Say Something escrita por Andreza Cullen


Capítulo 5
Chapter four


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, tudo bem? Bom, como prometido aqui está o novo cap, espero que gostem :)
Essa semana ta foi uma correria, aula, roteiro pra decorar, coisas pra estudar... E a próxima semana vai ser mais loucura ainda, vou ter que viajar justo no domingo, então já quero deixar avisado que talvez, TALVEZ semana que vem eu não poste. Vou fazer o possível, mas infelizmente não prometo. Depois da semana que vem voltamos a programação normal hahaha



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 Acordei ainda com a cabeça me incomodando. Embora a briga de ontem houvesse sido um inconveniente, era tão comum que não me incomodava mais. Provavelmente hoje agiríamos como se aquilo não houvesse passado de algo rotineiro, o que na verdade era. 

Me troquei rapidamente e fui acordar Scorpion. 

 – Cobrinha, é hora de levantar... – murmurei acariciando os cabelos do meu filho que dormia serenamente. Antes mesmo que ele conseguisse abrir os dois olhos murmurou:  

 – Sem panquecas hoje, papai?  

Não pude deixar de rir diante da indignação do pequeno.  

 – Sem panquecas, Scorp. Mas, faço aquela vitamina de frutas vermelhas, que tal? – lhe lancei uma piscadela enquanto ele pulava no meu colo me dando meu abraço matinal e eu já o levava para o banheiro.  

 – Não se esqueça, 15 min Scorp – fui para a sala depôs de separar o uniforme do meu filho.  

O cômodo estava vazio. Havia uma coberta dobrada sobre o sofá e não havia bagunça. Só faltava Potter ter dormido fora!  

Mas não. O encontrei na cozinha, preparando torradas com tomates. Merlin, como todo mundo naquela casa amava aquilo, e Potter fazia de um jeito único. O desgraçado nunca me revelou o segredo.  

Fiquei surpreso. Não porque ele não cozinhasse, nossas tarefas domésticas sempre foram muito bem divididas. Mas, vamos lá, eram 7:00 da manhã. Ele nunca acordava sozinho esse horário.  

— Draco... – ele começou a falar antes mesmo que eu adentrasse a cozinha. Sabia que provavelmente ele me pediria desculpas, mas eu já estava entediado daquilo. Só queria alguns segundos de paz e silencio antes que a dor de cabeça voltasse.  

Fui até a pia, onde um prato com algumas torradas já prontas pousava e peguei uma silenciosamente, mas recebendo um olhar de representado do moreno.  

 – Não é minha culpa de você não me fala o segredo, então tenho que aproveitar quando você faz – falei, mordendo a torrada e dando de ombros.  

— Precisamos conversar sobre... 

— Não, Potter. Não precisamos e não vamos. O assunto morreu ontem quando você saiu do quarto e eu não vou falar sobre isso. A gora podemos seguir com as nossas vidas, por favor? – embora o pedido fosse educado, deixei claro na minha entonação que aquilo já estava decidido. 

Ele suspirou de dando por vencido e voltando para as torradas. Continuamos alguns segundos em silencio. Teria sido fácil ignorar qualquer coisa se ele não houvesse voltado a falar. 

 – Foram anos de prática para chegar a receita perfeita. Sabe, geralmente a única coisa que os Drusley me deixavam comer era pão velho e tomates no café da manhã...  

Quando Potter falava sobre sua vida antes de Hogwarts, não importa o quão bravo eu estivesse, uma parte de mim morria. Vamos lá” Ele era só uma criança quando passou por toda aquela humilhação e negligencia.  

Por um breve momento, vi ali um Harry que a muito não enxergava. O que havia chego em Hogwarts com roupas largas demais. Que nunca havia visto uma mesa com tanta comida ou ganho um presente de aniversário, e não me controlei. Tirei suas mãos das torradas que ele estava distribuindo sobre a assadeira e o abracei. Ele pareceu surpreso por alguns segundos, mas logo passou seus braços pela minha cintura retribuindo e enterrando seu rosto nos meus cabelos.  

 – Aquilo não foi justo! Você era só uma criança!  

 –  Hey amor, tá tudo bem – o tom dele era suave – Eu tenho tudo o que sempre quis agora. Um filho incrível que é meu tesouro mais precioso e o homem que é o amor da minha vida, mesmo que ele não acredite nisso.  

Coloquei minha mão no seu peito pronto para me afastar. Aquilo já havia durado demais e as palavras dele eram injustas, mas antes que eu conseguisse sair do abraço ele me puxou e me abraçou mais forte.  

