Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 9
Gwen Stacy


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que estou atrasada, mas a semana de provas chegou e eu estive muito ocupada. Mas ainda estou aqui!

~~ Boa Leitura



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 Natasha e Clint saíram logo na segunda-feira de manhã, em algum momento depois das oito. Peter realmente queria se despedir deles de forma adequada, mas ele precisava ir para escola, então o máximo que ele pode fazer foi trocar breves palavras com ambos de manhã durante o café.

 Ele sabia que os Vingadores tinham um trabalho a fazer, que eles não estavam ali apenas de bobeira, mas o pensamento de que Clint e Natasha não estariam por perto nos próximos dias era estranho. Ele havia se acostumado com a presença dos dois, e agora que ele parou para pensar, provavelmente vai ser mais estranho ainda quando Tony não estiver por perto.

 Peter não queria pensar nisso por enquanto, era melhor apenas deixar que as coisas acontecessem. Afinal, ele não era uma criança, por mais que todos ao seu redor insistissem em o encarar dessa maneira.

 Domingo tinha sido um dia tenso se comparado aos demais, ninguém parecia animado ao ponto de querer assistir algum filme ou até mesmo jogar algum jogo. Em vez disso, grande parte dos Vingadores — com exceção apenas de Scott, que voltou pra casa no sábado — estavam longe de serem vistos. Ele só tinha visto Tony pela manhã, quando o mesmo avisou que estaria longe pelo resto do dia.

 Aparentemente, a equipe tinha passado o dia em treinamento, não na academia, como Peter imaginou, mas em algum outro lugar do prédio. Ele resolveu não questionar, justamente porque sabia que ninguém iria lhe responder;

 Peter acabou ficando sozinho durante grande parte do dia. Apenas ele e seu quarto.

 Naquele dia a única coisa relevante que ele fez foi conversar com Ned e MJ. Foram gastas horas e horas assim enquanto um enviava mensagem para o outro. Peter tomou essas horas livre para entender um pouco mais das redes sociais. Ele criou uma conta no twitter e viu alguns vídeos no Youtube, que parecia bem mais agitado do que ele se lembrava.

 Ned chegou a comentar sobre alguns jogos famosos e MJ falou sobre as séries; ambos jorrando informações no jovem aranha. Não demorou muito e ele percebeu que estava muito atrasado quanto aos demais adolescentes; que tinha pilhas de séries para assistir, jogos para jogar e livros para ler, além, é claro, de ficar por dentro das novidades.

 Ele percebeu que não sabia nem ao menos quais eram os cantores que faziam sucesso.

 De qualquer forma, isso só aumentou a sua lista de tarefas — que ele prometeu a ambos os amigos que começaria logo que pudesse —, mas por enquanto, Peter vai apenas começar com o básico do básico e focar em outras coisas. Como seu traje.

 A única outra coisa que Peter fez no domingo além de conversas com seus amigos foi discutir com Karen sobre o material que as lentes do seu traje seriam feitas. Ele explicou o que era preciso, que os óculos precisavam ajudar “alguém” a focar e a deixar outros sentidos de lado. Sua I.A parecia ser a única que o ajudaria nesse quesito, já que Tony estava ocupado com a equipe e Ned estava a quilômetros de distância, além de claro, ter o desafio da neve.

 Ele mal pode esperar pela primavera.

 Acabou que as lentes não eram o seu maior problema, porque sim, tinha tudo o que era necessário no laboratório de Tony, então a única coisa que ele precisava fazer era se esgueirar até lá a noite e fabrica-las.

 Fácil falar, difícil fazer, principalmente considerando o fato de que Tony vive no laboratório.

 A parte realmente difícil disso tudo era fazer o traje em si, afinal, seu conhecimento de costura é praticamente nulo. Ele mesmo costurou sua máscara anterior, ligando as lentes ao tecido, e mesmo assim não soube fazer um trabalho muito bom.

 Karen disse que ajudaria e ele estava contando com isso.

