ꟷ George? ꟷ Ron parou na frente do irmão com um sorriso travesso.

ꟷ Fala. ꟷ George olhou para cima encontrando o sorriso do outro.

George às vezes achava engraçado como ele precisava levantar a cabeça para olhar o rosto de Ron. O seu irmãozinho mais novo era o mais alto dos Weasleys, mas um dia ele foi apenas um toquinho manhoso que rastejava pela Toca e, sendo mais velho, George se lembrava disso.

ꟷ Posso usar aquela salinha do fundo, a da escada?

ꟷ Para quê? ꟷ ele lembrou da sala que não tinha serventia nenhuma.

ꟷ Fazer o meu laboratório.

ꟷ Pode...fazer o que?! ꟷ seus olhos arregalaram e ele soltou a pena que estava usando para escrever as finanças da loja. 

Ron já tinha se afastado para a sala embaixo da escada onde só guardavam tralhas. George correu atrás dele em busca de satisfação.

ꟷ Vai ser perfeito! Só precisa de um feitiço de ampliação. ꟷ Ron observou o cômodo com ar sonhador.

ꟷ Você vai fazer um latonatório na minha loja?! ꟷ George perguntou exasperado.

ꟷ Sim, pois é nele onde iremos inventar novos produtos. ꟷ Ron respondeu enquanto observava as paredes e o chão do cômodo.

ꟷ Pra isso eu tenho a Sala de Invenções, no andar de cima. ꟷ  rebateu George. 

ꟷ Na sua sala você tem um agitador? Uma balança de precisão? Uma centrífuga? Um peagâmetro? Vidrarias?...

ꟷ Recitar essas badulaqueiras trouxas não te faz inteligente.

ꟷ Não, mas é de química que estou falando, meu irmão. Química! ꟷ a expressão meio eloquente era algo no rosto de Ron.

ꟷ Você é louco. ꟷ George franziu o cenho para o irmão.

ꟷ Usaremos a Sala de Invenções e o meu Lab para criar novidades, ficaremos ricos. ꟷ ele explicou sabendo o que dizer.

Ron conhecia a palavra preferida de George e ele aprendia usa-la muito bem a cada dia.

ꟷ Ricos?

ꟷ Uhum! Ricos.

George refletiu um pouco, depois cruzou os braços e disse:

ꟷ Então, como se faz esse Lab?

***

Ron logo esbarrou num grande obstáculo para montar o laboratório. Eles não tinham condições de comprar os equipamentos com seu dinheiro, pois eram muito caros.

Um dia, por acaso, Ron comentou o problema com o pai. Arthur soltou um longo "hummm" e disse: 

ꟷ Conheço um lugar.

***

Arthur levou o filho até uma parte do Departamento de Relações Trouxas onde haviam muitas tranqueiras trouxas guardadas.

ꟷ É uma bagunça isso aqui, a anos estamos estudando todos esses objetos e organizando, é para ficarmos cientes das invenções trouxas... Por aqui. ꟷ Arthur guiou o filho até uma repartição ꟷ  Aqui fica uns itens de laboratório. É isso que precisa, não?

Ron se adiantou observando alguns objetos que ele ganhou familiaridade durante suas aulas de química. Ele mal podia acreditar que o Ministério tinha tudo aquilo e não usavam para nada. 

ꟷ Eu posso simplesmente pegar? ꟷ Ron não acreditava que fosse tão fácil, pois se tratavam de equipamentos extremamente caros.

ꟷ Tudo isso aqui foi classificado como inútil e uma hora vai ser transfigurado em algo com utilidade, tipo um sofá. Então, fique a vontade, meu filho.

Ron olhou para um espectrofotômetro ao lado e disse incrédulo:

ꟷ Sério que vocês consideraram isso inútil?

ꟷ Sim, nunca entendemos o propósito. ꟷ Arthur mirou no que o filho apontava e deu de ombros.

ꟷ Bom, eu vou levar muita coisa.

ꟷ Sem problema, para os caras lá em cima é tudo sucata. ꟷ Arthur apontou os andares superiores, se referindo aos políticos maiores do Ministério.

***

Assim que soube que Ron montava um laboratório, o Sr. Granger deu a ele algumas vidrarias e o ajudou organizar algumas coisas. Ron também recebeu a ajuda,  além de George,  de Rolf, pois o amigo considerava que era sua obrigação ajudar.

ꟷ Para quê serve isso? ꟷ Rolf perguntou chacoalhando um aparelhinho.

O coração de Ron falhou uma batida ao ver aquilo.

ꟷ Por Merlim! Não faz isso! ꟷ ele tomou o objeto das mãos do outro ꟷ É uma balança de precisão, cuidadosamente regulada, e qualquer descuido ferra tudo nela.

