Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 21
Por Trás Das Portas


Notas iniciais do capítulo

Olá! Gostaria apenas de dizer se, caso esteja lendo isso, eu recomendo que se deite no seu lugar favorito para ler, de preferencia quando não tiver nada melhor pra fazer, e aproveite esse capítulo GIGANTE com paz e tranquilidade!

~~ Boa Leitura



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776338/chapter/21

  — Me desculpa por isso — Gwen murmurou, de um jeito quase tímido e inaudível. Havia uma hesitação clara em sua voz, como se ela não soubesse se isso era o certo a dizer. Ainda assim, essa pequena frase era louvável, porque ela estava pelo menos tentando.

  Diferente de Peter, que estava quieto, sem fazer nem mesmo um pequeno murmúrio em resposta. Essa era uma situação estranha; uma onde Peter não sabia o que fazer ou o que pensar, até mesmo o que dizer. Era como andar por cima de ovos, e ele não estava fazendo um bom trabalho em mantê-los intactos.

 Ele simplesmente não podia encara-la; não tinha forças e nem coragem para isso. Parecia ser um enorme esforço simplesmente levantar a cabeça e tentar oferecer um sorriso simpático — ele duvidava que pudesse fazer isso, mas ainda assim seria alguma coisa além desse desconforto que pairava sob ambos.

 Como uma espécie de assombração, mais uma vez as coisas do seu passado voltaram para perturba-lo. Dessa vez, entretanto, ele estava fazendo um enorme esforço para encarar isso com a cabeça erguida, assim como MJ o encorajou, mas seus esforços pareciam em vão. Nesse momento Peter queria apenas deitar na sua cama e se esconder de todos.

 Principalmente do capitão Stacy.

 Ele se lembra claramente daquele dia, e provavelmente nunca será capaz de esquecer — já que foi nesse dia em que as coisas começaram a dar certo, só que do jeito errado. Mas por mais que cada detalhe esteja claro em sua memória, Peter não se lembra dos seus sentimentos em relação ao capitão. Haviam tantas coisas na sua cabeça naquele momento, que ele nem ao menos registrou algum sentimento sobre o homem que estava na sua frente, mas em sua defesa, ele realmente acreditou que nunca mais o veria.

 Ele imagina que tenha o achado autoritário, e como qualquer outra autoridade, um pouco intimidante, mas o sentimento não é claro.

 Seja o que for, não muda o fato de que o capitão não o vê com bons olhos. Provavelmente em sua mente, Peter ainda é um pequeno ladrão de mercearia sem esperanças de um futuro, e quando o jovem aranha pensa nessa perspectiva, sente um arrepiou subir pela sua espinha. Ele não sabe se de fato mudou desde daquele dia, se é melhor agora do que antes, pois quando ele olha pra trás, percebe que no fundo ele ainda continua o mesmo.

 Peter realmente não se importa com a opinião do capitão Stacy sobre ele — ele já parou de se importar com o que as pessoas aleias pensam dele; os que importam são aqueles que estão ao seu redor e que fazer, de certa forma, parte da sua vida —, mas ele sente que de um jeito ou de outro, isso vai influenciar na maneira como Gwen o vê.

 Peter não queria perder sua amizade. Muitos talvez não percebam, mas a amizade de alguém é realmente valiosa, e Peter nunca teve o privilégio de ser rodeado por amigos no colégio, então sim, ele queria preservar todo esse relacionamento que ele criou com Gwen. Mas agora, parecia que tudo isso não tinha valido a pena. Ele sente, no fundo, que vai perder isso.

 E não há nada para ser feito, porque o Peter ladrão e o Peter gênio são o mesmo. Ele continua o mesmo.

 E provavelmente nunca vai mudar. Era apenas a sua típica e única sorte, e Peter não consegue entender o porquê de ainda ficar surpreso com isso.

  Gwen, felizmente, não estava fazendo tantas perguntas — fora a primeira, que resultou num olhar envergonhado de Peter e um grunhido baixo do capitão. Claro, ainda havia aquele olhar turvo, curioso e cético que ela lhe dava a cada dois segundos, e isso já era o suficiente para deixar explícito que ela estava, no mínimo, curiosa.

 Peter sabia que não podia durar para sempre; ele teria que explicar as coisas, mas a história era longa, cansativa e ele ainda não conhecia nenhum modo de deixa-la mais simplificada. Além do mais, ele não consegue imaginar um cenário onde isso acabe bem; com Ned foi sorte, e talvez isso tenha esgotado a sua cota.

 Peter deveria estar agradecido por Gwen ter percebido o clima pesado e o arrastado para seu quarto, mesmo que agora mantivesse uma certa distância entre os dois. Ele não pode fazer nada além de respeitar seu espaço e rezar interiormente para que as coisas acabassem bem.

 Pelo menos, do melhor jeito possível.

 — Tudo bem — Ele murmurou, soando um pouco distante. Ele tinha certeza que passou os últimos minutos um pouco alienado, mas isso não era a sua culpa. — É... compreensível

 Peter puxou o caderno para fora da mochila e o abandonou em cima do tapete felpudo onde ele e Gwen estavam sentados, um de frente para o outro, mas ainda com espaço o suficiente para que nenhum dos dois ficassem desconfortáveis com a proximidade. Era enervante, apenas o deixou mais consciente do clima pesado que pairava sobre ambos.

 Peter odiava esse clima, odiava esse peso e essa tensão. Ele queria apenas que as coisas não fossem tão complicadas, isso tornaria a sua vida muito mais simples.

 Ele se encontrou por longos segundos apenas encarando a capa do seu caderno, buscando ali nos desenhos estampados um pouco de coragem, de força, para talvez encarar isso. Era bobo — parecia bobo até mesmo para ele —, mas Peter não controla as suas emoções. Ele pode ser o Homem-Aranha, pode demonstrar coragem quando a máscara cobre seu rosto, mas quando está sem ela, ele é apenas o Peter.

 E Peter é fraco, inseguro em certos momentos e talvez um pouco empolgado demais com coisas pequenas — como filmes ou aquele novo canal no Youtube que ele descobriu por acaso. Ele, de certa forma, é frágil demais, e ainda assim quer preservar os pequenos privilégios que a vida ainda lhe dá.

 Foi só agora, olhando os contornos de um desenho estampado na capa de um caderno, que Peter percebeu que ele dá valor demais para as pequenas coisas. Talvez esse seja o seu erro; ele deveria estar agradecido porque agora sua vida está bem melhor do que antes — que talvez a companhia de uma amiga não faria tanta falta quanto um prato de comida —, mas ele não pode evitar. Já esteve sozinho, e se não fosse por MJ, ele ainda estaria sozinho.

 Então sim, ele quer preservar isso.

 — Eu- — Peter arregalou os olhos quando finalmente teve coragem para abrir a boca, apenas para ser interrompido por Gwen, que também pareceu criar coragem para falar.

 Seus ombros caíram com um suspiro e ele finalmente levantou a cabeça para encarar a amiga — se é que ainda podia chama-la de amiga. Ele estava pronto para falar; para tentar explicar as coisas do melhor jeito possível, mas sentiu a extrema necessidade de deixar Gwen falar primeiro.

 — Você primeiro... — Ele murmurou, alto o suficiente para que Gwen ouvisse e acenasse em concordância. Ela exalou, claramente aliviada por receber essa abertura.

 Estava mais do que claro que ela estava ansiosa por uma explicação.

 — Não estou julgando você, nem nada do tipo — Ela disse, levantando as mãos para esfregar os olhos como se isso fosse ajudá-la a se organizar. Peter sentiu seus ombros enrijecerem como pedras e ele simplesmente congelou. O medo estava revirando em seu estômago, mas ele não sabia com exatidão o porquê desse alvoroço. — Eu disse, tenho um julgamento diferente do meu pai, mas o que aconteceu agora pouco foi... bizarro. Digamos que eu o conheço por tempo o suficiente para saber que ele não iria tratar nenhum amigo meu assim, com essa “estranha hostilidade”...

