Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 7
Richard Parker


Notas iniciais do capítulo

Cheguei! Atrasada, mas tô aqui!

~~ Boa Leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776338/chapter/7

 Aconteceu na manhã seguinte.

 Era um sábado nublado e gélido, que conseguiu incomodar Peter mesmo com o aquecedor ligado — não de forma tão severa ao ponto de entorpecer seus dedos, mais ainda incomoda. Tinha tudo para ser mais um daqueles dias preguiçosos na Torre.

 Assim que Peter abriu os olhos ele conseguiu ver uma pequena fresta da janela que não estava sendo escondida pelas cortinas, e somente aquilo confirmou que não havia motivos para se levantar da cama tão cedo. Em outros tempos, talvez ele já estivesse de pé, procurando alguma fonte de calor, mas isso não é necessário aqui. Por isso, Peter se permitiu ficar mais um tempinho deitado, curtindo a suavidade do edredom ao redor do seu corpo.

 Ele se virou na cama e fechou os olhos.

 Foi somente quando seu celular vidrou na escrivaria que ele fez algum movimento para se levantar.

 Era MJ.

 Tanto MJ quanto Ned haviam dado seus respectivos números para Peter, e desde então eles estavam conversando pelo celular. Peter se surpreendeu com o quão inexperiente ele estava em relação a redes sociais e meios de comunicação. MJ, felizmente, zombou dele por causa disso.

 De maneira lúdica, claro.

 Eles trocaram mensagens por alguns minutos, até que Peter resolveu se levantar e cambaleou até o banheiro.

 Ele estava bem mais desperto depois que saiu, com o rosto lavado e os dentes escovados. Seu cabelo ainda estava bagunçado por causa do comprimento, grande demais para ele doma-lo — naquela altura, nem mesmo o gel de cabelo resolveria. Como todos os dias de manhã desde que ele chegou na Torre, Peter andou até o armário e o abriu.

 De primeira, não havia nada de interessante, além das suas roupas, mas quando ele estendeu a mão e tirou um suéter cinza de cima de uma pilha de roupa foi que ele viu.

 Ele tinha esquecido disso.

 Era a pasta que seu tio lhe deu, uma pequena parte de Richard que ele poderia guardar para ao menos se lembrar do seu pai adotivo. Peter tinha se esquecido dela, provavelmente tão imerso nos últimos acontecimentos que nem ao menos se deu ao trabalho de limpa-la corretamente.

 Na verdade, agora que ele estava olhando para o couro meio acabado por causa do tempo, ele percebeu que nem ao menos se lembrava de tê-la guardado. O Ano Novo tinha sido um dos melhores dias da sua vida, meio que marcava o começo de uma nova fase, e ele estava tão empolgado que acabou dormindo antes mesmo de chagar na Torre. Provavelmente foi Tony que a guardou ali.

 — Sexta-Feira, pode acender a luz por favor — Ele pediu. Sua voz parecia distante até mesmo para os seus próprios ouvidos, e isso só reforçava o fato de que sua mente também estava ficando mais distante.

  As luzes do quarto se acenderam, dando mais vida ou ambiente antes cinza. Peter soltou um suspiro e deixou o suéter de lado, jogando-o em outro monte de roupas. Ele sabia que aquele era o começo de uma enorme bagunça, mas não conseguiu se importar.

 O jovem estendeu os braços e seus dedos roçaram no couro áspero da pasta, curtindo a sensação por um segundo antes de segura-la de verdade. Ele encarou as inicias gravadas na fechadura e sentiu um nó se formar em sua garganta.

 Peter podia entender claramente o porquê de Ben ter dado isso a ele.

 Era uma pequena parte de Richard, minúscula, mas ainda assim era a única coisa física além da velha e amassada foto que ele ainda guarda — agora, sendo exibida no quadro de avisos por um pequeno alfinete vermelho. Era como trazer as lembranças do passado para o presente, e por mais que Richard não esteja aqui agora, não quer dizer que ele e Mary devessem ser esquecidos.

