Oblivion escrita por Lucca


Capítulo 4
Tudo que ainda não pode ser


Notas iniciais do capítulo

Hora de por a Fase 1 engrenada e matar Jane!
Mas não podia deixar o mesversário do Ben passar em branco. (Pedido da Gabi que estou atendendo com toda satisfação!)
Esse capítulo está recheado de ... Nas!
Teremos Kurt sendo totalmente Kurt Weller. E Jeller com sua forma única de enfrentar os problemas.

Boa leitura!



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Na tarde seguinte, Boston se juntou a Jane e Ana. Com seus conhecimentos e contatos foi muito mais fácil e rápido organizar os preparativos para forjar a nova morte de Jane. Kurt disponibilizava as possibilidades e eles encobriam os rastros digitais e conseguiam pessoas confiáveis para executar o que precisavam. No máximo em 48 horas poderiam executar o plano: Jane seria vista e fotografada contratando um avião bimotor para ir até onde Roman estava preso, mas o voo terminaria num trágico acidente causando sua morte. A explosão da aeronave não deixaria destroços suficientes para identificar o corpo.

No final daquela tarde, a temperatura tinha caído drasticamente. Fortes chuvas do final do outono trouxeram uma frente fria. Kurt estacionou o carro na garagem e entrou rapidamente com as crianças. Queria desativar o sistema de segurança para Jane poder entrar na casa porque estava frio demais na garagem. Assim que recebeu a mensagem dele, ela saiu do porta-malas e entrou na cozinha.

Ben se jogou do colo do pai para os braços da mãe.

— Oi, meu amor, também estava com saudade. Especialmente hoje, filho. Oito meses, você está ficando um homenzinho! – Jane disse beijando a cabecinha do filho. – Estávamos decididos a reunir os amigos e comemorar todo mesversário do Ben. E agora eu nem posso levar meu filho pra um passeio.

— Você terá a oportunidade de viver todos esses momentos quando desmascararmos seja lá quem for que nos fez tudo isso. Eu prometo! – Kurt disse com um toque suave no braço dela.

— Logo vamos conseguir reunir o team e, então, não demorará até termos tudo de volta. Talvez possamos comemorar o primeiro aninho do Ben com a família toda reunida e feliz. – a determinação e o sorriso de Jane eram contagiantes.

Bethany se empoleirou na cadeira para também abraçar Jane e ganhou um beijo da madrasta. Dividiram as tarefas. Jane subiu dar banho nas crianças enquanto Kurt preparava o jantar. Reuniram-se ao redor da mesa como uma família normal, ou quase. Enquanto alimentava Ben, Jane observou as câmeras de segurança da cozinha:

— Eu acho que se desviá-las apenas um grau em direções opostas, consigo criar um ponto cego que me permitiria ir da garagem ao porão com cuidado sem ser captada nas imagens. – disse.

— Ao final do jantar, testamos isso. Pode ser necessário num momento de emergência. – Kurt concordou. – aliás, eu tenho uma surpresa para quem comer toda a comida!

Todos trataram de deixar seus pratos vazios. Inclusive Jane e isso não passou despercebido por Kurt:

— Hum, a promessa de surpresas te faz se alimentar melhor. É bom saber disso! – comentou.

Ela sorriu e abanou a cabeça. Kurt foi até a geladeira e retirou uma pequena caixa que colocou sobre a mesa. Assim que a abriu, o conteúdo deixou Bethany eufórica:

— Bolo! Bolo!

— Sim, um bolo. É mesversário do Ben. Não podemos deixar passar em branco, não é?

Cantaram parabéns, comeram o bolo e colocaram os pequenos na cama. Bethany teve dificuldade de pegar no sono. Kurt estava na terceira história quando Jane retornou à cozinha para as mudanças nas câmeras. Pouco depois, ele se juntou à ela:

— Deu certo?

— Acho que não. Preciso de mais tempo com isso.

— Se tudo der certo amanhã, poderei dispensar toda a parafernália de segurança que colocaram aqui. Afinal, você estará morta.

— Você tem razão. Acho que estou ficando neurótica com isso.

Nisso a campainha tocou e Jane olhou pra ele assustada.

— Deve ser minha mãe. Vá para o porão. Vou tentar dispensá-la logo.

Jane desceu e ele ligou as câmeras de segurança antes de atender a porta.

— Nas, que surpresa!

— Espero que agradável. Eu estava com saudade e pensei que as crianças já estariam dormindo, assim não teria problema vir até aqui. Posso entrar?

