Human ▸ Leah Clearwater escrita por Woodsday


Capítulo 2
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Faziam algumas horas que Leah estava no penhasco observando o bater das ondas. Ficou todo o tempo em silêncio, esperando por qualquer movimento do animal, mas ele simplesmente postou-se ao seu lado e permaneceu ali, silenciosamente junto dela.

— Você não vai embora? — Leah questionou virando a cabeça para o animal que ainda estava ao seu lado. Depois de algum tempo, ele confortavelmente deitou-se sobre as patas e apoiou a cabeça sobre um amontoado de plantas. Leah achou que após a pequena carícia, a enorme fera arrancaria sua mão, mas ao contrário disso, ela se retorceu em deleite com o carinho.

Exatamente como um gatinho de estimação. Isso fez com um sorriso surgisse nos lábios da loba e ela se sentasse confortavelmente ao lado do tigre.

— Há muitos caçadores aqui. — Leah divagou, preocupadamente. — Meu pai era um deles... Não é muito seguro pra você, amigo.

O tigre rosnou, baixo e lento. Parecia discordar dela e Leah sorriu.

— Eu adoraria levá-lo para casa, sabe, como um animal de estimação. Imagine só a cara de Seth e mamãe ao verem isso. — Leah gargalhou, deixando o corpo cair calmamente sobre a mata, para não assustar ao animal. Havia perdido o medo de ser atacada a qualquer momento mas ainda assim, era bom prevenir.

Mais uma vez o tigre pareceu respondê-la, um grunhido breve que Leah também achou que era uma discordância.

— Oh, não me diga que não ia gostar de um lugar quente para dormir? — Leah murmurou, observando o sol surgir timidamente entre as copas das árvores. — Eu sei bem como é ficar na floresta úmida e fria. — Ela encarou ao animal com dúvida. Tinha quase certeza que sua terra de origem era muito longe dos Estados Unidos, talvez algo como a Ásia, se sua memória estivesse correta e ainda se lembrasse de algo das aulas de biologia. — E longe de casa, aparentemente.

Leah pensou sobre as possibilidades do tigre. Os sanguessugas haviam partido, é verdade, mas haviam outros ainda piores para ocupar o lugar, não que estes seriam um problema para o animal. Ainda assim, nenhum cenário era seguro o bastante, na opinião da loba.

— Aqui não é mesmo um bom lugar para você ficar.

Em La Push ele estaria seguro, por algum tempo. Nenhum dos lobos o incomodaria, mas as terras eram um limite invisível para os olhos humanos. Estremeceu com a ideia do tigre virar um troféu na parede de algum cidadão sem consciência de Forks.

— E se eu o levar para o zoológico?

Ele rosnou, mostrando os dentes para ela e Leah se sobressaltou, afastando-se minimamente.

— Okay, não está mais aqui quem falou. Certo... Deixe-me pensar. — Ela olhou ao redor. — E se eu ligar para alguma dessas entidades de proteção?

Mais uma vez, um rosnado surgiu. O tigre grunhiu furioso e Leah suspirou, derrotada.

— E o que eu faço com você? Não posso deixá-lo aqui, acredite em mim, é perigoso.

O animal, desdenhoso, virou a enorme cabeça na direção contrária, deitando-se sobre as patas e ignorando-a como se dissesse "eu não vou a lugar nenhum".

Leah bufou, impaciente e nervosa. Não sabia dizer porque estava tão preocupada, mas a simples ideia de vê-lo sangrando com um tiro ou machucado em alguma das armadilhas de urso era assustadora demais.

— Tigre, se eu o levasse para casa, você se comportaria?

Ela esperou. Ela realmente esperou por uma confirmação. Parte dela estava gritando que ela estava enlouquecendo por estar falando amigavelmente com animal irracional e completamente perigoso. A outra parte, no entanto, sentia-se absolutamente confortável, como se ela pudesse mostrar todas as partes de si mesma para aquele tigre sem sentir vergonha ou receio.

E ela deu ouvidos à segunda parte, porque já fazia muito tempo que não se sentia dessa forma.