 Eles ainda faziam parte da vida de Peter; ainda eram seus pais.

 Peter suspirou e se afastou do armário, não se importando com a porta aberta. Ele estava se sentindo levemente entorpecido, por isso recusou a cadeira e a escrivaninha e se sentou no chão do quarto, em cima do tapete azul felpudo.

 Por um momento ele não sabia o que fazer.

 Peter passou o que pareceu longos minutos encarando a pasta, confuso enquanto tentava descobrir qual seria o próximo passo. Com um encolher de ombros ele a colocou no chão e a abriu, curioso e nervoso, mesmo que já soubesse perfeitamente o que tinha dentro.

 Mas ainda assim era como ter certeza de que aquilo existia.

 De pouco em pouco Peter foi tirando tudo que tinha dentro da pasta. Uma calculadora velha e quebrada, um bloco de notas com as bordas dobradas e amassadas, algumas canetas — incluindo uma de quatro cores que ele imaginou que poderia usar mais futuramente. Foi só então que ele encontrou com um estojo de óculos.

 Isso era inédito.

 Peter bufou, zombando para si mesmo quando abriu o estojo e encontrou um par de óculos de graus esquecidos, mais ainda intacto e completamente protegido do mofo. Ele o tirou de dentro do estojo e o girou ao redor dos dedos, prestando atenção em cada detalhe como se tivesse algum tipo de charada escondida ali.

 Era os óculos de Richard, ele os reconheceu. Por um momento, aquele objeto o levou de volta ao passado e um sorriso triste se formou no rosto de Peter. Ele engoliu em seco.

 Por fim, Peter resolveu coloca-los, rindo para si mesmo quando o mundo a sua volta ficou levemente embaçado. Ele olhou ao redor do quarto, para a cama e depois para as janelas, como se estivesse esperando que sua visão clareasse de repente. Mas isso não aconteceu.

 Ele não precisava mais de óculos, mas se perguntou se eles seriam úteis se, por acaso, ele não tivesse seus poderes para ajudá-lo com uma coisa tão simples como a visão.

 Em vez de tira-los, Peter resolveu ficar com os óculos por um tempo, e voltou a explorar os outros bolsos da pasta, dessa vez em busca de algo em especifico. Ele encontrou o mesmo recorte de jornal de antes, parecendo tão velho e desgastado quanto ele se lembrava.

O leve aperto em seu peito tirou um pouco da sua respiração, fazendo com que ele tivesse que se lembrar de como era respirar adequadamente. Peter não pode evitar e encarou o rosto de Richard por mais tempo do que o necessário, perdido nas lembranças doces da sua infância.

 Por um momento ele teve medo de esquecer como era o rosto do seu pai adotivo.

 Demorou um pouco, mas ele conseguiu deixar o recorte de lado, o que se demonstrou uma tarefa bem mais difícil. Peter voltou a explorar os bolsos, não sabendo exatamente pelo o que ele estava procurando.

 Até que seus dedos encontraram com algo muito estanho.

 Era uma pequena elevação, mas ainda assim tão nítida que Peter teve a absoluta certeza de que aquilo não fazia parte do forro da pasta. Seu coração tremeu por um instante e ele ergueu a pasta para seu colo, procurando por qualquer outro bolso ou compartimento escondido.

 Ele franziu as sobrancelhas quando não encontrou nada, mas ainda assim suas mãos não pararam e continuaram procurando por algo que não estava ali. Eles vagaram um pouco mais, subindo e subindo, até que ele encontrou com algo estranho.

 Uma abertura.

 Peter arfou e, por pura curiosidade, ele enfiou o dedo na abertura e encontrou com alguma coisa, algo que estava escondido firmemente até agora. Ele simplesmente não pode se conter e puxou o que estava ali para fora.