— Claro. – ele disse dando espaço a ela enquanto mil possibilidades passavam por sua cabeça. Foi totalmente surpreendido pelo beijo com o qual ela o cumprimentou. Reação captada imediatamente pela experiente agente da ASN.

— Está tudo bem? – ela disse retirando o casaco.

— Sim, tudo em ordem. – ele respondeu colocando a mão em suas costas e a encaminhando para o sofá.

— Você tem estado arredio desde que te falei sobre aquela terrorista.

— Ocupado é a palavra mais certa. E mais cuidadoso também. Como vão as investigações? Já a encontraram?

— Nada até agora. Mas não se preocupe. Impossível romper as barreiras de segurança que colocamos. E temos algumas armadilhas. Logo ela cai em uma delas.

— Depois do enfrentamento com a segurança do SIOC, ela deve ter saído do país. Seu plano falhou. – Kurt argumentou enquanto servia bebidas para os dois no bar do canto da sala.

— Duvido muito. Ela é determinada. Se você é seu alvo, não desistiria tão fácil.

A conversa se seguiu por mais tempo que gostaria. Não demorou até que ela procurasse seu toque e seu beijo. Ele retribuiu, mas aquilo o incomodava. A naturalidade com a qual levava o relacionamento com Nas desapareceu assim que ele reencontrou Jane. Mesmo assim, Kurt sabia que não podia deixá-la perceber isso. Era preciso manter a aparência de normalidade em todos os aspectos de sua vida.

Após um beijo um pouco mais demorado, ela comentou se levantando:

— Preciso de água.

Imediatamente ele também se pôs em pé.

— Eu pego pra você. Por favor, sente-se. – ele precisava evitar que ela chegasse à cozinha. Perto demais do porão. Além disso, o bolo e os pratos ainda estavam sobre a mesa.

— Kurt, eu posso pegar. Precisamos superar essa ideia de que sou apenas uma visita pelo menos enquanto as crianças estão dormindo, não é? – e saiu caminhando em direção a cozinha.

— Eu só queria ser gentil. Se você quer assim, tudo bem. – disse a seguindo e já pensando numa desculpa.

No porão, Jane estava aflita com a demora no retorno de Kurt. Sabia que sair de lá era perigoso, mas subiu até bem próximo à porta para tentar escutar algo.

Assim que entraram na cozinha, os olhos de Nas voaram para a mesa:

— Olha só, vocês estiveram comemorando!

Ao lado da porta do porão, Jane ouvia tudo sentindo o chão faltar por já imaginar como aquela noite poderia terminar para a paquistanesa e Kurt.

— Sim, é o mesversário de Ben. Trouxe o bolo pra agradar Bethany e dar alguns momentos normais de família para eles. – Kurt disse já juntando os pratos para colocá-los na pia.

— Parece que você não queria que eu visse isso.

Ele olhou para ela e deu uma piscadinha:

— Acertou na mosca. A ideia é te convencer que somos uma família organizada e não que faz toda essa bagunça.

— Ah, Kurt, toda família é assim. Não se preocupe. Olha só, teve até um prato para o Ben.

Kurt conhecia Nas e sabia que ela estava reunindo provas de que havia mais pessoas na casa durante a comemoração.

— Exigência da Bethany. Ela não aceita que o irmãozinho use o mesmo prato que eu. E ele nem come esse bolo ainda. Quem acabou comendo os dois pedaços fui eu. – disse como se estivesse passando a informação mais comum do mundo enquanto colocava os pratos na cuba da pia. – Você quer provar o bolo? – perguntou virando-se para olhar Nas.

Ela estava com os olhos fixos na porta do porão. Um frio percorreu sua espinha. Ele precisava tirá-la dali o quanto antes. Então, a envolveu pela cintura e beijou seu pescoço:

— Eu perguntei se você quer bolo. – sussurrou ao pé do ouvido dela.

— Não. Obrigada. A quanto tempo você não desce no seu porão?

A vontade de Kurt era respirar fundo para articular um comentário que a afastasse dali. Mas nem isso ele podia. Então, usou outra estratégia:

— Por quê? Você tem alguma fantasia sobre transarmos num lugar empoeirado?

Ela sorriu e balançou a cabeça:

— Medidas de segurança. Estou pensando na terrorista.

— E você disse que me achou arredio depois da aparição dela. Você está neurótica com isso. Temos seguranças lá fora e câmeras monitorando cada centímetro dessa casa. Impenetrável, lembra? Um pouco absurdo ela estar no meu porão.

— Você tem razão. – e se virou para ele lhe dando um suave selinho – Mas sabe que sou precavida. Vou me sentir mais segura se verificar. – e se desvencilhou dos braços dele e foi até a porta do porão.