  – Não não não, eu prometo que fico quieto, juro.  

  – Jura?  

 – Juro!  

 – Ok – voltei a abraçar seu pescoço, tentando não demonstrar o que os seus braços envoltos em mim estavam fazendo com minha cabeça. Confuso. Muito confuso, Draco. Eu não queria deixar de abraçar ele, e isso me assustava. Não era como se eu não gostava que ele me abraçasse, mas fazia tanto tempo que não fazíamos isso que eu me surpreendi por sentir falta. Mas claro que a emoção pelo fato do assunto sensível ajudara para aquele momento, e ele já estava longo e longe demais. 

Eu pensaria nisso mais tarde. Isso, mais tarde quando estivesse sozinho.   

 – Torradas, Potter – falei, saindo do abraço e me afastando.  

Ele riu e me soltou, voltando para a assadeira.  

  

  

  

 – Lacey, vou almoçar agora. Anote os recados e não deixe ninguém entrar na minha sala – comuniquei pela porta para a secretária, antes de me trancar na sala.  

Eu não era o maior fã de almoçar com ou outros. Sabe, mesmo depois de anos, de eu ter me casado com Potter e termos uma família, ainda não deixei de ser o filho de Lucius Malfoy, comensal braço direito de lorde Voldemort. Muitas pessoas quando pensavam que casei com ele por interesse, para amenizar minha reputação. Se eles soubessem o quão eu lutei contra o que eu sentia pelo testa rachada na época. Então era mais seguro para a minha sanidade mensal ficar minha hora na sala.   

Escolhi a opção do cardápio do hospital e desejei que ela aparecesse na bandeja da minha frente. Risoto de brócolis. Nada mal.  

Por mais que eu tentasse entender o que estava acontecendo entre mim e Potter, e pior, entre mim e eu mesmo, não chegava a conclusão alguma.  

Por um lado, eu havia enfrentado tudo, todos os comentários negativos, tudo o que aprendi na minha família, tudo por Potter. Havia me casado com ele, confiado no nosso amor e acreditado que seríamos felizes. Que nunca teríamos o que meus pais tinham. Que o que tínhamos era amor, e isso era para sempre.  

Bom, não foi.  

Porém, por outra parte havia Potter. Potter, que foi criado por pessoas horríveis. Que nunca havia vivido o real significado de família até conhecer os Weasley e Sirius. Que não teve referência alguma a uma vida feliz quando criança.   

E que por muito tempo não fora mais o Potter que eu conheci. Que me fazia lembrar todos os dias que eu era o homem da vida dele. Fazia eu me sentir protegido.  

E agora, bom, agora ele dava indícios de que talvez as coisas pudessem ser como antes. 

E isso bagunçava tudo.  

Eu não consiga acreditar nele mais. Mesmo que todos pensem que eu deveria agradecer por casar com ele, EU perdi muito, mas muito, também. Não que eu estivesse reclamando, nunca voltaria a ser aquela pessoa preconceituosa com sangue ruins, mas eu deixei que o mundo me atirasse pedras porque Potter prometeu ser meu escudo.   

Não sejamos injustos. Ele nunca deixou ninguém ou nada me ofender. NUNCA. Mas de uma hora para outra isso se tornou apenas um amigo defendendo outro. Ou um estranho defendendo alguém.  

E por fim, o meu filho, minha vida, Scorp. Como eu amava aquele serzinho loiro cômico e perspicaz, e ele merecia tudo, TUDO o que eu e Potter não tivemos.   

E por Scorp eu não poderia me tornar vulnerável outra vez. Talvez eu não conseguisse aguentar a indiferença de novo. Não seria justo com ele ver os pais acuados e chorando pelos cantos.  

Sim, era isso. Não deixaria nada afetar Scorp, então não poderia deixar Potter me afetar.  

Quando terminei, o prato de desmaterializou da minha frente e logo em seguida ouvi uma batida na porta.  

Eu não havia dito a Lacey para não deixar ninguém entrar?!  

Não respondi, mas logo em seguida ouvi a porta ser destrancada e aberta, e Potter surgiu com seu uniforme de Auror e uma sacola na mão.  

 – Você ou o cenoura se machucaram?! – falei enquanto me levantava e ia até ele, procurando por algum machucado exposto.   

— Não, estamos bem. Estou no meu intervalo de almoço –ele riu, dando de ombros – Não saímos do escritório hoje, então não tínhamos como nos machucar...  

Me afastei, desconfiado.  

