Meu pai permaneceu me encarando com um olhar sério e eu já estava pronta para levar uma bronca.

— Sabine! – ele chamou a mamãe, que veio logo.

— O que foi?

— A nossa Marinette tem um namorado! – a expressão dele mudou totalmente e ele abraçou a minha mãe com um sorriso no rosto. Em seguida veio me abraçar e me levantou do chão. – Não é incrível?

— É sim. Mas quem é ele? Nós conhecemos?

— Sim, é o Adrien Agreste. O menino das fotos da parede do quarto dela. – meu pai explicou como se eu não estivesse ali. O que me lembrou que eu preciso tirar as fotos da parede o quanto antes.

— Ah, que incrível! Você precisa trazer ele para jantar essa semana! – engoli em seco com a ideia. Trazer Adrien não parecia uma ideia tão ruim, mas trazer o Adrien/Chat Noir me remetia à catástrofe. E não é um trocadilho.

— H-Hã, eu não sei... Ele... Sabe...

— Claro, vai ser divertido. – Kim disse com um sorrisinho. Preciso lembrar de matar ele depois.

— Aham, claro. – foi só o que eu disse.

***

Você tá livre alguma noite dessa semana?

Pra você eu estou sempre livre.

Mas por que quer saber?

Meus pais acabaram descobrindo que estamos “namorando”.

E eles querem que você jante aqui.

Meu sonho foi realizado!

Hã... Ok.

Então, você pode?

Sim.

Poderia ser na terça?

Pode.

Obrigada, kitty.

De nada, Bugaboo.

Respirei fundo e continuei costurando. Teria que fazer de tudo para não passar vergonha durante esse jantar. O que convenhamos, é uma tarefa muito difícil, ainda mais para mim.

— Marinette, olha! – Tikki apontou para a televisão, um novo akumatizado havia surgido e estava espalhando o caos aos arredores da Torre Eiffel.

— É, pelo visto o vestido vai ter que ficar pra depois.

— Temos a cidade pra salvar!

— Exatamente, Hawk Moth não dá um descanso. – bufei e fiquei de pé – Tikki, spots on! – me transformei e estava prestes a sair pela janela, quando ouvi um som esquisito vindo da porta do meu quarto, como um grito abafado. Me virei assustada e vi Kim ali parado, com a boca aberta.

Essa não! Será que ele tinha visto eu me transformar? Claro, é óbvio! A cara dele dizia tudo!

— H-Hã... Não é o que parece! – estendi as minhas mãos. O que eu estava falando?

— Eu vim te pedir desculpa por mais cedo, mas... Você é a...

— Não!

— Ladybug. – sussurrou incrédulo.

— Claro que não!

— É sim.

— Isso... Isso é só uma-ma fantasia. – dei um sorriso nervoso. – É, é isso.

— Eu vi você se transformar. – meu irmão falou calmamente. – E faz todo o sentindo.

Abri a minha boca para falar algo, ou tentar me defender, mas lembrei que tinha um akuma atacando a cidade. Nossa conversa teria que ficar para depois.

— Nós conversamos depois, ok? Agora eu preciso mesmo ir. – Kim apenas assentiu e eu saí pela janela.

Eu devia ter fechado a porta, devia ter sido mais cuidadosa. Mas agora eu teria que lidar com as consequências dos meus atos.

Já era perigoso que Chat Noir soubesse a minha identidade, mas eu relevei, pois como Tikki disse, uma hora ou outra aconteceria. No entanto, meu irmão agora também sabia e isso me preocupava. Não quero que ele corra perigo.

Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Preciso me concentrar na luta agora.

***

Cheguei em casa e desfiz a minha transformação. Tikki surgiu e me encarou com um olhar preocupado.

— Certo, eu preciso fazer isso. Coragem! – respirei fundo, saí do meu quarto e fui até o do meu irmão.

Bati na porta usando o nosso código secreto de batidas que inventamos quando éramos pequenos e queríamos brincar depois do horário de dormir.

— Pode entrar. – ouvi a sua voz vindo de dentro do cômodo e adentrei. – Oi. – Kim estava jogando video game, sentado na sua cama.

— Oi. – respondi tímida e sentei ao lado dele. Meu irmão apenas me encarou de relance e voltou a prestar atenção no jogo, enquanto eu criava coragem para falar. – Eu... Sinto muito. – Kim morreu no jogo e encarou o seu controle, não iniciando uma nova partida. – Não queria esconder isso de você, ou dos nossos pais. Mas é perigoso.

— Perigoso? – ele olhou para mim – Como assim?

— Hawk Moth pode usar vocês para chegar até mim e isso é a última coisa que eu quero. – estremeci só de pensar – Só que agora, você acabou descobrindo e eu só peço que não faça disso uma grande coisa. Que, sei lá, finja que não é nada.

— Como pode me pedir isso? Você é minha irmãzinha, apesar de termos a mesma idade. E eu fico preocupado ao saber que você está lá, brigando com vilões perigosos. – sorri ao ouvir as suas palavras.