 Peter se encolheu em seu pequeno canto, desejando que ele pudesse se tornar menor e menor até sumir por completo, assim essa tortura acabaria. Ele já estava tentando buscar um jeito de organizar as palavras e dizer alguma coisa que não piorasse a situação.

 — Só quero que me diga como vocês se conheceram. É apenas o que eu preciso saber — Ela disse de forma mansa, abaixando as mãos para lançar um olhar quase suplicante para Peter. Seus olhos azuis brilhando com algo que parecia esperança. Ela o estava encorajando, mesmo que de longe.

 Peter não sabia como se sentir quanto a isso, com toda essa aura compreensiva que Gwen parecia exalar com apenas um olhar. Era reconfortante, de certa forma, mas ainda assim não foi o suficiente para lhe dar a coragem necessária.

 Mas desde quando as coisas são fáceis? Peter já deveria estar acostumado com isso.

 — Eu fui detido uns tempos atrás — Peter disse, com mais firmeza e coragem do que imaginou que teria. Naquele ponto, ele estava apenas encarando o rosto de Gwen em busca de algum recuo, mas não havia nem mesmo uma pequena sombra de desgosto em seus olhos. — Acho que ele não gostou muito de mim

Com isso Gwen riu, um som descontraído em meio a tensão. Peter deixou seus ombros relaxarem, pois isso com certeza era um bom sinal.

 Pelo menos ele gostava de pensar que era um bom sinal.

 — Essa não é muito a cara dele — Gwen balançou a cabeça, um sorriso ainda espreitando seus lábios. — Sem ofensas, mas é preciso bem mais do que um puxão de orelha para causar uma má impressão no meu pai. Deve ter acontecido alguma outra coisa

 Peter suspirou, buscando agora alguma coisa para brincar e assim poder aliviar um pouco da sua própria ansiedade. A única coisa ao seu alcance era uma caneta, e ele passou a roda-la entre os dedos.

 — Eu fugi — Ele declarou com um encolher de ombros. — Acho que isso me dá alguns pontos

 Para a sua surpresa, Gwen não disse nada. Ela apenas o encarou por um tempo muito, muito longo. Peter podia ver as engrenagens funcionando em sua cabeça, como se ela estivesse começando a desvendar algum tipo de mistério. Ele deixou a caneta cair, e deu toda a sua atenção para a loira.

 Ambos se encararam, por longo segundos que pareceram intermináveis. Peter estava se perguntando se havia algo errado com Gwen, até que os olhos da loira se arregalaram e ela soltou uma gargalhada particularmente alta.

 Peter foi pego de surpresa, tão de surpresa que ele se encontrou se inclinando para trás com uma pequena pontada de receio. O surto de risos veio do nada, e sem um motivo aparente; a única coisa que ele fez foi ficar ali, com a boca entreaberta, olhando para a loira enquanto a mesma caia em cima do tapete felpudo, ainda gargalhando de forma que sem dúvidas deveria ser dolorosa.

 — Eu não acredito! — Ela disse em meio aos risos, de forma tão ofegante que Peter se sentir preocupado. A única coisa que o prendia ainda longe de Gwen era o receio; o receio de que algo estava extremamente errado. Então ele apenas observou quando a loira se recompôs, agora com o cabelo bagunçado, com lágrimas divertidas em seus olhos e um enorme sorriso cheio de dentes. — Então é você!

 A acusação também o pegou de surpresa.

 — Eu o quê? — Perguntou, se sentindo um pouco confuso com a estranha cena na sua frente. Foi quando Gwen se inclinou para frente e, como se fosse contar um segredo, falou;

 — Deus! Meu pai chegou em casa reclamando depois daquele dia! Ele estava insuportavelmente rabugento. Até o senhorio passou longe! — Ela secou as lágrimas que estavam presas em seus olhos e respirou fundo. Peter apenas observou, agora um pouco mais calmo, quando Gwen lhe lançou um olhar divertido, brilhante. — Seu pai não ficou muito feliz quando descobriu que você fugiu

 Peter arfou, percebendo pela primeira vez o olhar simpático no rosto de Gwen.

 Ela sabia.

 Ele deixou seus ombros caírem com um suspiro pesado, se sentindo infinitamente mais leve de certo modo. A percepção disso tudo o atingiu, e Peter não pode fazer nada além de soltar uma risada ofegante.

 Ela sabia. Ela tinha ligado os pontos de um jeito tão rápido e simples que Peter se encontrou perdido. Ele não precisava fazer nada, contar nada; Gwen sabia, e abrir a boca agora era praticamente inútil.

 Ainda assim uma pergunta pairou sobre a sua cabeça.

 Como?

 — Você sabe — Ele afirmou. — Como?

 Gwen novamente riu. Para ficar um pouco mais próxima dele, ela se arrastou pelo tapete e praticamente jogou o caderno que antes estava descansando bem na frente dele para o lado. Assim, agora ambos estavam bem próximos, próximos o suficiente para que Peter pudesse ver as manchas de verde em seus olhos azuis.

  — Meu pai costuma chegar em casa todas as noites e falar sobre seu dia no trabalho. Eu me lembro de quando ele ficou emburrado e reclamou sobre você durante umas duas horas enquanto eu tentava assistir Stranger Things. Não tinha sido um dia muito bom na delegacia. Cinco policiais foram presos por corrupção, teve um assassinato em Hell’s Kitchen, um criminoso procurado fugiu da prisão. Meu pai estava mais do que cansado naquele dia — Ela disse, deixando escapar um suspiro quase que aliviado. — Você e seu pai foram apenas a cereja do bolo

 Peter piscou ofereceu um sorriso, um real dessa vez. O alivio que recaiu sobre seu corpo era imenso, até que ele percebeu que toda essa aversão que o capitão Stacy sente não é em relação a ele, e sim em relação ao seu pai; ao Tony.

 Peter sabia que muitos não gostavam de Tony por causa das armas que ele criou anos atrás; que toda essa fama ainda se arrastra atrás dele como uma sombra. Mas ele não esperava que um capitão da DP fosse assim.

 A menos, é claro, que Tony tenha feito alguma coisa naquele dia, e conhecendo seu pai, Peter sabe que isso é bem provável. Tony tende a ser um pouco impulsivo, coisa que tanto Happy quanto Pepper já lhe disseram.

 Ambos tinham histórias muito malucas sobre Tony e seu temperamento impulsivo. Sem dúvidas a mais famosa de todas era sobre o Mandarim.

 — Você tem uma boa memória — Ele comentou a primeira coisa que veio a sua cabeça, uma pequena observação que causou uma risada em Gwen.

 — Se aprende muitas coisas quando seu pai é um policial — Ela deu de ombros, como se isso não fosse algo legal. O gesto foi descontraído, e Peter se sentiu feliz por toda aquela tensão ter ido embora. — Devo conhecer pelo menos uns 30 comandos de emergência

— Isso é útil

 — Espero nunca ter que usar

 Houve uma pausa pequena entre os dois. Tempo o suficiente para que Peter voltasse a pegar seu caderno, Gwen seguindo seus passos, e assim ambos estavam preparados para terminar esse trabalho. Que era justamente o que ele tinha vindo fazer aqui em primeiro lugar.

 Gwen não perdeu tempo, parecendo já saber perfeitamente o que tinha que fazer. Peter não duvidava que ela já tenha dado uma lida nas perguntas antes de ele aparecer; isso é totalmente a cara dela.

 — Mais alguém sabe? — Gwen perguntou, sem olhar para cima e completamente focada nas perguntas a sua frente.

 — MJ sabe — Ele disse completamente no automático. E só então se lembrou de Ned e Betty. — Ned e Betty também. Eles são os únicos que sabem

 Com isso Gwen largou seu lápis, poupando um olhar ofendido para Peter.