—  Então porque está aqui? – voltei para a minha cadeira, esperando a resposta e já arrumando alguns prontuários que eu estava analisando mais cedo.  

—  Bom, resolvi comer fora e fui até o E Pellicci, então lembrei que eles têm aquela sobremesa que você ama...  –se aproximou, tirando uma embalagem de viajem da sacola plástica – e trouxe para você!  

O encarei, ainda com os prontuários na minha mão, sem dizer nada.  

Ele o que?!   

Provavelmente ele deve ter almoçado milhares de vezes nesse lugar e nunca nem se lembrou que eu amava aquele doce, que dirá me trazer um.  

Mas mesmo assim Potter estava ali, colocando uma embalagem plástica na minha mesa. 

Desviei o olhar da sobremesa e me levantei, indo até a janela da minha sala, de costas para ele.  

 – O que você pretende com isso, Potter? – minha voz saiu acusadora, mas contida. Fria.  

Eu não podia me tornar vulnerável. Por Scorp.  

Potter não respondeu por alguns segundos.  

 –  O que você quer dizer com isso, Draco? – a confusão era clara pela a entonação da sua frase.  

Era só o que me faltava. Ele se fazer de sonso.  

Me virei para ele, mas sem sair do lugar.  

 – O que você pretende com isso, uh? Me abraçando, perguntando se eu preciso de ajuda na cozinha, me trazendo uma sobremesa no trabalho?   

— Não sei, talvez te abraçar, saber se você precisa de ajuda e vir te ver no seu trabalho? – ele usou um tom de ironia que eu pouco via nele.  

Não tive um pingo de vontade de conter o riso cínico que eu sei.  

 – Nos poupe, Potter. De uma hora pra outra você resolveu que queria fazer isso? Eu não quero que você me abrace, não quero sua ajuda e nem a sua sobremesa.  

  – Mas eu quero! – Potter começou a levantar a voz, e eu sabia que logo faria o mesmo se não encerrasse aquilo ali.  

 – Não, não quer! Você esta fazendo isso porque acha que é sua obrigação, mas deixa eu te contar uma coisa Potter, não é! Meus pais nunca fizeram esse tipo de coisa...  

 – Não nos compare a eles! – ele me interrompeu, e eu me assustei com o seu tom – Não somos eles! Nos casamos por amor, Draco! Não vamos arranjar amantes e passar o resto das nossas vidas apenas “funcionando bem” como você mesmo diz!  

  – Não diga como se você já não tivesse UM! – o sangue estava pulsando acelerado nas minhas veias, e aquilo estava tomando um rumo completamente desproporcional. Cuspi a frase em Potter, enquanto ia até ele com um olhar de nojo.  

  – Mas o que Merlin eu vou ter que fazer pra você entender que eu não te traio, nunca te trai e nunca vou te trair?! Talvez quem tenha o amante seja você! E talvez por isso me queira tão distante! Em Draco, porque não coloca as cartas na mesa agora?!  

Aquilo já era demais. EU era o que pegava Scorp todos os dias na escola, EU era o que via ELE chegar horas depois do horário de serviço ter terminado, cheirando a Wisky e me ignorando. EU quem tinha que lavar aquelas malditas camisas temendo encontrar algum número nos bolsos.  

 – Mesmo que eu quisesse Potter, me diz que horário eu te trairia, hem?! Não sou eu quem chega em casa a hora que quer, no estado que quer sem nem dar satisfações! – vi que ele tentaria argumentar, mas decidi que aquilo já havia ido longe demais – E aliás, eu não tenho tempo pra isso agora. Preciso checar meus pacientes. Você sabe onde fica a saída – peguei os prontuários e o jaleco e sai de lá sem olhar para ele.  

Eu podia sentir o sangue passando mais quente do que o normal pelas minhas veias. Como ele housa?!  

Caminhei rumo a seção infantil do hospital, voltando a ler os prontuários, expulsando aquilo da minha mente e me focando no meu trabalho. Não precisava de mais distrações.  

  

  

 – Papai, por que o pai não veio jantar hoje? – Scorp estava comendo o macarrão elegantemente sobre sua banqueta mais alta na mesa da cozinha.   

Lancei-lhe um sorriso e resolvi não responder, afinal, o que eu responderia?  

 – Como anda a escola, Scorp? E nem adianta me olhar assim, sei muito bem que você anda fugindo da aula de educação física – minha tentativa de falar em um tom de censura não passou nem perto de ser bem sucedida. Scorp odiava as aulas de educação física, e sempre fazia de tudo para poder ficar na biblioteca durante ela.  