 Quando segunda chegou Peter se levantou rápidamente. Ele tomou um banho rápido, ajeitou o cabelo, escovou os dentes e se vestiu. Os óculos de Richard estavam abandonados na escrivaninha; Peter considerou se deveria usa-los ou não, já que ele tecnicamente não precisa, mas apenas por capricho ele os alcançou e colocou no rosto. Não demorou um minuto e sua visão estava clara novamente.

 Ele não estava com presa de sair, estava com presa para ver Clint e Natasha.

 Fora o pequeno murmúrio que Steve deu no dia anterior, Peter não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Ele não sabia nada sobre a missão e porque apenas Clint e Natasha estavam saindo; toda vez que ele perguntava para alguém, essa pessoa simplesmente mudava de assunto ou o ignorava — também dizia que não era para ele se preocupar —, então Peter só estava observando enquanto todos ficavam agitados sem ter a menor ideia do motivo.

 O único que disse algo realmente relevante foi Sam, e sua frase só tinha 4 palavras.

 — Você logo ficará sabendo — Ele murmurou de volta no café da manhã, mas nada além disso.

 Peter tentou não deixar tão claro que ele não estava feliz com isso, em nenhum momento. Era como se todos estivessem o excluindo, mas ainda assim ele buscou entender o porquê.

 Ele passou 10 minutos repetindo a mesma coisa em sua cabeça: “É apenas porque é algo confidencial, você não é um Vingador e eles não confiam em você com isso. Nada mudou, nada vai mudar, é apenas uma missão. Não tem porque ficar chateado”.

 Peter realmente queria acreditar nisso.

 Mas isso não o impediu de tentar mais uma vez.

 — Pra onde vocês estão indo...? — Ele perguntou com um encolher de ombros, uma última tentativa antes de ter que sair para a escola.

 Já estava na hora. Happy estava esperando por ele no estacionamento da Torre, Tony já tinha lhe dado os vintes dólares — que ele ainda insistia que eram necessários — e Peter estava apenas tentando respondeu uma das suas perguntas.

 Clint compartilhou um olhar com Tony, que estava do outro lado da bancada com uma caneca de café em uma mão e o celular em outra — ele parecia entretido, mas levantou o olhar ao ouvir a voz do menor — Peter deixou seus ombros caírem e revirou os olhos.

 Ele praticamente podia ouvir a pergunta não dita, podia ver que Clint não iria dizer nada se Tony não desse permissão. Ele não ficou irritado com isso, nunca poderia, a única coisa que o chateou é que ninguém o vê além de uma criança.

 Por fim, Tony acenou.

 — São Francisco — Clint declarou com um encolher de ombros. — Quer que te traga alguma lembrancinha? — O arqueiro ofereceu um sorriso, claramente brincando. Peter não sentiu entusiasmos nisso.

 A proposta em si já deixava mais do que claro o que todos pensavam dele; que ele era apenas uma criança que poderia receber brinquedos e isso iria resolver todo o resto. Peter não teve a intenção se soar mal-humorado — na verdade, ele nem sabe se soou mal-humorado — quando balançou a cabeça firmemente, erguendo uma mão para ajeitar os óculos que escorregaram por apenas um centímetro do seu nariz.

 — Não, estou bem — Suspirou derrotado. Eram apenas esforços em vão.

 Talvez um dia, quando ele crescer, ninguém vai trata-lo dessa maneira.

 Peter então ajeitou a mochila nas costas e acenou de forma apressada tanto para Clint, quando para o resto dos heróis reunidos ali.

 Há alguns dias ele descobrir que Happy odeia ficar esperando. A carranca do homem não é muito agradável e Peter resolveu naquele dia que nunca mais se atrasaria novamente.

 — Tenham uma boa viagem

 Foi a última coisa que ele disse para os dois espiões antes de ir até o elevador e seguir o caminho que aos poucos estava se tornando usual.

 ...

 A lista de tarefa de Peter na escola estava se tornando grande, grande demais ao ponto de se tornar sufocante. Não que a escola algum dia tinha sido fácil, mas agora estava tomando algumas proporções a mais.

 A começar por Flash Thompson.

