A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 20
Um contexto desfavorável


Notas iniciais do capítulo

Não, não é uma miragem! É realmente um capítulo novo de A Última Chance!
Eu sei, eu sei, abandonei vocês. O que começou com um bloqueio não digo criativo, mas da escrita em si, foi se agravando com o contexto da pandemia e eu acabei não escrevendo mais nada.
Quando pensei em voltar a postar, pretendia escrever mais capítulos antes de disponibilizar pra vocês, mas tinha passado tanto tempo sem dar notícias que achei que vocês mereciam um capítulo novo assim que ficasse pronto!
Então, vamos a ele!



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Edmundo Pevensie

— Você foi muito bem! - Elogiou Liliandil.

O caminho de volta estava sendo bem agradável, afinal a tensão e a ansiedade para discursar haviam passado. Os cavalos nos conduziam com serenidade,  num trote ritmado.

— Por um momento, pensei que as pessoas ficariam apavoradas e não ouviriam palavra alguma! - Eu ri - Imaginei os aldeões correndo de um lado para o outro desesperados, indo para casa arrumar as trouxas e fugirem para o norte!

Liliandil gargalhou e eu descobri que seu riso era música para os meus ouvidos. Por Aslam, olha o que estou pensando! Logo eu que achava que jamais me apaixonaria!

— Obrigado por ter me acompanhado - Agradeci - Você me encorajou até o fim - Ela apertou os lábios em um sorriso tímido e ruborizou levemente - E bem, tem algo que quero perguntar - Seus olhos me encaravam curiosos - Eu percebi que chorava quando a encontrei.

Ela baixou o rosto e o semblante se entristeceu, provavelmente recordando seus motivos.

— Perdoe-me por ter mencionado isso - Fui sincero ao falar, não queria deixá-la mal outra vez - Só quero que saiba que pode contar comigo.

Eu já deveria ter admitido para ela o quão apaixonado eu estava, deveria ser sincero. Meu receio, contudo, era que Liliandil não sentisse o mesmo por mim. Fazia parte de sua essência ser gentil e amorosa, não achava que ela me oferecia qualquer tipo de tratamento especial. Tinha medo que ao confessar meus sentimentos, ela se afastasse e deixasse de ser minha amiga. Eu precisava de um sinal.

— Eu sei disso - Assegurou - Você fez de tudo para que eu saísse da situação deplorável a qual meu pai me condicionou. Inclusive não sei se expressei claramente a minha gratidão, mas quero que saiba que sou muito agradecida. - Foi quando maneou com a cabeça - Receio que eu esteja triste por esse conflito com Ramandu. Suas atitudes me doem a alma. Eu sequer consigo identificar qualquer tipo de afeição dele por mim nos últimos tempos.

— É compreensível que esteja mal - Me limitei a apenas dizer isso. Apesar de toda a raiva que eu sentia dele, preferi me conter em respeito a Liliandil. - Embora não concorde com suas atitudes, ele é seu pai. Acho que precisamos ter fé de que tudo irá se acertar.

Os olhos marejados de Liliandil acompanharam o sorriso grato que ela me ofereceu.

— Tenho fé que sim. Tenho fé que ele compreenda que o coração de Caspian é de sua irmã e que não desejo ser contra esse amor. Susana já foi e será uma rainha maravilhosa para Nárnia.

— Você também seria. - Acrescentei. Não que eu quisesse que ela se casasse com Caspian, entretanto. Desejei que ela pudesse ser rainha ao meu lado.

A ponte que levava ao castelo se ergueu diante de nós e em poucos minutos estávamos de volta ao pátio do castelo, próximo à pequena escadaria que dava para a entrada principal.

Um rapaz que trabalhava nos estábulos segurou as rédeas do meu cavalo para que eu pudesse descer com tranquilidade e eu fui até Liliandil para ajudá-la a descer também.

— Obrigada - Falou sorrindo - Embora montar tenha sido uma das primeiras coisas que me ensinaram aqui, ainda não perdi o medo de cair.

Sorri.

— Vejo você no jantar?

— Claro! - Assegurou.

 

Caspian X

Já era pôr do sol quando terminei os afazeres daquele dia. A cobrança dos lordes telmarinos por soluções só aumentavam e isso era reflexo da cobrança do próprio povo, incertos do futuro. Felizmente não fui mais atormentado sobre o rompimento com Liliandil e os planos de casamento com Susana.

