Human ▸ Leah Clearwater escrita por Woodsday


Capítulo 1
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Leah achava, que de todas as pessoas do mundo, ela era a mais azarada. Havia uma porção de coisas que ela odiava, mas naquele exato momento, sentada na sala de estar de Sam enquanto via Emily lentamente acariciá-lo nas costas, Leah odiou a própria existência. Odiou principalmente, qualquer que fosse a entidade que a amaldiçoou ao destino cruel ao qual estava acorrentada desde nascença.  

Odiou seu pai pelos genes que tinha e sua mãe, por ter o escolhido. Odiou Sam Uley por ser fraco e Emily por sequer hesitar em amá-lo. Ela sabia, por experiência própria, que era fácil amar Sam.

Ela também sabia, pelos olhos de Sam, que era inevitável que ele amasse Emily. Sua prima, por anos, sua melhor amiga também. 

Parte dela, entendia perfeitamente a magia do Imprinting, a magia milenar mais ridícula de Leah já viu. Ela podia ver de camarote quais eram as sensações que o lobo sentia ao imprimir em sua companheira, ela via pelos olhos dos irmãos de bando que eles se tornavam tudo o que elas precisassem. Amigo, companheiro, namorado, marido, seja o que fosse, o mais ridículo que fosse, eles fariam. 

Seria uma mentira dizer que não queria sentir o mesmo. Alguém que faria de tudo para vê-la feliz? Ela queria sim. O tempo todo. Nada dos sentimentos e pensamentos que tinha a satisfaziam, ao contrário do que todos pensavam. Ela não se sentia feliz com a própria amargura e raiva. Não se sentia feliz com tanto ódio acumulando em camadas dentro dela, fazendo com que lentamente cada sonho e desejo morresse sem esperança. 

Leah estava cansada. De tudo ao seu redor, da sua magia, dela mesma. Leah estava exausta. E se pudesse escolher, jamais acordaria novamente para ver todos os seus sonhos reduzidos a uma casca vazia e uma vida previsível e pré determinada. 

Seria sempre uma loba solitária, enclausurada a praia de La Push. 

Sua mãe sempre disse a ela que quanto mais escalasse, maior seria sua chance de cair. Leah nunca achou que ao escalar os seus sonhos de adolescente cairia tão duramente em uma realidade cruel. Seu coração partido, sua liberdade perdida, suas escolhas corrompidas e seu destino cruel à vista. 

— Leah? — A voz de Sam à trouxe mais uma vez à vida e Leah ergueu os olhos, percebendo só então que ainda encarava a mão de Emily sobre as costas de Sam. Os olhos de ambos transmitiam culpa e pena, duas coisas que Leah odiava ver nos olhos de quem quer que fosse, mas principalmente no deles.

— Sim? — Ela ergueu o queixo, desviando os olhos para encarar o rosto de Sam com o máximo de força que tinha para não revirar os olhos e transparecer o descaso que possuía em relação ao seu alfa. 

— Você concorda? 

No fundo da mente, Leah lembrou-se de Sam e Jacob discutindo sobre as formas de proteger Bella Swan, uma delas, sendo manter rondas frequentes na casa da única garota que Leah achava ser tão patética quanto ela. 

Ela definitivamente não concordava, odiava a ideia de perder suas noites tendo que dormir na mata fria para proteger a bunda branca de Bella Swan. Mas ela também não diria nada disso em voz alta, seria uma perca de tempo e de energia que ela não estava disposta a ceder, por isso, simplesmente revirou os olhos com aceno de cabeça. Sam passou ainda alguns segundos encarando-a até que Leah arqueou uma sobrancelha e o alfa desviou os olhos, retomando o assunto que tratavam.

Do outro lado da sala, Jacob Black tinha os olhos preocupados grudados na janela. Acompanhava a conversa com interesse e Leah o achava — mais uma vez — patético. Era tão óbvio que Bella Swan partiria o coração dele e o largaria ao relento, como fazia toda vez que o seu vampiro especial aparecia e Jacob deixava de ser interessante para ela.

Mas Leah não podia dizer isso também, ou seria chamada de amargurada, cruel e infeliz. O que era verdade, mas ela odiava ter que ouvir da boca deles. 

— Acabamos por hoje. — Sam diz dispensando todos e Leah respira aliviada, desencostando-se da pequena bancada que dividia a cozinha da casa de Emily. Estava prestes a atravessar a porta que daria para a sua liberdade momentânea quando a voz de Emily soou atrás dela.

