Say Something escrita por Andreza Cullen


Capítulo 11
Chapter ten


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores da minha vida. Desculpas a demora, mas eu acabei revisando a história e apaguei metade pq não achei que os personagens estavam felizes, então estou reescrevendo a partir daqui, por isso demorei tanto e provavelmente vou demorar pra atualizar, pq estou escrevendo novamente e não tenho mais caps prontos, me perdoem. Por favor, se puderem comentar, eu fico realmente muito feliz. Cada comentário faz com que eu acredite no meu potencial e consiga não me sabotar, e é muuuuuuuito importante pra mim. Desculpas mesmo, eu amo cada um de vocês!



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Acordei depois de finalmente ter conseguido algumas horas seguidas de sono. Eu gostaria de falar que tateei a cama de solteiro atrás de Draco, acostumado ainda a quando dormíamos juntos, mas na verdade não. Infelizmente eu havia me permitido perder esse costume a algum tempo.  

Olhei para o lado e a sua cama estava perfeitamente arrumada e vazia. Me esgueirei até alcançar o relógio e ele marcava 7:30 da manhã. Droga!  

Levantei de supetão e tomei um banho de gato, seguindo para a cozinha ainda com os cabelos levemente molhados e tão arrumados quanto eles poderiam ficar, na esperança de encontrar meu loiro ainda em casa.  

Bem, ele estava em casa. Mas não perecia estar.  

Entrei na cozinha e ele estava bebericando uma caneca cheia de café. Forte e doce, como ele sempre fazia. Fui até a cafeteira e me servi de uma xícara. Ele não olhou para mim ou respondeu meu bom dia, era como se eu não existisse.  

Aquilo me preocupou de imediato.  

Eu sabia que na noite passada havíamos tido um momento. Que por alguns segundos ele havia baixado a guarda, deixado de lado. Consegui dormir em paz enquanto pensava que meu plano enfim estava dando certo, mas ao que parece agora eu havia voltado dez casas no jogo.  

Ele estava defensivo, se esquivando e escorregadio.  

Eu deveria ser extremamente cauteloso, mas olha, era difícil.  

— Estou indo ver Scorp, vai ir? – foi a única frase dirigida a mim que sai dos seus lábios enquanto bebíamos nossos cafés. Concordei, sentindo meus ombros pesados e o desanimo tomar conta de mim.  

Draco aparatou primeiro, logo seguido por mim. Além de estar sufocando de saudades do meu filho, aproveitaria para ter mais uma conversa com Sirius. Por Merlin, eu não sabia mais o que fazer.  

Draco 

Meu loirinho estava as 8:00 da manhã já sujo de terra, suado e corado. Teddy estava na mesma situação deplorável.  

— E então, eu roubei a bola de Teddy e fiz um... Qual o nome? Gol! Eu fiz um gol! – os olhos cinzas brilharam enquanto ele contava da partida de algum esporte trouxa cujo eu não me lembrava o nome que ele havia acabado de jogar com Teddy. Dei uma piscadela para o mais velho, sabendo que ele havia deixado Scorp ganhar.  

Me permiti aproveitar aquele momento com meu filho e meu “afilhado” por consideração, já que Harry era seu padrinho.   

Depois que voltei para a cama naquela noite e tentei pegar no sono, percebi o quão rápido Potter poderia se reaproximar de mim. De mansinho, com aquele jeito desengonçado e impulsivo, com aquele maldito sorriso travesso, e aquele brilho no olhar de quem quer iluminar todos a sua volta apenas para ver sorrisos, estala novamente tomando conta de mim.  

Bom, isso não poderia acontecer. Minha confiança estava indo por água abaixo todas as vezes que ele me lançava uma piscadela cúmplice quando nosso filho contava mais sobre o que havia feito durante aquela noite.  

Sorri para meu filho e Teddy o roubou de mim, quer dizer, Scorp foi de livre e espontânea vontade brincar com o primo enquanto deixava eu e Harry lá, sozinhos no jardim gigante da casa dos Black.  

— Sabe, nós não temos chance contra ele.  

— Nunca tivemos, Potter.   

