Oblivion escrita por Lucca


Capítulo 8
Reorganizando o sistema TecnoNerd


Notas iniciais do capítulo

Alguém sentiu falta da nossa nerd favorita nessa história?
Já era hora de trazê-la de volta.
Bem vinda a Oblivion, Patterson!

Boa leitura.



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Todos sabiam que Patterson chegaria muito receosa para o encontro, então decidiram que apenas Kurt, Zapata e Reade estariam presentes na primeira conversa. O resto da “família” aguardou no QG improvisado no porão.

O ferimento de Weller estava melhorando rapidamente. Já tinham se passado três dias desde o tiro. Ele precisou admitir que Jane fez um excelente trabalho. As palavras de Zapata também martelavam em sua cabeça exigindo uma postura diferente com relação à sua esposa. Entretanto, sempre que Jane estava por perto, ele ficava muito confuso. Seria, no mínimo, educado da parte dele tratá-la de forma mais gentil, ela acabara de salvar sua vida, mas bastava um toque, ou pior, uma simples troca de olhar, para os sentimentos dentro dele tomarem o lugar da racionalidade. A cada troca de curativos, Kurt sentia a vontade de pedir para Jane trancar a porta do quarto e amá-lo como fizeram naquela noite que agora povoava todos os seus sonhos.

A voz ou a risada de Clem no corredor o traziam de volta suas dúvidas e o faziam reerguer os muros de proteção dentro de si, aquele velhos muros que o sorriso, o olhar ou a voz de Jane derrubavam sempre que ela se aproximava.

Restabelecendo seu foco, Weller se fixou na chegada de Patterson.

 A loura entrou e cumprimentou a todos com o carisma de sempre, mas o sorriso em seu rosto foi desaparecendo à medida que Kurt foi apresentando os indícios que tinham sobre a corrupção nas agências de segurança comandadas por Madeline. Ela respirou fundo e pegou seu próprio laptop acessando arquivos de uma investigação que classificou com preliminar e superficial, mas que se mostrou fundamental e se encaixou perfeitamente nas provas deles. Os três amigos ficaram eufóricos com esse avanço. Patterson nem tanto.

— Vou transferir esse material para o banco de dados de vocês. Por favor, me desculpem por não tê-los alertado sobre isso antes. Eu sei que deveria, mas não sabia em quem confiar, afinal ela é sua mãe, Kurt. Realmente, sinto muito. – a loura disse.

— O importante é que você aceitou esse encontro e esse material que levantou fará toda a diferença na nossa luta para derrubar Madeline. – Reade disse.

— Espero que sim. E, sem ofensas pessoal, mas vocês precisam encontrar alguém altamente especializado e montar um laboratório informacional que cruze todos os dados possíveis que encontrarem. Lembram-se do Tattoo Alert? Vão precisar de algo parecido se querem derrubar uma conspiração desse porte. – Patterson reforçou.

— É claro que vamos fazer o máximo possível para você ter um arsenal tecnológico a seu favor, Patterson. E sua equipe já está montada. – Zapata disse sorrindo.

— Mas eu não vou ficar, Tasha. Essa história de “salvar o mundo” já deu pra mim. Tenho meus negócios. Meus pais estão com Alzheimer. Enfim, fico feliz em tê-los ajudado, mas estou com minha passagem de volta comprada.

Os três amigos se entreolharam.  Kurt começou:

— Patterson, preciso que você me responda algumas perguntas básicas: quem é minha esposa?

— Allie era sua esposa. Por que está me perguntando isso agora?

— Quem é o pai do Miguel? – foi a vez de Zapata questionar.

— Seu ex-namorado, Rick. Não estou entendendo onde querem chegar com isso...

— Quem é Sophia? – Reade colocou a questão crucial.

Ao ouvir esse nome, Patterson pareceu entrar em choque. Sua respiração ficou pesada e sua voz agressiva:

— Eu não sei quem é Sophia! Isso é algum tipo de brincadeira ou teste? Já pesquisei todos os arquivos possíveis e Sophia não existe! Meus pais perguntam por ela o tempo todo. “Onde está a Sophia, Kiddo?”, “Sophia já comeu?”, “Sophia já tomou banho?”, “Porque você deixou levarem a Sophia?”. Eu fico a ponto de enlouquecer...

Zapata sentou-se ao lado dela e abraçou a amiga. Depois colocou a mão no seu peito e disse:

— Você não sabe quem é ela, mas sente algo quando ouve seu nome, não sente?