 — Só eu não sabia? — Perguntou, num tom puramente ofendido. Peter não pode se segurar e soltou uma risada.

 Seu rosto agora estava queimando. Não é como se ele pudesse controlar isso; Betty e MJ sempre souberam, e ele só contou a Ned porque ele é seu melhor amigo e merecia saber o que acontecia com ele.

 — Em minha defesa, MJ e Betty sempre souberam. Ned descobriu ontem — Ele explicou, ignorando a ardência de suas bochechas.

 Gwen apenas sorriu, parecendo ampliar ainda mais.

 — Você é um péssimo amigo, Stark — Gwen disse, mas seu tom de voz era puramente lúdico. Ela lhe deu uma cutucada, e quando Peter desviou o olhar das perguntas a sua frente, encontrou com seu rosto sorridente.

 Ele sorriu de volta.

...

 — Você não precisa fazer isso, querido

 — Mas eu quero ajudar. Não me sentiria bem se não fizesse

 — Mas você é o convidado! Convidado nenhum põe a mesa

 — Então agora eu estou convidando a senhora

 Gwen não pode evitar o pequeno sorriso em seu rosto. A conversa que Peter estava tendo com sua mãe era hilária. Um tipo de discussão boba e sem sentido; ela realmente apreciava esse tipo de brincadeira.

 — Eu ainda não gosto dele — Seu pai murmurou ao seu lado.

 Ambos estavam escondidos no corredor, apenas ouvindo de longe a conversa que parecia ser a discussão mais sem sentido do mundo. Gwen havia se separado de Peter a apenas alguns minutos para poder colocar uma roupa mais leve — ela teria que sair em meia hora se quisesse chegar as Industrias Oscorp antes que o novo estagiário aparecesse, o que era exatamente o plano.

 Demorou, mas o Dr. Connors finalmente achou um substituto para Anya. Gwen não estava mais aguentando fazer o trabalho de duas pessoas em suas tardes, era simplesmente demais para ela lidar. Costumava fazer as pesquisas e ajudar o doutor apenas por algumas horas, e então tomava uma hora do seu estágio para se dedicar a trabalhos próprios — suas pesquisas que não passavam de rascunhos mal feitos e que nunca chegavam a uma conclusão —, mas isso foi anulado quando Anya saiu.

 Gwen sentiu saudades da companheira logo no primeiro dia, percebendo a falta que a morena fazia em cada canto do laboratório. O sentimento de que algo estava faltando se agarrou a ela por isso. Claro, a falta da companheira não era por causa do trabalho, mas porque Anya estava facilmente se tornando sua amiga; mas então ela saiu e Gwen ficou sozinha novamente.

 Dr. Connors não disse nada sobre o novo estagiário. Nem o gênero, nem a idade e muito menos da onde ele surgiu. Não era muito comum da Oscorp contratar gente quase que no meio do ano — na verdade, era incomum da Oscorp contratar estudante do ensino médio, mas Norman Osborn é meio maluco então ela não vai julga-lo. Mas Gwen estava grata.

 Ela iria se desgastar antes das férias de verão começarem, isso iria atingir suas notas e então ela poderia perder o estágio — era uma espécie de efeito dominó. Então sim, ela estava feliz por ter uma ajuda, por mais que tivesse que começar todo o processo de civilização desde o início.

 Gwen não tem problema em falar com as pessoas, seu problema é fazer amigos. Ela não sabe por quanto tempo ainda vai ficar em Midtown, e por isso é errado que ela se apegue ao Peter e companhia.

 Ela já sabe como será o final disso, mas não pode se impedir de pelo menos ter companhia.

 — Dê uma chance — Gwen murmurou, oferecendo um sorriso simples para o pai. — Ele é um bom amigo

 George não respondeu imediatamente, em vez disso, ele deu mais uma olhada no garoto que agora estava ajudando sua esposa a pôr a mesa para o almoço. Gwen observou seu pai; seu sorriso nunca vacilou.

 Ela o conhecia por tempo o suficiente para saber que ele não tinha nada contra Peter; George era o tipo de pessoa que acreditava em segundas chances, e talvez Gwen tenha puxado isso dele, pois não pode deixar de acreditar nas pessoas.

 — Estarei de olho nele — George disse por fim, cruzando os braços por cima do peito em uma pose quase que ameaçadora. Gwen riu da tentativa quase falha de seu pai de parecer um pouco mais intimidante.

 Ele não podia transmitir essa imagem, principalmente quando estava usando pantufas cor-de-rosa.

 — Tá bom — Ela disse, soando um pouco mais sarcástica do que pretendia originalmente.

 George não vacilou, ele continuou com aquele olhar penetrante em seu rosto. Gwen apenas revirou os olhos.

 — Será que o capitão vai ficar aí parecendo uma estátua ou vai vir almoçar? — Gwen perguntou, brincando com seu pai apenas para causar um sorriso no rosto carrancudo. Ela ficou ainda mais sorridente quando percebeu que seu truque funcionou.

...

 Surpreendentemente, tudo ocorreu bem. Melhor do que Gwen poderia imaginar — tirando o fato de que ela basicamente inalou a comida para poder sair no horário. Ainda assim, George e Peter não trocaram muitas palavras, apenas o que era realmente necessário. Helem, por outro lado, pareceu amar Peter e por isso acabou fazendo diversas perguntas para o pobre garoto.

 Gwen apenas observou a cena, sorrindo para si mesma enquanto sua mãe perguntava ao amigo qual faculdade ele queria fazer, o que seria dele depois da escola e quais eram os planos do futuro.

 Infelizmente, ela precisou sair, arrastando Peter com ela. Ele se ofereceu de bom grado em acompanha-la até as Industrias Oscorp, e no caminho ambos apenas jogaram o papo fora. Parecia que o estranho clima aquela manhã nem mesmo tinha acontecido.

 — É... bem óbvio — Peter comentou quando ambos se aproximaras das Industrias Oscorp.

 Ele estava descaradamente olhando para a enorme torre que se elevava sob os céus de Manhattan. Era óbvio e egocêntrico, com as letras e o nome da empresa gravados bem a cima; era impossível passar despercebido, principalmente quando a noite caia e as luzes neon se acendiam.

 Gwen franziu as sobrancelhas. Peter não tinha muita moral para reclamar da Torre da Oscorp, considerando que a Torre onde ele morra é mil vezes mais chamativa.

 — Olha só quem fala — Ela bufou, não podendo esconder o sorriso que insistia em aparecer. —  Não sei se você sabe, mas tem um enorme “A” gravado do lado de fora da sua casa

 Peter encolheu os ombros, e por um momento Gwen pensou que ele não fosse responder.

 — É mais estiloso — Peter deu de ombros, um sorriso fácil tomando conta do seu resto. Gwen balançou a cabeça em resposta, não tendo nenhum argumento contra isso.

 De fato, a Torre dos Vingadores era bem mais estilosa que a Oscorp. Talvez o toque pessoal de Pepper Potts tenha feito todo o trabalho.

 — É aqui onde nos separamos — Gwen disse, fingindo um tom melodramático. Ela se virou para Peter, acenando com a cabeça para dentro do hall de entrada da Oscorp. — Aonde você vai agora?

  Para a sua surpresa, Peter não hesitou em responder.

 — Eu tenho algumas coisas para fazer — Ele disse, alcançando então sua mochila apenas para tirar de dentro dela uma câmera fotográfica. Gwen levantou uma sobrancelha. — Mas antes eu espero que não se importe em ser uma modelo por 5 segundos

 Gwen bufou, revirando os olhos cheio de humor. Ela demorou um pouco para perceber que Peter estava falando sério.

 — Isso é sério? — Perguntou, levantando uma sobrancelha acusatória para o amigo que respondeu apenas com um encolher de ombros.

 — Estou na missão de tirar uma foto de todos os grandes edifícios em Manhattan — Ele disse, um sorriso simples e sonhador brotando em seu rosto. Gwen suspirou, percebendo que isso era sério.