O silêncio perdurou sobre nós por alguns instantes, mas Potter dissipou.  

— Sabe, eu estava pensando...  

— Eu não sabia que algum grifinorio, com exceção da Granger, tinha esse dom.  

Ele ignorou meu comentário.  

— E acho que Itália seria uma boa. Quer dizer, nem eu ou Scorp conhecemos, e parece ser um lugar especial para você.  

Às vezes eu me questionava se existia alguém mais aleatório do que Potter.  

O olhei sem nenhuma expressão, e ele entendeu que não havia feito o menor sentido.  

— Nosso aniversário de casamento. É daqui a poucos meses...  

— Que casamento? – indaguei cínico. Aquilo só poderia ser uma piada.  

— O nosso? – ele respondeu minha pergunta com outra, também cínico.  

— Não seja ridículo. Não a nada para se comemorar com esse aniversário Potter. Depois de tudo o que aconteceu com Pansy, e tudo o que está acontecendo com relação aos comensais... 

— Draco, é só daqui a alguns meses, e até lá vamos ter resolvido tudo. Vai ser uma ótima maneira de esquecer as coisas ruins desse ano.  

Me levantei, pronto para sair dali e encerrar o assunto, mas suas mãos seguraram meu braço e ele se colocou na minha frente. As olheiras estavam lá, provavelmente pelos pesadelos. Potter apenas me olhou por alguns segundos, e eu tinha certeza que ele estava me analisando.  

— Você quer que eu desista, não é? – uni o cenho demonstrando minha confusão com outra das suas perguntas aleatórias. Ele suspirou, parecia quase derrotado – Você não quer que eu diga algo, você quer que eu te afaste mais de mim.   

Potter parecia... Derrotado.  

— Por quê? Deixa eu me aproximar Draco.  

Sua frase foi como um pedido implorado e dolorido.  

Tirei meus braços das suas mãos e ignorei sua pergunta, indo até as crianças para me despedir.  

Minhas pernas estavam bambas, e isso não era um bom sinal. Parecia um enxame de abelha no meu cérebro e tudo parecia girar e badalar. Fui embora depois de dar um beijo em cada um dos garotos e murmurar um até logo a Sirius. Eu precisava de muito trabalho e um wisky com gelo.  

E uns bons dias longe de Potter.  

— Aí desses abortos de comensais se pensarem em chegar perto dos meus filhos ou da minha DiLua. A, mas eu acabo com eles em dois tempos! – Pansy andava de um lado para o outro do meu escritório. Eu havia acabado de dar alta a ela e Luna estava sentada no sofá, extremamente abatida. Indiquei com a cabeça a loira e ela pareceu perceber.   

— Acho que vocês precisam de um tempo a sós – me dirigi a porta com alguns prontuários para revisitar alguns pacientes, Pansy me lançou um aceno de cabeça – Mas por favor, não transem na minha mesa ou em qualquer lugar.   

Ela revirou os olhos e me lançou um olhar desafiador.  

— Isso é privilégio só seu e do Potter, não é?  

— Morra, Parkinson – fechei a porta, mas ouvi sua risada antes de começar a caminhar em direção ao consultório ao lado.  

Bati algumas vezes na porta e a voz me convidando a entrar soou.  

— Parkinson não mudou nada, hm? – ele perguntou quando entrei e me sentei na cadeira em frente a sua mesa.  

— Aquela jararaca é cobra criada.  

Ele riu.  

Ele costuma rir muito.  

— Então, como você está? – Cedrico perguntou quando lhe entreguei os papeis. Ele esperou minhas respostas enquanto os analisava.  

— Vivo, isso parece ser o suficiente. E você?  

— Idem.  

Ficamos em silencio por algum tempo enquanto ele lia e relia os relatórios. Potter ficaria louco se soubesse que trabalhávamos lado a lado. Ele ainda tinha a pose de galã bondoso, os cabelos acobreados e o sorriso torto digno de um lufano.  

Vamos lá, todo mundo aqui sabe como ele é bonito!  

— Um doce pelos seus pensamentos – fui tirado dos meus devaneios pelo olhar curioso. Levantei uma sobrancelha e ele me jogou uma bala de abóbora.  