 Peter realmente devia ter aproveitado os primeiros dias em que não teve um valentão em seu pé, mas agora era tarde demais para pensar nisso. Ele rapidamente descobriu que Flash é o nerd popular em meio a um monte de nerd excluídos — que não eram realmente excluídos.

 O pai dele era rico, e Flash nunca perdia uma oportunidade de se gabar disso. Como se já não bastasse, ele podia ser surpreendentemente egocêntrico nas aulas, mesmo quando não era, nem de longe, o melhor aluno da sala. Ele também era quem dava as melhores festas.

 Ou seja, um completo estereotípico de babaca; e Peter sabe bem disso agora.

 Depois do incidente com a corda, Flash decidiu que não iria deixa-lo em paz, e tem feito um ótimo trabalho quanto a isso. Peter, por outro lado, não se sente tão mal quanto isso. Pelo menos é ele, e não outra pessoa.

 Assim que Happy o deixou em frente a Midtown, no mesmo horário de sempre, Peter agradeceu e saiu do carro, colocando logo em seguida o gorro sobre a cabeça. Estava nevando, não tão forte quanto no fim de semana, mas a neve ainda estava pintando toda a grama verde do campus.

 Happy havia passado os últimos 10 minutos reclamando de toda essa neve e do quanto era difícil dirigir com os pneus normais. Não que Peter o julgue, na verdade, ele até entende.

 Era depressivo olhar para a quadra de futebol americano e para as arquibancadas e encontrar apenas com a neve. Nem mesmo um único sinal da grama verde ou das marcações do campo.

 Peter estava apenas encarando toda aquela imensidão branca, perdido demais em lembranças para sequer perceber a figura que rapidamente se aproximou e colidiu fortemente com seus ombros. Por um instante ele pensou que fosse cair, mas graças aos seus reflexos Peter apenas cambaleou para trás e se manteve em pé.

 Ele grunhiu, um som rouco em seu peito, e levantou o olhar para quem quer que fosse. Peter não ficou surpreso quando encontrou Flash e mais alguns alunos que ele nem ao menos se importava em saber o nome; todos eram companheiro de Thompson.

 — Cuidado aí Parker — Ele disse, jogando veneno em sua voz. Peter não se encolheu ou recuou, como certamente teria feito quando menor, em vez disso ele franziu os lábios e endireitou a postura.

 — O mesmo pra você, Thompson — Peter disse com seu tom usual e simpático, não sento tão obvio quanto Flash.

 Ele então piscou — uma provocação silenciosa — e voltou a andar.

 — Maneiro os óculos Parker, só te deixam ainda mais com cara de otário

 Peter revirou os olhos para o quão infantil aquilo soou, mas não se incomodou em nenhum momento. Ele já tinha passado por insultos piores do que esse, e se Flash quisesse competir com seus antigos valentões, então ele teria que crescer mais 20 centímetros e também ganhar mais músculos.

 Peter entrou no colégio, sendo recebido pelo calor reconfortante dos corredores que já estavam lotados. Betty ainda estava anunciando as notícias do dia no monitor quanto Peter alcançou seu armário e tirou o livro de espanhol lá de dentro. Ele só não estava esperando que, quando fechasse o armário novamente, daria de cara com MJ.

 — O que tá fazendo ai? — Ele perguntou no impulso, levantando uma sobrancelha para a garota encostada logo ao lado dele. Antes, estavam separados apenas pela porta do armário, mas agora MJ estava praticamente colada ao seu lado.

 — Lendo. E você — Ela disse sem desviar o olhar do livro na sua frente.

 Peter revirou os olhos. 80% do tempo que ele passava ao redor de MJ, ela sempre tinha um livro ao seu alcance; ele começou a se perguntar se ela fazia alguma outra coisa.

 — Sendo um cara normal — Peter disse com força, mas estava zombando de sua afirmação mentalmente.

 Foi só então que MJ levantou o olhar do seu livro, encarando Peter com uma sobrancelha levantada. Ela já estava abrindo a boca para dar uma resposta curta e grossa, provavelmente do jeito MJ de ser, mas parou no meio do caminho.

 Peter observou quando suas bochechas ganharam um tom mais avermelhado. Foi rápido demais, apenas uma fração de segundo, então MJ piscou e balançou a cabeça.

