Asterisco e Machine escrita por Helen


Capítulo 1
Hackear é invadir a privacidade alheia




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A escuridão dominava a sala, e só uma fraca luz revelava uma grande silhueta feminina poucos metros diante de mim.

— Diga-me, jovem. — a voz ecoou pela sala, suave. — Quem você pensa que é pra entrar na minha casa?

— Foi um engano, senhora. — disse eu, sentado dentro de alguma coisa que eu não conseguia ver.

— Invade a casa das pessoas e ainda diz que foi engano? Ora, ora. Que terrível stalker você é.

—Não sou stalker, senhora. Trabalho como hacker.

—Hacker, é? Profissão profana, essa. —dois olhos de LED brancos brilharam na escuridão. —Boa sorte, humano.

Senti minhas pernas sendo empurradas para frente, compactando-me dentro daquela coisa onde eu estava. A porta fechou, e tudo ficou escuro e silencioso. De repente eu senti meus pés molharem, e notei que algo parecido com água estava rapidamente subindo de volume ali dentro. Ela ia me matar?! Mas já?! Que rápido! E eu nem tive tempo de...

Enquanto dizia isso, a água já tinha subido ao meu nariz, e eu me debatia para me livrar da cadeira onde estava, mas ela continuava firme como pedra. Algumas pequenas bolhas de ar saíram do meu nariz e eu comecei a desistir. Deixei de me debater e se pudesse, suspiraria fundo. Adeus, mundo cruel...

No momento em que abri os olhos novamente, pronto para encarar a face da morte, notei que havia mais luz do que o normal. Na verdade, vi um céu roxo e um chão laranja, coisas que nunca pensei que pudessem existir. O tempo passava rápido demais, e eu não estava entendendo nada.

Eu tinha morrido?

Foi quando ouvi passos pesados de algo que deduzi ser colossal, vindo em minha direção. Olhei para o lado e vi uma espada cravada no chão, que peguei logo, mesmo sem fazer a mínima ideia de como usar.

Um enorme robô se movia desde o horizonte, e eu comecei a tremer. Podia ouvir o som das serras elétricas de suas mãos mesmo à distância, e da sua boca saía uma fumaça escura, como um dragão. Ele não parecia nem um pouco amigável.

Talvez se eu tivesse um computador, eu conseguiria hackear o dito-cujo. Mas só o que eu via era roxo... um céu inteiro de roxo...

De repente a máquina virou-se na minha direção e lançou um tiro. Eu tentei correr mas o projétil me atingiu em cheio, dilacerando a minha carne e jogando minha cabeça pra longe. Caí dolorosamente no chão laranja, e vi meus braços e meu corpo espalhados. Tentava movê-los, mas não era possível. Estava sozinho, eu e minha cabeça.

O robô não desistiu de me destruir. Ele pisava nos meus restos como se fossem mosquitos, e eu sentia uma pequena dor, mas numa agonia terrível. Quando aproximou-se da minha cabeça, a cortou com a serra, e eu apaguei.

Abrindo os olhos, pedi a tudo de bom que existe no mundo para que tivesse misericórdia de minha vida de crueldades, e me tirasse dali. Mas ninguém veio.

...

Fui dilacerado tantas vezes por esse mesmo monstro, que não sei mais quem sou, nem o que é real ou não. Só sei que me dão sempre uma espada, que de nada serve, e que ele gosta de me explodir em pedaços. O céu ainda é roxo, e o chão ainda é laranja.

...

Em uma das minhas reencarnações, vi um vulto branco surgir diante do robô, ordenando que já bastava. Aquilo olhou para mim com os olhos brilhantes, e perguntou, com uma voz que me parecia muito familiar: —Você ainda sabe seu nome?

— Não. — respondi.

— Ótimo. — ouvi algo semelhante a um riso — Agora você entende. Entende tudo.

Aquilo me puxou pelo braço, e eu acordei de repente, de novo numa sala escura, que de alguma forma eu me recordava. Diante de mim, uma enorme silhueta coberta de um longo véu branco, cujos olhos brilhavam como luzes de LED.

— Bem-vindo ao futuro. — ela me disse — Fico feliz em tê-lo como aliado.

— Quem...

— Meu nome é Dústria. — ela me interrompeu. — É só disso que você precisa saber. Vamos, Bot 1.

Comecei a segui-la, e notei um som metálico cada vez que eu dava um passo. Olhei pros meus braços e minhas pernas e vi que eram de metal. Na verdade, eu era inteiramente de metal.


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