Revirei os olhos, mas quis rir.  

— Porque você parece tanto como um ator de filmes de romance adolescente com vampiros?   

Cedrico torceu o nariz e ignorou minha pergunta. Voltou a analisar os papéis, franzindo o cenho para alguns e logo em seguida os separando.  Analisei sua sala e quanto esperava. Sempre tinha algo novo toda vez que eu vinha aqui dês dos dois meses atrás.   

Um quadro emoldurado com ele jovem e seu time de quadribol. A foto se mexia o suficiente para pegar o ângulo do perfeito sorriso sedutor. Algumas revistas de caça palavras mágico, cujo as letras fugiam depois de algum tempo. 

Depois de alguns segundos ele suspirou se levantar da cadeira almofadada esse dirigindo ao sofá. Deu batidinhas no espaço ao seu lado para que eu fosse me sentar junto dele.  

— Me diga, como anda o grande Potter?  

— Continua bem Potter – limitei minha frase a isso, torcendo para que ele não prolongasse o assunto. Meu pedido foi atendido e ele começou a tirar as dúvidas sobre os formulários separados.   

— Bom, preciso ir, tenho alguns pacientes esperando alta e uma Parkinson insana querendo matar qualquer mosca que se aproxime – me levantei depois de quase meia hora. Cedrico sempre se parecia a vontade com tudo e todos, com a postura relaxada e cativante, o que me deixava relaxado demais perto de alguém para alguém casado.  

— Tudo bem, se surgir outra dúvida eu passo na sua sala – ele acenou enquanto eu fechava a porta.  

Me assustei quando dei de cara com uma Pansy Parkinson parada, me olhando perplexa com os punhos levantados pronto para bater na porta.  

— Me diz que eu não ví o que eu ví – ela falou, incrédula. A guiei para a minha sala, onde Luna não estava mais. Perguntei onde a loira estava com o olhar.  

— Banheiro, percebi que você demorava e fui ver se seu vizinho havia te visto – ela olhava fixamente para mim, e a cara era de poucos amigos – A quanto tempo, Draco?  

Revirei os olhos enquanto ia para a minha mesa.  

— Você está fazendo tempestade em copo d’água...  

— Potter sabe?  

Droga!  

Ela entendeu meu silencio.  

— Porra Draco! – gritou em um sussurro – O que você ta pensando?!  

— E o que você sugeria que eu fizesse? Pedisse demissão após saber que ele seria meu colega de trabalho, depois de tudo o que tive que provar para entrar aqui?!  

— Não, é claro que não! Mas que pelo menos contasse ao Harry, ou não ficasse meia hora trancado em uma sala sozinho com ele quando você é casado!  

— O que você está insinuando, Parkinson?   

Ela se limitou a erguer a sobrancelha me olhando em desaprovo.  

— Quem está brincando só pode ser você!  

— Eu não estou dizendo que você o está traindo, idiota! Estou dizendo que essa é a primeira coisa que Harry vai pensar se souber disso como eu soube! Afinal, se não existe nada entre vocês, por qual motivo não falou para ele?   

— Por que ele é um ....  

— Grifinório impulsivo idiota.  

Nós dois suspiramos, sabendo que era verdade. Eu não gostaria nem de estar perto do clima tenso que se instalaria em casa – mais do que já estava – se Potter descobrisse isso.  

— Conta pra ele, Draco – ela foi até a porta e a abriu provavelmente indo procurar por Luna. Me surpreendi quando vimos a imagem de um Harry prestes a bater.  

Ele não parecia ter ouvido a conversa, e me perguntei se haviam descoberto algo sobre os comensais para que ele viesse até aqui.  

— Bom, vou buscar a minha linda esposa para almoçarmos e deixo a sala para que vocês possam fazer tudo o que o Draco me proibiu – me lançou uma piscadela e saiu, empurrando Potter para dentro antes de fechar a porta.  

— O que você a proibiu de fazer? – perguntou, dando alguns passos para mais perto.  

Eu não o estava traindo. Nunca faria isso.   