 Era uma pasta amarela, amassada e de certa forma danificada pelo tempo. Peter estreitou os olhos, lutando para buscar no fundo da sua mente por alguma resposta; ele não se lembra de já ter visto algo assim, mas o título “Oscorp” no canto superior direito, com letras grandes e bem nítidas, deixava mais do que claro que esse era um documento importante.

 Um documento importante que Richard escondeu, por algum motivo, em um compartimento secreto em uma pasta velha.

 Peter soltou o ar que estava preso em seus pulmões, deixando seus ombros caírem. Ele piscou e a abriu, encontrando com algumas folhas arrancadas de algum caderno quadriculado. O cheiro de mofo veio instantaneamente, mas ele apenas optou por deixar isso de lado enquanto seus olhos vagavam pela primeira página, tentando ler o que estava escrito.

 Haviam anotações e rabiscos por todos os lados, bagunçados demais para Peter sequer entender alguma coisa. Tudo ali parecia avançado demais para ele, embaralhado, não fazendo o menor sentido em sua cabeça. Ainda assim ele buscou alguma lógica.

  Peter leu a primeira página mais de uma vez, franzindo o cenho quando as suas tentativas começaram a se tornar frustradas. Nada ali fazia sentido. A única frase legível estava grifada com marcador, logo a cima de uma equação extensa.

 “Algoritmo de Decaimento”

  Ele inclinou a cabeça para o lado, se perguntado sobre o que era tudo aquilo; no que Richard estava trabalhando.

 Mas pela primeira vez, ele não conseguiu resolver aquele quebra-cabeças.

 — Sexta-Feira, onde o sr. Stark está...? — Peter perguntou, sua voz soando fraca e pequena.

 Ele não era capaz de entender aquilo, mas ele também não era um gênio que criou um novo elemento. Com certeza Tony podia ajuda-lo.

 — Ele está no laboratório Peter

 Ele acenou em compreensão, mais para si mesmo do que para a I.A. Peter fechou a pasta amarela, ajeitando algumas folhas que estavam ameaçando cair e se levantou. Ele não se importou em trocar de roupa ou sequer guardar as coisas que agora estavam espalhadas pelo chão, em vez disso saiu do quarto e seguiu para o elevador.

 No caminho do laboratório, Peter ainda se permitiu folhear algumas das páginas, encarando as anotações, buscando ao máximo entender o que estava escrito. Ele nem ao menos desviou o olhar do papel quando as portas do elevador se abriram.

 — Tony, você pode me aj- — Peter parou no meio do caminho.

 A primeira coisa estranha que ele notou foi que não estava tocando nenhuma música do AC/DC. O laboratório estava imerso em um silêncio anormal, principalmente para Tony, que costumava ser muito barulhento. A segunda coisa que Peter notou foi que assim que ele saiu do elevador as luzes se acenderam de forma abrupta.

 Um rápido olhar ao redor deixou claro o porquê.

 Tony estava curvado sobre a mesa de trabalho, com uma série de ferramentas ao redor dele. Havia pelo menos três canecas de café por todo lado e Peter não pode ignorar o aroma ainda fresco da cafeína que pairava sobre o ar.

 O bilionário estava adormecido.

 Peter piscou e se aproximou com passos lentos do homem, primeiramente tentando testar se ele estava realmente dormido. O medo de acorda-lo sem querer era grande, por algum motivo. Não foi uma surpresa quando ele ouviu um ronco baixo e foi necessário segurar uma risada.

 A posição não era nada confortável.

 — Ele está dormindo a quanto tempo...? — Peter perguntou a Sexta-Feira, se certificando-se de manter a voz baixa para não perturbar o mais velho.

 — A aproximadamente uma hora — Sexta-Feira disse, surpreendentemente, sussurrando de volta. — O chefe não teve uma noite completa de sono há pelo menos três dias, eu não recomendo que você o acorde Peter

 Era um aviso.