Dei ordem para que a segurança fosse reforçada e pedi que anunciassem que o exército estava recrutando para treinamento e ingresso. Precisávamos de reforços.

Encontrei uma sacada no corredor térreo do castelo e apoiei os braços no parapeito. Repassei na mente tudo o que havia feito e pensei no que mais poderia fazer antes de partir para a Arquelândia.

— Hey, como você está? - Susana surgiu atrás de mim. Evitei demonstrar o susto, mas ela percebeu do mesmo modo e sorriu.

— Apesar de tudo, estou bem. - Ver seu rosto era sinônimo de calmaria para mim. As tensões se dissiparam e pude sentir meu coração mais quente quando ela se aproximou. 

Segurei seu rosto levemente e depositei um beijo em sua testa.

— Eu entendo que esteja preocupado, mas sabe que pode conversar comigo, não sabe?

— Eu sei - Assegurei. Ela segurou minhas mãos - Mas não há novidade em meus pensamentos, acredite. Somente o futuro de Nárnia que está em jogo outra vez.

— Três ameaças e uma seca cruel. - Ponderou - Calormânia tramando a conquista que sempre desejou aliada a uma feiticeira rancorosa que sabe lá Aslam o que pretende e Jadis ameaçando retornar mais perigosa que nunca.

Apesar de isso não ser exatamente bom, era reconfortante poder dividir o peso da responsabilidade de colocar fim àquelas ameaças com outras pessoas. Os amigos, a família que Aslam me deu. Irmãos que nunca pensei que teria e a companheira que supera imensamente qualquer mulher que eu pudesse ter idealizado.

— Fico feliz que Aslam tenha permitido que voltassem - Confessei agradecido. - Embora isso também me preocupa.

— Eu sei, é sinal de que a ameaça é mais séria do que pensamos. - Ela pareceu pensar em outra coisa antes de continuar - E receio que temos outra questão a tratar.

— Ah, não, mais um problema? - Acabei soando como uma criança emburrada. Susana riu.

— Preciso que me acompanhe aos aposentos do general Tácito da Arquelândia - Ela explicou e eu franzi o cenho. - Eu explico no caminho.

 

Lúcia Pevensie

— Vai escolher uma espada hoje, Ed?! - Indaguei alto para ele.

Estávamos na sala de esgrima fazia meia hora. Após distrairmos os soldados com aleatoriedades, finalmente todos começaram a treinar, mas fazia cerca de dez minutos que Edmundo não saía do canto da sala onde as espadas ficavam. Chegara fazia pouco tempo da cidade e estava tão concentrado em analisar o peso e o fio das espadas que sequer me escutou.

Pedro duelava com Glenstorm, apesar de estar em bastante desvantagem pela força do centauro.

— Vai treinar, majestade? - Trumpkin se aproximou já equipado com o arco e a aljava com flechas, as braçadeiras de couro e os outros acessórios já posicionados. Ele havia disparado algumas vezes contra o alvo, ao passo que Caça-Trufas tentava o desconcentrar com piadas, irritando-o.

— Ainda não sei o que vou usar - Encarei meu punhal desembainhado - Quando eu “era mais velha”, costumava empunhar espadas, mas na batalha contra a serpente na Ilha Negra, gostei de usar o arco de Susana. No fim, acho que estou com o mesmo problema do Edmundo.

— O velho do Natal lhe deu esse punhal, certo? - Indagou de repente - Por que não pega um outro e tenta utilizá-los em conjunto?

— Já viu alguém lutando assim? - Era algo que eu nunca tinha pensado.

— Vai precisar melhorar o combate corpo a corpo e ser rápida, afinal as adagas são curtas. - E assim ele me deixou, voltando a se posicionar na marca que indicava a distância mínima para atirar no alvo. 

Encarei o punhal em minha mão. O leão esculpido em ouro continuava ali, sem sequer uma falha no metal ou qualquer tipo de desgaste. A lâmina brilhava da mesma forma de quando a recebi.

Eu era apenas uma criança. Tentei me recordar o que sentia na época, o que pensava. Edmundo capturado, senhor Tumnus em apuros e nós atravessando o lago congelado e a floresta coberta de neve em busca de ajuda para ambos. O sentimento de quando os castores falaram de Aslam pela primeira vez era confuso de descrever. Apesar de não conhecê-lo, de alguma forma nos sentimos mais calmos, mais certos de que aquela era a solução dos problemas que assolavam aquela terra.

