Modus Operandi: Dias Negros de Ocultgard escrita por Nemo, WSU


Capítulo 5
Coração de Pedra


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a S.Q e Melvin, pelos maravilhosos comentários ♥
Mas vamos lá, teremos altas tretas.



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Às vezes, é melhor se manter a parte de certos assuntos” — Hadyle Selat.

 

Ocultgard, ano 510. Localização desconhecida.

 

Passos apressados e sorrateiros percorrem o interior dos túneis subterrâneos, da base guardiã, uma alquimista procurava por sua ambição mais profunda.

Se os rumores estiverem certos, ele estará por aqui. Pensou consigo mesma, virando mais um corredor, a impressão que tinha é de sempre estar descendo, cada vez mais e mais. Tudo ia ficando mais escuro, as tochas já se faziam inexistentes, bem como as velas. Talvez fosse por consumirem oxigênio.

Os túneis por sua vez não facilitavam ás coisas, eram vários, e ficavam cada vez menos iluminados, até uma certa altura, a moça teve que ir tateando. Se me pegarem minha cabeça vai rolar, mas quero saber a verdade, se isso é um mito, ou se as histórias são verdadeiras.

Ao se virar, defrontou-se com um último corredor, no final duas luzes azuladas pendiam na parede, ao lado da grande porta de pedra. Ela se aproximou devagar, evitando fazer qualquer barulho, embora estivesse surpresa.

Isso são cristais do oceano? São uma raridade, não esperava ter a oportunidade de vê-los pessoalmente, apenas vi as ilustrações e as especificações.

Seus olhos verdes contemplaram os cristais encantados, ambos eram quase retangulares se não fosse pelas formações irregulares em vários pontos, sua luz apesar de florescente, era forte, podendo iluminar metade do corredor. Ambos os cristais estavam incrustados na parede, tendo como adorno uma placa de ferro cintilante. Sua luz era tranquilizadora e por um curto período de tempo, ela relaxou a postura.

— O que faz aqui pequena alquimista? — perguntou uma voz suave, mas ainda sinistra. Ela voltou seu olhar novamente para o corredor, mas não havia ninguém. Tudo se silenciou mortalmente, com exceção da respiração da jovem, se recostou na parede com a respiração acelerada.

— Quem é você? — questionou ela, com a mão sobre o peito.

— Isso não lhe diz respeito, alquimista. — Essa última palavra foi dita com um pequeno tom de escárnio — Responda-me, e talvez lhe deixe viva. Por qual razão veio aqui?

— Eu desejo vê-lo. — refutou ela, olhando para cima, atrás de si. Apesar da luz ser forte, ela não chegava a iluminar tudo.

— Vá embora!

Ela se voltou para a porta e tateou pela pedra, a procura de uma maçaneta, depois tentou empurrar, também fracassando. Por fim procurou por um botão que abrisse a passagem.

— Essa porta não irá se abrir para você. — disse a voz. Ela se virou dando de cara com uma presença assustadora. Trajava vestes leves de couro negro, seus cabelos eram brancos e sua pele era de um cinza meio azulado. Embora isso fosse efeito da luz, seus olhos eram prateados e naquele momento a alquimista percebeu o quão encrencada estava. Era um Elfo Negro.

Ele fitou a invasora, a analisando, buscando algo além do medo. Estava surpreso, muita gente teria desistido logo de cara, ele sorriu maliciosamente e proferindo as seguintes palavras:

— Pelo menos não de graça.

A moça pareceu sair do aspecto amedrontado, revirou os bolsos e tirou deles, um saco de moedas. O Elfo pegou examinando, parecia ter uma quantidade boa.

— Não é o suficiente, isso aqui garante que não vou te matar. — falou ele em tom mordaz.

Ela ia protestar, mas preferiu conservar a língua fechada, pegou o outro saco e estendeu a seu explorador, que apanhou satisfeito. Este caminhou em direção ao portão e tocando o centro com sua mão esquerda, fechou os olhos se concentrando, uma fraca luz prateada em formato circular se forma sobre a superfície da porta.

Um barulho de algo sendo destrancado foi ouvido e as pesadas portas começam a se abrir, se movendo para dentro, ela faz menção de entrar, mas a mão vigorosa do Elfo a deteve.

— Quarenta minutos, exceda esse prazo, e vai ficar trancada, se tentar qualquer gracinha… morrerá, humana. — Ela concordou com a cabeça, sendo solta. Ele por sua vez retirou um cristal de um dos seus bolsos dando a ela, que seguiu maravilhada.