 Peter compreendeu isso, porque era o certo. Tony merecia algumas horas de descanso, por isso acenou em concordância.

 — Ah certo...

 Peter recuou, olhando ao redor por um momento. Ele se lembrava vagamente de ver uma coberta em algum lugar pelo laboratório uma vez, jogada em um sofá manchado no canto. Não foi preciso procurar muito para acha-la, só que dobrada graciosamente, algo que era estranho já que o laboratório era sempre tão bagunçado.

 Peter deixou a pasta amarela em cima de uma mesa e caminhou até a coberta. Ele a pegou e voltou para Tony, estendendo-a para que se encaixasse ao redor de seus ombros.

 — O que a Pepper faz em momentos como estes? — Peter perguntou, ajeitando um pouco mais a coberta apenas para ter certeza de que ela não iria escorregar e cair no chão.

 — Srta. Potts costuma bloquear o acesso a qualquer um nesse andar, isso ajuda, já que o chefe sempre é acordado por algum problema — Sexta-Feira explicou. — Gostaria que eu fizesse isso?

 — Sim, por favor — Peter disse, se convencendo de que essa era a melhor opção.

 Ele pegou a pasta novamente e se virou, saindo do laboratório. Ele ainda pode ver quando as luzes se apagaram logo antes das portas fecharem.

 Sem muitas opções, Peter foi até seu quarto e pegou seu celular apenas para responder algumas mensagens de MJ e Ned e depois foi até a sala de estar dos Vingadores. Surpreendentemente, não havia ninguém por perto.

 Ele se sentou no sofá e apenas escutou as notícias do dia, como a previsão do tempo e as novidades em casos de policiais. Mas ele não estava prestando atenção, seus olhos estavam presos na pasta amarela na sua frente.

 Foi quando uma ideia veio a sua mente.

 Peter pegou seu celular e a primeira coisa que ele fez foi iniciar o aplicativo de voz de Karen.

 — No que posso ajudar Peter? — Veio a voz amigável da sua I.A. Peter sorriu para a forma como ela o cumprimentou, satisfeito com os resultados finais de algo que ele e seu pai fizeram juntos.

— Karen, eu encontrei esses documentos antigos. Eu acho que possa ser do meu pai adotivo, mas eu não faço a mínima ideia do que é. Você pode me ajudar? — Peter perguntou, revirando mais uma vez as folhas, encarando-as como se a resposta para as suas perguntas fossem magicamente aparecer.

 — Claro, Peter — Ela disse amigavelmente. — Irei precisar analisar o conteúdo, mas minhas pesquisas podem demorar um pouco mais para ficarem prontas

 — Tudo bem, contando que eu possa entender melhor isso daqui — Ele disse com um encolher de ombros.

 Foi preciso que Peter se levantasse e espalhasse as folhas pela mesa para que Karen pudesse analisar o conteúdo. Demorou alguns minutos, bem menos do que Peter imaginou que levaria. Agora o que resta é esperar.

 Ele estava arrumando as folhas novamente, em ordem, quando Natasha entrou na sala de jantar.

 — Pete, você viu o Tony? — Ela perguntou, parada na armação da porta.

 Peter levantou o olhar e só então percebeu que ela estava usando o uniforme, aquele que uma vez ele a viu usando na televisão, todo preto e com armas no cinto. Peter levantou uma sobrancelha.

 — Ele está cochilando... por quê? — A pergunta veio naturalmente. Até então, ele não tinha pensado em como seria ver a Viúva Negra, com uniforme e tudo, pessoalmente. Agora ele chegou à conclusão de que Natasha era muito intimidante.

 — Temos uma reunião — Ela disse como se não fosse nada, e então se lembrou de que estava falando com Peter, e não com qualquer outro membro da equipe. — Assunto dos Vingadores, nada de importante

 Peter acenou com relutância enquanto batia as folhas na mesa para que elas ficassem alinhadas. Ele sabia perfeitamente que tudo relacionado aos Vingadores era importante, mas resolveu não questionar já que todos pensavam que ele era uma criança e por isso sempre omitiam certas coisas.