 — Você é o cara menos normal que eu conheço — Ela resmungou, não do jeito zombeteiro como Peter esperava, mas de um jeito quase acanhado.

 Ele levantou uma sobrancelha, mas resolveu não comentar sobre essa timidez repentina. Em vez disso, ele sorriu.

 — Certo, não posso argumentar contra isso

 Para a sua surpresa, MJ abaixou o livro, se certificando de colocar um marcador de página, e se virou para ele.

  — É um milagre a escola ainda estar aberta depois dessa nevasca — Comentou com um suspiro pesado, parecendo agora com a MJ que ele conhecia e amava.

 Só então Peter reparou que ela provavelmente tinha chegado agora no colégio, no máximo um minuto antes dele. MJ estava usando um casaco purpura cheio de neve e levemente amarrotado, seus cabelos não estava tão diferente, já que haviam alguns flocos de neve presos entre os cachos.

 Ele resistiu ao impulso de estender a mão e espanta-los.

 — Parece que você foi atacada por um monstro de neve — Comentou com um sorriso brincalhão no rosto, esperando trazer um pouco de humor para essa manhã relativamente tensa que ele estava tendo.

 MJ não pareceu tão feliz com isso, já que ela franziu os lábios em uma carranca adorável.

 — Não zoe com a minha cara Stark — Ela rosnou entre os dentes, usando o único sobrenome que até agora ninguém tinha usado para se referir a Peter.

 Ele estaria mentindo se disse que isso não o atingiu profundamente.

 Peter não pode se ajudar e se encolheu. Era estranho ouvir algo assim, principalmente quando ele cresceu com o “Parker” enraizado em seu coração e em sua mente; foi... anormal. Peter pode sentiu seu rosto corar, ardendo comparação com o ar gelado ao seu redor.

 Ele ficou confuso, não sabendo como lidar com isso. Era apenas um sobrenome, seu sobrenome. Não tinha motivos para se assustar.

 — Que foi? Não posso te chamar de Stark? — Ela perguntou quando percebeu sua reação, balançando a cabeça para se livrar da neve presa em seu cabelo. MJ parecia indiferente quanto a isso, mas para Peter era como se um novo mundo tivesse se aberto.

 E de certa forma, tinha.

 — Não... — Ele balançou a cabeça apressadamente, fazendo com que seus óculos escorregassem pelo nariz mais uma vez. Seu coração estava batendo tão forte que Peter precisou respirar algumas vezes mais profundamente apenas para criar forças e falar de novo. — É só que ninguém me chamou assim ainda — Ele confessou com um encolher de ombros.

 Isso era verdade, ninguém até agora se referiu a ele como “Stark”.

 — Sério? Pensei que já estivesse acostumado a essa altura — Ela disse e agora ambos estavam andando pelo corredor lado a lado, fazendo um enorme esforço para desviar do resto dos alunos.

 — Não... — Ele balançou a cabeça, meio distante. Seu rosto ainda estava corado com isso. — Tony respeita isso e... os outros só me chamam de Peter ou Pete

 — Você vai ter que se acostumar com isso — MJ disse, meio brincando e meio falando sério. Ela deixou claro que tinha como objetivo anima-lo quando o empurrou levemente com o ombro.

 Peter acenou em concordância, ainda encarando o corredor na sua frente com a cabeça nas nuvens.

 — Sim, acho que vou...

 — Ei gente! — Ned apareceu no corredor, correndo em meio à multidão de alunos. Ele exibia um enorme sorriso no rosto, contagiante o suficiente para fazer Peter também sorrir.

...

  Peter costumava amar a biblioteca.

 Era como se fosse sua segunda casa antigamente, um lugar onde ele podia ir a qualquer hora e se esconder de algumas pessoas. Ele não precisava necessária mente ler; por vezes ele usou a biblioteca apenas para conseguir fazer seu dever de casa em paz, sem que seu sentido aranha o incomodasse com o incessante zunido na base do pescoço. Ele gostava desses momentos de paz, mas agora parecia tão estranho estar rodeado por livros dos diversos tamanhos e cores.