Nas acendeu a luz e desceu as escadas com Kurt atrás dela. Tudo que ele pensava agora era em como contê-la até lhe explicar tudo já que o encontro com Jane seria inevitável. Quando chegaram ao final da escada, o espaço estava vazio. Não havia ninguém ali. Jane era astuta. Devia estar no banheiro. Imediatamente ele se colocou entre Nas e aquela porta.

— Satisfeita? Não há nada além de pó. Vamos subir... – ele disse.

— Kurt! Sabe que não vou subir enquanto não verificar o banheiro.

Ele, fingindo casualidade na situação, abriu espaço para Nas passar e ficou se perguntando se ela ouviria as batidas rápidas e fortes de seu coração que pulsava desesperado por não ser capaz de proteger Jane.

Ela abriu a porta e entrou. Nada. O banheiro estava vazio. Kurt não entendeu, mas seus instintos gritaram para ele entrar e segurar Nas lá dentro por mais tempo. Talvez isso fosse suficiente para Jane sair do porão se ela ainda estivesse ali.

Entrando no pequeno espaço, a cercou com os braços contra a parede:

— E agora, está convencida de que estou seguro na minha casa? Ou seu receio não era somente sobre essa tal terrorista, mas temia que podia haver outra mulher em minha vida por causa dos três pratos vazios na mesa?

Nas finalmente pareceu relaxar:

— Não sou do tipo ciumenta, acredite. - e retribuiu com um beijo intenso - Vamos subir para o seu quarto, Kurt.

— Não, Nas. Eu sinto muito. Aquela era a cama minha e de minha esposa. Eu não posso...

Sem deixá-lo falar mais, Nas se lançou sobre ele numa nova onda de beijos.

Enquanto ouvia o som dos beijos dos dois, Jane escorregou para fora do armário de vassouras. O espaço era extremamente pequeno, se ela não estivesse tão abaixo de seu próprio peso provavelmente não caberia ali. Ela avaliou esse possível esconderijo na noite anterior. Sabia que uma eventualidade poderia ocorrer. Sua intenção agora era deixar o porão o quanto antes se esgueirando escada acima silenciosamente. Mas, de repente, tudo ao seu redor era um silencio ensurdecedor entrecortado pelo sons dos dois no banheiro. Os passos na escada foram difíceis de silenciar porque seu corpo todo tremia.

Quando chegou ao topo, já a ponto de passar a porta, a forma como Nas gemeu o nome de Kurt a fez sentir náuseas e tontura. Mas não havia tempo para sentimentos. Ela puxou o ar enchendo os pulmões e focou no trajeto que deveria fazer para escapar das câmeras de segurança. Foi rápida e precisa. Chegando à garagem, sentiu a baixa temperatura do local. Ela não teve tempo nem cabeça para pensar num agasalho. Só havia um lugar onde talvez estivesse segura: o porta-malas do carro. Foi onde ela entrou.

A passagem do tempo se tornou seu algoz. A cada segundo seu corpo ficava mais e mais gelado. Ou será que era seu coração? Por mais que ela tentasse esquecer, sentia-se dilacerada pelo que estava acontecendo no porão naquele exato momento. Que escolha Kurt tinha? Perguntou a si mesma. E conhecia a resposta: nenhuma.

Seus olhos se fecharam exaustos.

De repente, Jane se viu trazida de volta por alguém que a segurava pelo braço. Atônita, sem noção exata de quanto tempo havia passado e de onde estava, Jane tentou se levantar arredia.

— Sou eu, Jane. Está tudo bem. – Kurt disse com a voz suave e pegou em suas mãos – Deus, você está muito gelada. Venha, tenho que te levar pra dentro.

Ela concordou com um gesto da cabeça e tentou sair do porta-malas, mas continuava muito zonza. Imediatamente, Kurt envolveu os braços ao redor dela e a segurou, ajudando-a a caminhar para dentro. Na cozinha, Jane se sentou na banqueta do balcão e tentou falar:

— Ela sabe...

— Acho que não. Tudo que ela viu era circunstancial. Nas é uma excelente agente e sabe que não pode ser apoiar num prato de bolo. – levando a mão até o rosto de Jane, disse – Você ainda está muito gelada. Precisamos te aquecer. Com licença... – disse já passando o braço por baixo dos joelhos dela e a suspendendo no colo.

— Kurt, eu posso andar.

— Eu sei, mas a escada é longa e me sinto mais seguro te carregando.

— Eu posso descer sozinha. – Jane insistiu. Estava ainda trêmula e não queria que ele percebesse.