 – A única coisa que eu gostaria na educação física é Quadribol, mas não existe isso na escolinha trouxa... – meu filho deu de ombros, voltando para o prato.  

Scorpion entendeu que ele nunca poderia falar nada sobre o mundo bruxo para os colegas trouxas. E isso não o deixava exatamente triste, e sim orgulhoso.  

 – E quantos livros você leu enquanto matava aula nas últimas semanas? – usei o tom casual, sabendo que ele cairia.   

 – 7! Da pra acreditar? Tinha um sobre um mundo mágico que eles entravam por um guarda – roupa que foi construído com a madeira de uma macieira mágica... – seus olhos se arregalaram de surpresa e ele levou as mãozinhas até a boca, tapandoa.  

Aquele garotinho sabia como fazer eu me sentir a melhor pessoa do mundo só por ele ser meu filho.  

 – Pode continuar, Scorp. Não vou te dar bronca por isso. Eu também matava as aulas que eram no lago em Hogwarts.  

 – Serio?!  

 – Seríssimo. Agora vamos, me fale sobre essa macieira mágica...  

Depois que acabamos de jantar, lá pelas 20:30, Potter ainda não havia chego. Ajudei Scorp com a lição, quase que inutilmente já que ele parecia ter tudo sobre controle – como meu filho era inteligente, por Merlin! – e o coloquei para dormir as 22:00.   

E nada de Potter.  

 – Papai, que horas o pai vai chegar? Ele nunca chega tão tarde...  

O loirinho já estava coberto, com pijama e na cama. Eu mostrava um livro de história bruxa para ele enquanto lhe fazia cafuné.  

Suspirei baixo.  

 – Ele não vai demorar, mas você precisa dormir. Amanhã levantamos cedo ­ –lhe dei um beijo na testa antes de levantar.  

 – Papai te ama, ok?   

 –  Também amo você – Scorp me abraçou antes de se enrolar na coberta e fechar os olhos, provavelmente fingindo dormir. Sai do seu quarto depois de ter certeza que a janela estava fechada e a luz apagada.  

Tranquei as portas e janelas da casa, lavei a louça e arrumei a cozinha. Resolvi passar alguns uniformes de Scorp e algumas camisas minhas antes de dormir.  

23:30 e nada dele.  

Desisti. Provavelmente estava com algum por aí.  

Fui para o quarto e tomei uma poção calmante, deixando a aspirina de lado dessa vez. Peguei no sono rapidamente. A cama parecia estranhamente confortável sem ele.  

  

  

  

Depois se passar para acordar meu filho e ganhar meu abraço de bom dia, fui fazer o café. Potter não havia voltado pra casa, ou pelo menos eu achava isso até encontrar ele estirado no sofá ainda com o uniforme do trabalho.  

Suspirei, me aproximando. O cheiro de álcool era de longe a coisa mais perceptível na sala.  

 – Potter, acorda – o balancei suavemente, sabendo que acordá-lo de maneira violenta nunca fora uma opção sabendo dos seus pesadelos.  

Assim que ele acordou eu me coloquei em pé.  

 – Francamente, Potter, o que carvalhos você tem na cabeça?! Chegar sei lá que horas, bêbado! – ele levantava com certa dificuldade do sofá, e quando olhei seu rosto minha raiva aumentou – E ainda com um olho roxo?! Deu pra se meter em brigas agora também?! – aproximei para examinar o ferimento, mas ele afastou minha mão com a sua.  

 – Eu sei me cuidar sozinho –  Potter murmurou, voltando a se sentar no sofá.  

 – Eu estou vendo mesmo! O que você tem na cabeça? Você não é mais nenhuma criança, Potter, você tem uma família!  

 – Eu tenho Scorp, você quis dizer – sua expressão estava congelada – Porque o que eu e você temos não passa de uma fachada.  

Aquilo não deveria me incomodar, mas incomodou. Não foi como um soco no estômago ou algo assim, estava mais para uma cutucada na costela que ficaria dolorido por um longo tempo.  

 – E você acha que seu filho merece ver a situação miserável que você está?   

Ele não respondeu, apenas desviou o olhar.  

 – Vou limpar o seu ferimento enquanto encho a banheira pra você tomar um banho gelado. Por Scorp, ele não merece ver alguém que ele admira tanto nesse estado lastimável – o olhei com desprezo – e a noite vamos conversar. Isso, é claro, se você não chegar de madrugada bêbado com uma costela quebrada.  