 A biblioteca de Midtown estava lotada, com alunos espalhados por todos os lugares; quase não haviam mesas vazias. Peter se surpreendeu assim que entrou. Ele já tinha estado na biblioteca em horário de aula, mas no almoço o lugar parecia mais lotado que a cafeteria.

 Peter sabia que todos os alunos aqui eram dedicados, mas ele realmente não esperava que a biblioteca estivesse lotada.

 Ainda assim, isso causou um sorriso em seu rosto.

 Ele tinha abandonado Ned e MJ logo depois de comer um sanduiche de pasta de amendoim na velocidade da luz, apenas para resolver esse pequeno problema com Gwen Stacy. Em parte, porque ele estava sentindo que devia isso a ela, já que a sua primeira impressão não tinha sido muito boa. Tudo que ele menos queria nesse momento era ser odiado por uma colega só porque ela o encontrou em um dia ruim.

 Já bastava Flash.

 Peter deu uma olhada ao redor da biblioteca; seus olhos passando pelo rosto de cada garota loira, se perguntando se era Gwen ali, mas ela estava longe de ser vista. Aparentemente, Peter estava adiantado, e isso era algo bom ao seu ver, já que ela não podia reclamar de um atraso.

 Com um suspiro, Peter se sentou em uma mesa ao lado da janela — a única completamente livre —, sem ter muito o que fazer além de esperar. Ele permitiu que sua atenção vagasse para o lado de fora, para as ruas praticamente desertas de Midtown.

 A biblioteca ficava no andar de cima, dando uma visão mais ampla tanto das ruas de Midtown quanto das casas e apartamentos que ficavam ao redor. Não era muito, mas apenas a visão da neve caindo graciosamente no chão já era o suficiente para ser calmante. Havia toda uma beleza por trás disso.

 Estava sendo um inverno rigoroso até agora, mas Peter realmente não consegue buscar informações o suficiente em sua mente para compara-lo com o anterior. Talvez ambos tivessem sido extremamente torturantes, mas ele não sabe dizer com exatidão. A previsão do tempo era para mais neve e frio de até 5 graus negativos, uma temperatura absurda até mesmo para Nova York.

 Peter se perguntou em como estavam as pessoas que ele conheceu e que ainda viviam nas ruas. Ele não pode evitar, o pensamento veio apenas com a visão da neve.

 Como Phlipe estava se saindo com toda essa neve e frio? O homem sempre foi forte e praticamente impermeável, mas isso não era o suficiente para salva-lo. Peter se perguntou sobre Marie e John, se eles estavam bem vivendo na estação abandonada.

 Ele não pode evitar o sentimento de medo e receio que veio juntos com esses pensamentos. Marie e John podem até nunca terem sido amigáveis com ele, mas ainda eram humanos que também tentavam sobreviver, assim como Peter, não escolheram de bom grado aquela situação. Estavam ali porque era necessário.

 Ele queria poder ajudar.

 Por um momento, Peter desejou poder encontra-los, poder vê-los mais uma vez apenas para se certificar de que ainda estavam vivos. Talvez ele não precisasse necessariamente conversas com eles, talvez apenas vê-los de longe. Era estranho, mas ele queria.

 Queria apenas saber.

 Peter deixou-se aprofundar em seus pensamentos, tanto que deu um solavanco em seu assento quando uma mochila foi jogada abruptamente em cima da mesa, fazendo toda a madeira tremer. Ele piscou atordoado e olhou para cima, para a garota loira logo na sua frente.

 Gwen Stacy estava ofegante, peito subindo e descendo como se ela tivesse corrido uma maratona. Seus olhos azuis estavam arregalados, seu cachecol jogado de qualquer jeito pelos ombros e seus cabelos estavam bagunçados. Ela parecia cansada, agitada e eufórica, tudo ao mesmo tempo.

 Peter piscou e, sem ter muito a fazer, a cumprimentou.

 — Oi — Murmurou, esperando que a loira ao menos tivesse o ouvido.

