Protocolo - Bebê Aranha escrita por Pixel


Capítulo 16
"Qual é o Seu Nome?"


Notas iniciais do capítulo

~~ Boa Leitura



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 Peter ainda estava em cima da ponte do Brooklyn, olhando o sol se pôr enquanto os carros passam por debaixo dos seus pés. Era tranquilo, suave, uma paz que ele estava desacostumado a sentir nos últimos messe; a Torre é sempre tão barulhenta. Meio que o ajudou a limpar a sua mente e a pensar em outras coisas que não fosse o colégio, o Decatlo ou até mesmo a sua estranha — mas definitivamente melhor — vida

 Quando o celular vibrou no pequeno bolso do traje, Peter não estava necessariamente preparado. Ele estava ali por longos minutos, simplesmente a aproveitando o clima, que se esqueceu que não tinha permissão para ficar fora até tão tarde — isso enviou uma pequena onda de pânico para o seu corpo. Enquanto amaldiçoava internamente, ele pegou o celular, certo de que era Tony perguntando a onde ele estava ou algo assim, mas para a sua surpresa, era apenas MJ.

 Ele deixou seus ombros caírem com um suspiro de alivio. Pelo menos MJ não iria ligar e brigar com ele ou algo parecido — na verdade, ela era mais do que capaz de fazer algo assim, mas Peter duvidava. Ele atendeu a ligação, mesmo que no fundo estranhasse, já que MJ sempre preferia conversar por mensagem do que por ligação.

 — Ei Pete — Veio a voz do outro lado, inconfundível; mas não soava como a MJ usual de sempre, aquela que era sarcástica e que Peter tanto amava.

 — Oi MJ — Ele murmurou, esperando que os barulhos de carros não fossem tão perceptíveis e não a incomodassem. — Aconteceu alguma coisa?

 Houve um silêncio na linha, enquanto era possível ouvir passos distantes. Peter chutou que MJ estava apenas andando ao redor do seu quarto, e por algum motivo, ele a imaginou com uma mão na cintura e a testa franzida.

 — Nha... Eu só queria conversar um pouco — Ela respondeu segundos depois. Sua voz parecia cansada e rachada, não de um jeito que Peter estava acostumado. Ele não pode deixar de pensar na possibilidade de ela estar abatida com alguma coisa, e isso fez seu coração apertar no peito.

 Definitivamente, MJ triste não é uma coisa que ele deseja ver. Assim como ele também não quer vê-la assustada novamente.

 — Sobre o que? — Perguntou, um pouco apreensivo demais, mas ele não podia se ajudar quando MJ soava tão no limite assim. A penas para ter algo para fazer, Peter começou a sacudir os pés para frente e para trás enquanto olhava os carros.

 — Sei lá, qualquer coisa — Ela pareceu dar de ombros, como se realmente não importasse, mas Peter sabia perfeitamente que era algo no mínimo avassalador para ela simplesmente resolver lhe ligar. — Estou com alguns problemas aqui, nada de relevante. Acho que só precisava conversar um pouco com alguém que me alegra — Ela falou, e logo em seguida foi possível ouvir um farfalhar de lençóis, indicando que agora ela provavelmente estava deitada em uma cama.

 — Fico feliz por ser a primeira opção — Peter comentou, sorrindo por de baixo da máscara. —Eu ainda não fui pra casa, quer que eu passe ai pra conversar? — A proposta não era ruim, ela apenas veio no automático. Peter nem ao menos pensou se era realmente uma boa ideia ou se traria algum tipo de consequência.

De qualquer forma ele teria que voltar para o beco próximo a Midtown e pegar sua mochila — que deveria estar pendurada em uma parede suja em um beco úmido e frio — talvez ele possa realmente aproveitar e falar com MJ. Não é como se Tony fosse surtar ou algo parecido.

 — Não! — Ela praticamente exclamou do outro lado, como se essa fosse a pior ideia do mundo. Peter levantou uma sobrancelha, em parte confuso pela reação tão abrupta. — É melhor não... seu pai poderia ficar bravo se você chegasse tão tarde assim em casa — ela respondeu, usando uma desculpa óbvia. Peter não podia ver seu rosto, mas o sorriso era extremamente claro apenas pelo tom de voz usado.

 Ele respirou fundo, se sentindo tentado em levantar a mão e tirar a máscara apenas para sentir o ar frio da noite em seu rosto.

 — Acho que não. Ele mandaria Happy me pegar, na menor das hipóteses — Respondeu com um revirar de olhos, mas ainda assim havia um sorriso em seu rosto. Ele realmente imaginou o quão chateado Happy ficaria por ter que dirigir até o Queens de noite, quando deveria estar jantando ou fazendo qualquer outra coisa que um Chefe de Segurança.

 Happy era um cara realmente legal, mas ele não gostava de ter um turno extra como motorista. Digamos que é algo a mais em sua jornada de trabalho. Ele provavelmente tolera isso porque Tony é um grande amigo e isso era como se fosse um enorme favor.

 Um enorme favor que ele faz todos os dias.

 — Me conta... como estão “As Aventuras da Vida de Peter Stark”? — Ela perguntou, o tom habitual de brincadeira presente em sua voz pela primeira vez desde que a conversa começou. — Isso pode me distrair um pouco...

 — Acredite, não é tão diferente de uma vida de um adolescente normal... a única coisa que muda é que o meu pai e os meus “tios” são meio malucos — Ele respondeu, usando o mesmo tom de brincadeira do que ela. Era como uma brincadeira de empurra-empurra, só que pelo celular.

 Peter se cansou de ficar sentado e resolveu apenas se deitar no concreto. Não havia muito espaço, mas era o suficiente para ele poder simplesmente aproveitar a vista de um modo mais confortável.

