Oblivion escrita por Lucca


Capítulo 5
Muito além de qualquer limite


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o novo team conseguiu forjar a morte de Jane. Mas a reação de Kurt Weller àquele dia tão tenso foi muito estranha.

Boa leitura



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Chegando em casa, Kurt avançou pelos cômodos numa ânsia louca para desligar as câmeras. Voltou à garagem em dois passos, ainda num transe que o impedia de raciocinar além de todo o medo que sentiu durante aquele dia: o medo de perder Jane.

Quando ele abriu o porta-malas, ela saiu rapidamente e se colocou em pé à sua frente. Estava preocupada com ele. Sabia que havia algo forte ali para ele agir dessa forma. E quando seus olhos se cruzaram, as palavras se tornaram desnecessárias. Ela podia ler ali tudo que o incomodava: a ansiedade dos eventos daquele dia, o medo de que algo desse errado, um turbilhão de incertezas que só cessou há poucos minutos quando ele finalmente a viu no ponto de encontro.

Os olhos dele varriam cada centímetro dela à procura de ferimentos. Talvez, se Jane não o amasse na mesma medida, ela sentiria seu ego inflado agora.  Mas vê-lo assim não fazia bem pra ela. Tudo que queria era tranquiliza-lo, por isso tocou seu braço, chamando-o de volta:

— Kurt, estou bem. Está tudo bem. Nós conseguimos. – suas palavras foram firmes e suaves.

O peito dele inflou duas vezes buscando palavras que não vieram. Então, suas mãos se a puxaram para ele e seus lábios cobriram o dela num beijo intenso que precisava senti-la ali viva e com ele. Jane compreendeu e retribuiu. Aquele dia também tinha sido tão difícil pra ela. No momento do salto do avião, a porta emperrou e ela temeu não sair a tempo. Mas saiu e voltou pra casa, voltou pra ele. E, depois da noite anterior, sentir o gosto do seu marido, sentir o cheiro dele, seu rosto roçando o seu, sua língua brincando com a sua, ah isso era mais do que ela ousou sonhar nos últimos meses. Correu os dedos para a parte de trás da cabeça dele e tentou segurar seus curtos fios de cabelo para aproximá-los ainda mais.

Sem serem capazes de romper com os beijos, eles entraram na casa. A jaqueta de Jane foi atirada em algum canto entre a mesa e o balcão, não muito longe do cinto da calça de Kurt. A blusa preta de mangas longas acabou no chão próxima a porta que dava acesso à sala. Perto do sofá, os dedos de Jane desvencilharam os últimos botões da camisa do marido. Mas antes de ajudá-lo a se livrar da peça, ela precisou correr as mãos por seu peito, sentindo os pêlos e contornos, saciando a saudade que sentia através do tato. Kurt não era capaz de retirar os lábios da pele dela, varrendo com beijos seu pescoço e clavícula. Quando sua camisa deixou finalmente de ser um obstáculo para que tivesse muito mais pele exposta ao toque dela, foi deixada no início da escada.

A escada. A maldita escada se colocava diante deles como um obstáculo para poderem avançar ainda mais no corpo do outro. Jane pensou em sugerir que ficassem aqui embaixo, podiam se amar ali mesmo na sala. Qualquer lugar servia se era ele com ela. Mas nunca chegou a verbalizar isso. Kurt a impulsionou escada acima. Ele queria o quarto. Jane compreendeu e sentiu uma onda ainda maior de amor invadir sua alma. Como isso era possível? Seu coração já era todo dele. Kurt Weller não faria diferente. Ela era sua esposa e ele a amaria no quarto deles e na cama deles, mesmo que isso nunca tivesse ocorrido nessa casa. Ele queria dar a ela o que negou veemente à Nas na noite anterior.

Já dentro do quarto, todo o resto da roupa foi descartado. O sentimento e o desejo exigiam que não houvesse mais qualquer tecido entre eles. Precisavam se sentir por completo. Antes de seguirem para a cama, ofegante, Kurt cessou os beijos por um minuto e conectou seus olhares. Nem mesmo desejo descontrolado o impediria de ter certeza do consentimento dela. Jane não precisava de palavras, ela conhecia seu Kurt o bastante para saber perfeitamente o motivo daquela pausa. E não esperou que ele dissesse.

— Eu preciso disso tanto quanto você, Kurt.  Eu preciso desse momento só nosso.

E aquele sorriso torto inundou o rosto dele e a alma dela. Kurt recuou um pouco só para observá-la. Ela era tão linda quanto nos sonhos que teve nas última noites. Aquele olhar carregado de amor e desejo que fez tanta falta à ela agora incendiava seu corpo com mais força do que o toque de outros homens seriam capazes. As linhas de tinta que cobriam sua pele traçavam um caminho perfeito para seus lábios e ele se entregou à essa jornada disposto a conhecer o sabor de cada centímetro da pele dela.

