Asterisco e Machine escrita por Helen


Capítulo 7
Todas as garotas que me aparecem são estranhas




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Asterisco era um jovem adulto tão bonito quanto aqueles das séries românticas, e estava olhando o mundo pela janela de seu apartamento. As nuvens flutuavam no céu e os prédios continuavam parados. A noite caía num timelapse, e as luzes das ruas acendiam como vagalumes. O vento batia no seu rosto, e ele sentia que era o líquido se movendo dentro da cápsula que dava esse efeito. O garoto podia conectar as duas realidades, e isso era muito incômodo. Mas fingiu que aquilo era sua realidade, porque estava decidido a ficar. Deixaria a dor no mundo real.

Ele saiu da janela e se sentou no sofá. Sempre tinha achado estranho como nunca sentiu sua bunda amassando contra o couro, mas agora já sabia o motivo. Dentro da cápsula não havia bancos.

Na mesa de centro, um celular estava jogado. Asterisco o pegou e ficou olhando as fotos por puro tédio. Ainda havia algumas que tinha tirado de Ketlyn, a sua única ex-namorada daquela realidade. Ele não conseguia excluir. Lembrando de quão patético era, jogou o celular para uma poltrona, e voltou a olhar para a mesa de centro.

Havia um livro.

Desde quando Asterisco lia? Ele mesmo não sabia como aprendeu. Não lembrava muito de quem tinha sido. Nem sabia como nasceu, de quem nasceu, por que nasceu, ou se seus pais sabiam que eram seus pais. Se sabiam, onde deviam estar agora? Estavam vivos? Mortos? Viviam nas cápsulas também? Longe, ou logo ao lado?

Um barulho começou a vir de fora. Eram as lutas constantes dos super heróis contra os vilões, que derrubavam os prédios às vezes. Mas ninguém morria, e os prédios voltavam ao seu estado original logo que a luta terminava. Asterisco sempre se sentia animado quando ouvia a música que tocava junto com eles, mas agora só conseguia se sentir mal por isso.

Asterisco olhou para o livro de novo, e o abriu. A leitura tinha umas palavras estranhas, que eram usadas em contextos ainda mais esquisitos. Precisava de um dicionário.

—Nossa, você conseguiu se superar. —a voz de Lorelei surgiu de repente, fazendo Asterisco dar um pulo no sofá.

—Que que é, porra?! Sabe bater na porta não?! —ele, claro, deu um berro.

—Sei sim, mas eu faço o que eu quiser. —Lorelei era meio babaca. —Não acredito que você voltou pra cápsula.

—Voltei sim, que é que tem?

—Tu devia era estar me ajudando.

—Não sou obrigado.

—Claro que é! É ridículo que as pessoas tenham que assistir a essas lutas tão idiotas por tanto tempo!

—Eles vão fazer uma nova próximo ano.

—Foda-se, vai ser a mesma coisa! É uma máquina que faz isso tudo!

—E daí? Ela pelo menos faz coisa boa.

—Ela pegou o Machine! Só porque ele andava comigo!

—Quem manda tu ser tão escrota?! Se tu ficasse na sua, nada disso teria acontecido.

—Tu ainda se acha com a razão, cagão de merda?!

—Acho sim, tu fica enchendo o saco de todo mundo com esses livros de merda, que ninguém entende nada! Cadê o dicionário pra eu entender essa porra?! Que caralho é Esclarecimento?!

—Você é um alienado de merda!

—Que porra é alienado?!

—Ah, se foda, eu vou embora daqui! Vou ficar discutindo com você não!

—Vai tarde!

Lorelei desapareceu, como também o livro. Asterisco estava furioso, e decidiu sair pra comer alguma coisa. Colocou um cachecol e desceu pelo elevador. Fora do condomínio onde vivia, casais de todos os tipos andavam pela rua, sorrindo um para o outro numa paz indescritível. Asterisco passou direto por eles, indo até uma cafeteria que gostava de frequentar. Tinha até mesmo uma mesa reservada só pra ele.