Sai para pegar a maleta de primeiros socorros.  

Passei a manhã inteira sem lhe dirigir o olhar ou a palavra. 

  

Sabe por que eu amava meu trabalho? Porque era minha obrigação ajudar as pessoas, e eu sempre fazia o possível e impossível para que tudo desse certo. E isso me deixava ocupado demais para pensar em qualquer outra coisa.   

 – Sr. Malfoy, o diretor Sanders quer te ver no seu consultório – minha secretária anunciou, logo depois saindo e fechando a porta. Ela era uma ótima secretária e não a trocaria por ninguém mais.  

Fui até o local, já sabendo o que ele iria me pedir.  

 – Malfoy! Como está? Sente-se, por favor – o homem de cabelos grisalhos e ar cansado, porém alegre, apontou a poltrona em frente a sua mesa.  

 – Lacey me avisou que gostaria de falar comigo – falei enquanto me acomodava no acento.  

 – Sim, sim. Sabe, estamos com alguns problemas com turnos ultimamente, principalmente por ser no final do ano e acabamos com uma falha no plantão de sábado para domingo. Preciso que você dobre nesse dia, mas te daremos duas folgas seguidas.   

 – Então eu trabalho das 9 da manhã até as 9 da manhã do outro dia e depois só na quarta? – os turnos dobrados eram sempre necessários nos finais de semana do final do ano. Se você acha que um trouxa bêbado com um carro é perigoso, é por que não viu com uma vassoura.  

 – Sim, claro. Você sabe que eu odeio pedir isso a vocês, mas estamos realmente apertados. 

 – Tudo bem, claro. Entendo que esse tipo de coisa aconteça no final do ano – já me levantei, me preparando para voltar a minha sala.  

  

Eu estava terminando de arrumar alguns papéis na mesa de escritório do meu quarto quando Potter entrou depois de ter colocado nosso filho para dormir. Não desviei o olhar de uns dos artigos que eu estava analisando quando ele passou pela porta, mas falei com a voz fria e cortante.  

 – Sente- se – e apontei com o queixo para a cama. Ele passou a mão pelos cabelos bagunçados e se sentou.  

 – Como você conseguiu o olho roxo? – perguntei  de costas, sem olhar para ele.  

 – Isso realmente tem relevância?  

 – Como, Potter?! – me levantei da cadeira e o olhei.  

Ele estava curvado, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e passando as mãos pelos cabelos.  

Demoraram alguns segundos até ele me olhar, para logo depois encarar um ponto aleatório do outro lado do quarto.  

 – Vamos, Potter. Mesmo que o que temos não passe de uma fachada, pelo menos isso eu tenho o direito de saber.  

Ele voltou o olhar para mim, e depois levantou, vindo em minha direção.  

 –  Draco, eu não queria ter dito isso...  

Ele se aproximou e eu recuei. Quando mais ele chegava perto mais eu me sentia mal.  

 – Queria, queria sim. Lá no fundo, queria. E isso não me surpreende.  Como conseguiu o olho roxo? 

Ele parou a poucos centímetros de mim, com aquele olhar perdido que ele usava dês de quando levava bronca do Snape na aula de poções.   

 – Amor, vamos conversar direito. Eu não queria, vamos nos acertar – ri sarcasticamente e lhe dei as costas, pronto para responder da maneira merecida quando ele me abraçou – vamos voltar a ser como éramos...  

Sai do seu abraço e voltei a encara- lo, com a cabeça erguida.  

 – Eu só vou te dizer uma vez, Potter. Nunca, mas nunca mais, encoste em mim. Nunca mais me toque se não for o necessário para Scorpion ver que ele tem uma família feliz.   

Travamos uma guerra para ver quem cederia primeiro o olhar. Os olhos de Potter estavam indecifráveis, e o meu, eu tinha certeza, que estava cortante. Ele perdeu quando desviou o olhar e suspirou, se afastando.  

Ele foi até a porta.  

 – Aonde você vai? – foram as únicas palavras que saíram empurradas pela minha  língua.  

 –  Dormir, no quarto de hóspedes.  

Era só o que me faltava.  

 – Isso é ridículo. Somos casados, mesmo que seja uma fachada, como você mesmo disse, dormimos no mesmo quarto! Já não basta os dias que Scorp acorda e você esta na sala, agora ele vai ver nós dormindo em quartos diferentes?! Ele não merece isso!  

 – Scorp merece uma vida feliz! E, deixa eu te contar uma coisa Draco, nem eu e nem você estamos felizes!   