Os momentos que se seguiram foram singulares para Kurt. Era tudo tão novo e tão certo pra ele. Não havia qualquer lembrança dos momentos de amor que viveram em sua memória, mas ele sabia onde e como tocá-la. Cada gemido que teve em resposta aquecia sua alma com o aconchego de quem está em casa, no lugar ao qual pertence. E a forma como ela o tocava? Como ela era capaz de despertar nele sensações tão intensas? Decididamente ela conhecia cada detalhe do seu corpo e de sua alma para fazer aquilo. E ele não era capaz de manter qualquer restrição à ela, só lhe restava se entregar por inteiro, deixar que os beijos e toques dela lhe roubasse de vez toda e qualquer racionalidade.

Ao afundar o dedo no calor entre as pernas dela, ele percebeu que era recíproco. Eles estavam nisso juntos. E não havia mais motivos para retardar o que mais queriam. Colocando-se sobre ela, a penetrou devagar, com cuidado para senti-la se adaptar a ele. E, por Deus, como se encaixavam perfeitamente! Começaram a se mover lentamente para prolongar aquilo o máximo possível. Mas não demorou até os seus corpos pedirem mais força e os movimentos se tornaram mais rápidos e intensos, impulsionando seus corpos de encontrou ao outro com toda a necessidade que tinham de estarem juntos. E mundo ao redor já não existia mais. Tudo se resumia aos dois e às sensações e sentimentos colossais que os unia naquele movimento capaz de leva-los ao paraíso.

Pareceu eterno e transcendental quando ele a sentiu estremecendo extasiada em torno dele e seu gemido soando pelo quarto como um cântico angelical. Kurt não foi mais capaz de conter a onda de prazer que varreu seu corpo e não lhe permitiu racionalidade sequer para sair de dentro dela antes de se derramar no ápice de tudo.

Enquanto a onda de prazer entrava num refluxo lento e seus corpos buscavam um ritmo cardíaco mais compatível com a vida, Kurt sentiu as mãos de Jane envolvendo seu rosto e seus lábios roçando os deles numa declaração de amor mais forte que qualquer palavra. Depois os braços dela envolveram seu dorso o convidando a se aconchegar no colo dela. Ele cedeu por alguns minutos, mas logo se jogou de lado. Não queria que seu peso a sobrecarregasse. Sabia que devia estar tão exausta quanto ele.

Jane aproveitou para se virar de lado, esperando que ele se aconchegasse à ela para um cochilo como costumavam fazer, sempre abraçados de conchinha. Era a primeira vez em meses que ela se sentia realmente feliz. Fazer amor com marido daquela forma foi tão espetacular e tão habitual. Foi tudo tão perfeito que parecia que ele se lembrava. Talvez se lembrasse a partir de agora.

Ao virar de costas pra ele, Kurt pode ver a tatuagem que ocupava a maior parte de suas costa. Seu nome “Kurt Weller”. Jane já tinha contado sobre isso, mas era a primeira vez que ele a via. Imediatamente seus dedos correram para a pele dela roçando suavemente aquelas linhas. E foi crescendo dentro dele o desejo dela de novo assim como ele pode perceber a dimensão do sentimento que nutria por aquela mulher. Era imenso, mais forte do que qualquer coisa que já sentira por outra. Não era algo comum. Talvez sequer fosse algo normal. Ele estava a ponto de perder o controle de novo. Isso o assustou e, ao pensar que poderia assustá-la também, rapidamente, ele saiu da cama e se trancou no banheiro. Ligou o chuveiro e entrou embaixo da água procurando recobrar a sanidade.

Jane se virou para ele assim que o sentiu se movimento, mas foi tudo tão rápido que ela sequer tinha sido capaz de dizer seu nome quando a porta do banheiro bateu calando-a. O que teria acontecido? Ela estava atordoada. Num segundo estavam se amando com toda a intensidade que viviam isso antes, ela chegou a pensar que Kurt teria recobrado a memória. Tudo estava tão perfeito! Agora a cama estava tão vazia e fria sem ele.... Relutante, Jane se levantou e foi até a porta do banheiro disposta a bater e dizer que podiam conversar. Foi então que ouviu o chuveiro. Será que foi tudo rápido demais pra ele? Ou ele estaria se sentindo sujo por ter feito amor com ela, aquela mulher que todos lhe diziam que era uma terrorista e ela mesmo já tinha confirmado isso sobre seu passado pra ele?

Ela conhecia a confusão de uma mente zipada. Sabia que forçar qualquer coisa agora só o deixaria ainda mais confuso e sufocado. Ela o amava mais que tudo. O amava o bastante para dar a ele o tempo e o espaço que precisasse para processar o que aconteceu.

Jane vestiu o pouco de sua roupa que estava no quarto e desceu recolhendo o resto rumo ao porão.

Kurt saiu do banheiro ainda atordoado por tudo que viveu naquele dia. Ele era diferente quando estava com Jane. Ele era diferente com qualquer coisa relacionada a Jane. E não conseguia definir se isso era bom ou não. Mas sabia que precisa esclarecer tudo com ela. O quarto vazio foi a prova de que as coisas estavam ainda totalmente fora do seu controle. Se vestiu rapidamente disposto a ir até o porão tentar fazer o melhor. Foi então que seu celular tocou. Era a escola. Estava atrasado para pegar os filhos. A conversa com Jane teria que ficar para depois.