E eu tinha que provar que, aconteça o que acontecesse, eu respeitava o nosso contrato de casamento.   

Mandei com a varinha um feitiço para trancar a porta e a deixei jogada em qualquer canto. Fui até Potter, que me olhava sem entender nada e o agarrei pela gravata, o puxando para um beijo.  

Aquilo foi como um soco, um maldito soco no meu orgulho, por que, por Merlin, como eu me entreguei rápido aos lábios de Potter.  

Seus braços agarraram possessivamente minha cintura e escutei o baque da sua maleta cair no carpete abafado. Puxei o tecido da gravata exatamente enquanto ele me empurrava para a parede mais próxima.   

Eu conseguia sentir o calor da sua pele, a respiração ofegante e surpresa dele estava mexendo comigo de um jeito que eu nem lembrava ser possível.  

Eu não o estava traindo.  

Nunca trairia, certo?  

Não, eu não o estava traindo ou pensando em trair.   

Segurei seu rosto corado moldado pelos cachos bagunçados o foquei em sua boca quando falei firme.  

— Eu sou seu, entendeu? Seu!  

Senti uma eletricidade brigar com meu sangue para ver quem corria mais rápido pelo meu corpo ao pronunciar a frase. Potter me olhava faminto.  

— Diz de novo – aquele tom autoritário quase me fez cair, se seus braços não tivessem me erguido no ar e eu não tivesse me segurado com as pernas na sua cintura.  

— Eu. Sou. Seu. Potter.  

Meu corpo era dele, tínhamos assinado que seriamos fieis um ao outro e eu não quebraria a promessa, embora suspeitasse que Potter já havia feito a muito.  

Desabotoei desesperadamente a capa de Auror e a camisa, jogando em qualquer maldito canto. Nossas respirações estavam descontroladas e sem ritmo. Desci beijos pelo seu pescoço enquanto sua mão apertava minha perna, subindo até a minha cintura e também se livrando do jaleco e da camisa.  

— Sofá – murmurei desconexo, mas Potter pareceu entender porque fui jogado no sofá preto ao lado da minha mesa. Mal tive tempo de olhar a confusão que ele estava e fui atacado pelos lábios inchados. Cerquei seu quadril com as pernas.  

Esperava que isso deixasse bem claro que eu era dele. Eu só não sabia se o que eu estava fazendo era para ele ou para eu mesmo.  

O silencio passou de confortável a constrangedor assim que eu sai do abraço de Potter e comecei a vestir minhas roupas, não demorou muito para que ele fizesse o mesmo.  

Já estava abotoando o último botão da camisa quando ele enfim falou algo.  

— Por que fez isso?  

Que tipo de pergunta estúpida era aquela?  

— Por que não faríamos, somos casados, não somos? – não era como se a arrogância da minha frase tivesse sido sem querer.   

Ele terminou de vestir suas roupas, colocou a capa no braço e pegou sua maleta, se dirigindo até a porta.  

— O que foi dessa vez, Potter? – perguntei instintivamente, vendo como ele havia mudado da água para o vinho.  

— Nada Malfoy. É só que, por um momento eu realmente achei que você fosse meu.  

E saiu.   

Sentei na minha mesa, pegando umas três aspirinas na gaveta e engolindo.  

Se nem Potter havia acreditado naquilo, como eu poderia discordar?  

O dia no hospital havia esvaído com todas as minhas forças, mas só a ideia de ter Scorp na nossa casa novamente me fazia esquecer esse detalhe. Aparatei as 20:00, já que tive uma cirurgia de emergência. Eu precisava de um banho e algumas aspirinas, mas acima disso eu precisava abraçar meu filho.  

As risadas finas do meu loirinho ecoavam por toda a sala e vinham da cozinha. Pelo jeito ele e Potter estavam se divertindo muito, pois ele gargalhava alto quase soluçando.  

Deixei minha maleta e meu jaleco pendurados no cabideiro da sala de estar e fui rumo as risadas.  

— Papai! – Scorp, que estava sentado em cima da mesa, se jogou nos meus braços quando me aproximei. Merlin, esse menino ainda me mataria com um ataque cardíaco.  