ꟷ Nossa, me desculpa. ꟷ Rolf pediu, vendo Ron lançar seguidos "Reparo" na balança. ꟷ Vou ter mais cuidado com seus filhotes de metal.

ꟷ Bom mesmo. Eu não chacoalho seus crups.

ꟷ Sorte sua, porque se fizer não me responsabilizo por seus pedaços arrancados. ꟷ Rolf colocou as mãos na cintura comicamente e Ron lhe mostrou a língua.

George, que observou a cena de longe, começou a rir deles. Ron desempenhava um cuidado fora do comum com todos aqueles objetos, e cuidado sempre foi atípico de Ron Weasley. George tinha que admitir que nunca viu seu irmão tão empenhado com algo desde a guerra. Além disso, faziam anos que George não se divertia assim e foi a dupla, Ron e Rolf, que lhe arrancava tantas risadas em um único dia.

ꟷ Só espero que todas essas tralhas tenham mesmo um propósito. ꟷ George disse quando entregou para Ron dois frascos de aparência esquisita.

ꟷ Aguarde e verá, irmãozinho. ꟷ Ron depositou os frascos de vidro com toda cautela no armário.

Durante alguns dias os três se dedicaram até tudo ficar em ordem, do jeito que Ron queria. Assim, a salinha embaixo da escada foi ampliada com magia, tornando-se dois cômodos atrás da porta, um era bem grande e o outro menor.

Colocaram um balcão central e mais balcões contornando a sala, todos com armários embaixo. Uma pia foi posicionada com uma estufa ao lado. A capela de exaustão ficou em um canto, enquanto os equipamentos - que  Ron conseguiu no Ministério - foram organizados em cima dos balcões. Ron escolheu cores claras para todo o laboratório, logo, o chão e as paredes eram bancos de cegar os olhos. Sua referência para suas escolhas foram os padrões de laboratórios que ele conheceu na faculdade. 

Toda essa região principal do Lab foi fechada com uma porta de vidro, pois Ron não queria ninguém transitando pelo seu laboratório sem permissão. Na parte anterior, ele fez uma salinha com uma grande mesa, lousa e prateleiras para guardar o que fosse preciso de papéis e livros.

Tudo estava em ordem.

***

Em um fim de tarde, Ron guardava os potes de tinta invisível que havia produzido mais cedo. Ele usava seu jaleco e luvas para não sujar a roupa. A tinta podia ser invisível, mas bastava uma luz ultravioleta bater - como a presente na luz do sol - que suas blusas e calças pareciam um carnaval de cores neon.

ꟷ Uau! 

Ele se ergueu para ver Hermione entrando pela porta de vidro. Ela usava vestes bruxas formais e uma grande capa cobria seu corpo. De uma forma engraçada, ela parecia uma figura em contraste com o ambiente.

ꟷ Oi! ꟷ Ron sorriu para ela.

ꟷ Eu tenho que admitir isso aqui é lindo. ꟷ Hermione expressou admirada ꟷ Um pouco deslocado quando você sai do saguão vitoriano da loja e entra aqui. Parece que atravessei um portal direto para outro mundo.

ꟷ Um mundo trouxa. ꟷ ele deu uma piscadinha.

ꟷ Quase, no mundo trouxa não teria um caldeirão bem alí. ꟷ ela apontou um canto.

ꟷ Dificilmente. ꟷ Ron concordou sorrindo.

Muitos itens mágicos estavam presentes no laboratório, afinal Ron era um bruxo. 

ꟷ Você quer jantar comigo, hoje? ꟷ Hermione convidou.

ꟷ Oh! Eu adoraria, estou morrendo de fome.

Hermione revirou os olhos, como sempre ele estava com fome, depois ela deu um sorrisinho sobre isso. Ela aproximou dele, observando-o terminar de guardar os frascos. Quando Ron se pôs em pé, Hermione pode reparar bem no jaleco branco que o envolvia até um pouco acima do joelho e as luvas azuis ao redor das mãos. A visão a fez morder seu lábio inferior.

ꟷ Você fica muito sexy vestido assim.

ꟷ É mesmo? ꟷ Ron deu seu sorriso mais charmoso.

ꟷ Quem diria que essa pinta de cientista lhe cai tão bem? ꟷ Hermione aproximou dele passando as mãos pela gola do tecido, observando melhor a custura e os botões.

ꟷ Seu pai disse.

ꟷ Certo, ele disse ꟷ ela riu concordando e ele acompanhou sua risada ꟷ Podemos ir?

ꟷ Sim, senhora.