 A lua estava magnifica essa noite, cheia, dominando o céu de Nova York como a atração principal de um grande show. Peter sorriu, deixando seus ombros relaxarem por um momento. Essa era uma visão que valia a pena, mesmo que não houvesse uma única estrela no céu.

 — Então não é tão normal assim — Ela respondeu, rindo, o que fez Peter rir também.

— Eu tenho um plano melhor — Peter respondeu, levemente perdido com a visão da lua logo a cima da sua cabeça. Dessa vez nada o impedia de puxar a máscara para fora apenas para aproveitar melhor esse pequeno descanso.

 Mas ainda assim ele não fez.

 — O que é? — MJ perguntou, não demonstrando um interesse real, em vez disso ela estava apenas dando uma brecha para ele.

 — Me fale sobre você — Peter disse, não sentindo nenhum remorso por usar uma frase tão clichê como essa. — Como vai “As Aventuras de Vida da Michelle Jones”?

 Michelle bufou do outro lado, quase como se estivesse indignado com tal título. Peter riu da sua reação, sabendo perfeitamente que ela não estava nenhum pouco contente com isso, mas que não havia nenhuma escapatória.

 — Esse seria o pior livro do mundo — Ela resmungou na outra linha, voz abafada como se estivesse com o rosto enterrado nas mãos.

— Mais ainda assim eu quero “ler” — Peter não teve uma segunda intenção ao dizer isso, mas não pode deixar de lado o sentimento de que era algo mais profundo do que ele queria dizer. MJ era como um livro escrito em uma língua que ele não conhecia, mas definitivamente adoraria conhecer.

 Talvez fosse isso que enviou um estranho calor ao seu corpo, mesmo com o ar frio da noite pairando sobre seu corpo que tinha apenas como proteção um traje estranho e colorido.

 — Certo... — Ela resmungou algo inaudível do outro lado, estralando a língua em desagrado. — Não tem nada de interessante, realmente, eu não sou filha de um bilionário superfamoso e não tenho “tios” que combatem alienígenas

 Peter revirou os olhos pra isso, soltando um bufo divertido que foi estrangulado pela máscara.

 — Eu diria que é... exótico, a experiência — Peter suspirou, forçando seu corpo a se sentar novamente. — Às vezes eu me pergunto como consegui chegar até aqui

 De repente toda a brincadeira foi embora, e agora ele se sentiu nervoso; talvez ansioso ou uma mistura dos dois. O motivo era claro, óbvio demais, mas ele se forçou a deixa-lo de lado.

  — O que é isso Stark? Parece nervoso... — Peter revirou os olhos para o uso do seu segundo nome, mas não pode deixar de se sentir quente com isso. Ele apenas não era acostumado com as pessoas o chamando abertamente de “Stark”.

 Pelo menos MJ só fazia isso quando estavam “a sós”.

 — É que... — Ele considerou suas próximas palavras com cuidado, se perguntando se realmente valia a pena se abrir sobre esse pequeno nervosismo que o estava dominando desde terça.

 Mas então Peter se lembrou que era MJ ali; ela sabia quase tudo sobre ele, sabia seus medos, seus gostos, seu passado. Eles eram amigos, e não tinha um porquê de esconder as coisas dela. Talvez isso até mesmo o ajudasse.

 Além do mais, MJ sempre tem algo para dizer.

 — Amanhã é Sexta — Foi a única coisa que ele disse, sabendo perfeitamente que isso bastaria.

 — Oh... — Disse em uma breve realização. — Não me diga que está com medo?

 Peter deu de ombros, mesmo sabendo que MJ não podia vê-lo.

 — A palavra não é exatamente “medo”... é apenas ... um nervosismo — Peter disse, sua voz agora parecendo distante até mesmo para seus próprios ouvidos.

 MJ parou do outro lado, deixando que um silêncio estranho dominasse a conversa. Peter sabia que ela estava apenas considerando suas opções, por isso ele esperou pacientemente.

 — Não precisa ficar nervoso por causa de Ned, ele vai amar a sua família — Ela disse, uma tentativa de reconforta-lo um pouco. Peter fechou os olhos e agradeceu mil vezes por ter ela ao seu lado... só não foi em voz alta. — Acredite, ele realmente vai amar a sua família — Ela enfatizou a palavra “amar”, deixando bem claro o que queria dizer.

 Peter não duvidava disso.

 — Não é com isso que estou preocupado — Peter confessou, deixando sua cabeça cair na mão livre. Agora ele não estava mais olhando para o céu, e sim para os carros logo abaixo dele, quase como se estivesse os contando. — É com... o resto. Ned com certeza vai fazer perguntas... eu só não sei o que vou dizer...

Peter soube dizer que cruzou uma linha quando o silêncio voltou, dessa vez acompanhado de uma farfalhar de lençóis. Ele chutou que MJ havia se sentado novamente.

 — Não me diga qu- — Ela se cortou, soltando um suspiro estressado do outro lado da linha. Peter podia perfeitamente imagina-la com a mão na testa e uma careta no rosto. — Peter... você não quer contar pra ele?

 Era diferente de ser dito em voz alta. Até agora Peter não tinha admitido isso nem para si mesmo, mas com MJ falando, ficou claro. Ele realmente não queria contar a Ned como chegou até aqui.

 Não era exatamente por vergonha do que ele era e de onde ele veio, e sim um medo de ser rejeitado. Ninguém costuma olhar para um ex-morador de rua com certa simpatia, por que Ned seria diferente?

 Tá, ele é simplesmente o amigo mais brilhante e bem-humorado que Peter já teve — não que ele possa comparar muito —, e sim, ele duvidava que Ned fosse se afastar, mas ainda assim era um peso em seus olhos.

 E ninguém nunca lhe ensinou em como lidar com isso. Com esse medo da rejeição.