— Você não precisa se preocupar, sei o que faço. Além do mais eu tenho o melhor parceiro de todos ao meu lado e me ajudando. Mas você precisa confiar em mim. – segurei a sua mão e ele sorriu.

— Eu confio, Marinette.

— Então você pode guardar o meu segredo?

— É claro. – estendi os meus braços e Kim se aproximou, me abraçando. Ficamos assim por alguns segundos, até nos separarmos – Você não foi mordida por uma joaninha radioativa, né? – suspirei.

— Não, eu tenho um Miraculous. Você não lê o blog da Alya? – cruzei os braços e o encarei.

— Leio, mas de vez em quando. E o que é exatamente o seu Miraculous? – Kim sentou de frente para mim, com um olhar empolgado.

— São os meus brincos. – virei de lado e mostrei – Os brincos da joaninha, a joia que concede o poder da criação.

— Wow! – Kim tocou neles, me fazendo rir – E com quem você estava falando quando eu cheguei àquela hora?

— Com a minha kwami.

— Sua o quê?

— Kwami. É a criatura mágica que entra no meu Miraculous quando eu me transformo. Na verdade é ela quem concede os poderes. A joia seria um objeto que é usado para passá-los para mim.

— Entendi. E cadê a sua kwami?

— Ela está no meu quarto.

Eu e Kim conversamos mais um pouco e eu expliquei o básico sobre os Miraculous para ele. Depois disso fomos jogar video game até a hora de dormir.

Assim que cheguei no meu quarto, haviam algumas mensagens não lidas no meu celular. Abri primeiro as de Luka.

Oi, Marinette.

O que acha de irmos à pista de patinação amanhã?

Pode ser divertido.

Oi.

É claro, vai ser ótimo.

Sorri ao pensar que patinaria com Luka. Eu só deveria tomar cuidado, pois Alya insiste em dizer que ele tem uma queda por mim, mas eu já gosto de outra pessoa – que inclusive é o meu namorado de mentira – e não quero magoá-lo.

As próximas mensagens eram de Chat Noir, digo, Adrien. Ainda não me acostumei.

Você parecia preocupada hoje.

Algo de errado?

Nada demais.

Mas Kim acabou descobrindo que eu sou a Ladybug.

Fui descuidada.

Ah!

E como ele lidou com isso?

Bem até. Mas não precisa se preocupar com isso.

Vou dormir agora.

Boa noite, kitty.

Tudo bem, mas qualquer coisa eu estarei aqui.

Tenha uma boa noite, Bugaboo.

Bom, pelo menos dessa vez Adrien mandou mensagens fofas, ou seja, foi Adrien ao invés de Chat Noir. Ri com meu próprio pensamento.

Ainda era estranho saber que os dois eram a mesma pessoa, porém também era divertido ver esses dois lados dele.

— Boa noite, Tikki. – fiz carinho na minha kwami que sorriu e deitou ao meu lado.

— Boa noite, Marinette.

***

— Vocês o quê? – Alya questionou sem entender nada – Eu não entendi nada! – exatamente o que eu disse.

— Eu e o Adrien nos beijamos no sábado, quando eu fui na casa dele. Só que nós não estávamos namorando antes, era mentira. – expliquei novamente – Ele sugeriu isso porque assim nós poderíamos descobrir se o Félix gosta de mim. E talvez até avançar na investigação maluca sobre ele ser o Chat Noir.

— Entendi. E por que você não me contou a verdade, sua safada? – ela riu e bateu seu cotovelo de leve na minha barriga.

— Porque você e o Nino mal ficavam ao nosso lado, sempre com esse negócio de investigação. – sinceramente eu não estava tão irritada com isso, no entanto estava um pouco triste em não ter a minha melhor amiga por perto.

— Ai amiga, você é meio lerda as vezes, né?

— O quê? Quero dizer, sim. Mas por que dessa vez?

— Sim, nós nos afastamos por causa da investigação. Só que não foi só por isso. – Alya me lançou um sorriso sugestivo – Ao mesmo tempo que eu e Nino tínhamos um pouco mais de tempo à sós, por favor não se ofenda...

— Tudo bem, eu entendo.

— Então, ao mesmo tempo que tínhamos mais tempo à sós, você e o Adrien também tinham. Se é que me entende! – piscou e foi aí que eu entendi a grande estratégia da minha amiga.

— Não acredito! – comecei a rir e Alya colocou seu braços por cima dos meus ombros.

— Eu sei, eu sei. De nada, Srta. Agreste. – fiquei vermelha, mas continuei rindo.

— Urgh! Risadas altas à essa hora da manhã, sério mesmo? – olhamos para cima e nos deparamos com Félix parado na nossa frente com a expressão de idiota de sempre.

— O que você quer? – fui a primeira a falar.

— Lembra que eu disse que continuaríamos a nossa conversa?