 

— Leah? — ela tentou por uma segunda vez e Leah soltou o ar impacientemente antes de virar-se para encontrar os olhos negros, tão parecidos com os seus, encarando-a com a mesma culpa e pesar de todos os dias. — Podemos conversar, por favor?

— Não. — Leah foi direta. — Eu não quero falar com você, Emily. Porque você insiste tanto? É difícil entender que eu não gostaria nem de olhar para a sua cara?

— Leah. — Sam interveio, lançando à ela um olhar furioso. — Não fale assim com ela, por favor.

Leah riu debochada, cruzando os braços sobre os seios e encarando o casal com incredulidade. — Ou o que? Você vai me dar uma ordem, alfa? 

Isso pareceu abalar Sam, que abaixou os ombros e se rendeu. Ambos ainda se lembravam da ordem grotesca de Sam.

Não reclame, não pense, não diga nada para mim ou para qualquer um do bando. Não somos obrigados a te aguentar, Leah.

— É claro que não, Leah. — Sam respondeu finalmente, dando um passo em sua direção.

Leah imitou o gesto, dando um para trás e trocando um olhar irritado com o casal.

— Vocês são ridículos. Querem que eu perdoe vocês? É isso? Pra poderem parecer bonzinhos para toda a tribo e tem sua consciência aliviada quando colocarem a cabeça no travesseiro? Pois eu não vou! Sejam felizes, tenham filhos, botem fogo nessa casa se quiserem, só me deixem em paz.

— Leah...

Ela balançou a cabeça, erguendo a mão e Emily se calou.

— Não se dirija a mim, Emily. — Por fim suspirou, afastando-se. — Eu só estou aqui por obrigação e cada vez que eu olho para vocês é só um lembrete de tudo que eu perdi. E acredite, Sam. Não é você. 

Leah deu às costas ao casal, saindo da pequena casa e sentindo o chuvisco leve que caía em seu rosto. Lentamente a água fria deu lugar as suas próprias lágrimas quentes e Leah sentiu-se quebrar, chocar-se contra ela mesma como se houvesse mil pedaços boiando dentro de si mesma. 

Ela não conseguia se montar outra vez, colocar-se no lugar e ser a mesma garota de antes. 

Não quando todos o entendiam. O pobre Sam Uley que se transformou sozinho e sem conhecimento. O pobre Sam Uley que feriu o seu objeto de afeição. O pobre Sam Uley que carregava o peso da alcateia nos ombros.

Ninguém pensava em Leah Clearwater. 

Que foi ferida, machucada, traída e abandonada. Que perdeu a escolha de ser mãe, médica, bonita e divertida. Tudo que restava para ela eram os trapos que era obrigada a vestir pela falta de condições, a faculdade que jamais poderia cursar, os amigos verdadeiros que jamais faria e o ventre seco que jamais geraria. 

Furiosa, Leah parou de correr quando alcançou o penhasco. Lá embaixo as águas batiam furiosas contras as rochas e Leah consideraria a possibilidade de pular se houvesse alguma forma de morrer com isso. Mas até isso lhe era negado.

Leah era resistente, ela era forte. 

Com um soluço, deixou os joelhos cederem e sentou-se sobre a areia molhada, sentindo a energia da natureza fluir contra sua pele lentamente. As lágrimas fluíram com liberdade e alívio de dentro dela e Leah não se lembrava da última vez que se permitiu chorar de verdade.

 Repentinamente o vento cessou e Leah sentiu seu corpo aquecer, o ar pareceu sumir de seus pulmões por um segundo antes que retornassem e trouxessem até ela um cheiro cítrico e incômodo, além da presença imponente que chegava até ela.

Ele cheirava a peixe e era branco. Além de grande, tão grande quanto o lobo de Jacob e Sam. Maior que sua loba. 

Os olhos azuis cristalinos a encaravam e Leah não soube o que fazer, sem ação ficou encarando ao enorme tigre branco que se sentava sobre as patas traseiras e encarava igualmente interessado. Ela abriu a boca, em choque esperando pelo ataque do animal.

Nunca havia se deparado com um felino antes. Ele reconheceria nela um perigo ou um aliado? Leah não sabia, mas pela forma inteligente com que o animal a encarava, Leah julgou que via nela uma aliada.

E sem pensar nas consequência, Leah esticou o braço esperando por aceitação e foi com surpresa que recebeu um rosnado satisfeito, seguido dos pelos do animal sob seus dedos, remexendo-se em busca de carinho.

Então de alguma forma, algo mudou. Havia algo para ela, finalmente. 

 

 


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