 — Acredite, eu odeio dizer que “sim”

 — Sério perdedor... — MJ disse indignada. — O Ned não vai te tratar diferente só porque você passou quase dois anos na rua, ele provavelmente vai perguntar como era viver sem ter um toque de recolher

  Peter parou por alguns segundos, não sabendo exatamente como responder, seus olhos viajaram por cada um dos carros que estava passando, apenas buscando alguma outra coisa para se concentrar. Seu estômago ainda revirou com o nervosismo.

 — Você acha...?

 — Claro — Ela disse com determinação, falando num tom bem mais alto do que antes. — Você precisa parar de tentar esconder o seu passado. Ele não pode ser apagado Peter — Ela resmungou, claramente mal-humorada. — E também, foi justamente ele que te trouxe até aqui. Ou você acha que estaria vivendo com Tony Stark e com os Vingadores em uma enorme Torre se antes disso não tivesse passando um tempo nas ruas ou sei-lá-o-que? Você é o que você é hoje por causa do seu passado, e isso é um grande feito seu pateta

 — Você está certa MJ — Ele riu, fechando os olhos por um instante, apenas para descansa-los um pouco. — Acho que no final das contas quem me ajudou foi você

 — Desculpa por isso — Ela disse, não soando realmente apológica. — Eu tenho lido alguns livros de filosofia nos últimos dias

 Peter se afastou do telefone abruptamente quando ele começou a vibrar com mensagens sem parar, uma seguida da outra, quase que freneticamente. Ele riu, sabendo perfeitamente quem era.

 — O que aconteceu? — MJ perguntou, provavelmente ouvindo as notificações também.

 — O Tony está mandando mensagem — Peter disse, rindo um pouco mais.

 — Tony? Não me diga que ainda não colocou ele na categoria “Pai”? — MJ perguntou, parecendo novamente estressada. Era incrível como ela poderia facilmente mudar de humor.

 — É um pouco mais difícil do que parece — Ele encolheu os ombros, um pouco assustado quando seu celular simplesmente não parou de tremer. Tony estava apenas exagerando.

 — Bem, então é melhor fazer um esforço — Ela murmurou, e Peter odiou o faro de ela estar certa. — Vejo você amanhã perdedor

 — Até amanhã — Ele respondeu antes de encerrar a ligação, indo diretamente para as mensagens se Tony.

 Ele não pode conter a risada quando viu o quão desesperado Tony estava para falar com ele, mesmo que isso fosse literalmente a pior coisa a se fazer diante do desespero do bilionário.

 “Peter, cadê você?

 Clint e Natasha chegaram a duas horas atrás

 E o Clint não para de surtar aqui

 Ele tá alterado por causa do Loki e agora tá perguntando por vc

 É melhor aparecer logo

 Garoto, não quero ser intrometido

 Mas o que diabos vc está fazendo na Ponte do Brooklyn?

 Peter

 Sério garoto é melhor me responder

 Peter

 Peter

 Peter

 Eu vou pegar uma armadura e ir atrás de você

 Não me desafie”

 Peter riu, se apresando um pouco mais para responder e assim impedir que seu pai pegasse uma armadura e viesse atrás dele pessoalmente. Isso definitivamente era algo que o Tony faria, e ele não era ninguém para duvidar.

 Antes mesmo que ele pudesse terminar de escrever uma resposta, seu celular começou a tocar com uma ligação. Peter revirou os olhos e resolveu atender.

 — Peter! — A voz repentina de Tony, parecendo um pouco alterada, veio do autofalante, e ele riu, mesmo que precisasse se afastar um pouco.

 — Oi pai — Peter riu, uma risadinha pequena e que deveria ser inocente. Porém, ele logo ouviu um resmungo baixo do outro lado da linha.

 Ele se levantou e lançou uma teia no ar, encarando o desafio que seria se balançar apenas com uma mão. Ele precisava ser um pouco mais rápido e pegar a sua mochila a tempo de voltar para Torre sem que Tony começasse a surtar — mais do que ele já estava.

 — Não me venha com essa de “Oi pai” — Ele disse um pouco enfurecido. Peter chutaria que ele estava andando de um lado para o outro. — Não acha que já é um pouco tarde demais?

 Peter amaldiçoou internamente quando quase perdeu um prédio. Ele não tinha uma boa habilidade em se balançar sem uma das mãos, mas fez um esforço apenas para chegar a Midtown.

 — Desculpa, eu meio que me empolguei com os livros — Mentiu, observando quando Midtown surgiu nas ruas, e junto com sua escola o beco que ele usava para trocar de roupa.

 — Distraiu com os livros? — Tony repetiu, incrédulo. — A biblioteca fechou a quase uma hora atrás

 Peter aterrissou no beco, encarando sua mochila ainda intacta na parede. Ele sorriu vitoriosamente para si mesmo, ocupado demais para perceber que Tony estava basicamente espionando a sua vida.

 — Você olhou pela janela hoje? — Peter perguntou, estendendo a mão para pegar sua mochila. Foi necessário um pouco de esforço para puxar as teias para fora. Quando estava livre, ele a jogou por cima dos ombros.

 — Não... — Tony responder. Peter podia facilmente imaginar que ele estava franzindo o cenho em desagrado, ou talvez em confusão.

 Peter pulou novamente, voltando a se balançar, dessa vez em direção a Manhattan.

 — Eu só queria ver o pôr do sol — Peter respondeu inocentemente, disfarçando a voz. — Era bem bonito

 — Sério Peter? — Perguntou, ainda mais incrédulo do que antes. — Tá de castigo

 Peter quase caiu novamente, e por causa disso ele parou em uma parede.