— Saudade e uma tristeza enorme. Já gastei rios de dinheiro com psicólogos e nada resolve... Meus pais estão doentes, não dão conta da realidade e eu adoeci com eles, sentindo coisas por alguém que só existe no cérebro perturbado deles.

Kurt abriu a tela do laptop e mostrou para Patterson uma das pesquisas que ela mesma compartilhou com eles. Virando a tela para a loura, explicou:

—  Você chegou bem perto da resposta, Patterson. O problema está aqui: ZIP.

— Kurt, o ZIP apaga a memória das pessoas. Não coloca uma lembrança emocional lá dentro. E é um veneno perigoso.

— E nós fomos vítimas de uma nova forma mais elaborada de ZIP. Todas as respostas que você nos deu estavam erradas. Allie não é minha esposa e Rick não é o pai de Miguel. Eu, você, Tasha e, provavelmente, seus pais, fomos zipados.

Então Kurt acessou novos arquivos com fotos e mostrou a tela para Patterson que agarrou o aparelho, puxando para seu colo. Ela não entendia porque, se perguntassem diria que nunca antes em sua vida tinha visto aquela criança. Mas uma coisa era certa: a garotinha de quase dois anos de idade, com lindos olhos azuis, que estava ali naquela imagem tinha todo o seu amor.  As lágrimas rolaram por seu rosto.

Zapata acariciou o braço da amiga:

— Esta é Sophia. A nossa Sophia. Sua filha, Patterson.

O resto da conversa foi longa. Patterson absorveu ao poucos. Escutou sobre Jane, as tatuagens, a Sandstorm, a nova formação do team... Questionou, exigiu provas. Os amigos foram pacientes.

— Não! Agora vocês ultrapassaram todos os limites! Já é um absurdo que eu tenha uma filha, mas dizerem que eu aceitei Rich DotCom como meu braço direito no laboratório é demais! Eu jamais aceitaria que esse cara sequer visitasse minhas redes sociais, se eu tivesse alguma. Ele é altamente perigoso! Uma lenda no mundo hacker.

Zapata fechou os olhos e acenou para a amiga:

— Por favor, Patterson, nunca em hipótese alguma se refira a ele como uma lenda se Rich estiver presente. Já temos problemas demais com o ego inflado dele!

Não foi fácil, as provas a ajudaram a entender e aceitar.

Pouco depois a convidaram para descer até o porão onde foi “apresentada” ao resto do team. A reunião de pessoas com um passado tão questionável a preocupava, mas algo a fez se sentir em casa. Ela criticou a disposição das telas, a organização do espaço, mas teve que concordar que o firewall que desenvolveram era muito seguro e eficaz.

— Vocês não estão entendendo. Eu não me lembra de absolutamente nada a respeito desse antídoto do ZIP. Não faço a menor ideia de onde posso ter guardado isso.

— Nós já imaginávamos isso, Patterson. Não te cobraríamos por algo que apagaram da sua mente. Mesmo assim, a busca do antídoto é fundamental e faz parte do trabalho dessa força tarefa. Sabemos que o ZIP usado em vocês é diferente daquele que eu e Roman tivemos no nosso sistema. Mas isso não garante suas vidas não estejam em risco. Por isso, investigamos sobre o antídoto em paralelo ao levantamento de provas contra a Madeline. A formula que desenvolveram tinha o sangue dos nossos filhos na base, então acreditamos que será eficaz.  – Jane esclareceu.

— Esse é o mais desafiador quebra-cabeças que já montamos: descobrir como sua mente funciona e onde você guardaria algo tão importante. Com você aqui será bem mais fácil. – Roman concluiu com um sorriso que Patterson retribuiu.

Chamando Tasha num canto, a loura comentou:

— Uau, esse cara ali é um gato! Definitivamente eu ando estranha ultimamente. Como posso me sentir atraída por alguém assim?

— Cuidado, Roman sabe perfeitamente o poder que tem de se tornar crush das mulheres. Usou isso com Blake Crawford. Ele é o pai do Miguel.

Patterson ficou totalmente constrangida.

— Eu sinto muito. Não fazia ideia, Tash...

— Não se desculpe. Eu também não sabia disso até poucos dias atrás. – riu da situação - Pelo que entendi, não chegamos a ter um relacionamento amoroso. Juro que queria me lembrar se ele é bom de cama pra te incentivar e aconselhar a cair fora. Enfim, por tudo isso, precisamos do antídoto que você escondeu, Patterson. Queremos nossas vidas de volta.