A medida que caminhava pela escuridão do túnel, o mesmo se converteu em uma escadaria que descia de forma circular, como a concha de um caracol. Ao iluminar os degraus, percebeu que eram incrustados na parede circular, e não havia nenhum apoio do lado oposto da mesma, tudo o que havia desse lado era um abismo. A alquimista de início ficou petrificada, a possibilidade de escorregar e cair era imensa. A sua iluminação e o silêncio só deixavam a situação mais lúgubre.

Esse modelo de escada foi feito para dificultar ainda mais o acesso. Foi proposital. Reflete a moça. Estou com medo, mas se eu voltar agora… certamente não terei essa oportunidade novamente.

Ciente disso, continuou, ainda que tremesse por dentro. No meio de sua caminhada, errou um passo e se desequilibrou, escorregando, mas conseguindo se segurar no degrau, com extrema dificuldade conseguiu voltar a segurança do mesmo, ficando encolhida ali e com uma intensa vontade de chorar.

Ao chegar ao fim da escada, se defrontou com mais um túnel, no qual entrou, até ir parar em uma sala com formato de cúpula, tal qual os outros descreviam, mas estava completamente vazia.

Ele buscou por uma porta, ou por uma passagem secreta, mas nada encontrou por fim, cansada e chateada, decidiu se sentar. Eles mentiram para mim… malditos. Pensou ela. Quase morri por nada.

Quando faz menção de se levantar, ouviu um estralo abaixo de si, como se uma trava fosse rompida, e o chão começou a se mover para baixo. Isso é uma plataforma!

Ela se movia de forma lenta no começo, mas foi acelerando cada vez mais, por breves momentos a ocupante pensou que iria morrer, contudo foi desacelerando, até parar completamente.

Será que isso não tem fim? Questionou enquanto caminhou para mais uma passagem. Pelo menos agora sei por que me deram 40 minutos.

Foi então que a plataforma atrás de si, começou a se mover subindo. Estou presa... mas talvez ela desça novamente ou eu encontre outro modo de subir. Acho que…

Seus pensamentos pararam, pois, a sua frente haviam seis bifurcações, seis caminhos a se tomar. Ela seguiu por cada um deles, em todos o resultado era o mesmo: Uma parede de pedra como destino. Ao sair da última se apoiou na parede, agora se perguntando se tinha sido enganada, ou existisse algo por trás de tudo.

Foi então que viu, com o canto dos olhos, uma sétima passagem. Isso não estava aí, tenho certeza! Só consigo calcular que colocaram um filtro de percepção aqui. Refletiu, se dirigindo para a última passagem.

No final dela, encontrou o mesmo portão e os cristais, só que se encontrava aberto, provavelmente estava sendo esperada. Empurrou ambas as portas, tendo dificuldade para tal feito. Mas quando seus olhos percorreram a sala, ela só conseguiu se sentir recompensada.

Ela era grandiosa, e retangular, contudo, a partir de uma certa altura tomava o formato de cúpula, e no centro da mesma jazia um grandioso cristal, emitindo uma luz azul bem regular, que iluminava todo o ambiente. De um lado haviam algumas armaduras postas em pé, do outro: três armários que certamente serviriam para guardar armas, roupas ou mesmo utensílios. Mas nada disso importava a ela, pois, a sua frente estava o que tanto buscava.

Além de um vidro grosso, havia uma câmara, e nela se encontravam incrustados vários cristais que iluminavam uma figura humanoide.

— O Iluminatus, realmente existe. — murmurou ela, tocando o vidro frio com calma e, contemplando o objeto que mais a interessava desde que havia ingressado na ordem Guardiã.

O Iluminatus era um conjunto de peças, roupas e armas, feitos pelo Deus protetor de Ocultgard, que encontrou o metal, e com a assistência de outros forjou o que muitos guardiões consideram, a armadura suprema. Feita do metal assim chamado Iluminati, para eles indestrutível e impenetrável.

Contudo, diferente do que se espera desse tipo de lenda, não era uma roupa estonteante ou espalhafatosa, era um conjunto simples, consistindo de peças negras e metalizadas:

Um colete, com três abotoaduras retangulares no peito, dois bolsos frontais, com um capuz sobre a face do boneco de madeira e uma camisa cinzenta por baixo. Da cintura para baixo as peças eram: calças negras com alguns bolsos, e um cinto servindo para prendê-la no boneco.