 — Certo — Ela concordou. Apesar de não ser nenhum pouco fotogênica, Gwen nem ao menos considerou negar essa oportunidade, principalmente quando Peter estava de volta a sua aura animada de sempre.

 Tinha sido perturbador ver ele tão sério e desanimado de aquela manhã. Era um pouco estranho imaginar que Peter poderia ficar triste, considerando que ele está sempre sorrindo abertamente e fazendo suas referências que em grande parte Gwen nem ao menos entende. Bem, ele é um nerd, então Gwen imagina que isso seja normal.

 Ela está aliviada pelo clima ter voltado, e não estava disposta a estragar tudo agora.

 — Qual é o meu melhor ângulo? — Gwen perguntou, colocando as mãos na cintura apenas para fazer uma pose exagerada como se estivesse em um ensaio fotográfico sério. Ela se esqueceu completamente que estava no meio de uma calçada movimentada e que pessoas estavam andando logo atrás dela.

 Peter sorriu, e para a sua surpresa, ele se agachou na calçada, levantando a câmera na frente do rosto como se fosse um fotografo profissional. Gwen não segurou uma risada, em parte envergonhada e em parte divertida e surpresa. Peter parecia não ter nenhum senso de autopreservação.

 — Não olhe pra mim, olhe pra frente — Peter disse, ainda soando divertido. Gwen apenas revirou os olhos e fez o que ele disse.

 Em menos de três segundos a foto havia sido tirada e Peter estava agora novamente de pé ao seu lado.

 — Eu quero essa foto — Gwen disse, tentando dar uma espiadinha na foto, mas Peter foi mais rápido e tirou a câmera do seu alcance como se fosse um segredo pessoal.

 — Desculpa — Peter encolheu os ombros em uma culpa fingida, nem ao menos se dando ao trabalho de esconder o sorriso em seu rosto. — Conteúdo privado

 — Você é terrível Peter — Gwen disse, balançando a cabeça de um lado para o outro, mas ainda assim havia um sorriso em seu rosto. — Te vejo segunda

 — Até segunda

 Dito isso, ambos se separaram. Peter se virou para as ruas movimentadas de Manhattan e Gwen para a sede da Oscorp logo atrás dela. Mesmo sendo um sábado, ela podia ver a movimentação dentro do lugar, com pessoas, funcionários e cientistas andando para a cima e para baixo.

 Ela entrou, sendo instantaneamente rodeada pelo ambiente que se tornou familiar nos últimos anos. Com o crachá em mãos, ela passou pela catraca, sorrindo amigavelmente para os funcionários que a reconheciam em meio a quantidade de gente andando.

 Gwen imaginou que estivesse acontecendo algum tipo de reunião com os grandes, já que a Industrias Oscorp geralmente não é tão movimentada assim ao menos que Norman Osborn esteja ao redor. O que sem dúvidas é o caso hoje.

 Felizmente, Gwen nunca precisou encontrar com Osborn pessoalmente — o que e si é um grande alivio, já que o dr. Connors geralmente não cala a boca sobre Osborn e seu ego insuportável —, então ela não pode dizer com confiança o tipo de pessoa que ele é. Os boatos não são bons, e ela não duvida deles.

 Gwen se aproximou do elevador de serviço e parou na sua frente, esperando que as portas se abrissem. Demorou um pouco, mas ela logo se encontrou dentro do elevador, não perdendo tempo em apertar o andar das pesquisas.

 Pouco tempo depois, Gwen ouviu passos e uma nova figura estava junto dela no elevador.

— Gwen! — Professor Miles Warren a cumprimentou, exibindo um grande e quase gentil sorriso.

 Prof. Warren era um dos três cientistas chefes da Oscorp. Ele era um dos grandes, e por mais que Gwen nem ao menos chegue perto do seu laboratório durante o estágio, ainda era bem fácil encontrar com o homem nos corredores da Oscorp. Ele parecia estar em todo lugar, surgindo nos momentos em que ela estava mais distraída.

 Particularmente, Gwen não tinha uma opinião formada sobre o cientista. A única coisa que ela sabia sobre ele é que ele foi um professor na Universidade Empire State antes de ser contratado por Norman. Ele tinha algum tipo de pesquisa envolvendo clones — Gwen tem certeza de que não é apenas isso, mas o dr. Connors sempre se refere as pesquisas do prof. Warren assim.

 Como uma pessoa educada, Gwen sorriu levemente e acenou em um cumprimento.

 — Dr. Warren — Ela o saudou, se limitando apenas a isso.

 Quando as portas do elevador se fecharam e a caixa de metal começou a subir, Gwen sabia que seriam os mais longos segundos da sua vida. Não que ela não goste do prof. Warren, mas é que sempre que ele está ao seu redor, ele insiste em conversas da maneira mais estranha, quase que se metendo em sua vida com uma estranha curiosidade. Gwen não sabe dizer se isso acontece somente com ela, ou se ele faz isso com todos os jovens talentos que trabalham na Oscorp. De qualquer jeito, continuando sendo um pouco perturbante.

 — Não sabia que fazia hora extra — Ele comentou ao seu lado. Desde que ela o conheceu, Prof. Warren nunca teve problemas em iniciar uma conversa.

 — Dr. Connors precisa da minha ajuda — Ela disse com um aceno de cabeça. Essa afirmação sendo a única coisa que veio a sua mente como resposta.

— Você deve ter trabalhado bastante essa semana — Ele meditou em voz alta e então se virou para Gwen com um olhar curioso. — O que aconteceu com a sua amiga, a Corazon?

 Gwen em remexeu em seu lugar, mudando o peso de um pé pro outro em puro desconforto.  Ela realmente não queria falar sobre Anya, principalmente com uma pessoa que não trocou nem duas palavras com a morena em todos os messes que ela trabalhou na Oscorp.

— Ela se mudou — Gwen murmurou, esperando que seu tom não deixasse tão explicito o seu desconforto com o assunto, mas ao mesmo tempo querendo deixar isso de lado. — Problemas familiares

 — Ah certo. Bem, acontece — Novamente, ele ofereceu um sorriso reconfortante. — Ouvi dizer que o substituto é bem inteligente. Ele certamente estará à altura

 Isso pegou a atenção de Gwen, ao mesmo tempo que o andar de destino chegava.

 — Você sabe alguma coisa sobre ele? — Ela perguntou, ao mesmo tempo em que as portas do elevador se abriram e o corredor familiar aparecia a sua frente.

 — Não muito. — Ele disse, dando de ombros. Gwen saiu do elevador, mas antes que as portas fechassem, ela pode ouvir o prof. Warren falar. — Acho que vocês vão se dar bem

 Gwen sorriu para isso, porque ela realmente esperava que fosse verdade. A última coisa que ela queria agora eram problemas com seu novo colega no trabalho.

 Gwen se virou, andando pelo enorme corredor, com a vista de Manhattan logo ao seu lado em toda a sua beleza. Ela continuou seu caminho pelo corredor até chegar ao laboratório do dr. Connors; apenas para encontrar o lugar completamente vazio.

 Não havia nenhum dos típicos funcionários da Oscorp ao redor — o que apenas comprovou a sua teoria anterior —, as enormes maquinas estavam desligadas e não havia nem mesmo o som de animais ao redor — coisa que é sempre bem comum quando se trabalha com Curtis Connors.

 — Doutor? — Gwen praticamente gritou para o laboratório vazio, recendo apenas o eco da sua própria voz em resposta.

 Gwen suspirou, percebendo que talvez ela estivesse um pouco adiantada demais. Ainda assim, ela deixou sua bolsa de lado e pegou seu jaleco, passando então o crachá por cima do pescoço.

 — Dr. Connors?! — Ela chamou novamente, se aventurando agora em direção ao escritório do cientista; o lugar onde ele mais fica quando está trabalhando.

