protestou

— Então o que é?

E a Missy, custou em responder.

— Então, o que é?! - Exigiu o Doutor.

— Queria te dar um presente.

O outro permaneceu perplexo. A mulher conclui:

— Gosta de mistérios, aventuras e perigo. E eu te dei isso. E... Apenas eu, apenas eu, em todo o universo, se lembrou deste dia. Seu aniversário.

— Meu aniversário?! - Tentou crer.

— Viu! Nem ao menos você recorda.

— Mas se houver sido um presente... Como poderia?! Com um mundo em perigo...?

— Mas não fui eu quem o trouxe perigo!

— “Terra prometida”, o que significa?

— Algo meu, porém, utilizado por algum inimigo desconhecido, contra mim.

— Chamou a atenção dos mendacai, e quase arruinaram a história.

— A frase foi espalhada por todo o planeta e época, e então... Fui incrimina.

— Incriminada?

— O tribunal de Lisarium-B2. Cheguei ao meu limite de crimes, e Gallifrey... Me condenou. - Deu uma pausa, fitando aos olhos sérios do outro. – Te dei uma aventura, salvando assim o dia, forma de ter direito a um julgamento. 

— Não é o-suficiente para salvar a sua cabeça.

— Não. - Confirmou. – Mas tenho direito a procurar um advogado.

— Ah. - Riu. – E assim, caiu o Doutor idiota em mais um truque do Mestre. - Concluiu.

— Não é truque! Preciso de você.

— E merece isso?

Mas a Missy, não soube responder. Os seus olhos, se mostraram pidões, porém, muito mais tristes, e muito mais sofridos, do que qualquer outra vez. Mas, não era uma mera faceta teatral, era realmente a impotência, a vergonha, e os fantasmas de sua consciência.

— Você pode recusar. - Disse a Missy, cabisbaixa. – É um direito seu, mas quem mais eu chamaria? Não foi o primeiro, é o último a quem me restou.

E o Doutor, se virou emburrado para a janela, fitando a vista da cabine azul no gramado.

— Lembra de quando éramos crianças? - Perguntou o Doutor, tentando desamarrar a cara.

— Nunca me esqueceria - Confirmou a Mestra, sorrindo gentil.

— Estávamos debaixo a velha arvore, aquela por fora da redoma.

— Foi cortada até certo tempo. 3 mil anos atrás.

— Mas em nosso tempo... Uma vez estávamos lá, você e eu, o Monge, e a Rani. E o que dissemos uns aos outros?

— Dissemos que as antigas caras do Rassilon eram muito feias.

— Sim, dissemos. - Riu. – Mas não é isso, falo da nossa promessa.

— Eu sei. “Estaremos juntos, mesmo que em anos luz de distância uns dos outros, mesmo que entre mil galáxias de distância, mesmo em um tumulo, e mesmo na matriz, mesmo que cercados por um trilhão de Daleks. Agora, e sempre, em nome da TARDIS, que ainda iremos roubar”. - Narrou a promessa.

— E sabe o que isto significa?

— Que devemos sempre nos ajudar.

— Não. - Negou, deixando a Mestra encabulada. – Significa que devemos sim nos unir, nos ajudar, e manter nossa paz, nossa amizade. Porém. - Se voltou para a mulher. – Prometer nunca significou cumprir, e vocês quebraram a promessa.

— Foi o destino!

— Foram as suas escolhas.

E a Missy, não conseguiu rebater, apenas, se calar e encarar cabisbaixa para o bolo.

— Me chamou aqui porque é esperta. - Continuou o Doutor. – Sabe que eu sou um idiota bonzinho, que a ajudará por misericórdia.

— Lhe chamei porque é meu amigo!

— Não, não foi.

— Sim, foi sim! - Insistiu, onde o Doutor virou a cara descrente. – Lhe chamei aqui porque preciso de você, porque é tudo o que eu tenho, e principalmente... Para lhe mostrar que não somos tão diferentes.

— Talvez. - Deu uma fria pausa. – Hoje, um genocídio aconteceu em minha frente, e eu poderia intervir. O que lhe faz pensar que a você seria diferente?

O que a Mestra poderia dizer? O seu mundo havia desmoronada, e as suas esperanças atiradas em um buraco negro.

— Tem razão. - Confirmou a Senhora do Tempo, abatida. – Pode ir embora, eu estou só, e será melhor assim. Aniquilada, mas... Ok.

— Ah não, já se deu por vencida? Lamentável.

— Ora, o que direi? Não quer que eu me rasteje até você, quer?

— Eu ainda não respondi se iria ajudar ou não.