 — Você pode chamar ele? O acesso ao laboratório está restrito — Ela disse e Peter acenou.

 — Claro

 Sem pensar muito, o jovem aranha deixou a pasta amarela em cima da mesa e começou a andar até o elevador.

 — Ah Peter — Nat o chamou na última hora, fazendo ele se virar para ela com o cenho franzido e uma pergunta não dita. Para a sua surpresa, ela sorriu, e gesticulou para ele. — Legal os óculos

 Por um momento, Peter não entendeu o que ela disse, mas então caiu a fixa e ele ergue uma mão para o rosto, sentindo a armação dos óculos ali. Ele piscou, confuso por um momento em como pode esquecer de algo que estava na sua cara esse tempo todo.

 — Oh... obrigado — Disse meio acanhado, com vergonha de si mesmo por ser tão bobo ao ponto de esquecer de algo assim. O pior é que isso foi na frente da Viúva Negra.

 E o pior era que as lentes nem pareciam que estavam ali agora que ele estava novamente consciente dos óculos. Ele estava vendo perfeitamente bem.

 Com um olhar confuso no rosto — em parte por causa dos seus próprios poderes, que, aparentemente, mesmo depois de quase dois anos e meio com eles, ainda não tinha descoberto todos os truques — Peter se voltou para a sala de estar e voltou a caminhar até o elevador.

 Natasha foi deixada sozinha na sala de jantar, cruzando os braços sob o peito, e por incrível que pareça, ainda existia um sorriso em seu rosto. Ela bateu o pé no chão e olhou ao redor.

 Fury tinha anunciado a reunião a apenas meia hora atrás e exigia que os Vingadores estivessem na sala de reunião em uma hora em meia. Considerando que Scott estava passando o final de semana com sua filha e Bucky, Steve e Sam sairam para uma corrida matinal, ela dúvida que a reunião irá de fato começar na hora marcada. Como sempre.

 Apesar disso ela já sabia o que estava por vir, afinal de contas, Nova York não é a única cidade no mundo e agora era a vez de São Francisco sofrer um ataque; o problema é que ninguém sabe o que é.

 Então é claro que eles iriam colocar os Vingadores no caso, e não o FBI ou a CIA.

 Natasha ficou emburrada com seus próprios pensamentos e acabou deixando que seus passos a levassem para o lado da mesa, encontrando por um momento com o estranho documento abandonado. Ela levantou uma sobrancelha, cética.

 É claro que ela viu que Peter estava mexendo com esses papeis, e por curiosidade os alcançou.

 Eram as anotações de um cientista, complexas, algo realmente grande. Natasha tinha certa experiência com documentos assim, tendo visto um monte deles em sua vida, e ela sabia perfeitamente que raramente essas coisas traziam coisas boas.

 Pareciam sempre em péssimo estado, como se o dono quisesse se livrar.

 Porém o que mais chamou sua atenção nesse em especial, foi que estava relacionado ao DNA humano e ao DNA de aranhas.

 ...

 A primeira coisa que Peter fez ao entrar no laboratório foi pedir para Sexta-Feira ligar as luzes nos 50%, não querendo que elas perturbassem Tony no primeiro momento que ele acordasse.

 — Tony — Ele o chamou, estendendo a mão para sacudir o ombro do mais velho lentamente. — Tony, acorde

 Tony gemeu, uma careta se formando em seu rosto pouco antes de ele abrir olhos. Por um instante, ele pareceu perdido, seus olhos nublados de sono enquanto ele olhava ao redor como se estivesse tentando descobrir a onde estava; por fim, pousaram em Peter e seu rosto se suavizou.