 — Oi. Desculpa o atrasado — Foi o que ela disse. Peter realmente estava esperando um tom avido e sarcástico, talvez até mesmo com veneno em sua voz, mas o tom de Gwen havia sido apenas gentil. — Reunião da banda... durou mais do que eu esperava

 Peter balançou a cabeça, forçando-se a deixar os pensamentos de seus conhecidos de lado e focar no presente. Afinal, ele tinha um trabalho muito importante para fazer aqui.

 — Tudo bem — Ele disse, oferecendo um sorriso. Internamente ele esperava que fosso o suficiente para lhe dar uma aparecia gentil. — Cheguei agora pouco

 — Certo... — Ela ofegou por ar, deixando que seus ombros subissem e descessem. Gwen estão levantou os braços e ajeitou o arco preto no cabelo, deixando eles mais apresentáveis agora. — Temos vinte minutos para escolher o livro antes que o sinal toque — Ela disse meio apresada. — Alguma sugestão?

 — Ãhn... não. Sou uma vergonha quando o assunto e literatura inglesa — Ele admitiu com um encolher de ombros, mas Gwen não pareceu ser afetada por isso, ela apenas acenou e se afastou da mesa.

 — Então vamos — Ela gesticulou com a cabeça, se virando para caminhar até algumas estantes de livros mais afastadas. Era lá que ele supôs que ficavam a literatura inglesa.

 Peter se levantou e a seguiu, quase que apressadamente.

 — Vamos pegar algo menos competido. Sra. Harris gosta quando somos criativos — Ela comentou, vagando pelas prateleiras com um olhar de quem sabia o que estava fazendo. Gwen provavelmente tinha feito isso diversas e diversas vezes antes.

 — Então... sem Orgulho e Preconceito? — Peter perguntou levantando uma sobrancelha, esse era um livro que ele estava ansioso para ler apena para poder comentar sobre ele com MJ.

 O jovem aranha nunca iria dizer isso para a amiga, mas amava quando, por acaso, ambos liam o mesmo livro e comentavam sobre ele. MJ costumava ser bem emocional quanto a isso, deixando claro suas opiniões sobre os personagens e sobre o enredo.

 Era legal trocar opiniões com ela.

 — E sem o Morro dos ventos Uivantes — Gwen disse, dando um rápido olhar para Peter que agora também encarava os diversas livros, em busca de algo interessante. — Ou qualquer outra obra que tenha recebido uma grande adaptação para os cinemas

 Ambos vagaram pelas prateleiras em silêncio por alguns segundos, imersos em seus próprios. Enquanto analisava os livros, Peter viu o nome de vários e vários autores de sucesso; alguns clássicos, outros mais desconhecidos. Ele sorriu toda vez que encontrava com alguma obra que, por acaso, ele leu no passado, mas isso aconteceu no máximo três vezes.

 — O que você acha de algo mais criminal? —Gwen perguntou de repente, ganhando a atenção de Peter instantaneamente. — Algo tipo...  Agatha Christie?

 — A Dama do Crime? — Ele perguntou com uma sobrancelha levantada. Ele se lembra dessa autora, já que Richard tinha uma estante de livros em sua antiga casa, onde a maioria das prateleiras eram recheadas com obras de Agatha Christie.

 Mary nunca deixou que ele lesse, julgando os livros pesados demais para uma criança.

  — Olha só, você entende um pouco de literatura — Gwen comentou de forma irônica, mas ainda assim havia um sorriso em seus lábios.

 — O básico, mas qual obra dela você acha que a gente deveria usar — Ele perguntou, se aproximando um pouco mais apenas para ver centenas de livros alinhados, todos com o nome Agatha Christie.

 — Assassinato no Expresso Oriente — Gwen sugeriu, alcançado o livro logo em seguida. Peter sabia que era uma versão nova, pois a capa era mais cartunesca e colorida.

 — Ou talvez O Assassinato de Roger Ackroyd — Peter sugeriu, levantando uma sobrancelha. Ele alcançou o livro logo em seguida e de repente ele e Gwen estavam se encarando frente a frente, quase que incessantemente.

 — Até que você tem boas sugestões Parker

 ...