O abracei forte, como se meu corpo pudesse protegê-lo de todo mal que um simples sobrenome carregava e beijei os cabelos finos com cheiro de shampoo de camomila.  

— Eu senti tanto a sua falta, cobrinha – Scorp agora tentava se soltar, ainda rindo. O coloquei novamente na mesa, encarando os olhos travessos e os cabelos bagunçados. Minha vida toda girava em torno dele, e ninguém o machucaria.  

— Papai e eu fizemos donuts!!! – percebi apenas agora que ele vestia u avental e estava todo coberto de farinha e granulado. A cozinha não estava muito diferente, e Potter, que estava ao lado do fogão observando a cena, também parecia ter acabado de sair de uma tigela de glacê.  

Aquele clima entre nós estava realmente me incomodando, e nunca havia incomodado antes. Ele parecia recluso e acomodado.  

— Sobrou algum glacê para os donuts ou estão todos na sua camisa? –perguntei me aproximando, e me sentindo até menos desconfortável.  

Ele soltou uma risada pelo nariz pareceu surpreso, extremamente surpreso quando o beijei. Foi só um leve tocar de lábios, mas logo em seguida vi que seu olhar parecia bem mais animado.  

Passei o dedo indicador no seu queixo, onde um pouco de glacê repousava escondido, o levando até a boca e lambendo.  

— Hum... Até que está bom, Potter – falei baixo no seu ouvido e voltei minha atenção para Scorp, que já decorava alguns dos doces. Escutei um “desgraçado” quando o deixei lá plantado e sorri por dentro para mim mesmo.  

Estávamos bem, voltando a funcionar bem. Eu sabia os meus limites, e sabia que não poderia ultrapassá–los, mas conviver bem com Potter era uma coisa aceitável. E, além do mais, eu tinha que provar a mim mesmo que eu era dele, e isso parecia bem distante.  

Potter e eu estávamos calados enquanto arrumávamos as camas. De segundos em segundos ele me lançava uma espiada disfarçada, e aquilo estava me irritando.  

— Que tal desembuchar logo, Potter? Ou vai ficar me olhando como um psicopata a noite inteira?  

Ele me encarou desconcertado por alguns segundos, mas voltou colocar alguns travesseiros na cama.  

— Bom, é que... – parei de arrumar a cama e fiquei a encará-lo, sentando no colchão – Eu, Sirius, Ron e Thonks estávamos conversando hoje sobre o ataque...  

— Esperei que fizessem isso – segurei minha vontade de revirar os olhos diante da resposta óbvia.  

— Chegamos à conclusão de que – ele tomou fôlego, parecia temeroso e quis rir daquela situação – Que precisamos investigar a mansão Malfoy em busca de registros de antigos comensais desconhecidos.  

Potter falou tudo de uma só vez, como se quisesse empurrar as palavras para fora de sí, e junto aquela informação.  

Endireitei ainda mais minha coluna. Investigar a mansão Malfoy? Eu não colocava meus pés lá dês da última vez em que fui visitar minha mãe, anos antes, e mesmo quando ela ainda estava viva eu fazia de tudo para não entrar naquele lugar.  

Foram os piores anos da minha vida, ainda mais quando aquele ser nojento se mudou para lá. Oh, Merlin, como eu o odiava com todas as minhas forças! Jantar olhando para aquela cara asquerosa, ver meu próprio pai acatando as ordens daquela coisa desprezível... Só a lembrança fazia meu estomago revirar.  

— Querido, você está bem? – Harry se sentou ao meu lado no colchão, já que provavelmente eu estava verde. Ele levantou a mão para tocar minha testa, mas desvirei, me levantando.  

— Por que a mansão?  

Eu sabia o porquê, mas não gostaria de admitir a mim mesmo. Aquele lugar era o covil de Voldemort, se havia algum lugar em que ele esconderia algo, seria ali. Anotações? Fichas? A Mansão era um dos lugares mais seguros de Londres mesmo após a inspeção do ministério – existem magias que nem Granger sonharia existir naquele lugar –,  

— Você sabe o porquê.  