Não demorou nem meia hora até que estivesse de volta. Ela o esperava na cozinha e recebeu os filhos com aquele sorriso lindo de sempre. Seus olhares se cruzaram por um breve momento. Insegurança era tudo que os olhos do outro diziam. Em meio aos cuidados e diálogos com as crianças, quando encontrou uma brecha, ele disse:

— Jane, eu sinto muito. Assim que eles dormirem, conversaremos.

Ela assentiu e olhou com coragem e carinho para ele:

— Kurt, você pode ter o tempo que quiser. Eu entendo...

Trocaram um sorriso. Foi quando a campainha tocou. Jane desceu para o porão. Kurt foi até a porta. Boston e Ana estavam na porta da frente com os braços carregados de coisas. Assim que entraram, Boston informou:

— Estamos transferindo o centro de operações para seu porão. É o lugar mais seguro e com entrada direto para o firewall do FBI.

Após as crianças dormirem, se juntaram aos amigos na reorganização do porão. Não havia espaço para seu relacionamento agora. Tinham coisas mais urgentes a resolver.

— Não temos a menor chance de resgatar Roman ou chegar até a Patterson sem Rich. Vocês sabem que odeio aquele arrogante e presunçoso, mas precisamos dele aqui. – Boston insistiu.

Missão decidida. Sem tempo para o casal discutir o que aconteceu. A madrugada que se seguiu foi de muito trabalho.

Nos próximos quatro dias, todos se concentraram em organizar a fuga de Rich.

Tudo aconteceu no dia da entrega de lençóis novos na prisão. Kurt conseguiu o nome da empresa que faria a entrega além de imagens das credenciais. Boston foi o motorista da van e Jane a entregadora que rendeu os guardas conseguindo acesso à cela de Rich. Ana, mesmo estando na casa de Kurt, garantiu que os alarmes não soassem a tempo e que todos os semáforos estivessem abertos durante a fuga.

Dentro da van, quando Jane finalmente retirou a máscara, Rich disse:

— Pelos céus, você está viva! Eu jurava que tinha sido a primeira a ser eliminada. Quando a porta da cela se abriu e você acenou pra eu te seguir, pensei: ou estou sendo resgatado pelas forças do bem ou é algum ex-affair que vai querer abusar de mim antes de me matar. E o que eu tinha a perder, não é? Como é bom te ver novamente, Jane! Se quiser abusar de mim, vou ter que me submeter...

— Você não imagina como é bom ver que você se lembra de mim.

— Você acha que eu esqueceria da minha musa tatuada? Nem se me zipassem eu deixaria de ter sonhos eróticos com você e Stubbles. Aliás, cadê o zangadinho? E a Patterson? Ela deve estar morrendo de saudade de mim! Tem aquela outra que não lembro o nome... bem, vamos deixá-la de lado...

Jane sorriu e esperou que o ímpeto de tagarelice de Rich diminuísse. Depois o colocou a par da delicada situação em que se encontravam durante o caminho até a casa.  

Já reunidos no porão no final da noite, Rich disse:

— Eles não sabem brincar quando o assunto é meter vocês em encrencas. Podemos ganhar um Oscar se transformarmos em filme depois. Ninguém acreditaria que foi realidade mesmo.  Bem, o importante é que agora estou aqui e se tem alguém que é capaz de romper as barreiras de segurança da loira mais fodástica do Vale do Silício sou eu!

— Sim, Rich. Estamos felizes que esteja conosco nisso. Mas antes precisamos resgatar Roman. A execução dele ocorrerá em poucos dias. – Jane estava muito abalada com isso.

— Aquele deus grego que você chama de irmão? Claro que estou dentro!

O choro de Ben soou pela babá eletrônica e Jane se levantou colocando a mão no ombro de Kurt para sinalizar que iria até o bebê. Ana subiu com ela porque queria dormir. Boston, que ainda não tinha dirigido sequer uma palavra à Rich, também aproveitou para sair do porão dizendo que ia tomar um banho.

Ao se ver sozinho com Kurt, Rich retomou a conversa:

— Então, você foi zipado! Isso não é bom. Vem cá, a Jane te contou tudo? Tudo mesmo, até os detalhes mais sórdidos?

Kurt tinha estranhado muito aquela figura. Se manteve sério diante de Rich mas o ex-hacker despertou sua curiosidade:

— Se você já sabe que fui zipado, também deveria saber que não tenho como ter certeza disso.

— Eu aposto que ela não te contou. Deve estar introduzindo as informações aos poucos. Você sabe, ela é cuidadosa e não ia querer assustá-lo.

— Conte logo o que você está querendo me passar, Rich. Não tenho paciência para esse seu jogo.

Colocando a mão no ombro de Weller e olhando diretamente nos olhos dele, o hacker disse:

— Não é verdade que vocês dois eram um casal. Éramos um trio: Você, Jane e eu!


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Notas finais do capítulo

Amei escrever esse capítulo apesar dos poucos detalhes na cena principal. Queria um final divertido. O que acharam?

Muito obrigada pela leitura.



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