O animal levantou a cabeça, inclinando-a levemente para o lado. A gigantesca boca se abriu revelando dentes afiados e antes que Leah pudesse se esquivar, a enorme língua a alcançou, lambendo seu rosto com brutalidade.

— Argh! — exclamou enojada passando a manga da blusa pelo rosto babado. Sua baba, assim como ele, fedia a peixe e Leah sentiu vontade de vomitar. — Há quanto tempo você não escova os dentes, tigre? — Brincou voltando a se deitar e ouviu um grunhido ao seu lado. Ela riu, porque realmente parecia que o animal a entendia. — Você só tem comido peixe, certo? Entraram algumas escamas no meu cabelo, eu aposto. — exclamou com ironia.

O animal afastou-se, olhando-a com os olhos azuis cristalinos, desinteressado em seu acesso de grosseria. Leah revirou os olhos, indignada consigo mesma.

— Que ótimo! Eu estou tão solitária que estou falando com um animal. — Resmungou para si mesma, impaciente. Levantou-se do chão, batendo as mãos na bermuda molhada e deu as costas ao tigre, esperando que o animal continuasse por ali. Mas foi com surpresa que Leah notou as patas pesadas batendo ao seu lado e o tigre calmamente trotando junto dela. — Você está mesmo vindo?! — Leah abriu a boca completamente surpresa, sorrindo em seguida quando o animal não desviou os olhos dos dela nem por um segundo.

Gigantesco, ele alcançava seus ombros e Leah se sentiu pequena ao lado dele. Gostaria de saber como explicaria a presença do animal para sua mãe, mas supôs que Sue iria achar que Leah finalmente perdeu o juízo.

— Escute. — Ela parou na margem da floresta e o tigre a acompanhou, Leah olhou confusa para a forma como ele a olhava interessado. Parecia de fato, entendê-la e ela realmente achou que estava ficando maluca. — Eu acho que deveria me internar agora. É claro. Mas se existem lobisomens, certo? Podem existir tigres inteligentes. É claro. — Murmurou consigo mesma levando as mãos aos cabelos. — Posso acreditar que você está me entendendo, por algum motivo misterioso. Nada é impossível, certo? Não quando há vampiros e lobisomens. — A loba respirou fundo e criou coragem para olhar para o animal, que ainda a encara curiosamente. — Beleza, tigre. Nós vamos para a casa, mas você vai para os fundos, a oficina está desabitada desde que meu pai... — Leah parou, tomando consciência de que diria em voz alta pela primeira vez uma das maiores tragédias da sua vida. Um suspiro escapou dela e ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos. — É lá atrás, ninguém pode saber de você, então você tem que ficar em silêncio, beleza?

Leah olhou ao redor, pelo horário sabia que sua mãe devia estar na casa de uma de suas amigas tricotando ou limpando os peixes, ela julgou que Seth talvez estivesse em ronda e o caminho estaria livre para entrar para a casa.

— Okay, eu estou maluca! — Ela grunhiu consigo mesma, lançando um olhar preocupado ao tigre. Como se a entendesse, o animal abaixou a enorme cabeça, o focinho aproximando-se das suas costelas e cutucando-a suavemente. Leah não pôde resistir à um sorriso. — Maluca, provavelmente maluca. - Resmungou antes de dar um passo para fora da margem da floresta. — Se você me arrumar problemas, eu faço de você um tapete bem bonito para meu quarto, ouviu?

O animal grunhiu, soando como um resmungo entediado e Leah bufou consigo mesma. Ela havia ouvido muitas lendas contando que antigamente, quando haviam as tribos de guerreiros, alguns destes possuíam ligações especiais com a natureza e os animais, sendo capazes de conversar e criar laços profundos com as criaturas, mas nunca achou que poderia ver isso de perto. Na verdade, quando o velho Ateara contou sobre a tal lenda, Leah zombou dizendo que animais eram absolutamente irracionais e por um erro de alguma divindade desocupada, eles haviam se tornado lobos racionais.

Agora, olhando para o tigre que a acompanhava silenciosamente, Leah começava a pensar que deveria se desculpar com o ancião. É certo que seja o que o animal ao seu lado fosse, ele era bastante consciente e inteligente.

 


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