Guerra dos Mundos escrita por Lena


Capítulo 2
Sonhos...


Notas iniciais do capítulo

Estejam a vontade para deixar comentário, críticas e sugestões.
Boa leitura!



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Mil anos após a maré vermelha

As flores de carmim estavam florescendo na palma pequenina de uma mão. E ela sabia que não poderia deixar aquela flor se machucar. A menina conseguia sentir a sua própria energia vital ser transferida para seiva da planta e se sentia ao mesmo tempo cansada e deslumbrada.

— Isso é como nós cultivamos as plantas. – uma voz que vinha de algum lugar do jardim falou por trás, mas a menina não a olhou, estava concentrada demais na sua tarefa. – Agora colocamos elas na terra e a cultivamos todos os dias pelos próximos cem anos. Elas serão a nossa energ...

Um barulho gigante foi escutado e algo jogou a menina para frente.

Não havia mais planta na sua mão, apenas sangue.  A menina gemeu de dor e ao levantar a cabeça, observou a sombra de algo, descendo rapidamente na sua direção. Ela não conseguiu se mover, apenas gritar.

A menina acordou suando e empurrou algo que estava em cima dela. O seu coração batia com uma força aterradora e ela sentia... Lágrimas nos seus olhos?

— Você quer me matar, Kylie? – uma menina de cabelos pretos e curtos a olhou com raiva do chão. – Porque você me empurrou?

— Eu fiz? – Kylie não sabia o que tinha feito, apenas tentou sair de perto do que poderia lhe machucar. Porque ela tinha visto a sua amiga como ameaça?

— Sim, sua boba. Se você quer um colchão só para você procure outro quarto.

Kylie suspirou e voltou a se deitar na cama. Estava quente, porque era verão e como o quarto era sem janelas, tudo que ela podia fazer era sentir o suor descer pelas suas costas. Ainda assim, aquilo era muito melhor que o frio do inverno.

— Eu sairia se tivesse outro quarto, você está fedendo hoje!

Kylie respondeu sentindo o cheiro da amiga. Mas, na verdade nenhuma delas cheirava muito bem. Elas tinham direito apenas a dois banhos por semana por serem ainda pré-recrutas do exército. E se fossem aceitas poderiam tomar até um banho por dia e comer mais que duas colheres de arroz.

— Vai se foder! Você não cheira melhor do que eu, sua vaca.

Carmise voltou a deitar no colchão com a cabeça voltada para pé de Kylie. Ela poderia até sentir pena da amiga estar sentindo o cheiro dos seus pé, se não fosse por ela estar sentido o cheiro dos da sua amiga.

Elas estavam em um acampamento de recrutamento do exército do conselho. Todas as crianças de treze a quinze anos poderiam se alistar e passar pelo treinamento. E para meninas como Kylie e Carmise que se conheciam desde os tempos de rua, não havia uma oportunidade melhor na vida.

E amanhã seria o grande dia. Elas poderiam entrar no exercito e comer um pouco mais. Não era o mais nobre dos motivos, mas isso dificilmente impedia os recrutadores de pegar as crianças maltrapilhas sem o coração leal.

Mas, eram poucas aquelas que sobreviviam ao treino. Muitas delas morriam ou se machucavam a ponto de nunca se tornarem soldados. Kylie pensava consigo mesma que preferiria morrer a ser uma aleijada nas ruas, sem força sequer para roubar.

— Você está nervosa para amanhã? – Carmise perguntou. – Eu escutei você gritando.

Kylie não respondeu, ela tinha aqueles sonhos estranhos desde criança e nenhuma pista sobre o que esses sonhos significavam. Ela preferiu ignorar a pergunta da amiga e voltar a dormir.

No dia seguinte, as duas estavam prontas antes dos soldados chegarem. Eles iam nas estalagens e buscavam todos que ainda queriam enfrentar o alistamento e depois de recolher as crianças, iam embora para nunca mais voltar.

Kylie e Carmise entraram na primeira carroça em direção ao campo de concentração. O dia ainda estava quente, mas ainda assim as duas usaram os casacos de frio. Não poderiam se dar ao luxo de perder aquelas peles de animais, elas eram preciosas demais para serem deixadas para trás.

E, dessa forma, a carroça foi-se enchendo até não caber mais crianças. Dois dias depois haviam vinte crianças amontoadas na carroça e quase nenhum espaço para se mover.

Haviam poucas paradas e geralmente era apenas para que as crianças não fizessem as necessidade em cima uns dos outros. Não havia paradas para banho ou comida para alimentação. A única coisa que eles podiam era beber a água da pouca chuva que caiam ou se tivessem um pouco de sorte para achar um córrego ou uma árvore de frutas nas suas paradas, podiam apanhar o que conseguissem carregar no corpo.