Após algumas intervenções no sistema e muitas críticas, Patterson assumiu a liderança do laboratório. No dia seguinte, novos equipamentos chegaram trazidos por ela. Enquanto avançavam de forma rápida no âmbito tecnológico, as divergências dela com sua equipe foram ficando mais frequentes.

Kurt sugeriu que Jane e as crianças passassem a dormir em seu quarto para Tasha e Patterson ficarem juntas. O convite foi mais que bem recebido por Jane.  Ela e as crianças ficariam na cama. Kurt num colchão extra no chão. Não era perfeito, mas já era um começo, uma aproximação.

Antes de dormirem, leram histórias para os pequenos. Bethany logo adormeceu. Ben, que começou a engatinhar há poucos dias, estava dando bastante trabalho por se recusar a ficar no cercado, no colo ou no carrinho. Queria explorar o mundo a sua volta e testava a suficiência cardíaca dos pais com sua insistência em colocar o dedinho nas tomadas e tentativas de escalar móveis e escadas.

O casal estava exausto sentado no chão quando Ben começou novamente a se distanciar indo em direção ao banheiro.

— Ele não desiste. Não para nunca! - Jane disse com um sorriso cansado – Por favor, diga que o vaso sanitário está tampado.

Kurt deu uma gargalhada e continuou.

— Vaso devidamente fechado. Fique tranquila, eu estou preparado. Ele é igualzinho a mãe dele! – Kurt brincou e deu uma piscadinha pra Jane.

— Ok, tenho que admitir que ele tem alguns dos meus defeitos. Mas esse imã para o perigo é totalmente seu! Além de como fica zangado quando contrariado.

— Ei, eu não estava associando a insistência de Ben a um ponto negativo seu. Essa é uma das coisas que mais admiro em você.

Jane sentiu o rosto queimar e seu coração se aquecer.

— Seu lado zangado e a forma como se arrisca também são coisas que admiro em você. – disse tímida e olhando para Kurt que desviou o olhar em direção ao banheiro.

— Então, parece que ele tem o melhor e o pior de nós dois. Será uma longa jornada educar esse rapazinho. – ele disse por fim.

— Sim, será. É lapidar um diamante. Não tem como dar errado, nos orgulharemos do resultado com certeza. – e após uma pequena pausa, Jane resolveu mudar de assunto para evitar que o silêncio colocasse um clima pesado entre eles. – Kurt, sobre a Patterson, acho que isso não está funcionando. Ela não está bem.

— Eu notei diferenças também. Mas como não me lembro de como ela ficou depois de tudo, achei melhor não comentar.

— Precisamos trazer Sophia. Ela precisa ter a filha junto de si, ver que está segura...

— Ela sequer se lembrava da Sophia, Jane. E sabemos que a criança está sendo bem cuidada.

— Mas agora ela sabe que a filha existe, Kurt. E o amor materno é diferente. Basta uma fagulha para que ele se torne um incêndio incontrolável. Foi assim quando soube sobre Avery.

— Mesmo assim, trazer Sophia é desencadear uma investigação que vai acabar chegando até nós.

— Pensei que poderíamos trazer a Kathy também e simularmos uma viagem das duas. Se Cristopher a está usando, vai ficar feliz em se ver livre dela por um tempo.

— Kathy é perigosa, Jane. Não dá pra confiarmos nela. – Kurt sentia todo seu instinto em alerta máximo diante da proposta, mas ainda assim, algo dentro dele exigia que continuasse ouvindo Jane.

— E se a mantermos em outro lugar? Não aqui conosco. Sophia vem pra cá e estará segura e rodeada de amor.  E Kathy fica sob custódia do Rich em outro lugar.

Jane sugeria um plano de alto risco. Qualquer agente que fizesse uma proposta assim seria, no mínimo, ignorado por ele. Mas, por algum motivo que ele não sabia explicar, por mais que seu eu racional tentasse refutar a ideia, ele sentia que entendia perfeitamente as razões que a levavam a isso. Patterson e Sophia estavam separadas. Sophia estava sendo criada por Cristopher, irmão de Jane que os enganou e é um dos artífices da destruição da vida de todos eles. Kathy, bem, essa era completamente louca. E Sophia era tão pequena, tão vulnerável. Como aceitar que uma criança esteja exposta a isso? Kurt sabia que mesmo que suas palavras não o admitissem, ele já tinha concordado com Jane: Sophia teria que ser trazida a qualquer custo. Como ele podia conhecer tão bem o coração de Jane? Ou seria ela que conhecia o seu?