— Majestade - Um guarda se aproximou a uma distância respeitosa. Estava tão distraída que nem o vi se aproximar.

— Err, sim? - Sacudi a cabeça, como forma de voltar à realidade.

— O sobrinho do Lord Macrino de Galma, Erlian, deseja lhe falar - Anunciou. Olhei para a porta e flagrei o menino espiando através dela, como se verificasse se eu estaria disposta a falar com ele.

— Obrigada por avisar - Eu assenti para o guarda e coloquei o punhal na bainha ao passo que caminhava em direção ao garoto.

Erlian estava com uma aparência melhor do que quando o vi no baile de noivado. As bochechas estavam mais cheias e era como se as roupas estivessem lhe caindo melhor, fruto da alimentação melhor balanceada. Apesar de entender em parte a desilusão de Rilian, era impossível não culpá-lo pelo estado de saúde péssimo do irmão quando foi encontrado.

— Como está, Erlian? - Sorri para ele. O rapazinho me fez uma reverência desajeitada. Ele parecia tímido, apesar de já ter falado comigo anteriormente - Posso ajudá-lo em algo?

Ele olhou em volta, dando a entender que gostaria de falar em particular. Eu fiz um sinal para que me acompanhasse e nós passamos a caminhar pelo corredor até a janela mais próxima.

— Eu não queria perturbar a senhora com a situação do meu irmão, mas… - Hesitou - Acho que é a única que não está zangada com ele.

Ri brevemente.

— As pessoas parecem zangadas porque o seu irmão fez uma coisa muito grave - Expliquei - Mas os motivos dele estavam errados e eu acredito que ele percebe isso. É o primeiro passo para se tornar uma pessoa melhor, não acha?

— É verdade! - Concordou - Tia Orestila sempre ensinou que não adiantava nada pedir desculpas sem ter se arrependido de fato. - Uma pausa - Eu vim para pedir que a senhora me deixe ver o meu irmão outra vez. Aquela cela parece… solitária demais.

Era um pedido razoável. Eu entendia a dor dele. É triste demais quando vemos alguém que amamos cometendo uma sucessão de erros e não conseguimos fazer nada para impedir. Sentimo-nos responsáveis, apesar de não termos qualquer culpa.

— Eu estava mesmo precisando falar com ele - Confessei - Creio que o rei Caspian não irá se opor que o veja.

— Muito obrigado, rainha Lúcia! - Sorriu o menino - Quando podemos falar com ele?

— Amanhã depois do desjejum - Marquei - Ficamos combinados assim?

Ele assentiu em resposta. 

 

Susana Pevensie

Da forma mais branda possível, contei a Caspian a situação de Hiandra da Calormânia. Relatei que foi castigada terrivelmente e se escondeu para não ter que retornar a Tashbaan. Mencionei também que Pedro se compadeceu dela, mas que não gostaria de se colocar em uma situação de conflito com Caspian por conta dela.

— De certo, não é a situação ideal - Falou sério, mas calmo - Vou precisar interrogar a moça. De qualquer forma, não vou deixá-la ao relento num quadro de saúde tão grave, ela receberá o que precisar.

— O fato de terem deixado as costas dela em carne viva é um sinal razoável de que está dizendo a verdade - Ergui uma sobrancelha - Acho que a mais verdadeira lealdade não ultrapassaria esse limite.

— Sim, contudo quero ser cauteloso desta vez - Falou ao passo que ponderava - Também não quero ser tão duro. Estive pensando sobre a questão de Rilian e até me lembrei de uma conversa com Edmundo sobre como as pessoas encaram traidores. - Fez uma pausa, até que suspirou - Os contextos de Hiandra e de Rilian não são nada favoráveis, mas também não eram para mim quando pedi que os narnianos me ajudassem a recuperar o trono.

— Então acha que está agindo errado com ele? - Referia-me a Rilian. - Apesar de não ter concordado com seu descontrole na noite em que ele me atacou, eu entendo que esteja com raiva.

— Quero dizer que as coisas não são tão preto no branco quando queremos que seja - Esclareceu - Quero agir com discernimento. Se não puder confiar nele, tenho que arranjar outra estratégia, pois não quero ter que condená-lo à morte.