— Bem, acho que não precisa, o seu “não” já está mais do que obvio para mim.

— Não, eu direi "talvez", preciso pensar sobre. Você largou toda a nossa amizade por seus interesses fúteis, Mestre.

— Eu sei. - Disse conformada. – Obrigada.

— Talvez eu negue a ajuda. - Supôs.

— Talvez. Mas, tudo bem, meu amigo, tudo ao seu ver.

— Quanto tempo até o julgamento?

— 500 anos para mim, infinitos para você, viajando por aí. Mas...Uma hora os sinos do claustro voltarão a tocar, mas, como nunca antes. E nesta hora, será a hora.

— Certo, até daqui 500 anos então. - Deu as costas, como se nada tivesse significado o reencontro. – Adeus

— Porque se não nos ajudarmos. - Alertou depressa. – Será como Verum-1 e 2 que iremos acabar.

O Doutor, para em instantâneo, aquilo o-havia feito lembrar de uma velha amizade. 

— Obrigada, mais uma vez. - Dedicou a Senhora do Tempo, com os seus olhos envergonhados, vendo o Doutor confirmar com a cabeça. – O que eu faço com o bolo?

— Há pessoas com fome por toda a Europa agora. Já sabe o que fará.

E a Missy, assoprou emburrada. O amigo saiu porta afora, e voltou solene até a sua velha nave, que em imediato, desmanchou a imagem que tinha, em sua típica desmaterialização.

***

A máquina do tempo, rodopiava vórtex a dentro, e o seu piloto, refletia sobre todo o ocorrido do dia, frente aos seus botões e alavancas, e ao cilindro temporal, subindo e descendo. Não havia contado nada aos humanos sobre o encontro à grande inteligência, apenas, se mantéu em silêncio.

— Parou de brilhar e falar, senhor. - Disse Gordon ao Doutor, abrindo a sua mochila, e observando a gaiola de almas. – O que poderia ter sido?

— Eu não sei. - Respondeu sincero. – Mas não importa, isso não pode ficar aqui.

— Para onde irá?

— É perigosa. Ela e os Veruns irão para bem longe. - Fitava os cadáveres, um ao lado do outro.

— E eu? Acho melhor me deixar em casa, Inglaterra. A guerra ainda não acabou para mim.

— Sim. - Confirmou distante. – Para casa então, Gordon Conall Lethbridge-Stewart.

— O meu pai, ele era como o senhor. Sacava armas, mas não ousava em usa-las.

— Deve ter sido um grande homem.

— Foi. Você gostaria de tê-lo conhecido. Mas temo que eu os-tenha desapontado.

— É. - Disse seco. – Mas sim, eu gostaria de tê-lo conhecido.

— Talvez um dia.

— Sim, talvez um dia. Sim, um dia.

— Agora sobre o meu futuro... Disse sobre um filho Brigadeiro. Nos orgulharemos dele? 

— Mais do que possa imaginar. 

O futuro pai, sorri:

— Mas e nós, nos veremos novamente?

— Eu acho que não. - Disse simplesmente, clicando em alguns botões, onde Gordon, acabou se conformando, e calando-se.

Mas, mirando os seus olhos até a humana, emburrada e recostada ao console, perguntou o Doutor a ela:

— E você, Grace? Para onde quer ir? Uma semana de repouso viria bem a calhar.

— Viria. - Confirmou ela indisposta.

— Casa?

A humana, custou em responder. Mas, logo disse:

— Casa. Mas casa, para sempre.

E as mãos agitadas do Senhor do Tempo por entre os comandos do console, tornam-se estáticas, tendo uma surpresa com o enunciado:

— Sempre? - Perguntou tímido.

— Sempre. - Reconfirmou decidida.

Então, tentando se conformar, ou fingir conformidade, pigarreou o Senhor do Tempo, voltando novamente a sua atenção aos seus controles. Ele não discutiria, não protestaria, apenas, tentaria se conformar, sabia que a atitude da humana era fruto e reflexo de suas anteriores ações. Ele conhecia bem ela, e sabia bem do que se passava em seu coração e consciência, e igualmente a sua própria.  

— Mas, Grace. - Disse o Senhor do Tempo, retirando algo de seu sobretudo. – Deixou isto para trás. - Era o telefone do celeiro. – Seu telefone. - Estendeu a peça.

— Obrigada. - Se voltou a humana ao homem. – Tome isso também. - Estendeu a sua mão até o outro. – Sua chave.

Os olhos do Doutor tremeram. Mas, sendo forte, e sendo como um Senhor do Tempo esperaria de si, o Doutor foi frio, e apanhou a chave, que outrora presenteara a acompanhante, onde também, lhe devolvia o seu telefone.