 — Que? Mas pai-

 — Certo, tá livre do castigo, mas nunca mais faça isso — Tony resmungou a última parte, parecendo conter uma grande amargura por trás das palavras. Peter franziu um cenho e pulou para o prédio seguinte.

 — Tá bom... desculpa te preocupar — Respondeu.

 — Você vai me deixar com cabelos brancos — Tony resmungou, tão mal-humorado quanto Michelle. Peter riu antes de responder, sabendo que talvez fosse se arrepender

 — Você já tem — Disse num tom de brincadeira, não dando tempo de Tony brigar ou repreende-lo. — Chego em dez minutos, no máximo

 Com isso Peter desligou o celular, parando novamente para guarda-lo no bolso do traje antes de voltar o seu caminho para a Torre, um pouco mais apressado do que antes.

 Não demorou muito e ele logo estava em outro beco, dessa vez tirando suas roupas normais e jogando-as por cima do traje. Ele tirou as luvas e a máscara e as guardou dentro da mochila. Foi uma das trocas mais rápidas da sua vida, mas ele se viu pensando que não seria a última.

 Já parecendo um pouco mais ajeitado — pelo menos para um adolescente — Peter atravessou a rua e caminhou até o estacionamento da Torre, já que agora as atividades no laboratório estavam fechadas e com isso o hall de entrada. O que restava era o estacionamento.

 — Bem-vindo de volta Peter — Sexta-Feira o cumprimentou amigavelmente, Peter sorriu para o teto.

 — Oi Sexta-Feira — Ele disse, deixando seus ombros relaxarem, confortável por finalmente estar em casa.

 Sim, ele estava começando a ver a Torre como sua casa, e isso trazia um certo conforto.

 — Pode me deixar no mesmo andar do meu pai? — Ele perguntou, mudando o peso de um pé para o outro.

 — Claro Peter — A I.A respondeu, logo depois o elevador começou a subir.

 Quando as portas do elevador se abriram, Peter encontrou com a sala de estar dos Vingadores, como sempre, as conversas fluíam bem mais altas do que o normal.

 — Olha só quem apareceu! — A voz inconfundível de Clint o cumprimentou assim que Peter pisou fora do elevador. Ele sorriu, feliz por ver o arqueiro novamente depois de praticamente dois messes.

 Peter sorriu, tirando a mochilas das costas para deixa-la descasar no pé do sofá. Logo em seguida ele estava preso pelos braços de Clint, não em um abraço, mas um puxão para o lado. O arqueiro basicamente o arrastou para o sofá.

 — É bom te ver Clint — Peter disse, percebendo então que uma pequena parte dos Vingadores estavam na sala.

 — Natasha! Olha quem chegou! — Ele gritou, fazendo Peter se encolher por estar tão perto.

 Quase que instantaneamente, Natasha apareceu da cozinho, cabelo amarado em um coque desajeitado e com uma colher de pau na mão.

 — Peter! — Ela sorriu pra ele. — Por que demorou tanto? Tony disse que você estava na biblioteca

 — Eu estava — Mentiu novamente, botando um pouco mais de força, porque agora ele estava mentindo para Natasha.

 — Quem é que vai à biblioteca hoje em dia? — Clint perguntou ao seu lado.

 — Era bem popular na minha época — Steve disse, aparecendo na porta da cozinha usando um estranho avental escrito “Kiss The Cook”.

 Peter se animou instantaneamente com a visão, porque isso significa que Steve estaria fazendo o jantar, e surpreendentemente, ele era muito bom nisso.

 Clint zombou em voz alta, apertando os ombros de Peter.

 — Trouxemos algumas coisas pra você — Natasha disse, deixando a colher de pau na bancada do bar.

 — E está tudo confiscado — Tony disse, surgindo corredor. — Ele está de castigo

 Peter soltou uma risada que era definitivamente inapropriada, mas ainda assim ele foi incapaz de conter. Tony estreitou os olhos para ele.

 — Pensei que tivesse me tirado — Peter disse, levantando uma das mãos para cobrir a boca e seu sorriso.

 — Mudei de ideia — Tony respondeu, cruzando os braços.

 — Então ele vai ser mimado no castigo — Natasha disse, passando por Tony e sumindo no corredor.

...

 Peter demorou um pouco para acreditar que Clint e Natasha realmente trouxeram algumas lembranças pra ele de São Francisco, o que deixou Scott indignado, por ele vivia indo e vindo de São Francisco para Nova York e nunca pensou em algo assim. Ele prometeu a Peter a lembrança mais legal da cidade quando voltasse do seu fim de semana com sua filha.

 Ele ganhou uma camisa que era duas vezes maior que o número dele escrita “I Love San Francisco”, um conjunto de Lego da selva que Clint disse que encontrou ao vagar pela cidadã. Natasha ainda lhe deu um moletom enorme.

 Digamos que ele estava surpreso e agradecido.

 No final, eles jantaram assistindo um documentário sobre um assassino, o que Tony e Steve declararam veementemente que era inapropriado para Peter, mas ele ficou mesmo assim. No final, já eram quase 11 horas quando a equipe se separou para ir para seus respectivos quartos.

 — Eu vou sair amanhã — Tony disse quando ambos estavam a caminho da cobertura. — Pep e Rhodey vão chegar e eu acho que Rhodey vai querer passar no escritório antes de voltar

 — Tudo bem... — Peter respondeu em um reflexo, e então ele se lembrou de que Ned estava vindo. — Mas... não tem nada de errado eu trazer o Ned amanhã né? A gente combinou desde terça-feira

 Tony foi o primeiro a sair do elevador quando o mesmo parou, e Peter o seguiu logo depois. O bilionário então se virou, e havia um sorriso calmo em seu rosto.