— Principalmente sabendo que ele é seu primo - Ressaltei.

— E também porque Aslam mostrou a Lúcia que ele tem um papel importante na profecia - Lembrou - Se ele fosse uma ameaça tão grande, acho que Aslam teria nos alertado.

— É, pode ser que ele se arrependa de fato.

— Desse modo, também não quero condenar a moça precipitadamente - Concluiu.

Chegamos aos aposentos de hóspedes em que Tácito foi acomodado e os guardas abriram o par de portas para nós.

Pedro e Hiandra dialogavam tranquilos, mas se alarmaram ao ver a mim novamente e principalmente Caspian entrando no aposento.

Meu irmão se levantou para falar conosco de frente.

— Eu esperava que Susana lhe contasse em breve - Foi o que disse primeiro - Já tem uma decisão tomada? - O tom de Pedro era sério, aliás nada mais justo, afinal era o destino de uma pessoa que estava em jogo.

— Na verdade, não - Caspian respondeu firme - Já estou a par de parte da história. - Virou-se para a moça acamada - Certamente não a deixarei sem cuidados. Não a jogaria numa cela nesse estado.

— Fico agradecida por sua compaixão, majestade. - O semblante de Hiandra era sério e melancólico. - Em toda minha vida, jamais experimentei estar diante de reis tão misericordiosos.

— Infelizmente as relações de Nárnia com seu reino me impedem de confiar plenamente em você  - Caspian deixou claro. A moça assentiu de olhos baixos - Porém não tenho tempo hábil para interrogá-la formalmente e você precisa de cuidados e repouso. Use esse tempo para refletir a quem deve lealdade. - Falou a última parte para Hiandra por fim. Ele não precisou completar para que ela entendesse a escolha que precisava fazer. 

Caspian me lançou um olhar que indicava que se retiraria.

— Posso falar com você, Pedro? - Pedi. A conversa anterior havia sido ríspida e eu gostaria de entender meu irmão e oferecer um conselho gentil dessa vez.

Saímos dos aposentos também e caminhamos pela direção leste do corredor.

— Desculpe por ter sido insensível com você mais cedo - Pedi. - Acho que na correria do nosso mundo, tivemos tão pouco tempo para falar de nós. Eu gostaria de entender o que você sente.

— Está perdoada, mas a que exatamente se refere? - Indagou. 

— Está gostando da moça, não está? - Perguntei diretamente. Ele parou e nós nos aproximamos da parede do corredor para não atrapalhar a passagem.

— Nos conhecemos há pouquíssimo tempo, Susana - Desconversou - Ela é linda, gentil e talentosa e eu admiro isso, sem dúvida - Confessou e eu sorri - Mas a primeira conversa de verdade que tivemos acabou de acontecer!

— Acho que entendi. É só que tenho medo de seu julgamento ser influenciado pela atração e pela empatia que tem por ela. Só isso - Expliquei - Mas também admito que o meu tem sido influenciado pela péssima referência que temos da Calormânia.

— Eu quero acreditar que ela é boa - Disse ele - Dar a ela a chance de mostrar que tem valor. - Foi quando sorriu consigo - Quando ela canta… me lembro da mamãe.

— Ela sempre cantava antes de dormirmos, não era? - Recordei. Quando Edmundo e Lúcia nasceram, ela perdera esse hábito, afinal não era fácil cuidar de quatro crianças por um dia inteiro; ao fim da noite, ela estava exausta. Mas quando éramos apenas Pedro e eu, era reconfortante ouvir sua voz embalando nossos sonhos.

— Sim - Concordou - O tempo passa tão rápido. Quando menos esperamos, a vida se esvai - A menção a morte de nossos pais trouxe aos olhos de Pedro um ar melancólico. - Ela teria ficado feliz em ver você praticamente noiva.

Soltei um riso.

— Não faz ideia de quantos pretendentes ela me apresentou na América! - Exclamei - E, bem, o papai teria ficado orgulhoso em vê-lo cuidando da família tão bem e praticamente formado. - Ele sorriu baixando os olhos e eu fiz uma pausa - Acho que essa é uma das missões mais complicadas que enfrentamos desde a primeira vez que viemos.

— Nunca enfrentamos Jadis e outra feiticeira louca ao mesmo tempo, não é? - Ergueu uma sobrancelha com humor falso.