O rapaz sentou na mesa, enquanto ouvia as vozes das famílias felizes, dos casais apaixonados, de um grupo falando sobre uma organização estranha... Permitiu-se olhar para todos eles, na verdade para todas as pessoas da cafeteria, algo que nunca tinha parado pra fazer. Viu como se fosse uma atuação por parte deles, como se fossem atores em um filme. Talvez fosse isso mesmo.

Apenas uma menina parecia não estar atuando, porque estava quieta com uma cara séria, de quem não gosta de nada, mas de vez em quando ria enquanto escrevia no computador. Como a realidade não poderia ficar pior do que já estava, Asterisco foi até a mesa dela, o que a deixou notadamente preocupada.

—Oi, meu nome é Asterisco.

—Ah, oi. —ela sorriu pra ele.

—Posso sentar com tu?

—Pode, senta aí.

—Nunca te vi por aqui.

—Ah, é que eu só venho de vez em quando. Na verdade, é bem raro eu vir aqui...

—Por quê?

—É que... eu não tenho muitos amigos, saca? Daí eles também não são muito de sair...

—Ah, entendi. Que bosta.

—Pois é.

O punk interno de Asterisco queria começar a xingar aquela realidade falsa no meio da cafeteria, mas também tinha o lado que queria conversar com aquela menina pra tentar entender por que ela não parecia tão falsa.

—Ah. —ela voltou à conversa —Esqueci de dizer. Meu nome é H.

—Só Agá?

—Isso. Meio doido, né não? Mas eu gosto, até. —ela fez uma pausa. —Ei, ‘cê gosta de robôs?

—Hum, gosto, por quê?

—Ah, é que eu vi um vídeo falando sobre eles esses dias...

“Que aleatório” pensou Asterisco.

—Inteligência artificial é um negócio doido. —a menina começou a devanear. —Tipo, é tipo a gente só que não é.

—Pode crer. —o cara não fazia ideia de onde ela tinha tirado aquele assunto.

—Eu ‘tô falando coisas muito aleatórias, né? Desculpa. É que eu realmente não sei puxar conversa direito.

—De boa.

—Veio fazer o que aqui?

—Ah, é que aconteceram umas merdas na minha casa, e aí eu resolvi sair, sabe.

—Saquei. Foi com seus pais?

—Não, foi com uma mina doida que não para de me encher o saco.

—Ah...

—Porra, ela é chata pra caralho. Desde que encontrei com ela que ela não para de me irritar.

A menina se assustou um pouco com os palavrões repentinos de Asterisco, mas continuou calma: —Poxa, que bad.

—Aí ela apareceu na minha casa hoje pra falar de não-sei-o-que e os carai. Tipo, ela quer que eu ajude ela a fazer merda, e quando eu digo que não ela se irrita e me chama de uns troço doido.

—Valha.

—O pior é que ela fica me culpando por causa de um negócio que aconteceu com um amigo da gente. Aí é pra fuder né? Como se eu fosse o cara ruim da história, e ela fosse um anjo. Ah tomar no cu.

—Caramba, que mina ruim.

—Ela é uma porra. Não sei como ele suportava ela.

—Tem gente doida pra tudo, mano.

—Pois é. —silêncio —Aí, tu conhece a Noite?

—Ah, já joguei. É legal.

—Sério? É a primeira pessoa que eu vejo falando isso.

—Po, sério? Que doidera. Não sei por que mais pessoas não jogam.

—Né. Jogo bom da porra.

—Pode crê...

—Ei, tenho que sair.

—Ah, tchau.

—Tchau.

A menina se levantou, fechando o notebook, e caminhou para uma parede. H deixou um link na parede, sussurrou alguma coisa e desapareceu. Asterisco achou estranho, se aproximou e clicou com o dedo. Ele foi teletransportado por um túnel estranho até um lugar ainda mais estranho.


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