Concordei automaticamente algumas vezes, pegando meu pote de aspirina, que precisaria ser reposto logo, pesquei algumas e engoli com um copo d’água que conjurei.  

Dessa vez Potter não fez nenhum comentário mandão, e a sorte era toda dele.  

— Conversamos sobre isso amanhã.  

Aquela foi a sua deixa para voltar para o seu colchão. Apaguei as luzes sem dizer mais nada, tentando afastar as imagens daqueles malditos momentos vividos naquele lugar para tentar ter uma noite aceitável de sono.  

Bom, não funcionou.  

— Quando vamos até a mansão? – perguntei a Potter enquanto colocava o café na cafeteira. Ele me olhou e uma ruga se formou na sua testa.  

— Draco, você não precisa vir, é só nos falar.  

— É a segurança do meu filho em jogo, é claro que eu vou. Quando?  

— Quando você se sentir preparado.  

Bom, aquilo nunca iria acontecer. À noite em claro era uma clara demonstração de como apenas pensar naquele lugar me deixava enjoado e inquieto. Minha cabeça pesava de sono e meu corpo implorava para que eu relaxasse.  

— Vamos hoje. Vou sair mais cedo e você consegue dar o seu jeito. Afinal, esses olhos verdes precisam servir para alguma coisa.  

Potter desdenhou com o olhar.  

— Eu já te disse que ela não está a fim de mim!  

Murmurei qualquer coisa como resposta diante da afirmação. É claro que a chefe do departamento arrastava um caminhão para Potter, mas fazer o que né, o marido era meu.  

O dia no trabalho havia sido lamentável, mas nada era pior do que ver a imensidão negra na minha frente depois de anos.  Ela sempre havia tido uma aura melancólica, mas agora, com minha mãe morta, aquele lugar ficava ainda mais sepulcral.  

— Tem certeza que quer fazer isso? Eu sei que você consegue, mas não precisa. Nos damos conta – Harry segurar a delicadamente meu braço, deixando o grupo formado por Sirius, Remus,  Thonks e Rom irem na frente.  

Eu queria, oh, como eu queria nunca me lembrar de chegar em frente a aqueles portões sabendo que Voldemort ocupava a cabeceira da nossa mesa de jantar.  

Ele estava morto. Morto.  

— Vamos logo, Potter.  

Mesmo a minha arrogância não o impediu de segurar minha mão enquanto atravessávamos a pesada porta de gesso grego.  

O lugar estava impecável e limpo. Os elfos contratados para morar na casa não a deixavam menos do que magnífica. A esperança de encontrar apenas uma lembrança destruída do passado foi esmagada.  

Eram os mesmos móveis. Objetos. Cores.   

Eu ainda me perguntava como minha mãe não quis sair daquela casa.  

A mão quente de Potter me passava um aconchego bem-vindo no momento. Ele deixou o aperto mais justo.   

— É melhor começarem pelo quarto dos meus pais. Obviamente, se meu pai escondesse algo seria lá ou na biblioteca. E é claro que por ter sido onde... Voldemort se hospedou, é  o lugar mais propício. É a primeira porta após a escada principal do lado direito do terceiro andar.  

Eles concordaram seguindo para o aposento. Harry continuou comigo.  

— Você não vem?  

Neguei com a cabeça, e o guiei pelo mesmo caminho, porém do lado esquerdo.   

— Não sei como reagiria se visse mais de tudo o que minha mãe passou.   

Indiquei a porta a nossa frente, é Harry, depois de alguns segundos de hesitação a abriu.  

Estava tudo exatamente igual, porém vazio. O closet estava limpo e os objetos dali eram a única coisa que deixava o quarto vivo.  

— Tem uma coisa – forcei minha voz a soar inabalada, mas eu sabia que Harry perceberia – uma coisa que nunca tive coragem de abrir, por isso a mantive escondida na mansão. Mas tenho certeza de que algo naquilo pode nos ajudar.  

Ele não se moveu enquanto fui até um dos baús do closet, abrindo e desfazendo um feitiço de proteção. O caderno apareceu no centro do compensando de madeira.   

