A Filha de Mycroft Holmes escrita por Jace Jane


Capítulo 3
Capítulo 3 - Espião Perfeito


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Para não surtar até ter uma resposta do Holmes sobre o teste de DNA, peguei dois livros emprestados com a Chloe, mas não foi o suficiente. No meio da semana eu já estava no abrigo tentando abrir um buraco no chão com os pés.

— Merri... Sei que não é uma boa hora, mas preciso te falar uma coisa. – A sua voz saiu distante em meio ao barulho caótico na minha cabeça.

— Hum? – Que amostra Sherlock teria usado para comparar com a minha para o teste de DNA? E se ele não o encontrasse? Ou se for uma completa decepção como a minha mãe?

— Merri.

Não suportaria sair de uma confusão para entrar em outra.

— Merri! – Gritou Chloe chamando minha atenção.

— Desculpa o que estava falando? – Precisava me distrair, ou voltaria a imaginar coisas.

— Você esta aqui há três dias. – Informou. Era um fato. Jurei que não colocaria mais os pés naquele muquifo que um dia chamei de casa.

— E?

— Martha acha que precisa denunciar sua mãe por não ser capaz de lhe dar um lar seguro e estável. – Eita, ela vai começar a falar de orfanatos agora. – Será melhor que fique sob custódia do governo até que encontrem um novo lar para você.

— Não! Eu não preciso ir ao um orfanato, Sherlock Holmes encontrará meu pai e eu irei morar com ele.

— Você não se ouve? – Sua pergunta me deixou confusa. Parei de andar em círculos e me aproxime. – Você esta desesperada para que o pior não acontece, mas precisa se preparar.

Meus olhos queimaram de raiva, cerrei meus punhos e respirei fundo. Mas nada que eu fizesse poderia conter aquelas palavras de saírem da minha boca.

— Toda a minha vida eu tive que pensar sempre o pior, em tudo! Que minha mãe nunca apareceria para me buscar na escola por que era provável que ela estivesse comprando drogas de seu traficante. Que toda vez que eu voltasse pra casa que deveria me preparar para encontra-la morta. – A vi se encolher com a minha explosão súbita – E pela primeira vez em toda a minha miserável vida, permiti ter esperança, e ninguém vai tirar isso de mim!

Reuni poucas coisas que tinha adquirido no abrigo e coloquei tudo em uma sacola, deixei os livros da Chloe em cima dos lençóis e fui embora.

Minha vida sempre foi uma completa decepção, ter esperanças de que isso fosse mudar foi a melhor coisa que me aconteceu, e não podia deixar a Chloe tirar isso de mim, não alguém que sempre teve um lar estável e que nunca precisou se preocupar em ser órfã. Esperança é o bem mais precioso e doloroso que alguém pode ter e receber, e eu preciso disso.

Aquela noite eu dormi nas ruas, em um beco atrás de um restaurante, o lixo deles era bem variável e aproveitável.

***

Quando Sherlock Holmes recebeu o correio da senhora Hudson pela manhã deu um pulo ao ver o logo da carta, esperou a semana inteira por ela. Rasgou o papel sem nenhuma cerimônia.

— Alguém parece muito ansioso com uma carta do hospital. – Comentou a proprietária para o detetive consultor. – Da ultima vez que vi alguém nessas circunstâncias a moça esperava o resultado do teste de gravidez. Não engravidou alguém, engravidou Sherlock?

— Não seja ridícula senhora Hudson! – Exclamou o detetive indignado com tamanho absurdo proferido por sua proprietária. – Ah há! – A animação do homem deu um susto na velha senhora.

— Eu sabia! Watson ligue para o Mycroft, tenho atualização de um caso. – Pediu Sherlock.

— Sherlock, ele esta trabalhando. – Avisou à senhora Hudson antes de deixar o detetive.

Sem o médico para auxilia-lo foi obrigado a ligar ele mesmo para seu irmão, não aguentaria esperar nem mais um minuto, precisava dar fim aquele caso, que tinha se revelado a ser mais interessante do que tinha julgado.

— Mycroft!

— Não costumo acreditar em milagres, então o que aconteceu para você tomar a iniciativa de me ligar? – O tom irônico e desagradável era explicito na voz do irmão do detetive.

— Quero que traga chá, o meu estoque esta acabando. – Sherlock ouviu a respiração pesado do seu irmão do outro lado da linha.

— Sherlock.. – Falou pausadamente. – Eu tenho mais o que fazer do que seguir seus caprichos.

— Tenho uma atualização do caso espião perfeito. – Revelou Sherlock inalterado com a reação do irmão.

— O caso foi encerrado há quinze anos, Sherlock, o que pode ter de novo? – Disse cético.

— Eu sei o que fizeram com você. – Do outro lado da linha o Holmes estava em choque, aquele espaço em branco em sua mente tinha lhe perturbado por anos. – Não se esqueça de trazer o chá.

Não demorou muito para que os dois Holmes se encontrassem no mesmo recinto. Mycroft encarava seu irmão com expressão impaciente, em quanto o mesmo bebericava o seu chá.

Como ele poderia estar tão calmo depois de ter lhe contado aquela informação, e como poderia não dar a mínima para sua impaciência?

— Você não me fez atravessar a cidade para ficar esperando você terminar seu chá. – Resmungou Mycroft.

Sherlock não disse uma palavra, terminou seu chá e colocou a xícara e o pires em cima da superfície mais próxima. E então retirou a carta que recebeu mais cedo do bolso do seu terno e entregou ao irmão.

Mycroft leu a carta e ficou confuso, arqueou a sobrancelha ao encarar seu irmão, que já tinha voltado para sua poltrona.

— O que isso significa?

— Uma semana atrás uma jovem estudante se sentou na cadeira que você esta, implorando para que eu achasse o pai dela, o pai que nunca chegou a conhecer. Era um caso tedioso à primeira vista, até eu descobrir que ela é filha de Agatha Richards a mesma geneticista que trabalhava para a facção do MI6, que oportunamente teve uma filha com o fim do caso. Watson achou circunstancial demais, então fiz um exame de DNA usando o meu DNA, que se confirmou que eu e Merope Richards somos parentes de primeiro grau. Se você fizer o mesmo exame terá o nível de compatibilidade maior. O espião perfeito é seu filho.

A explicação do detetive deixou seu irmão em choque, preso em sua mente com inúmeros pensamentos confusos. Aquela garota, sua filha. Poderia ser uma ameaça? Não, se precisou da ajuda de seu irmão para encontrá-lo não era uma ameaça significativa. O experimento falhou, mas não significa que não seja uma ameaça no futuro, com o treinamento certo, e do lado certo, quem sabe?

Com a cabeça no lugar era improdutivo continuar na Baker Street, tinha coisas mais importantes a fazer.

— Obrigado, Sherlock. – Disse Mycroft levantando-se da cadeira. Estava recomposto novamente e com a cabeça no lugar. – Eu assumo daqui.


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