Dez dias depois chegaram a uma cidade costeira ao campo de concentração. Alí seria feita a vistoria das pessoas que entravam e se algum deles possuísse algum defeito que o impediam de empunhar uma arma, eles eram imediatamente desqualificados e mandados para casa.

Havia uma fila imensa de recrutas. Todos a espera da sua vistoria. E Kylie rezou a todos os Deuses de Dominação para que não tivesse nenhum crime ligado ao seu nome.

Ela era uma órfã e assim que a igreja percebeu que ela poderia roubar, eles a deixaram para se sustentar sozinha. Em menos de um dia, ela quase morreu apenas para achar um lugar para dormir.

Mas ela conseguiu sobreviver ao primeiro dia. Uma semana. Um mês. Até que no fim, era ela quem fazia a vida dos novatos difíceis. Ela fez muita coisa cruel que dificilmente a faria ter peso na consciência, mas que poderiam a colocar na prisão assim que alguém a reconhecesse em um cartaz de procurado.

No entanto, se eles a deixassem entrar, sua vida pregressa seria apagada e ela se tornaria um soldado e mais nada.

Um menino da fila havia sido arrastado para fora por um dos guardas, concretizando os seus pensamentos. Haviam muitas crianças que mesmo sendo famosas criminosas ainda se aventuravam no alistamento e eram jogadas na prisão.

Kylie e Carmise não eram exatamente famosas, porque sempre esconderam bem os seus rastros. Mas qualquer coisa podia acontecer.

Na sua vez, Kylie apareceu na frente de uma soldado com óculos fundo de garrafa e com um sorriso brincalhão no rosto. Ela havia sido a pessoa que mais tinha jogado pessoas para fora da fila e parecia mais uma cientista maluca  do que um soldado de guerra.

— Qual o seu nome criança? – ela perguntou, ainda sem reduzir o sorriso do seu rosto.

— Kylie Ross.

— Hum... – ela anotou o seu nome e olhou dos pés as cabeças.

— Qual a sua idade, meu anjo? Você não parece ter treze.

E Kylie não tinha. Ela tinha doze anos e meio e sabia muito bem que o recrutamento era apenas para pessoas a partir dos treze.

— Eu tenho treze. – respondeu firmemente.

E a soldado apenas sorriu com a resposta. – Já que você diz... – Ela anotou a idade que eu falei. – Qual a dominação dos seus pais?

— Eu sou órfã, senhora. – O sorriso dela diminuiu e ela voltou a escrever no papel.

— Isso realmente é uma pena, mas eu acho que apenas órfãos pedem para serem recrutados esses dias. – Suspirou. – Muitos deles morrem mortes horríveis, sabia? Quase nenhum deles sobrevive, porque estão muito fracos e desnutridos, mas você parece bem alimentada. Você era uma das malvadas, não?

— Não sei o quer dizer. – respondi calmamente.

— Você já roubou?

— Não.

— Matou?

— Não.

— Mentiu?

Kylie inclinou a cabeça. – Às vezes.

— Hum... – ela disse novamente e voltou a anotar no seu caderno, mas dessa vez eu não consegui identificar o que ela escrevia. – Interessante. Aprovada.

Kylie a olhou assustada, não acho que seria tão fácil entrar, principalmente porque ela passava muito tempo fazendo as perguntas. Um guarda pegou o seu braço e lhe empurrou em direção a outra carroça. Dessa vez haviam apenas cinco pessoas na carroça que ela estava e assim que Carmise apareceu na carroça com o rosto vermelho e com lágrimas escorrendo no seu rosto, a carroça saiu.

Kylie queria parabenizá-la, mas Carmise apenas se sentou com a cabeça baixa e ficou em silêncio. O caminho da cidade para o campo de concentração levava pelo menos um dia e todos da carroça resolveram se apresentar.

Exceto por Carmise e Kylie havia apenas mais uma menina que era mais velha. O nome dela era Val, apenas Val. Ela tinha quinze anos e estava esperando ser uma dominadora da água quando fizesse a transição. Ela mal havia conseguido fazer com que seus pais aceitassem que ela se alistasse, então ela fugiu de casa.

Todos os outros quatro eram meninos. Dois deles eram irmãos. Mike e Sonny Corvenni, eles também não sabiam qual dominação possuíam, porque os seu pais possuíam dominações diferentes, um era da dominação do vento e o outro da água. Mas eles tinham a predileção para dominação do vento, porque era a mais violenta.

O outro menino era chamado de Raven Braun. Ele parecia estranho e muito quieto, os seus olhos eram azuis bebê e dificilmente ajudavam a aparência malvada que ele parecia querer causar. No final, todos estavam sorrindo da sua atitude durona.