 — Ei bambino... — Tony disse com a voz meio grogue de sono. Peter franziu as sobrancelhas, confuso por um momento, e então resolveu deixar isso de lado e balançou a cabeça, limpando seus pensamentos.

 — Desculpa te acordar, mas Natasha disse que os Vingadores têm uma reunião... — Peter tentou explicar ao máximo, mas mesmo assim imaginou que não era o suficiente. Ele também não tinha muitas informações.

 Tony então gemeu em desagrado, deixando mais do que claro o seu descontentamento. Ele se endireitou na cadeira e por um momento a coberta escorregou dos seus ombros, mas ele foi rápido o suficiente para pega-la.

 — Ela falou sobre o que é? — Tony perguntou, esfregando o rosto para limpar um pouco de sono do seu sistema. Ficou claro que ele não estava dormindo bem apenas pela palidez do seu rosto e as olheiras em baixo dos olhos, muito profundas e evidentes.

 Peter sentiu seu estômago revirar com preocupação, agoniado apenas por ver o mais velho em um estado tão deplorável. Ele tentou empurrar esse sentimento de lado, mesmo sabendo que era inútil.

 Peter balançou a cabeça negativamente e apenas isso bastou.

 — Ah droga — Tony murmurou e impulsionou seu corpo para cima.

 — Você precisa realmente ir? — Peter perguntou, seguindo Tony com os olhos quando o bilionário começou a andar até a máquina de café ainda com a coberta ao redor dos ombros, que agora também estava sendo arrastado pelo chão. — Você parece cansado. Deveria dormir por algumas horas... talvez

 — Já estive pior — Ele disse como se não fosse nada e então pegou uma caneca de café fumegante e se virou novamente para Peter.

 Tony o encarou por um momento, e então franziu o cenho.

 — De onde vieram os óculos? — Perguntou, abaixando a caneca de café.

 — Ah isso... eu encontrei dentro daquela pasta que o tio Ben me deu... — Peter explicou, levando novamente uma mão a armação dos óculos.

 Ele não reparou quando o rosto de Tony caiu em descontentamento.

 — Então era...

 — Do Richard, sim — Peter confirmou com um aceno e ofertou um sorriso fraco, esperando que apenas aquilo bastasse.

 Ele estava se sentindo feliz com os óculos.

 — Certo... — Tony tomou um longo gole de café e então voltou a encarar Peter com um cenho franzido e um olhar preocupado, que entrou em forte contraste com a sua palidez. — Você tem miopia? Astigmatismo? Os dois? — Tony perguntou quase que freneticamente e Peter foi rápido em balançar a cabeça negativamente.

 — Não — Ele confirmou em voz e então voltou a trás, balançando a cabeça mais forte ainda. — Quer dizer. Eu tinha miopia, mas não é tão forte agora... não é um grande problema. Sério!

 — Merda Peter se amaldiçoou mentalmente.

 O jovem aranha viu quando Tony fez uma careta e se virou para encher a caneca de café novamente.

 — Preciso acrescentar “oftalmologista” na lista — Tony murmurou para si mesmo, quase que distraído. — Ouviu Sexta-Feira?

 — Alto e claro chefe

  Tony engoliu a caneca de café em apenas um gole e se voltou para Peter. Ele não parecia tão animado para encarar uma reunião, mas não havia hesitação quando ele se aproximando, tirando a coberta dos ombros.

 — Vamos garoto — Tony disse e deixou a corberta de lado. — Já tomou café da manhã?

 Peter corou quando balançou a cabeça. Ele havia se esquecido disso, já que seu dia começou um tanto agitado demais para um sábado preguiçoso.

 — Não

 ...

 — Peter, os resultados estão prontos. Gostaria de ver? — Karen disse depois que Peter já tinha tomado café e Tony e Natasha já haviam saído.

 Ele estava sentado no sofá da sala, a pasta amarela abandonada em cima da mesa de centro. Até aquele momento ele estava prestando atenção em uma série na televisão, mas então mudou a direção para o celular e o alcançou quase que freneticamente.