— Você não vai descer. Nós vamos subir.

Atravessou a sala com ela e subiu as escadas em direção ao quarto do casal. Colocou-a na cama como cuidado e puxou o edredon ao seu redor.  Depois se sentou ao seu lado e ficou acariciando seu braço.

— Está melhor?

— Sim. Obrigada. – ela ainda não tinha feito contato visual com ele e sabia que estava esperando por isso. Tomando coragem, olhou pra ele e tentou sorrir.

— Jane, sobre Nas, não aconteceu nada. Eu disse que precisava buscar a babá eletrônica e subi. Depois disse que o Ben estava acordado e, por isso, demorei a voltar ao porão. Pedi desculpas e ela foi embora.

— Você não me deve explicação nenhuma, Kurt. Eu entendo.

— Mas eu preciso que saiba. Se você é minha esposa, mesmo que não esteja ocupando esse quarto, eu vou te respeitar sempre.

Jane se ajoelhou sobre a cama e se lançou num abraço ao marido que a envolveu de volta. Kurt achou melhor não questioná-la, mas sentiu seu suave soluçar e as lágrimas dela molhando sua camisa. Quando ela se acalmou, ele lhe deu um beijo suave na testa e perguntou se poderia dormir ao seu lado.

Adormeceram juntos, cultivando a esperança de que tudo daria certo no dia seguinte.

O dia seguinte amanheceu chuvoso e gelado. Seguiram a rotina de costume. Cada ação estava precisamente calculada. Kurt forneceu todos os dados necessários. Boston negociou o avião e instalou os controladores de voo e os explosivos. Ana, na retaguarda dos acontecimentos, controlava todas as câmeras para garantir que só estivessem ativas aquelas que lhes interessavam. Mas o cerne de toda ação estava centrado em Jane. Ela precisava escapar da patrulha das agências federais, ser capturada pelas câmeras certas, na hora certa, decolar com o avião e depois saltar de paraquedas antes da explosão final.

Kurt nunca se sentiu tão inútil atrás daquela mesa. A gravata parecia apertar o nó ao redor do seu pescoço mais e mais conforme as horas do dia se passavam. O mal tempo era um agravante, ele sabia. Os alertas chegaram até ele no horário combinado. Assumindo o controle do SIOC por se tratar de uma missão importante, ele encontrou o álibi perfeito para se livrar da sua gravata e cometer os erros mais discretos e cruciais para manter o FBI longe de Jane.

Mesmo sabendo que a explosão do avião estava nos planos, ele ficou arrasado. O medo de que algo pudesse ter saído errado se apoderou dele. Não foi capaz de conter sua reação frustrada. E todos ali pareciam esperar por isso. Até mesmo Madeline estava presente alegando querer dar apoio ao filho já que a segurança da família estava em risco. Ele leu a satisfação nos olhos dela e a frieza de Christofer quando a explosão ocorreu. Logo se viu rodeado por todos em sua sala. Nas e Keaton pareciam frustrados por não conseguirem pegar a “terrorista” com vida. Entre lamentos e parabenizações, surgiu a ideia de todos irem para casa mais cedo e descansarem. Kurt concordou, mas disse que precisava ficar um pouco mais de tempo ali para preencher alguns papéis importantes, apenas uma desculpa para não deixar o NYO com Nas. Cuidou para que os seguranças de sua casa fossem dispensados e ele mesmo desativou o sistema de câmeras instalado de lá mesmo do SIOC.

Acompanhou minuto a minuto no relógio aquela interminável meia hora para poder deixar o prédio. Amaldiçoou cada lei de transito que não pode desrespeitar, cada sinaleiro fechado. Chegou ao ponto de encontro combinado com sua alma beirando o desespero.

Viu Jane sair de trás do trailer e se aproximar com um sorriso no rosto:

— Nós conseguimos! – ela disse.

Kurt permaneceu sério, inalou o ar agora com muito mais facilidade. Andou até a traseira do carro e abriu o porta-malas. Ainda como num transe, disse com voz firme e determinada:

— Entre!

Jane não questionou. Ela sabia que algo estava errado com o marido, mas confiava nele mais que tudo.

Porta-malas fechado, Kurt retornou ao volante e colocou o carro de volta na avenida. Só um destino interessava à ele agora.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Chegamos até aqui. Agora Jeller poderá ter mais espaço. Mas porque será que o Kurt está reagindo assim?
Estão gostando? Há algo que acham que precisa de acertos? Ou algo que gostariam que acontecesse? Críticas e sugestões são bem vindas.
Muito obrigada pela leitura.



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