O último era chamado Riot Pardal. O nome dele era bem engraçado, parecido com os das crianças ricas da cidade. E ele parecia maior e mais bem alimentado que os outros, então provavelmente isso não estava muito longe da verdade. Mas ele era legal e dividiu o pão que ele tinha nos bolsos com todo mundo.

Antes que chegassem ao acampamento, eles já estavam bem próximos. Crianças que se conheciam em situações estranhas, geralmente faziam amizades bem mais fácil que em situações normais.

Até mesmo Carmise que levantou a cabeça apenas para se apresentar, pareceu estar com um humor melhor quando saíram da carroça.

Assim que chegaram, eles foram diretamente jogados em uma sala de banho. Meninas de um lado e meninos do outro. Era o primeiro banho em dias e eles foram avisados para sair dalí apenas quando estivessem livres das pulgas.

Uma instrutora ficou observando o banho de todos e assim que uma pessoa disse que havia terminado, ele verificou milimetricamente cada parte do seu corpo e não satisfeita com o trabalho, pegou a escova ela mesma e começou a passar na pele da menina, a ponto de quase esfolar.

A menina chorava e gritava e com a pele vermelha e partes do corpo sangrando, a mulher deu-se por satisfeita com a limpeza. E a mandou se secar e esperar pelo outros. Fazia um pouco de frio agora que estava de noite.

— Vocês entendem o que limpo quer dizer? – ela perguntou bem alto. – Eu não quero sequer um casquinho das feridas cheias de pereba de vocês. Se vocês acham isso que eu fiz ruim. Não queiram saber o que eu tenho para o segundo que me falar que esta limpo e não estiver.

Todos começaram a se esfregar com mais força. Sangue começava a sair pelos ralos e o choro de algumas meninas era muito alto. Mais três pessoas levaram um banho pessoalmente da instrutora. E Kylie apertou ainda mais a escova na sua pele.

Após sangrar e retirar todos os cascos de suas feridas, ela pensou que nunca mais pediria novamente por um banho depois de passar tanto tempo sem um. Isso era pior do que ficar nojenta.

Quando a instrutora estava satisfeita com todo mundo, ela apresentou o vestuário. Com uma bacia de calças e camisetas.

— Nesse lugar nada é de vocês. Depois do banho vocês pegam qualquer uma das roupas e saiam. Se vocês forem rápidos, conseguiram uma do seu tamanho, se não. Amarrem as roupas com os fios de nylon que estão ao lado.

As meninas correram para pegar as roupas, mas nenhuma delas realmente serviu, todas elas eram muito grandes para o corpo pequenos delas.

Após estarem prontas, cada uma com um fio de nylon amarrando as calças na cintura, elas foram levadas para o refeitório. Já havia escurecido e era hora do jantar. Elas foram novamente colocadas em filas e conseguiram três colheres enormes de arroz e legumes.

Após pegarem a comida Carmise arrastou Kylie para uma mesa onde Riot estava sentado. Ele as recebeu com um sorriso e as duas se sentaram.

— Vocês passaram pela tortura do banho? – ele perguntou.

— Aquela mulher queria nos matar. – Carmise respondeu tentando ao máximo não se mover muito por causa da pele que havia ficado muito sensível pelos esfregões. – Foi um banho de sangue, literalmente.

Riot gargalhou e chamou a atenção de Mike e Sonny que logo se moveram para a mesa. Não demorou muito e os outros também os encontraram.

— Vocês sabiam que os grupos das carroças vão formar grupos dentro do esquadrão? – Val disse animada. – Acabei de escutar isso. Estamos na merda juntos. 

— Nem quero saber como vai ser amanhã. - Mike suspirou pesaroso.

Assim que ele terminou de falar, uma comissão de instrutores passaram pela porta dos refeitórios. Não havia muitas pessoas alí dentro. Pelo menos muito menos do que kylie esperava que tivessem. Umas cem pessoas. Como poderia haver tão pouco, quando haviam tantos esperando na fila do recrutamento.

— Olá recrutas, - um homem alto chamou a atenção de todos. Era difícil largar a comida, enquanto ainda tivesse um pouco no prato, mas Kylie se obrigou a prestar atenção nas palavras do homem. – Eu sou o instrutor Becker e as suas bundas serão minhas pelos próximos quatro anos quando se formarem... Ou até um de vocês se ferir, morrer, desistir ou apenas serem incompetentes demais para continuar.

— Eu não me importo com o que vocês são. Apenas com o que vocês podem trazer para mim. Mas, por enquanto vocês não podem me trazer nada com esses corpinhos magricelas de vocês. Amanhã começa a nutrição de vocês. Pelos próximos dois meses, vocês serão alimentados a ponto de não desejarem comer nunca mais na vida.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem.



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