O desgraçado abriu a porta e foi para o corredor. Eu o segui, pronto pra acabar com aquela palhaçada.  

 –  Volta pra droga do quarto, Harry! – ele parou no meio do corredor e me olhou, como se não acreditasse no que havia escutado. Me toquei da minha gafe, e emendei – Potter! Harry Potter!   

  – Não vou dormir no mesmo quarto sabendo que você tem nojo de mim!   

 – Eu não tenho nojo de você!  

Eu sentia muitas coisas com relação a ele, mas nojo não era uma delas. Ele se aproximou.  

 – Então me diz, Malfoy. Me diz qual o outro motivo que você tem para que eu não possa NEM TE BEIJAR!  

 – VOCÊ QUER MESMO SABER? – Ele não queria a droga da verdade?  

— QUERO!  

Encurtei o espaço que existia entre nós, ficando cara a cara com ele. Esse foi o único momento em que fiz questão de olhar ele nos olhos.  

 – Eu não confio em você.   

Cuspi as palavras, depositando nela toda a raiva que eu estava sentindo.  

Ele apenas concordou com a cabeça, desviando o meu olhar.  

Antes que Potter pudesse falar algo, vimos uma porta ao nosso lado se abrir. Eu nem havia percebido que estamos em frente ao quarto de Scorpion!   

O loirinho estava parado na porta, parecendo perdido.  

 – Volta pro quarto, Scorp – falei firme. Ele não precisaria aquela cena.  

Seus olhos foram de mim para Potter, e de novo para mim.  

 – Vocês estão brigando? – aquela cozinha estava tão angustiada que eu quis me bater por termos sido tão irresponsáveis.   

 –  Scorp, vai pro seu quarto! – ele não podia, não era justo com ele assistir enquanto eu e o seu pai nos olhávamos daquele jeito.  

 –  Mas...  

—  Vai pro quarto, Scorpion! – Não sei quem ficou mais assustado, se foi eu, Scorpion ou o próprio Harry com o tom que ele usou. 

Meu coração se quebrou quando vi aqueles olinhos azuis se encherem de lágrimas e ele correndo para dentro do quarto, fechando a porta.  

 – Ah não! – minha voz saiu acusadora quando me coloquei entre a porta do quarto do meu filho e Harry – Você não vai fazer ele chorar mais!  

 – Eu preciso pedir desculpas! – ele parecia desesperado, e tão desolado quanto eu.  

 – Se tivesse me ouvido e ficado na droga do quarto nada disso teria acontecido!  

Me olhou, parecendo cansado. Exausto até, eu diria. Vi quando uma única lágrima rolou do seu olho por baixo dos óculos.  

 – Você não confia em mim, Draco. Você não me quer por perto.  

Não respondi.   

 – Você quer o... O divórcio? – me lembrei de quando tínhamos 13 anos. Era aquela voz infantil que me perguntou aquilo.  

Minhas pernas fraquejaram. Divórcio? Nós, Malfoys, não nos divorciávamos! E além do mais...  

 – Não seja tolo, Scorp merece uma família!  

— Sempre vamos ser uma família, mas eu não posso continuar assim. Não posso continuar com você sabendo que você não confia em mim!   

Em qual momento começamos a alterar a voz novamente? 

— Não venha jogar a culpa em mim, testa rachada!  

— Eu não tô jogando a culpa em ninguém, Draco, por Merlin!  

Ele foi até o quarto de hóspedes, que ficava ao lado do quarto de Scorpion. O segui.  

— Você acha que um dia eu acordei e pensei “ótimo dia para parar deixar de confiar  no meu marido!”?!  

— A culpa foi minha! Ok? Eu sei disso! Mas não muda o fato de que isso não é um casamento!  

Aquilo não era um casamento?   

Agora eu estava prestes a explodir de raiva.  

 – Pois bem, Potter! Ótimo! Talvez devêssemos mesmo nos divorciar, aí você poderia sair e encontrar outro alguém, não é? Alguém que te faça menos infeliz que o idiota aqui!   

Tirei a minha aliança, que agora estava ardendo no meu dedo.  

 – Se isso não é um casamento, não existe motivo para eu usar isso! – joguei o anel nele, saindo do quarto logo em seguida.  

Ele não veio atrás de mim.  

Ele nem sequer abriu a porta.  


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Notas finais do capítulo

Gente, não esquece de comentar, okay? Isso me motiva MUITO, mesmo que eu demore dias para responder. Não desiste de mim haha



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