 Como qualquer outra pessoa educada, ela bateu na porta antes de entrar. Porém, quando abriu a aporta, foi recebida pela escuridão completa, o que a surpreendeu.

 — Dr. Connors? — Ela perguntou, e dessa vez recebeu como resposta um pequeno gemido de desconforto.

 Com um suspiro pesado, ele apertou o interruptor do escritório e então as luzes se acenderam, e finalmente Gwen pode ver a figura do dr. Connors curvada sobre a mesa, rodeado por papeis, pastas e tubos de ensaios cheio com uma substancia verde. Ele estava roncando, claramente adormecido a horas na pior posição possível. Ela revirou os olhos.

 Felizmente, Gwen não precisou fazer muita coisa. Logo o dr. Connors já estava piscando os abertos, tentando primeiramente entender a onde ele estava.

 — O senhor passou a noite aqui? — Ela perguntou, levantando uma sobrancelha para o homem que aos poucos se endireitava na cadeira, nem ao menos se dando um trabalho de reprimir um gemido.

 Ele parecia deplorável. Cabelos espetado por todos os lados e também grudados em seu rosto por causa do que pareceu ser suor. Ele nem ao menos estava usando seu jaleco usual, em vez disso a camiseta preta estava suja e amarrotada.

 Ostentava as olheiras de quem passou a noite inteira acordado.

 — Gwen? — Ele perguntou, voz grogue de sono. Gwen apenas suspirou para a visão deplorável de seu chefe. — Já amanheceu?

 Gwen balançou a cabeça negativamente e cruzou o escritório em passos largos, indo direto para as janelas que estavam cobertas por cortinas que omitiam completamente a luz do sol. Ela as puxou aberta, e então os raios fortes estavam por todo lugar.

 — Boa tarde, doutor — Ela sorriu amigavelmente, soando, de forma praticamente inconsciente, um pouco sarcástica demais.

 Dr. Connors apenas sorriu.

 — Acho que perdi o despertador — Ele murmurou, olhando ao redor um pouco perdido. Por fim, dr. Connors olhou para baixo, para os papeis espalhados pela mesa.

 O escritório do seu chefe sempre pareceu ser bagunçado, não importa o quão organizada Gwen seja. As coisas simplesmente não ficavam no lugar. Ainda assim, a coisa que ela mais odiava era as gaiolas.

 Gwen não sabe dizer se o dr. Connors queria reproduzir um zoológico ou algo parecido, mas 3 gaiolas, duas de vidros e uma de metal, decoravam seu escritório. A maior de toda, que ficava justamente atrás da mesa e era a primeira coisa que qualquer um que entrasse no escritório via, aprisionava dentro um lagarto relativamente pequeno, considerando que Gwen já tinha visto maiores ao redor do laboratório.

 As vezes ela ficava atônica com o quão bem o dr. Connors tratava esse ser, como se fosse um animal de estimação domado, e não um animal selvagem perigoso que poderia literalmente arrancar seu outro braço.

 A outra gaiola ficava do outro lado da sala, bem longe da janela e sustentada por uma mesa pequena de madeira polida e elegante. Essa a assustava bem mais do que a do lagarto, pois aprisionava não uma, não duas, mas três aranhas gigantescas.

 A gaiola era separada em compartimentos, considerando que as aranhas certamente se matariam se ficassem no mesmo habitat. Eram resultantes de experimentos bem-sucedidos — talvez um dos primeiros que o dr. Connors realizou aqui na Oscorp —, e desde que Gwen começou a fazer o estágio na Oscorp elas estavam ali — provavelmente, permanecerão por muito mais tempo.

 Gwen já olhou tempo o suficiente para elas para perceber que não fazia a menor ideia de qual espécie eram. Parecia uma mistura, ela não sabia dizer ao certo, mas a coisa que mais se destacavam sobre as aranhas eram as suas cores. Havia uma preta e vermelho, tão grande quanto uma tarântula; a outra era estranhamente branca e ainda tinha uma que era negra como ébano.

 Gwen sempre sentia arrepios toda vez que olhava para aquelas aranhas. Não que ela tivesse medo ou nervosos, ela apenas não era a fã número um dos aracnídeos.

 Por fim, havia a última gaiola. Gwen estava acostumada em vê-la abandonada ao lado das aranhas — o que lhe dava certa agonia. Era uma gaiola de ratos, dois pequenos ratinhos em especifico, ambos com apenas 3 pernas. Dr. Connors tinha algum tipo de fixação com eles, e sem dúvidas não era porque ambos eram cobaias.

 Hoje, porém, a gaiola estava aberta, largada ao lado dos tubos de ensaio em cima da mesa. A primeira coisa que Gwen notou quando olhou para os dois minúsculos ratos foi que um deles, o menor de todos, estava exibindo 4 patas. O que não podia ser real, já que Gwen sabia perfeitamente que ele tinha apenas 3.

 Gwen percebeu o que tinha acontecido antes mesmo que ele explicasse.

 — Isso... — Ela apontou para os papeis e depois para a gaiola os olhos agora arregalados em espanto.

 Gwen sempre teve medo desse dia, o dia em que as pesquisar do dr. Connors dariam certo. Era assustador pensar que ele realmente chegaria a isso, mas mesmo olhando de longe para os papeis e para os tubos de ensaio, ela percebeu que ele estava cada vez mais perto de resultados positivos.

 E o rato que ela havia aprendido a cuidar exibindo uma quarta e perfeita perna apenas aumentava as chances de que isso um dia seria possível.

 Por isso o medo e o receio recaíram sobre ela como chumbo, e foi preciso uma grande quantidade de esforço para mascara-lo de forma que o doutor nem percebesse. Gwen nunca pensou que ela teria que lutar contra as suas emoções assim, mas não parecia haver outra alternativa.

 Felizmente, ela era boa nisso.

— Oh meu Deus... — Gwen deixou escapar, o medo facilmente sendo confundido com espanto em sua voz.

 Gwen se inclinou um pouco para frente, apenas um pouco, podendo assim dar uma olhada bem melhor no pequeno ratinho. Seus olhos ainda estavam amplamente arregalados em puro espanto. Dr. Connors facilmente confundiu sua reação como algo positivo, e se apressou a explicar.

 — Incrível, não? — Ele disse, se levantando de sua cadeira com um enorme sorriso cheio de dentes no rosto. Ele parecia radiante, como se tivesse acabado de descobrir um novo planeta e estava prestes a revelar ao mundo isso.

 Gwen se sentiu mal. Se sentiu mal porque ela não compartilhava o mesmo sentimento. Ela estava apavorada. Era um avanço incrível, um passo enorme para a cura de milhares e milhares de doenças, mas a sua mente só consegui pensar nas consequências que isso poderia acarretar.

 Nada além disso. Ela não podia ficar empolgada.

 Os problemas que isso acarretaria eram inimagináveis. Sim, era bom, mas ninguém — nem mesmo as pesquisas mais avançadas — era capaz de prever os efeitos colaterais; com tudo que Gwen sabe, eles poderiam muito bem-estar criando um monstro com isso, e não dá nem mesmo pra saber que tipo de monstro seria.

 Ela engoliu em seco, pensando em suas pesquisas esquecidas. A um tempo atrás, quando ela entrou para a equipe, ela imaginou que pudesse impedir que algo assim acontecia. Era apenas um esboço, uma formula que ela pensou que seria útil, mas então Gwen percebeu que as chances da pesquisa do dr. Connors dar certo eram bem baixos; então ela deixou de lado.

 — Espetacular — Ela disse, sem animo por trás das palavras.

 Aquela formula estava em algum lugar no seu armário, misturado com um monte de pesquisas abandonadas. Ela teria que vasculhar seu armário, mas se essa pesquisa pudesse ser útil agora, então ela usaria.

 — Estamos a um passo, apenas um passo — Dr. Connors disse, parecendo bem mais acordado e disposto, com uma certa aura animada pairando sobre ele. Gwen sorriu para a visão, percebendo que eram raras as vezes em que ela o viu assim, tão animado. — Eu não posso parar agora

 Seu sorriso morreu.