O peguei. Ele parecia não ter sido afetado em nada pelo tempo. Se eu não soubesse poderia dizer que não se passava de um caderno verde e novo.  

Murmurei as palavras que minha mãe havia me deixado.  

“De uma Black para um Black, e somente para nós”   

O caderno se transformou em algo gasto e muito usado. As palavras tomaram conta das folhas. Algumas eram extremamente elegantes, já outras apenas rabiscos raivosos. Vi de relance algumas das páginas manchadas de tinta, lágrimas, batom.  

O cheiro.   

Uma nostalgia cruel me atingiu e eu quis voltar no tempo, não muito, mas o suficiente.  

Braços quentes me cercaram e eu apoiei a cabeça no peito de Potter.  

— Quando se sentir preparado, ok?  

Me afastei sorrateiramente e lhe entreguei o caderno. Potter o pegou, mas não o examinou. Sua atenção estava focada em mim.  

— É o diário da minha mãe. Ela colocou tudo aí dês do Primeiro ano em Hogwarts, até quando meu pai foi preso. Depois disso ela me deu. Se existe um lugar que pode conter segredos, esse lugar é o diário da minha mãe. Eu não posso fazer isso, Potter, por isso peço a você.  

Seria doloroso e saudoso demais aquilo para que eu pudesse suportar. Eu queria a encontrar aqui quando abri a porta, com um prato de biscoitos de gengibre e suco de abobora, pronta para me ouvir falar de todas as porcarias que Potter me fez na escola e me dizer que tudo isso passaria como antigamente.  

Isso não irira acontecer, e ler seu diário seria continuar me enganando.  

Sai do quarto, e decidi sair da mansão também. Aquele havia sido o único motivo que me fez ir até lá, e agora nada mais me prendia a aquele lugar. Potter entendeu que esse momento era meu e não me seguiu. Aparatei em casa, indo direto ao quarto vazio de Scorp, que estava com Teddy e os filhos da Pansy, e memorizei cada detalhe.  

Se algo acontecesse comigo como aconteceu com Pansy, ou pior, com minha mãe, eu teria certeza que aproveitei o máximo de tempo ao lado do meu loirinho e lhe dei todo o amor que um pai poderia dar. Eu sabia que Potter daria um jeito, ele nunca deixaria algo machucar a mim ou a Scorp, mas a precaução falava mais alto. Fui até o nosso quarto, murmurando um feitiço para uma das gavetas da minha mesa pegando o caderno que lá apareceu.  

Aquele era o meu diário, onde eu narrava tudo. Foi onde desabafei quando Potter negou minha amizade, e quando gritei por ele estar indo ao baile com a Patil (afinal, ele era o Potter, não deveria ir ao baile com ninguém) ou deixava as páginas se molhares das lágrimas desesperadas por não querer matar Dumbledore, por querer sair de tudo aquilo.   

Quando me mudei para os EUA.  

Quando voltei, e o encontrei todo rasgado em uma maca.  

E em como meu coração disparou quando o ví apareceu no meu consultório no dia seguinte com os cabelos bagunçados e um pedido de trégua.  

Nunca mais toquei nele depois que minha mãe foi morta. Mas era de Scorp, ele merecia saber de tudo quando fosse mais velho.  

— Tudo bem? Posso entrar? – Harry perguntou colocando a cabeça para dentro do quarto, e eu guardei rapidamente o caderno ainda de costas antes de concordar com a cabeça.  

— Acho que vou buscar Scorp – me direcionei para o guarda–roupa para pegar um outro casaco, aquele agora não parecia quente o suficiente.  

— Por favor, faça isso. Já estou morrendo de saudades daquele filhote de cobra que eu tanto amo.  

— Espera.  

Ele me chamou antes mesmo que eu alcançasse a maçaneta. Me virei e ergui a sobrancelha, deixando claro que estava com pressa.  

Ele se sentou no colchão e apoiou os cotovelos nos joelhos me olhando.  

— Conseguiram contato com Zabini. Ele vai chegar depois de amanhã.  

Não sei se o meu “Droga!” foi de felicidade ou preocupação.  


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