 — Claro, vão vir depois da escola? — Tony perguntou como se não fosse nada demais, mas seu sorriso se ampliou quando ele viu que Peter vacilou em seu lugar. Não era fácil esconder isso de seu pai.

 — Esse é o plano — Peter confirmou com um aceno.

 — Bem, se é assim vou tentar ficar e pelo menos dizer um oi — Tony disse, alcançando o ombro de Peter, dando um leve aperto.

 Isso foi o suficiente para fazer Peter sorrir, deixando seus ombros relaxaram. Tony podia facilmente transmitir uma aura boa e calmante, apenas o suficiente para fazer Peter esquecer as preocupações por agora.

 Ele podia fazer isso.

 ...

 A aula de literatura estava, novamente, sendo mais difícil que as demais. Peter estava sentado ao lado de Gwen, justamente por causa do trabalho em dupla gigantesco que vali metade da nota do semestre.

 Antigamente, Peter realmente odiava os trabalhos em dupla, porque ele nunca tinha ninguém e acabava fazendo sozinho ou com alguém completamente inútil. Mas agora as coisas eram um pouco diferentes. Ele acabava fazendo os trabalhos com Ned, e em algumas ocasiões, a dupla de tornava trio, já que MJ sempre entrava.

 Nesse caso, ele tinha Gwen.

 Não era um dia em que ele estava se sentindo muito bem, talvez fosse por conta da ansiedade e da dúzias de pensamentos que pairavam sua cabeça. Porém, ele teve um boa noite sono, ainda com alguns pesadelos, mas dessa vez era suportável.

 Talvez só fosse sua mente brincando com ele de novo.

 — Não posso acreditar nisso... — Peter murmurou, enterrando o rosto nos braços enquanto sentia a dor de cabeça rastejar pelo seu cérebro. Ele tinha passado por 4 aulas e essa era a última antes do almoço, mas isso já era o suficiente para deixa-lo no limite.

 — São três folhas... — Gwen também murmurou em resposta, levantando o livro didático na sua frente para folhear as três folhas de exercícios.

 Ela também parecia cansada hoje, os ombros meio caídos em desanimo e havia firmes olheiras em baixo dos seus olhos azuis, como se ela não tivesse dormido muito bem a noite. Peter queria perguntar, queria ser curioso e descobrir um pouco mais sobre Gwen, mas ambos ainda não eram próximos o bastante para conversar livremente sobre suas vidas pessoais. Peter apenas sabia que o pai dela era policial, fora isso, mais nada.

 — 45 Questões... — Peter revirou os olhos, buscando força de vontade para alcançar a caneta e começar logo a trabalhar. Eles não tinham muito tempo, se quisessem adiantar as coisas, era melhor começar logo.

 — A gente não vai terminar hoje — Gwen disse, balançando a cabeça de um lado para o outro, deixando o livro descansar em cima da mesa. A vontade dela de fazer esse trabalho era a mesma que a de Peter. — Provavelmente nem metade...

 — Percebi — Peter murmurou em concordância.

 Era incrível como ambos pareciam de mal humor hoje, quase que se ajudando mutualmente. Gwen estava cansada e Peter no limite.

 — Você está livre depois da escola? — Gwen perguntou depois de um tempo em silêncio, quando ambos já estavam começando a copiar as questões no caderno. Sua voz era baixa, um sussurro leve, mas ainda assim era o único som além do grafite no papel. — Você podia ir lá em casa, daí a gente termina tudo hoje

 Peter engoliu em seco, não sabendo o que pensar dessa proposta. Por um lado, era realmente tentadora. Ele se livraria desse trabalho de uma vez só e acabou; mas antes que ele pudesse considera-la, Ned veio na sua mente e ele balançou a cabeça firmemente.

 Se não fizesse isso hoje, era capaz de adiar pelo resto da vida.

 — Você não tem estágio...? — Perguntou, apenas tentando puxar assento porque a ideia se simplesmente ficar ali e copiar 45 questões e então responder era realmente torturante.

 Gwen deixou o lápis cair na mesa, suspirando. Peter viu de soslaio quando ela alisou o rosto com as mãos, quase como se estivesse se forçando a ficar acordada.

 — Não — Ela murmurou em resposta, voz saindo abafada. — Ontem fiz hora extra... as coisas estão bem doidas no laboratório. Então o dr. Connors me dispensou... a única coisa que eu preciso fazer é responder alguns formulários e manda-los por e-mail

 Peter também parou de escrever, agora interessado em saber mais. Será que as pesquisas do dr. Connors tiveram algum sucesso? O algoritmo de decaimento funcionou? Se sim, isso quer dizer que Peter realmente fez algo bom para alguém.

 Ele nem percebeu quando um sorriso começou a se formar em seu rosto, puro e único, quase o fez esquecer do nervosismo em seu corpo.

 — Tem algo a ver com a pesquisa? — Ele perguntou, não se incomodando em esconder seu entusiasmo nas palavras. Peter queria saber, queria apenas que alguém confirmasse, e esse alguém era justamente Gwen.

 Ela riu, levantando a mão para ajeitar o arco em sua cabeça.

 — Eu não deveria te dizer, mas sim, parece que a pesquisa teve uma evolução — Havia um pequeno sorriso em seus lábios, mas ele acabou caindo por Terra segundos depois, junto com todos e possível animo que havia em seus olhos. — É legal, mas também assustador. Você sabe, curar doenças com DNA de animais... tenho um mal pressentimento sobre isso

 Peter congelou em seu lugar, soltando também o seu lápis. De repente, o trabalho de três páginas de literatura não era mais importante. Ele precisava descobrir o que estava acontecendo, saber se tudo estava certo, se as coisas não sairam dos eixos. 

 Se algo ruim está prestes a acontecer.

  O mal pressentimento de Gwen pareceu ser contagioso, porque de repente toda a excitação foi embora, substituída por um frio no estômago e... um tilintar leve do seu sentido aranha.