 — Discordo totalmente — Ela disse, sua voz máscara da forma mais precisa possível, escondendo todo o tremor que passava pela sua mente agora. — O senhor precisa descansar, recuperar as energias. Já sabemos muitos bem que os resultados serão bem melhor se o senhor estiver com a mente descansada

 Gwen estava certa — na maioria das vezes ela estava —, então a parte mais difícil era apenas convencer o dr. Connors de que ele deveria ir pra casa e descansar um pouco. Ela sabe o quanto ele pode se desgastar em apenas uma noite, e agora, ficar aqui não é a melhor das opções. Felizmente, o dr. Connors percebeu seu ponto e parou por um momento, olhando para os papeis, para os tubos de ensaios e até mesmo para a bagunça verde de alguma formula em progresso.

 — Eu cuido de tudo aqui — Gwen garantiu, oferendo um sorriso. Ela poderia lidar com o novo estagiário sozinha e sem grandes problemas, não era difícil, considerando que ela já deu mais turnês ao redor do laboratório do que pode contar. Em resposta, dr. Connors suspirou.

 — Acho que você está certa — Ele confessou, esfregando a mão no rosto como se isso fosse ajudá-lo a se recompor.

 — Quando não estou? — Gwen brincou, sentindo que isso poderia animar mais o seu ânimo do que o do cientista. Felizmente, pareceu funcionar para ambos.

 — Convencida — Disse, pegando sua pasta que estava esquecida no chão lago ao lado dos seus pés, Gwen nem ao menos tinha reparado nela antes.

 Dr. Connors se virou, contornando a mesa e passando por Gwen apenas para alcançar a porta. A loira ofereceu um sorriso encorajador, o melhor que pode reunir, junto com um aceno fraco.

 — Ah, você pode dar uma pequena excursão para o novo garoto — Ele disse pouco antes de sair, olhando para Gwen com um olhar verdadeiramente cansado. — Ele vai chegar daqui a pouco

 Gwen imaginou que seria apenas pior se o doutor permanecesse aqui para receber o novo membro da equipe, considerando sua situação deplorável. Ela poderia lidar com isso de forma melhor e ainda causar uma boa impressão.

 Ou assim espera.

 — Já fiz isso várias vezes doutor, posso guiar alguém — Gwen garantiu com um aceno. — Até segunda dr. Connors

 — Até

 Dito isso, o dr. Connors se virou e saiu do escritório, deixando Gwen para trás, parada em frente a uma gaiola de ratos. Ela se virou, e olhou para os dois pequenos animais aprisionados ali dentro, seu sorriso caindo por terra ao fazê-lo.

 — Por favor, não se torne nenhum tipo de monstro antes que eu possa criar uma cura pra isso — Ela praticamente implorou, sua voz trêmula com um medo inexplicável. Gwen apenas estendeu a mão e fechou a gaiola, observando os ratos correrem de um lado para o outro quase que freneticamente.

 Com a gaiola em mãos, ela se virou, e a deixou exatamente no lugar a onde sempre via, ao lado da gaiola das aranhas. Seu peito se tornava cada vez mais e mais pesado conforme olhava para os ratos, e então, sem mais nenhuma alternativa, Gwen olhou para os papeis ainda esparramados por cima da mesa, junto de frascos e todo o tipo de bagunça que uma pessoa poderia encontrar em um escritório.

 Sua mãe costumava dizer que era preciso arriscar algumas coisas antes de alcançar seus objetivos; Gwen nunca pensou tanto nisso quanto agora. O dr. Connors estava arriscando muitas coisas aqui, se metendo em perigos gigantes; tudo em busca de um bem maior. Gwen acha isso impressionante, pois nunca viu tanta garra e determinação em alguém antes.

 Talvez isso seja justamente o que segura em seu lugar. Caso contrário, ela já teria dado um jeito de entreter o doutor e afasta-lo dessa pesquisa maluca, dessa tentativa desesperada de buscar uma cura para algo incurável. Ela está observando tudo de longe, olhando do camarote, mas antes era diferente.

 Antes ela não achava que ele poderia conseguir, chegar tão longe quanto agora. Por isso Gwen não pode simplesmente ficara parada e observar o caos se aproximar a cada segundo.

 Ela mordeu o lábio, sentindo uma ansiedade estranha revirar em seu estômago. Particularmente, ela não acha que será capaz de impedir que alguma coisa aconteça, mas talvez ela possa amenizar.

 Sim, amenizar.

 Gwen não é uma cientista, não tem nenhum tipo de doutorado e nem pode ser considerada uma gênia; mas ela pode tentar. Tentar impedir que algo horrível aconteça. E pra isso precisara arriscar.

 Com isso em mente, Gwen suspirou. Ela retirou do bolso da calça seu celular, e com o coração acelerado em uma onda estranha de adrenalina, ela contornou a mesa do escritório. Os papeis estavam espalhados por todos os cantos da mesa, e olhando por cima não dava para saber ao certo qual era o que continha a formula ou seja-lá-o-que o dr. Connors estava trabalhando.

 Era desorganizado, e Gwen nunca em sua vida amaldiçoou mais a bagunça do que agora. Sem muitas opções, ela tirou uma foto de toda a mesa, esperando que isso pudesse ajudar no futuro.

  — Oi?! — Uma voz veio do lado de fora do escritório, pegando Gwen de surpresa. Ela se endireitou e guardou o celular de volta no bolso da calça, uma maldição na ponta da língua que ficou presa.

 O que fazer? O que fazer? O que fazer?

 Sem saída. Era como ela estava se sentindo.

 Com um suspiro estrangulado, Gwen deixou que seus olhos repousassem nos tubos de ensaio, encontrando a sujeita que todos eles eram. Alguns estavam vazios, outros possuíam apenas um pouco de uma substância verde que parecia ser gosmenta.

 Gwen não estava pensando muito bem, ela só queria uma válvula de escape, algo por onde começar. Era só o que precisava, e foi pensando nisso que ela agarrou o menor dos tubos de ensaios, com apenas algumas pequenas gotas da substancia verde, a tampou, e depois a enfiou no bolso do jaleco.

 Com a coluna ereta, ela correu para o lado de fora do escritório. Seus olhos varreram o lugar rapidamente, buscando por qualquer sinal de qualquer outra pessoa, e então ela o encontrou.

 Parado em frente ao microscópio monocular como se o objeto fosse a coisa mais impressionante do mundo. Havia um olhar de adoração em seu rosto, e mesmo que Gwen não o conhecesse, percebeu na hora que ele estava encantado com cada centímetro do laboratório.

 Era um garoto, que não podia ter mais do que 15 anos. Sua pele era escura, e seus olhos ostentavam um brilho curioso. Ele parecia um pouso desajeitado enquanto estendia a mão para pegar o microscópio, o que fez Gwen sorrir, porque em pouco tempo ele não iria mais suportar aquele objeto.

 — Oi — Ela disse, pegando o garoto de surpresa. Ele se afastou do microscópio com um pulo, batendo na outra mesa cheia de tubos de ensaio logo atrás dele. A mesa chacoalhou, fazendo os tubos de ensaio dançarem em cima da superfície, mas por algum tipo de milagre, nenhum deles foi derrubado.

 — Oi — Ele disse, uma expressão de pânico e vergonha gravada agora em seu rosto. Gwen sorriu, da forma mais amigável que ela conseguia. Sua mão estava enfiada no bolso do jaleco, apertando o tubo de ensaio roubado com um pouco mais de força do que necessário.

  — Você deve ser o novo estagiário — Ela disse, uma pequena observação, e então se aproximou um pouco mais para poder enfim ficar de frente para o novo garoto.