 Depois de 5 minutos inteiros discutindo qual livros eles iriam pegar — surpreendentemente não de forma agressiva como Peter imaginava, mas até mesmo um pouco cômica —, ambos concordaram que A Casa Torta era a melhor opção por agora.

 ...

  — Você deveria descansar um pouco. Não acho que tanto tempo assim, preso aqui, seja saudável — Peter comentou, um leve tom de apreensão em sua voz. A esse ponto ele chegou à conclusão de que não importava se ele estava preocupado ou não, Tony simplesmente não ligava para a própria saúde.

 Ele estava de volta a Torre depois da aula, mas dessa vez tinha se recusado firmemente em ficar apenas no quarto e resolveu passar um tempo com Tony, mesmo que o bilionário estivesse apenas o ignorando.

 Peter não sabia no que ele estava trabalhando a essa altura, mas pelos hologramas de Sexta-Feira, não tinha nada a ver com os ternos do Homem de Ferro, em vez disso, parecia algum tipo de flecha explosiva.

 — Eu estou bem — Tony disse com firmeza. Ele estava girando um pedaço de metal fino em suas mãos, a qual Peter assumiu ser o esqueleto de uma flecha. — Só vou terminar os novos equipamentos pra aqueles dois bobões

 Peter revirou os olhos e se inclinou para frente, apoiando o queixo na mão enquanto encarava Tony.

 — São flechas explosivas? — Perguntou, demonstrando sua curiosidade apenas pelo olhar.

 Para a sua surpresa, Tony balançou a cabeça negativamente, meio distraído enquanto mexia em algumas configurações. Ele sempre parecia tão concentrado quando estava trabalhando; era meio estranho de ver.

 — Não. Clint já tem várias dessas — Disse, dessa vez alcançando uma chave de fenda. — Essa é uma flecha de choque. Aceito sugestões de nomes...

 Peter levantou uma sobrancelha, cético. Ele não conseguiu entender o porquê uma flecha de choque seria útil, mas na vida de um super-herói, aparentemente tudo conta.

 — Choque...? Mas por quê? — Perguntou, agora encarando o holograma azul com curiosidade. Por um momento ele tentou decifrar cada canto do projeto e buscar a resposta para sua pergunta sozinho.

 Ele franziu o cenho quando percebeu que a intenção das flechas não eram matar e sim atordoar. De uma forma mais dolorosa.

 — É uma forma melhor para neutralizar alguém do que os dardos. Clint ficou me perturbando sobre isso por quatro meses, mas só agora resolvi me mover... não conta pra ele. Ele acha que tive apenas algumas complicações no projeto — Tony riu sem humor. Tudo sobre sua postura deixava claro que ele estava esgotado, mas ainda tinha força em seus ossos para continuar.

  — Em que sentido é melhor que os dardos? — Peter perguntou novamente.

 Tony hesitou, abaixando a chave de fenda por um momento. Ele pareceu pensar por alguns segundos e então balançou a cabeça.

 — Você não precisa saber dos métodos usados pelos espiões da S.H.I.E.L.D — Ele disse, fazendo Peter bufar ao seu lado. — Como foi a escola? Está tudo bem com o Decatlo?

 Peter franziu o cenho, cético. As coisas no Decatlo estavam mais tensas nos últimos dias, tudo graças a competição que estava por vir. A essa altura, Peter estava realmente curioso sobre como seria competir contra Visions.

— Legal — Peter murmurou. Não era uma mentira. No Decatlo ele estava rodeado de amigos e fazia algo legal, que era responder perguntas que deveriam ser difíceis. — Vamos ter uma competição em dois meses... estamos treinando pra isso — Acrescentou depois de um tempo.

 Isso pareceu pegar a atenção do bilionário.

 — Sério? Contra quem?

 — Visions. É um internato, aparentemente maior rival de Midtown — Peter disse, voltando a sua posição original na cadeira.

 — Estão confiantes? — Tony perguntou, parecendo mais interessado. Ou talvez ele estivesse apenas tentando participar um pouco mais da vida do filho; de ambos as formas, Peter não viu nada errado em responder.