 — Pode falar Karen! — Ele exclamou, talvez um pouco alto demais, mas isso era completamente compreensivo considerando o ritmo dos seus batimentos cardíacos.

 — Os documentos são originário das Industrias Oscorp, datados de 2011 —  Karen disse, e naquele ponto, Peter estava encarando a tela do celular enquanto ouvia atentamente. — As informações detalhas estão omitidas pelo sistema de segurança da empresa, mas tudo indica que esse documento pertenceu ou ao dr. Richard Parker ou ao dr. Curtis Connors, ambos geneticistas da Oscorp

 Peter deixou seus ombros caírem, decepcionado com os resultados. Nada daquilo era novo; ele já sabia. O que ele realmente queria era sobre o assunto da pesquisa, o que se tratava, e se possível, o porquê de Richard ter deixado isso para trás de forma tão escondida.

 — Existe mais alguma coisa além disso? — Perguntou, com um resquício de esperança em sua voz.

 — Eu encontrei algumas entrevistas onde o dr. Connors fala abertamente sobre os projetos dele com o dr. Parker — Uma série de vídeos apareceu na tela de seu celular, mas Peter não teve força para iniciar nenhum deles, optando por ouvir o que Karen tinha para dizer. — Ambos planejavam buscar a cura de doenças genéticas no cruzamento genético de espécies, mas depois da morte do dr. Parker as pesquisas não tiveram um avanço significativo. Tudo indica que o dr. Connors ainda está trabalhando nisso

 Peter piscou, sentindo uma aflição em seu coração que o deixou desanimado. Ele piscou, e só então percebeu que seus olhos estavam ardendo.

 — Mas- Karen, tudo isso já era previsível! Não tem nada além disso? — Ele estava sendo bobo a essa altura, mas não conseguia se importar.

 — Desculpa Peter, mas meus sistemas não me permitem hakear a Oscorp — Karen disse, parecendo apológica. — Mas se você está interessado em pesquisas genéticas eu posso encontrar alguns bons livros sobre o assunto, inclusive o do dr. Connors.

 — Não. Eu não quero livros... — Peter se jogou no sofá, encarando o teto da sala por um momento. Ele fechou os olhos e respirou fundo.

 Simplesmente não fazia sentido.

 Não tinha porque Richard deixar isso para trás, ainda mais tão escondido. Algo não parecia se encaixar em tudo isso e Peter se viu pensando e analisando as probabilidades; o que poderia realmente ter acontecido.

 Ele se viu voltando no tempo, um dia antes de seus pais terem sido declarados mortos.

 Richard e Mary não tinha planos para viajar, era apenas um dia normal como qualquer outro. Sol estava brilhando do lado de fora e Peter estava fazendo o dever de casa tranquilamente quando as coisas começaram a ficar estranhas.

 Ele se lembra muito bem desse dia, justamente porque durante muito tempo a única coisa que Peter conseguia fazer era reviver várias e várias vezes a sua última lembrança de seus pais ainda vivos. Ele se agarrou a isso com unhas e dentes.

 Richard chegou em casa um pouco agitado demais, ele não beijou Mary na bochecha e nem ao menos abraçou Peter como costumava fazer, ele simplesmente foi para o seu escritório e pareceu se trancar lá por alguns minutos.

 Peter se lembra que ele foi chamado por Mary, que se ajoelhou na sua frente, forçando-o a deixar o dever de casa de lado e prestar atenção somente no que ela tinha a dizer. Ela costumava fazer isso quando ele entrava em encrencas, por isso Peter ficou com medo apenas pelo gesto.