 — E você não é o dr. Connors — Ele disse, parecendo estar funcionando no automático. Demorou um segundo inteiro para ele perceber o que tinha dito e então tentar se corrigir. — Quer dizer, é óbvio que você não é o dr. Connors. Eu só esperava que ele estivesse aqui. Bem... ele disse que estaria aqui

 Foi um necessário um enorme esforço para Gwen não começar a rir ali mesmo. O garoto parecia nervoso, seu olhar encarando o microscópio em vez de seus olhos, e mesmo que estivesse um pouco longe, ela ainda podia ver o brilho vermelho em suas bochechas.

 — Sou sua colega — Gwen disse, mordendo o lábio inferior para poder conter uma risada que àquela altura estava presa em sua garganta. — Dr. Connors me pediu para te apresentar o lugar. Como é o seu primeiro dia, você pode perguntar qualquer coisa pra mim

 — Ah... certo — Ele engoliu em seco, olhando ao redor mais uma vez, o brilho da curiosidade retornando aos seus olhos. Ele finalmente pareceu relaxar, mesmo que ainda se recusasse, de certa forma, a encarar Gwen.

  Gwen suspirou. Ela não queria soar tão profissional assim. Era para eles serem pelo menos amigos, já que passaram grande parte do tempo trabalhando lado a lado. Gwen demorou meses para criar uma certa simpatia com relação a Anya, ela espera que pudesse ser mais fácil agora.

 — Meu nome é Gwen Stacy — Ela disse, sorrindo de forma que esperava ser amigável. O garoto piscou, olhando para ela e então para a mão estendida, como se não soubesse o que fazer.

  Com um pequeno rubor nas bochechas, ele sorriu, mas era fraco e hesitante, e somente então alcançou sua mão com um aperto que poderia ser confiante.

 — Miles... Miles Morales

...

 Peter gemeu, passando a mão pelo ponto particularmente dolorido em seu pescoço. Ele sabia que daqui a algumas horas um enorme roxo estaria sendo exibido naquela região, mas ele não podia fazer nada além de esperar que sumisse com o tempo. Esse era o preço por subestimar uma mulher.

 Uma mulher com um taco de beisebol e uma mochila cheia de dinheiro roubado de uma mercearia. Sim, o último ato da noite tinha sido frustrante, mas ele conseguiu devolver o dinheiro para o dono da mercearia sem ter a bunda chutada. Então contava.

 A porta do elevador se abriu e Peter suspirou; ele finalmente estava em casa depois de um longo e cansativo dia. Entretanto, quando Peter olhou ao redor, percebeu apenas a figura de Rhodey sentado no balcão da cozinha; a televisão ligada preenchendo o silêncio do andar, e nem mesmo Pepper ou Tony estavam ao redor.

 Peter levantou uma sobrancelha.

 — Rhodey? — Ele perguntou, se aproximando do homem com passos hesitantes. Ele já estava com a boca aberta para perguntar onde estavam seu pai e Pepper, mas então o homem falou primeiro.

 — Peter! — Ele suspirou, como se estivesse aliviado apenas por olhar para Peter. —Finalmente apareceu

 Peter levantou uma sobrancelha, olhando ao redor apenas para procurar por qualquer vestígio de seu pai. Ele não costuma ir para o laboratório quando Pepper está na Torre, já que ela basicamente o obriga a ficar longe daquele lugar.

 — Tudo bem por aqui? — Ele perguntou, genuinamente curioso. Para a sua surpresa, Rhodey soltou um suspiro cansado, como se seu dia também tivesse sido bem cansativo.

 O que era completamente o contrário do porquê de ele estar aqui agora, já que Rhodey, assim como Pepper, estava tomando uma semana de férias antes que a bomba explodisse na impressa e então ele não poderia descansar por tempo indeterminado. Assim como Tony e qualquer um que estivesse relacionado ao problema com os Asgardianos.

 Pelo o que Peter sabia, faltava duas semanas para eles chegarem a Terra — de acordo, claro, com a última mensagem de Thor.

 — Mais ou menos — Ele disse, e apenas o seu tom de voz deixou Peter preocupado.  Rhodey parecia estar enfrentando problemas, e conhecendo bem a rotina nessa Torre, o problema tinha nome e sobrenome, além de claro, ser seu pai. — Estou esperando você aparecer há horas

 Peter engoliu em seco, jogando sua mochila em cima do sofá, sua atenção completamente presa em Rhodey agora.

 — O que aconteceu? — Perguntou.

 — Você precisa dar um jeito no seu pai — Rhodey disse quase que imediatamente, parecendo um pouco exaltado. Ele parecia estra cheio das mancadas do Tony, e Peter não era ninguém para julgar. — Pep disse pra mim tomar conta dele, mas ele se trancou no laboratório e não saiu de lá o dia inteiro. Pode ser apenas mais um surto de inspiração dele, mas Pepper parecia preocupada e disse pra mim não deixar ele sozinho. Eis que chego aqui e ele está desaparecido. Tendei entrar no laboratório e enfiar um pouco de comida nela, mas Sexta-Feira não me deixa entrar

 Rhodey parecia aflito e ao mesmo tempo preocupado. Apenas a forma como as palavras sairam da sua boca em um ritmo acelerado, já era o suficiente para mostrar que ele estava farto de Tony, e ainda assim, não podia se afastar e deixar o amigo afundar.

 Peter suspirou. Por mais que ele quisesse negar, Tony tinha essa pequena peculiaridade antissocial quando queria.

  — Isso não é tão anormal... — Ele disse, um fato que todos que conheciam a verdadeira face de Tony Stark sabiam.

 Quando coisas assim aconteciam, Peter não podia ficar parado. Se ele deixasse, Tony era capaz de ficar desaparecido pelos próximos 5 dias sem dar sinal de vida, por isso já era hora de intervir enquanto ainda havia tempo.

 Era a sua vez de cuidar do seu pai.

 Ele apenas contornou a bancada e foi direto para os armários, pegando a sacola de pão apenas para deixa-la em cima da bancada e então marchar em direção a geladeira. Um sanduiche era a opção mais rápida agora, e Peter estava disposto a fazer o melhor sanduiche do mundo para o seu pai.

 — O que vai fazer? — Rhodey perguntou, levantando uma sobrancelha para Peter quando o mesmo fechou a geladeira com os pés, já que suas mãos estavam completamente ocupadas com todos os tipos de ingredientes para um ótimo sanduíche.

 — Um sanduíche — Peter disse como se fosse óbvio, largando tudo que estava em seus braços em cima do balcão. — Do jeito que ele é, tenho certeza que nem almoçou

 — Boa ideia

...

 — Quanto tempo? — Tony perguntou, engolindo em apenas um gole o que pareceu ser a vigésima caneca de café daquela tarde. Seus olhos estavam presos no holograma a sua frente, o relógio, projeto o qual já estava quase no final.

 A noção de tempo tinha desaparecido da sua mente nas últimas horas. Ele não ficaria surpreso de descobrisse que já se passava das 3 da manhã de segunda. Sua mente estava focada demais na monitorização ao seu redor, assim como no rastreador e do que seria seu discurso para a fundação Maria Stark — ele tentou escrever algo que não fosse genérico, mais sua mente estava fazendo tantas coisas que ele tem certeza de que se mostrasse isso para Pepper, ela jogaria as quatro folhas na sua cara.

 — Duas horas, no máximo chefe — Sexta-Feira disse, poderia ter enviado um pequeno alivio para Tony, mas isso estava longe da sua mente agora.

 Assim que o programa estivesse pronto, ele estaria monitorando toda Nova York. Cada loja, cada câmera, cada cadastro nos mais famosos e óbvio hotéis na cidade. Se alguém chamado Steven Westcott brotar do bueiro da Times Square, Tony será o primeiro a saber.

 Era uma clara invasão de privacidade, mas quando Tony Stark não invada a privacidade de alguém? Em duas horas ele terá cada canto de Nova York sobre extrema vigilância, e isso era o mínimo que ele poderia fazer; o que estava ao seu alcance no momento.