 Ele se lembrou do treino de hoje e em como a maior parte da equipe estava desanimada, seja por ser segunda-feira, ou por serem mais uma vez bombardeados de perguntas. De qualquer forma, os resultados não foram tão bons.

 Até Ned estava cansado hoje.

 — Meh... podia ser melhor — Murmurou mais uma vez.

 De repente, as portas do laboratório se abriram e o som de salto alto começaram e ecoar. Peter se virou no mesmo instante, sorrindo quando viu a figura de Pepper Potts entrar e avançar entre as mesas e bugigangas que Tony insiste em guardar no laboratório.

 — Eu não acredito que vocês dois estão aqui — Ela disse incrédula, não escondendo seu desagrado. Peter notou quando Tony abaixou a chave de fenda e encolheu os ombros.

 Pepper tinha estado fora nos últimos dias em uma viagem a negócios, Peter não sabia muitas coisas além do fato de ser em nome das Industrias Stark. Pepper era bem mais ocupada quanto a isso e dedicada, então ele assumiu que teria que se acostumar com as constantes viagens.

 Ainda assim era muito bom vê-la.

 — Pepper! — Peter a cumprimentou, não escondendo seu sorriso.

 Talvez ele estivesse parecendo um pouco infantil, mas não conseguiu se importar.

 Peter não esperava que Pepper parasse de andar quando estava a apenas alguns metros dele e de Tony, apenas para abrir os braços em um claro convite.

 Peter sentiu seu rosto esquentar, provavelmente alcançando suas orelhas. Porém, ele se encontrou incapaz de deixar Pepper no vácuo, principalmente quando ela acabou de chegar de viagem. Por isso ele se levantou, desceu da cadeira e caminhou até a loira apenas para ser envolvido em um abraço apertado.

 — Que semana. Pensei que nunca iria acabar — Ela disse, apertando Peter firmemente contra o peito. O calor se espalhou pelo seu corpo, tão reconfortante quanto um abraço poderia ser. Ele sorriu quando sentiu uma mão subir e afagar seus cabelos carinhosamente.

 — Ei Pep — Peter não notou quando Tony se levantou e andou até eles. — Como foi a viagem?

 — Horrenda — Ela disse, soltando Peter do abraço forte apenas para alcançar Tony. Os dois compartilharam um beijo rápido e então um abraço apertado. Peter sorriu, observando o casal. — Você vai ter que causar uma boa imagem na arrecadação. É bom começar a preparar o discurso

 Tony gemeu audivelmente com isso, parecendo descontente.

 — Ahhh... mas é daqui a três meses — Os dois se afastaram, mais Peter percebeu que ambos ainda estavam de mãos dadas.

 — É melhor dar teu jeito — Pepper bufou, balançando a cabeça negativamente antes de franzir os lábios. — Aquele cara é... tenho nem palavras. Mas e vocês dois? Por favor não me digam que estão aqui em baixo o dia todo

 Havia preocupação em sua voz, Peter a identificou com uma certa facilidade. Pelos menos ambos compartilhavam esse mesmo sentimento.

 — Eu fui pra escola — Ele disse em defesa própria, e não hesitou em dedurar o pai. — O Tony que tá aqui o dia todo

 Tony olhou para ele, olhos arregalados. Peter viu que ele parecia traído com isso, mas não conseguiu se sentir culpado considerando o tempo que o bilionário tem passado em seu laboratório, ocupado demais até mesmo para comer e dormir.

 Ele esperava que Pepper pudesse fazer alguma coisa.

 — Eu não acredito — Ela arfou, soltando as mãos de Tony apenas para cruzar os braços sob o peito.

 Um silencio estranho se seguiu, onde claramente Tony e Peter estavam esperando para ouvir o que Pepper tinha pra dizer. Para a surpresa de ambos, ela suspirou e balançou a cabeça negativamente.

 — Vão tomar um banho vocês dois, estamos saindo para comer algo que não seja industrializado!


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Notas finais do capítulo

AVISO: Capitulo revisado extremamente as presas pq não aguento ficar com os olhos abertos, por isso me perdoe por qualquer erro!

Agradeço a paciência e agora voltamos a nossa programação normal!



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