— E mais do que isso - Acrescentei - Hiandra, Rilian, o rei Naim, o Tisroc, Ramandu. Tantas escolhas difíceis… confiar ou não confiar, perdoar ou não perdoar. Ter certeza daqueles com quem podemos contar. Eu não quero nem imaginar o novelo de lã que estão os pensamentos de Caspian nesse momento!

— Estamos aqui para ajudá-lo, Susana - Assegurou - Vamos conseguir dessa vez com a ajuda de Aslam, tal qual conseguimos das outras. - Maneou com a cabeça - Tentarei ser cauteloso com Hiandra.

— Obrigada - Falei por fim, grata por ele tomar mais cuidado.

 

Dias depois...

Liliandil, a estrela

O dia da partida da corte de Arquelândia enfim chegou. Caspian preparou um pequeno grupo para acompanhá-lo rumo ao desfiladeiro do rio Flecha Sinuosa à procura da lança da rainha Cisne Branco que matou a serpente do deserto.

A identidade da feiticeira calormana ainda era desconhecida. Rilian era o único que tinha tido o vislumbre de seu rosto, mas o vinho entorpeceu seus sentidos e a única coisa da qual ele se lembrava era de sua voz.

Eu gostaria de ajudar de alguma forma. Se eu ainda tivesse minha magia, se fosse capaz de subir aos céus, conseguiria vigiar o grupo e mantê-los em segurança. Caso uma ameaça se aproximasse, seria capaz de avisá-los, ou de chamar ajuda. 

Fitei minhas mãos. Nem uma faísca de magia. Nem a aura azul iluminada me cercava mais. Eu estava agradecida por não estar queimando como o sol ardente do deserto, mas ainda não me sentia eu mesma sem meus poderes.

— Quando eu voltar - o rei Edmundo surgiu de repente. Estava tão mergulhada em meus pensamentos que sequer ouvira seus passos firmes sobre o chão do castelo. Ele trajava roupas mais pesadas, já pronto para seguir viagem com a irmã Susana e com Caspian. - Eu vou ajudá-la a recuperar sua magia.

— Não faça promessas, milorde - Pedi educadamente - Nem eu mesma sei como posso fazer isso! Sequer sabia que uma estrela poderia roubar a magia de outra!

Ele franziu o cenho e baixou a cabeça, como quem vasculha a mente à procura de uma lembrança.

— Quando você delirava de dor e febre, - Falou por fim - Você disse algo sobre "uma fonte de luz concentrada na escuridão absoluta". Isso te lembra alguma coisa? Alguma lenda das estrelas?

Ponderei.

— O único lugar assim que me dou conta é o Ermo do Lampião - Dei de ombros - Aquela área da floresta é densa e escura, de modo que apenas ele confere luz ao bosque. Mas não sei como ir até lá pode nos ajudar.

— Se puder me esperar voltar, - Edmundo colocou a mão direita no meu ombro e senti um choque percorrer minhas costas. Tentei disfarçar a sensação, porém eu não costumava conseguir esconder minhas sensações e impressões da forma humana - eu irei com você até lá. Precisamos tentar algo, não acha?

Assenti e sorri para ele. A gentileza do rei era cativante. Passar o tempo com ele reconstruindo as plantas de Cair Paravel costumava ser agradável e engraçado, e seu empenho em me ajudar desde que Ramandu se enfureceu comigo acalentava meu coração.

Pedro Pevensie

— Já ordenei fosse avisado a todos que deixei o comando do reino nas suas mãos - Caspian se despedia - Tem minha autorização para mobilizar o exército, distribuir os alimentos da forma que achar melhor e em caso de cerco, pode mandar os aldeões e os narnianos se abrigarem no castelo.

— Manterei todos a salvo e alerta - Assegurei - Cuide de Susana por mim e zele por Edmundo também - Pedi e ele assentiu - Se conseguirem encontrar a lança, estaremos a um passo de colocar um fim nessa maldição.

— Só faltará encontrarmos a feiticeira misteriosa - Susana ressaltou - Contudo, se ela quer arruinar Nárnia de verdade, não deverá demorar a aparecer.

— Hiandra mencionou algo? - Caspian me perguntou.