 — Mas isso não é... bom? — Peter perguntou, sua voz baixa demais até mesmo para seus próprios ouvidos. Ele franziu os lábios e as sobrancelhas, engolindo em seco diante da sensação gélida em seu estômago. —Quer dizer... é suposto curar doenças genéticas, isso é uma evolução incrível

 Para a sua surpresa, Gwen se virou, cenho franzido para ele. Ela não parecia assustada, apenas surpresa, mas as olheiras embaixo dos seus olhas de deram um olhar de pânico. Ela realmente parecia acabada hoje.

 — Como sabe disso? — Perguntou, desviando o olhar de Peter para encarar o livro, quase como se estivesse com medo da resposta.

 — Eu li os livros do dr. Connors

 Isso pareceu bastar, já que Gwen deixou seus ombros caírem e voltou a encara-lo, mas o olhar de pânico ainda estava ali, pairando nas orbes azuis.

 — É revolucionário, sim — Ela concordou, quase que aflita, acenando mais de uma vez com a cabeça. Peter não soube o que fazer, e apenas a observou. — Mas... as mutações genéticas são serias. Os efeitos colaterais são imprevisíveis e podem ser... bem cruéis. Pelo que sabemos, alguém pode muito bem pegar essas pesquisas e altera-las para fazer... sei lá, uma versão bizarra do soro do super-soldado — Ela respirou fundo, parecendo agora um pouco mais leve.

 Talvez fosse justamente isso que ela precisasse, desabafar.

 Peter sorriu, tentando mostrar simpatia, apesar de ele mesmo começar a ter suas próprias dúvidas quanto a isso. Isso acabou contrariando até mesmo seus sentidos, que estavam levemente perturbados com a conversa, mas ele tentou deixá-los de lado.

 Mesmo que ele soubesse perfeitamente que seu sentido aranha nunca estava errado.

 Ninguém iria roubar a pesquisa do dr. Connors apenas para criar algo assim. Sim, Peter sabe que muitos cientistas — até mesmo alguns mal-intencionados — tentaram recriar o soro do super-soldado, mas não parece fazer sentido usá-lo com as pesquisas do dr. Connors.

 Eles não estariam criando um soldado, e sim um monstro. A pesquisa não foi feita para isso e as mutações genéticas poderiam ser avassaladoras, criando assim um ser que provavelmente não teria nem ao menos consciência.

 — Eu acho que você está se preocupando demais... — Ele murmurou, tentando reconforta-la de alguma forma, mesmo que suas palavras servissem também para ele. — Ninguém usaria isso para o mal

 Gwen se virou pra ele, lábios franzidos. Ela pareceu pensar por um momento, e então deixou os ombros caírem.

 — E se nós estivéssemos usando isso para o mal? — Perguntou, sua voz cheia de sentimentos mistos que fizeram Peter se inclinar para trás em sua cadeira.

 Eles estão? A Oscorp faria isso? Mas com qual proposito?

 Ele não pode deixar de se sentir confuso e levemente aterrorizado. Seus olhos estavam arregalados enquanto encarava a loira, e foram necessárias várias tentativas antes que a pergunta saísse da sua boca.

 — O que quer dizer?

 Gwen pareceu pensativa por um momento, se afastando de fez dos materiais escolares apenas para se reclinar em seu assento.

 — Sabe esse novo cara? — Perguntou, balançando a cabeça como se quisesse transmitir alguma ideia. — Esse “Homem-Aranha”

 Peter prendeu a respiração, não sabendo como reagir a isso. Gwen estava praticamente o acusando de alguma coisa, algo que ele nem ao menos fez ou sequer tinha certeza de que existia. Era assustador, e ele precisou forçar as palavras para fora da sua boca em um gaguejar estranho.

 — S-Sim...

 — Então — Ela fez uma pausa, se aproximando de Peter para ter certeza de que apenas ele ouviria. — Eu acho que ele é da Oscorp. De algum projeto secreto que o Norman Osborn patrocina — Peter piscou, atordoado.

 Ela não estava necessariamente certa, mas também não estava errada. Ele realmente ganhou seus poderes por causa da Oscorp, mas foi por uma mordida acidental de uma aranha, nada além disso, ele não foi preso em uma sala e injetaram coisas nele para testes. Foi um chute de sorte, e que funcionou.

 Peter queria gritar isso para Gwen, mostrar um outro ponto de vista, mostrar o seu lado. Dizer que ele não fazia parte de Oscorp, apesar de um dia ter conhecido os donos, apesar do seu pai ter feito parte das pesquisas. Mas ele não podia, estava preso.

 Preso em seu próprio segredo.

 — Ele claramente tem o DNA alterado, acho que é daí que vem o nome. Isso parece muito com os projetos do dr. Connors e... veio a minha mente — Gwen suspirou, virando para frente novamente. — Meu pai acha que ele é legal, já que não tem feito nada além de ajudar as pessoas... não sei se devo acreditar nas mesmas ideias que ele, apesar de ele sempre ter tido um bom julgamento

 Gwen suspirou mais uma vez, e ambos acabaram encarando o nada por um momento. Naquele ponto, era realmente um milagre a professora não estar brigando com ele.

 Um rápido olhar para cima confirmou que ela estava apenas folheando uma revista.

 — Parece que tem algo mais... o que está te incomodando? — Peter perguntou, percebendo a forma como Gwen estava congelada em seu lugar.

 — É que... — Ela molhou os lábios, olhos perdidos na mesa na sua frente. Peter pensou que ela fosse deixar isso por aí, mas então Gwen voltou a falar, voz vacilante. — Se ele realmente faz parte de algum projeto, isso significa que terão mais...