Ao lado dessas peças havia uma pequena plataforma, onde se podiam ver um par de botas, com duas fivelas em cada uma. E ao seu lado um par de luvas, sem os dedos. A última peça do conjunto estava acima da cabeça do boneco, incrustada na pedra, a espada dos caminhos ou Lyvsvey.

Pelo cabo, ela era uma espada bastarda, podia ser manuseada com uma ou mesmo duas mãos. Era reluzente e haviam inscrições, entretanto, o vidro impossibilitava sua leitura.

Em sua tentativa de leitura identificou, que naquela parede haviam espaços vazios, que em outrora certamente serviram para demais armas, mas se isso fosse verdade, onde elas estavam?

Após observar atentamente, se virou para o outro lado pensativa, começou a andar por ali, tentando determinar essa ausência. Foi nisso que se deu conta de mais um espaço iluminado, desta vez no canto da esquerda, em sua afobação pelo Iluminati, ela tinha deixado aquilo passar.

De começo viu apenas uma silhueta por trás do vidro. Será uma pessoa? Questionou a moça curiosa. Notou pouco antes de se aproximar do vidro, que havia um banco de frete ao vidro, certamente para observar a curiosa figura atrás do mesmo.

— Estranho… — murmurou, se referindo a estátua a sua frente. Era de um homem em pé, suas vestes eram as de um guardião, vestia o uniforme padrão: botas, calças, colete e um manto rasgado, estava desarmado. Seus cabelos eram curtos e os detalhes de seu rosto eram de uma grande jovialidade.

O ponto que mais intrigava, era a cor da estátua, ela não tinha a cor do mármore, era mais escura e cinzenta, além disso, a riqueza de detalhes era enorme, no rosto, nas vestes, até mesmo nas dobras das mesmas, era tudo fora do comum.

Isso na certa é um item de colecionador. Pensou a alquimista, fazendo menção de deixar a estátua em paz, mas algo deteve seu o olhar. O rosto da estátua estava sutilmente inclinado para baixo, seus olhos também fitavam o chão, como se não quisesse ser encarado, não havia qualquer sorriso em seus lábios, era apenas uma expressão de puro amargor.

— O que aconteceu com você? — perguntou sem pensar muito.

— Também acha ele triste, não é? — indagou uma voz atrás dela, ela respondeu:

— Olha senhor Elfo, desculpa por estar atrasado, mas é que esse lugar…

— É uma bagunça? — A moça ia responder que sim, mas ao se virar ficou muda, suas pernas começaram a tremer, e a sustentação de seu corpo pareceu falhar. Provavelmente seria morta da forma mais dolorosa possível por ter a ousadia de ter descido ali.

— Você não me parece bem, Hadyle. O que lhe perturba?

Sentado naquela cadeira, estava o Deus e líder imortal dos Guardiões, o protetor de Ocultgard, Guardyhan. Calmo e tranquilo, observava a moça. Tinha físico austero e imponente, mesmo na tranquilidade, seus cabelos eram excepcionalmente brancos e lisos, mas não muito longos, seus olhos eram de um azul-claro, e sua armadura detinha tons leves de prata. Ainda que a luz dos cristais não ajudasse a determinar tudo com clareza.

— Acalme-se, dificilmente irei puni-la por ter vindo aqui. — respondeu de forma calma, procurando não matar a garota do coração. — Sua falta foi grave, mas compreensível. A curiosidade e o desejo de aprender sobre o desconhecido é uma das peças centrais que movem este mundo.

Ele continua:

— Além disso, acredito que Hafnyr já tenha feito seus bolsos sofrerem o bastante. Por hora, apenas regresse ao seu posto e continue trabalhando na fórmula com seu pai.

Ela compreendeu e foi se retirando, ficando de costas para Guardyhan, e ele de costas para ela.

— Eu o acho muito triste senhor. — respondeu Hadyle, logo indagando o que mais desejava saber — Isso não é uma estátua, não é? O que é?

— Nossa esperança. — retrucou ele, enquanto observava sua criatura, seu Soldado Fantasma.


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Notas finais do capítulo

Esse capitulo foi outro ponto fora da curva, originalmente ele seria o prólogo da história, mas como tudo mudou, ele passou a ser um ponto de interligação. Espero que tenham gostado do suspense, ta aí outra coisa na qual não me aventura muito. Atê ^^



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