— A informação mais relevante foi a de um grande ritual ocorrido meses atrás - Expliquei - Ela entrou para o grupo de sacerdotisas faz menos de um ano, mas as outras já participavam das atividades. Houveram sacrifícios, coisas do tipo.

— Pode ter sido um ritual para Tash ou para trazer a serpente do deserto de volta - Constatou Susana.

— Hiandra não assistiu à cerimônia, afinal as origens humildes dela são motivo de preconceito até mesmo entre os templários. - Continuei - Ela ganhou destaque recentemente, desde que o tisroc colocou os olhos nela e se encantou com seus talentos.

— Pelo que vejo, ela está realmente interessada em nos ajudar. - Caspian reconheceu - Espero que não tenhamos surpresas.

Edmundo veio caminhando em nossa direção, segurando no cabo da espada embainhada no cinto e com uma expressão disposta e animada.

— Estão prontos para ir? - Lúcia surgiu do meu lado e eu olhei para ela com os olhos arregalados e ela não evitou o sorriso. 

— Tudo pronto? - Edmundo indagou ao chegar.

— Quase - Caspian falou - Garvis! - Ele chamou o telmarino que era chefe da guarda e que trazia naquele momento consigo duas espadas. - Já que Pedro me concedeu a honra de empunhar a Rhindon, achei por bem dar a vocês dois as espadas dos fidalgos telmarinos que não estão mais entre nós.

— Ah! - Exclamei com um sorriso - Edmundo disse que são ótimas.

Ed havia comentado sobre as sete espadas dos fidalgos que foram colocadas na Mesa de Pedra, mas eu não sabia - e acredito que nem ele - que a tripulação do Peregrino da Alvorada haviam trazido as espadas para Nárnia.

— Para Edmundo escolhi a espada de Restimar - Garvis entregou a arma a meu irmão - E para Pedro, a de Octasiano.

A espada era muito semelhante a Rhindon em peso. Lúcia havia contado que dois dos lordes haviam falecido por sua ganância: Octasiano cobiçou o tesouro do dragão e Restimar anelou a propriedade mágica das Águas da Morte.

— Imaginei que fossem gostar - Caspian comentou sorrindo.

— Ela parece perfeita, obrigado! - Agradeci como uma criança que acaba de receber um brinquedo.

— Bem, no mais, é aqui que nos despedimos. - Ele decretou por fim.

Troquei um aperto de mão com Edmundo e puxamos um ao outro para um abraço com tapas nas costas.

— Cuide-se, por favor - Pedi - Ajude Caspian no que for preciso e olhe por Susana.

— Pode deixar - Assentiu - Tome conta do povo. As pessoas se sentirão seguras com você no comando, mas se a seca piorar podem ficar agitadas.

Também assenti. Da mesma forma, troquei um abraço com Caspian e falamos palavras parecidas a respeito de nossas incumbências, enquanto Lúcia e Susana se despediam também.

Abracei Susana.

— Pelo visto, Hiandra tem se comportado bem - Comentou ela - Continue de olho nela. - Foi quando olhou para Lúcia de canto - Eu soube que Lúcia anda visitando Rilian na prisão com Erlian. Olhe por ela também.

— Sabe que não concordo com isso - Meu semblante se tornou sério - Mas sei também que o garoto merece uma chance. Por isso não me opus até agora.

— Fico feliz que tenha percebido que ela cresceu - Me alfinetou e eu soltei um riso - Que apesar de termos o dever de orientar, afinal nossos pais não estão aqui, tanto ela quanto Edmundo tomam suas próprias decisões agora.

— É, tem razão - Tive que concordar.

Minutos depois, a comitiva de Arquelândia e o grupo de Caspian, composto por Susana, Edmundo, Trumpkin, Garvis e mais alguns soldados de elite e guardas pessoais já cruzavam a ponte em direção ao pé da montanha sob a qual o castelo fora construído.

— Eu realmente espero que tudo se acerte - Lúcia comentou ao meu lado.

Aquele era meu desejo, também.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam?
Eu não sei se ainda tem algum ser humano que acompanhe essa fic kkkkk mas se tiver, eu peço que comente se gostou ou não, ou diga que vai acompanhar a história! Estou voltando a escrever aos poucos, mas estou determinada a finalizar a história. As ideias estão todas aqui na minha cabeça, só falta realmente "colocar no papel" e o estímulo de vocês é crucial!
Espero que tenham gostado! Beijos!



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