 Tony estava mais do que sendo paciente agora, o que não era o seu forte, mas ele estava se controlando; por Peter, por Pepper e para o bem da sua própria sanidade. Ele daria um passo de cada vez, e somente quando Westcott estiver implorando pela sua vida, ele irá descansar.

 Era mórbido pensar nisso, mas era a única coisa que vinha a sua cabeça agora. Tony estava cego, e ele duvidava que alguém pudesse abrir os seus olhos.

 — Chefe? — Sexta-Feira o chamou, tirando-o de seus pensamentos do que ele esperava ser um futuro próximo. — Peter está solicitando permissão para entrar

 Tony arqueou uma sobrancelha, abaixando a caneca de café com um pouco de força contra a mesa. Ele olhou para o relógio em seu pulso, só então percebendo que já passavam das seis da tarde.

 — Deixe ele entrar — Tony se endireitou na cadeira, guardando o projeto que carregava no holograma na sua frente para então rodar em segundo plano. Ele jogou o relógio meio terminado de lado e soltou um suspiro cansado.

 Ele podia sentir o peso do dia estressante em cima dos seus ombros, e em qualquer outro dia, ele estaria exausto, mas o sono era algo que estava distante. Mesmo que ele deitasse em sua cama, seria incapaz de pegar no sono. Não com todos os problemas ao seu redor.

 — Oi pai — A voz de Peter praticamente ecoou pelo laboratório, fazendo Dum-E e U largarem seus trabalhos de organizarem em forma alfabética os registros impressos da IS e irem direto para o adolescente.

 Tony girou a cadeira, encontrando com a figura de seu filho lutando para ignorar os robôs e ao mesmo tempo equilibrar um prato cheio do que parecia ser três sanduíche e um copo de café.

 Seu coração tremeu, uma afeição tão grande que chegou a ser dolorosa. Quem poderia machucar seu pequeno? Alguém que nunca fez nada de mal para ninguém? Essa perspectiva apenas o enfureceu mais ainda, uma ira que se alastrou pelo seu corpo e transformou sua visão em vermelho. Tony sentia como se estivesse a um passo de enlouquecer completamente.

 Porém, o sorriso que Peter lhe lançou quando finalmente conseguiu escapar das garras dos robôs, drenou qualquer tipo de pensamento sombrio que estivesse pairando sobre sua cabeça. Ele parecia radiante, esbanjando uma felicidade e um animo que Tony não era capaz de entender completamente.

 Seu filho era como um raio de sol na escuridão, e a cada segundo que passava, Tony sentia mais e mais a necessidade de proteger esse pequeno resquício de luz.

 — Bambino — O apelido saiu de seus lábios como um pequeno juramento, e foi como um tapa de realidade. Tony engoliu em seco, apenas observando quando Peter deixou o prato cheio de sanduiches e a caneca de café em cima da sua mesa, bem na sua frente, e então se virou para pegar uma cadeira.

 — Ouvi boatos de que você estava trancado aqui — Peter disse, se jogando na cadeira ao lado de Tony de forma preguiçosa. — Algum motivo válido

 — Alguns problemas que eu estou tendo que lidar — Tony disse, não prestando muita atenção no que estava acontecendo ou na conversa, mas sim em Peter; apenas Peter.

 Seus olhos estavam presos nele, em cada gesto que ele fazia e em cada pequeno sorriso travesso.

 — Você sempre tem problemas — Ele disse de forma. — Trouxe alguns sanduíches e café descafeinado, recomendação de Rhodey

 Tony fez uma careta, alcançando um dos sanduíches e deixando a caneca de café de lado.

 — Você não deve seguir as dicas deles — Tony disse, dando uma grande mordida em seu sanduiche, percebendo só então o quanto estava faminto. Ainda de boca cheia, continuou falando: — Ele é um estraga prazeres quando quer

 Peter deu de ombros, mudando sua atenção para algumas ferramentas que estavam espalhadas ao redor. Tony, por outro lado, não desviou a atenção do garoto, quase como se estivesse tentando gravar cada detalhe de seu rosto.

 — Ele sabe o que é melhor pra você, e eu estou apenas tentando ajudar — Peter disse, mexendo as mãos de um lado para o outro quando falava de forma óbvia demais. Tony sorriu para visão, e voltou a comer seu sanduíche em silêncio. — O que é isso?

 Tony piscou, demorando tempo demais para perceber que Peter estava apontando para o relógio inacabado com pura curiosidade estampada em seu rosto. Em um reflexo, ele empurrou o objeto para longe e fez a cara mais seria que ele conseguiu naquele momento.

 — Não olhe — Ele disse, cuspindo um pouco no processo. — É um presente. Mas eu ainda não terminei

 Ele observou quando Peter franziu o cenho, parecendo um pouco perdido por um momento. Ele então suspirou e lhe lançou um olhar que parecia quase divertido, mas que havia uma pequena pontada de hesitação escondido.

 — Acho que agora eu sou o mascote dos Vingadores — Ele disse de um jeito melodramático, como se fosse algo terrível, mas o pequeno sorriso ainda estava enfeitando seus lábios.

 — Ei! Eu sou seu pai. Tenho o direito de te dar presente. Os outros é quem são intrometidos — Tony disse, uma carranca divertida em seu rosto.

 — Certo pai, não posso discordar — Peter disse, e então olhou para Tony de forma quase suplicante. — A gente pode assistir um filme? Ouvi dizer que tem um documentário sobre a Terra é plana

 — Você não pode estar falando sério — Tony disse, olhando agora para o seu filho como se ele tivesse sido abduzido e trocado por outra pessoa. Seu tom apenas causou uma risada no adolescente.

 — É totalmente válido

 — Por favor, não diga isso

 — A Terra é um disco e você não pode negar

 — Eu vou te deserdar

 — Você nunca faria isso — Peter pareceu convencido nessa afirmação, o que por si só enviou uma onda calorosa para o peito de Tony e toda e qualquer aversão sobre o assunto se desfez.

 — Não me teste — Ele disse, mas não havia nenhuma veracidade atrás de suas palavras. — A gente pode assistir qualquer outra coisa

 — Que tal a trilogia do Hobbit. MJ não para de falar sobre isso nos últimos dias — Peter sugeriu, se mudando de um lado para o outro em sua cadeira.

 Tony olhou para o relógio inacabado e pensou na renderização que Sexta-Feira estava fazendo. Ainda iria demorar o bastante para ficar pronto, tempo o bastante para ele ficar com seu filho até de madrugada com um filme rolando na televisão. A ideia era agradável, e ele se encontrou concordando.

 — Se você dormir, eu vou desenhar uma Terra plana na sua testa com tinta permanente — Tony ameaçou, pegando seu prato que ainda tinha dois sanduíches intactos e se levantando da cadeira. Ao seu lado, Peter se animou, e se prostrou de pé em um piscar de olhos.

 Tony estava ocupado demais olhando e sorrindo para o seu filho, que nem ao menos percebeu que tudo tinha sido um plano armado para tira-lo do laboratório. Particularmente, ele não se importava.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Certo, eu sei eu sei, demorei bastante dessa vez. Eu estive tão casada por causa da escola que quando chegava em casa queria apenas a minha cama e nada mais, foi somente nesse 3 ultimos dias que eu criei animo para escrever - e saiu essa monstruosidade, como perceberam.

Eu percebi uma coisa enquanto escrevia. Não posso continuar nesse ritmo. A fic tem tantas coisas pela frente que, se eu não fizer capítulos mais longos, demoraremos uma eternidade pra terminar isso aqui; tem o Venom, Os Asgardianos, Lagarto e um grupo de super-vilões com seis membros que odeiam o Homem-Aranha. Então sim, os capítulos a partir de agora serão maiores... por favor não me odeiem!

Me perdoe por qualquer erro, isso aqui tem quase 10k de palavras, então se voce viu algum, me dá uma mão e me aponto, ficarei agradecida ♥

See Ya Later ♥