 — Mais...? — Peter se inclinou para o lado de Gwen, olhar perdido em confusão por um momento.

 Ela então virou a cabeça e o encarou, expressão séria e profunda.

 — Mais “Homens-Aranhas”

...

 Apesar da conversa tensa, que deixou Peter confuso, eles voltaram ao trabalho, apenas copiando no automático, sem realmente prestar atenção. Peter não podia exigir coisa melhor de si mesmo, ele estava levemente assustado com as conjecturas de Gwen.

 Que pareciam, querendo ou não, se encaixar. Não na parte de ele ser um projeto supersecreto da Oscorp, mas a parte de poder sim ter pessoas mal-intencionadas querendo colocar as mãos no projeto do dr. Connors.

 Projeto esse que seu pai adotivo participou.

 Isso ficou rondando na sua mente até o sinal do almoço bater, finalmente colocando um ponto final naquelas questões intermináveis.

 — Tragam o trabalho para semana que vem — A professora disse, pouco antes dos alunos começaram a se levantar e a saírem da sala.

 Peter se virou para Gwen, que já estava com a mochila nas costas se preparando para deixar a sala.

 — Amanhã então eu passo no seu apartamento — Ele disse, apenas para confirmar o combinado deles.

 De fato, o trabalho não tinha nem chegado na metade graças a conversa tensa que tiveram — e é claro, a má vontade de ambos —, mas isso não quer dizer que eles não possam se reunir e terminar isso juntos em um tempo livre.

 — 2016 — Ela disse, oferecendo um sorriso para ele enquanto apontava um dedo. — Não chegue muito tarde se não quiser terminar antes do anoitecer

 Peter sorriu, contente por toda aquela tensão ter isso embora. Ele acenou, fazendo uma breve reverencia que causou uma risada em Gwen.

  — Certo, vou tentar não esquecer — Peter respirou fundo, alcançando Gwen antes que ela saísse pela porta. — Onde você vai agora?

 — Biblioteca — Respondeu sem hesitação, apesar de ter um certo cansaço em sua voz. — Talvez comer um salgadinho ou algo parecido

 Peter revirou os olhos, parando Gwen em sua trilha.

 — Não quer almoçar comigo hoje? — Perguntou, gesticulando em direção ao refeitório. Gwen fez uma careta, rindo.

 — Eu não como no refeitório desde que encontrei um cabelo no meu macarrão — Ela bufou, revirando os olhos. — Além do mais, seus amigos nem me conhecem. Eles vão estranhar

 Peter abaixou o olhar para a quantidade exuberante de livros nas mãos da loira, um mais grosso que o outro. Um sorriso rastejou para seu rosto, percebendo que Gwen já tinha algo em comum com MJ.

 — Eu não penso assim — Ele disse. — E você também nunca vai saber se não tentar

 Gwen desviou o olhar, franzindo o cenho em concentração. Era algo que ela fazia sempre que parava para pensar, o que geralmente resultava em uma análise profunda da situação.

 — Você vai ter que comprar um salgadinho pra mim — Ela disse em repostas, e Peter julgou que isso era um sim.

 — Isso não é problema

 ...

 Ele acabou comprando 5 salgadinhos, um para cada um dos seus amigos.

 — Oi Peter! — Betty o cumprimentou quando ele arrumou um lugar vazio na mesa, ao lado de MJ. Gwen se sentou no único outro lugar vazio ao lado dele.

 — Oi gente — Ele sorriu, praticamente jogando os salgadinhos em cima da mesa, fazendo um farfalhar estranho. — Essa é a Gwen

 Gwen levantou a mão e acenou timidamente para o resto das pessoas na mesa. Ned sorriu para ela, acenando de volta, e Betty seguiu seus passos. MJ simplesmente abaixou seu livro e olhou por cima dos ombros de Peter, tentando ver Gwen.

 Ela não fez nada além de franzir as sobrancelhas.

 — Eu acho que nós não temos nenhuma aula juntos — Gwen murmurou, abrindo o seu próprio salgadinho.

 — Sim, mas é bom te conhecer — Betty disse.

 — Seja bem-vinda ao grupo — Ned disse, sorrindo. Ele estendeu a mão e pegou um salgadinho.

 Peter fez o mesmo, só que pegando dois deles e estendendo um para MJ ao seu lado. A morena olhou para o pacote, levantando uma sobrancelha e demorou um pouco para deixar o livro de lado e pegar o salgadinho. Peter sorriu de forma incentivadora, rindo levemente quando o rosto de MJ ficou vermelho.

 — Obrigada — MJ e Gwen disseram ao mesmo tempo. Gwen agradecendo a Ned com um sorriso meigo e MJ a Peter com um encolher de ombros.

 ...

 — Esse é o melhor cachorro quente do mundo — Ned murmurou, falando de boca cheia.

 Eles tinham acabado de sair do metrô e fizeram uma pequena pausa para comer um cachorro quente, por sugestão de Peter.

 Ele estava nervoso, e não ajudava em nada o simples fato de ele poder ver a Torre ao fundo, reinando entre os arranha-céus de Manhattan. Eles ainda teriam que andar um pouco mais, mas Peter estava simplesmente tomando o caminho mais longo, como se isso fosse adiar o inevitável.

 Mas isso não acalmou o nervosismo que estava pairando na boca do estômago.

 — Vocês sempre são bem-vindos — O dono do carrinho de cachorro quente disse, sorrindo amigavelmente para os meninos. Ele era um senhor de idade, que provavelmente deveria estar em casa, e não vendo cachorros quentes na rua por Manhattan.

 — Obrigado senhor — Peter disse, se forçando a dar uma mordida no seu próprio cachorro quente.

 Ele realmente não estava com vontade de comer agora, mas fez isso apenas para mesclar o seu estanho medo. Isso apenas o deixou enjoado.