Um amigo, se virou contra o outro, onde um, permanecia de costas ao console, e o outro, a sua frente, em opera-lo. O Doutor, manuseava os comandos de viagem, e Grace, encarava o telefone em suas mãos. Gordon, permaneceu calado da poltrona, e uma lagrima, caiu sobre o painel de controles. Mas, quem a-teria derramado?

E no vórtex temporal, a cabine azul rodopiava vagarosa, como se estivesse pesada, como se estivesse cansada, como se estivesse triste. Muito triste.

 

 


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Notas finais do capítulo

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Sim, final da história. E que final que gostei, acho que o que eu mais gostei de todos os meus. Foi triste, e lindo ao mesmo tempo. Quantas nuances!
Gostei de escrever essa história, pois me trouxe mais conhecimento, e mais pratica com mistérios. Porém, confesso que em muitos momentos bem no meio pensei em parar de escrever, e abandonar a ideia!
Pois a história se tratava de uma ficção com elementos da realidade, e eu não sabia como unir fantasia e realidade. Nunca havia escrito nada do tipo, então foi um enorme desafio. Toda história que faço traz um desafio novo. Porém, consegui me reconectar, e assim peguei um gás para continuar, e me animar, para fazer sem estresse. E gostei do resultado final.
E então o fundo era bem mais profundo do que parecia, não é mesmo? Não era só um conflito alien, era algo com a Missy também. Pus pistas, mas desmenti ao mesmo temo. Ou seja, a história nunca foi sobre Verum-1 e 2.
E adcacas? Aquela saudação. Significa “a merda”, kkk sendo na verdade ad cacas. É em latim.
O pai do Gordon é Archibald Hamish Lethbridge-Stewart que tem no ep Twice Upon A Time. E nesse ep o Doutor conhece ele. E o Gordon durante a segunda guerra de acordo com as fontes onde pesquisei, lutou então junto das forças aéreas britânicas. No caso aqui, imaginemos que depois dessa fanfic.
E a arvore que o Doutor e Missy mencionam é uma ideia minha, não tirei de nenhuma história do EU ou série de TV, foi algo que eu imaginei.
Mas e aí, acham que Venha Comigo acaba aqui? Bem, não faria sentido, e nem pensar em acabar aqui! Tem mais 6 histórias pela frente, e muitas pontas a serem resolvidas. Só desta história temos: as consequências do paradoxo feito na TARDIS, o inimigo desconhecido que a Missy citou, e a explicação de por que o Gordon achou a gaiola de almas e o diário em um local diferente de onde a Grace havia deixado. Sem falar no julgamento da Missy!
E a Grace??? Então, assunto para o próximo volume. Ou não.
Mas tenho de terminar a fanfic da Doutora antes, então vai demorar pra o Doutor e Grace voltarem por minhas mãos. E a fanfic da doutora terei de deixar para janeiro, pois preciso organiza-la, e descansar.
Mas sobre o capítulo. Aquela fala do Verum-1, sobre não dar a sua vida, e sim deixar que o inimigo dê, foi uma frase real de um soldado da segunda guerra, chamado George Smith Patton Jr. Que foi um oficial militar do Exército dos Estados Unidos que liderou forças norte-americanas no Mediterrâneo e Europa durante a Segunda Guerra Mundial, sendo mais conhecido por suas campanhas na Frente Ocidental após a invasão da Normandia em 1944.
E aí após a frase tem toda aquela tensão e dialogo, e os personagens morrem. Foi chocante, e queria isso. Tudo foi sobre a Missy e o Doutor, e aquilo é o destino dos dois se continuarem como são.
E aliás, essa foi a história em que eu mais fui brutal! De todas! Matei muuuuto! Mais muuuuito! Kkkkkk mas ainda tivemos um final feliz, não tivemos? Ou seria infeliz? Ou seria neutro? Para mim foi positivo. Apesar de meus corações partidos :( Mas segunda guerra, tínhamos que acabar com esse gosto mesmo.
Mas vamos lá, me digam, o que acharam da história como um todo, e de todo o desenrolar até aqui, e o desfecho do capítulo. Posso contar com o seu comentário? Então diga-me ;)
E por fim, muito obrigado a todos que acompanharam até aqui, e por todas as suas interações, e atenção! OBRIGADO PELA LEITURA!

e antes que eu me esqueça, aqui está o link de uma one que se passa em algum momento após esta história e antes do vol 5.
https://fanfiction.com.br/historia/792212/8_Grace_Bella/
boa leitura, e até mais.



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