 — Eu e seu pai vamos ter que fazer uma viajem — Ela disse. — Dois dias no máximo e então voltamos e pegamos você. Pode ficar sozinho por um tempo? Prometo que chamo a Belle pra te fazer companhia

 Peter não argumentou, mesmo que em sua mente ele estivesse se perguntando o porquê de uma viagem tão repentina. Richard e Mary só saiam para coisas assim de vez em quando, e sempre deixavam tudo muito claro uma semana antes de realmente saírem.

 Eles sempre deixavam Peter confortável e o encorajavam a ficar com uma babá, já que ele não podia ir por causa do passaporte.

 Ele apenas acenou, imaginando que isso fosse o suficiente para convencer Mary de que ele ficaria bem sozinho. Então sua mãe se levantou, olhos brilhantes e cheios de lágrimas e o puxou para um abraço.

 O pensamento de que aquele seria o último nem ao menos passou pela cabeça de Peter, em vez disso ele simplesmente retribuiu da melhor maneira que pode, se deleitando no calor de sua mãe como um filho qualquer faria.

 Minutos depois Richard veio, carregando uma maleta pesada em mãos. Ele deu um breve beijo na testa de Peter. Um “boa-noite” silencioso.

 No dia seguinte, Belle, sua babá que não passava de uma adolescente de 16 anos, chegou e seus pais sairam logo em seguida.

 Mary havia lhe dado outro abraço, sussurrada desculpas em seu ouvido e promessas que nunca se cumpriram, mas Peter apenas acenou, acreditando nelas. Porque é isso que uma criança faz.

 Ele era pequeno demais para questionar mais profundamente a maneira como Mary estava assustada, como suas mãos tremiam e nas lágrimas que escorreram pelo seu rosto. Peter imaginou que fosse simplesmente o jeito dela agir na despedida e ofereceu um pequeno sorriso, esperando que isso ajudasse.

 — Eu já sou grande mamãe, vou apenas esperar por vocês — Ele disse, soando confiante demais para uma criança de 10 anos que nem ao menos entendia o básico da vida.

 Mary apenas sorriu, seus olhos brilhando amorosamente.

 Richard não foi tão dramático — na verdade ele estava praticamente puxando Mary para longe —, ele apenas bagunçou seus cabelos e beijou sua testa; um pequeno adeus.

 Peter se lembra que Belle estava tentando passar confiança para seus pais, dizendo que ela cuidaria bem dele e que nada de ruim iria acontecer. Peter se lembra de seu pai falando algo sobre mudança, mas ele realmente não prestou atenção.

 Hoje, ele chegou à conclusão de que deveria sim ter prestado mais atenção, talvez assim ele tivesse uma ideia mais clara sobre o que realmente aconteceu.

 Em vez disso ele apenas acenou e observou seus pais entrarem no carro e desaparecerem de vista, pra nunca mais voltarem.

 De repente ele se perguntou o porquê que Richard esconderia algo assim, porque ele deixou isso para trás nas mãos de Ben quando na verdade poderia muito bem ter levado consigo; era claramente um projeto, algo que ele estava trabalhando e que provavelmente usaria na sua viagem a negócios.

 Peter abriu os olhos, arfando quando percebeu que sua visão estava nublada, e que não tinha nada a ver com os óculos que ainda repousavam em seu rosto.

 Peter piscou, tentando afastar as lagrimas. Não seria a primeira vez que ele choraria pela perda de Mary e Richard, mas ainda assim ele esperava que esse fosse um assunto já superado a muito tempo.

 Ele se perguntou se dr. Curtis Connors saberia ou não sobre o que aquele documento se tratava, se havia também alguma utilidade, se por algum acaso Richard tinha deixado isso para ajuda-lo de alguma forma.

 Só restava uma forma de descobrir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi ao mesmo tempo gostoso e cansativo de escrever, apesar de eu achar que poderia ter sido melhor. O que importa é que estamos avançando no enredo, isso já basta.

Perdoe-me por qualquer erro, revisado as presas, escrito em três horas, as vezes acontece de eu errar!

~~ See Ya Later



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Protocolo - Bebê Aranha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.