Uma leve tosse vinda do banheiro, os fez levantar imediatamente e correr até a porta. Só perceberam que tiveram a mesma reação ao som quando esbarraram na entrada. Havia papel higiênico por toda parte inclusive na boca de Ben.

— Oh não! – Jane foi mais rápida ao se esgueirar pra dentro do cômodo e limpar a boca do filho. Em seguida, o tomou nos braços. Seus olhinhos denunciavam o cansaço. – Chega de arte por hoje, Kurt Junior!

A expressão de satisfação no rosto do marido, demonstrava o quanto Weller se orgulhava de ter o filho comparado a ele.

— Ei, eu não espalho papel higiênico pelo banheiro todo! Talvez tenha feito uma vez...

— Na escola militar, mas foi só para irritar o diretor que vinha pegando no pé de um colega seu. – Jane completou se lembrando da história.

Kurt sorriu.

— Foi isso mesmo. – ele confirmou _ Melhor agora não perdermos a chance de colocar nosso pequeno Indiana Jones para dormir. Vá com ele, eu limpo tudo aqui. – e se aproximou beijando a cabecinha do filho, que já tinha se recostado ao peito de Jane, enquanto tocou de forma firme, mas suave o braço da esposa. – Boa noite.

— Boa noite, Kurt.

Podia parece pouco para a maioria das pessoa, mas Jane conhecia seu marido o suficiente para saber que aquele toque foi um grande passo. Ela não poderia estar mais feliz. Quando se deitou com o filho na cama, sussurrou em seu ouvido:

— Nós vamos ficar bem. Todos nós!

E adormeceu. Há dias ela não dormia tão bem.

Na manhã seguinte, a ideia de Jane foi exposta ao team. Sequestrariam Kathy e Sophia. Rich e Boston ficariam responsáveis por cuidar do cativeiro da hacker que seria um ambiente tecnológico totalmente controlado. Ele diria que queria trazer de volta “Os Três Ratos Cegos” e precisariam convencer Patterson. A loura simulou outro firewall que Kathy e Rich demorariam semanas para ultrapassar. Assim ganhariam tempo.

Reade se opôs e questionou o apoio que Weller estava dando à ideia abertamente. Parecia um ato desesperado e imprudente essa decisão, ele alegou. Após alguma discussão, todos concordaram com ele, mas acrescentaram que além de desesperado e imprudente, esse ato era também necessário. Reade não insistiu. Então, prosseguiram.

Em 36 horas, tudo estava pronto e iniciaram a execução do plano. Tudo correu conforme o esperado. Clem era muito rápido e eficaz ao agir. Kathy, que questionou no início, viu na possibilidade de reunir o seu trio de melhores amigos, algo formidável. Ela não sabia nada sobre o ZIP e achava que a própria Patterson tinha confiado Sophia a ela após descobrir que não servia para ser mãe. Acabou confessando para Rich que descobriu que as duas tinham isso em comum, mas continuou cuidando da menina porque também era filha de Cristopher com quem dizia ter vivido um romance quente, mas que estava esfriando rapidamente.  

As informações que a hacker passou para Rich nas primeiras 24 horas foram suficientes para o team dar um salto nas investigações. Agora tinham provas muito mais concretas.

O encontro de Patterson e Sophia foi emocionante. A sintonia entre as duas logo se restabeleceu. Inútil pedir a ajuda dela com qualquer coisa tecnológica pelas horas que se seguiram. Mãe e filha precisavam desse tempo.

Observando a cena e o quanto a amiga estava feliz junto da filha, Kurt sugeriu:

— Temos o final de semana pela frente e avançamos bastante. Acho que precisamos de um descanso. Conheço um hotel fazendo com ótimos chalés não muito longe daqui. Que tal dois dias vivendo como uma família normal?

Todos receberam a proposta com grande alegria. Precisavam de descanso. Precisavam curtir os filhos. Em poucas horas, partiram.


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Notas finais do capítulo

Sei que Patterson merecia mais atenção, mas meu tempo está tão escasso. Espero não tê-los decepcionado.

Por favor, deixem suas impressões sobre esse capítulo nos comentários.

Acabei reorganizando o arco da história por puro instinto materno.

Muito obrigada pela leitura.



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