 Peter se virou, liderando o caminho pelas ruas movimentadas. Era apenas um dia normal em Nova York, por isso as ruas estão cheias e Peter fez um esforço a mais para se manter ao lado de Ned durante todo o percurso.

 — Onde você mora? — Ned perguntou depois de dar outra mordida em seu cachorro quente, boca ainda cheia.

 A pergunta fez Peter encolher os ombros.

 — Eu... estou um pouco nervoso sobre isso — Ele confessou com um encolher de ombros, rapidamente deixando seu próprio cachorro quente de lado quando se viu incapaz de come-lo. — Minha família é... estranha

 Peter viu de soslaio quando uma certa realização passou pelo rosto do moreno, fazendo-o franzir o cenho. O jovem aranha se perguntou no que seu amigo tinha pensado.

 — Oh... — Ned murmurou. — Isso é normal cara

 Peter riu, percebendo que Ned assumiu outra coisa.

 — Não sei o que você pensou, mas tenho certeza que vou superar suas expectativas

 Ned não respondeu.

 Os dois caminharam pelas ruas de Manhattan, passando ao lado do Central Park — onde Peter encontrou um cachorro e deu o resto do cachorro quente a ele — enquanto a Torre dos Vingadores ficava cada vez mais próxima. Ned comentou algo sobre convidar todos e fazer um piquenique no verão, durante as férias. Peter concordou, tentando deixar de lado o fato de que ele não terá férias esse ano.

 Por fim, os dois estavam passando ao lado da Torre. Peter indo até as portas de entrada, mas Ned estava ocupado demais olhando para cimo e para os andares intermináveis para notar.

 — Isso é tão maneiro! — Ned disse com entusiasmo, olhando brilhando. Havia uma enorme paixão em suas palavras. — Como será que é a vista lá de cima? Deve ser muito bonito

 Peter pensou em responder. Em dizer algo como:

 — É magnifica! Dá pra ver todo o Central Park

 Ou

 — Você vai descobrir

 Mas acabou ficando quieto, parando no meio da calçada para tirar o crachá de visitante para Ned. Somente assim ele poderia entrar.

 Peter agradeceu mentalmente por Tony ter lhe dado isso de manhã.

 — A escola bem que podia fazer uma excursão para as Indústrias Stark. Ouvi dizer que os laboratórios ficam nos primeiros andares — Ned disse em voz alta, sem realmente perceber o que Peter estava fazendo. — Seria o melhor dia da minha vida! Mas parece que a fila está enorme. Tem escolas até de Nova Jersey na lista

 Peter sorriu, o nervosismo sendo substituído por uma estranha ansiedade. Ele queria ver a cara de Ned quando ambos entrassem na Torre, mas se forçou a segurar o riso que queria escapar dos seus lábios.

 Por fim, ele encontrou seu crachá, junto com o crachá de visitantes.

 — Aqui — Ele o estendeu para Ned.

 Os olhos do seu melhor amigo repousaram no material, escurecendo pela pura confusão logo em seguida. Ned levantou uma sobrancelha e olhou para Peter como se ele estivesse louco; a careta em seu rosto se tornou desesperada, beirando a um entusiasmo.

 — Isso é um crachá das Indústrias Stark?! — Ele perguntou, sua voz subindo alguns decibéis. Peter precisou conter uma risada. — Cara, como você tem isso? É tipo, supercontrolado!

 — Ned, pega — Peter sacudiu a mão, oferecendo o crachá mais uma vez para seu amigo, que dessa vez quase recuou um passo. — Você não pode entrar se não tiver um crachá

 Peter avançou, percebendo que Ned não iria pegar o crachá então ele mesmo se deu ao trabalho de colocá-lo ao redor do pescoço do amigo. Ned congelou, como se o menor movimento fosse fazer o crachá lhe queimar.

 — Entrar? — Ned arregalou os olhos, olhando mais uma vez para cima e para a enorme Torre. —  A gente não pode entrar! Os seguranças vão jogar a gente pra fora e vamos aparecer no jornal como “ Os Dois Idiotas Que Tentaram Invadir As Industrias Stark”!

 Peter riu disso, metade de todo o peso vazando dos seus ombros. Ele imaginou o quão estranho seria se isso acontecesse, mas era impossível, todos da segurança sabiam quem ele era — justamente por cauda de Happy.

 — Confia em mim Ned! — Peter disse, tentando transmitir um pouco de confiança ao amigo e então colocou o próprio crachá.

 Peter se virou, mas foi necessários apenas dois passos para perceber que Ned não iria se mover, completamente petrificado na frente da Torre enquanto vários trabalhadores passavam por ele.

 — Vem! — Peter se virou e agarrou o amigo pela mão, o puxando.

 Ned tentou lutar, indo para trás, mas ele não podia vencer Peter quando o assunto era força, por isso acabou sendo arrastado para dentro. Toda a sua luta morreu quando ambos os garotos entraram no hall de entrada na Torre. Ned, atônico demais olhando ao redor, não percebeu que alguns funcionários cumprimentavam Peter enquanto o garoto passava.

 Ambos então se aproximaram das catracas de seguranças, que permitia apenas visitantes, trabalhadores, os Vingadores e os familiares dos Vingadores. Peter soltou o amigo, e usou seu próprio crachá para passar sem grandes problemas.

 — Cara, você falsificou isso? — Ned perguntou, no que deveria ser um sussurro, mas era alto demais para se encaixar nessa categoria. Peter se virou e lançou um sorriso amistosos para o amigo.

 — Pode passar — Peter o incentivou, dando um passo para trás. — Se fosse falsificado nós não teríamos nem passado por aqueles seguranças

 Peter gesticulou para um par de seguranças guardando as portas da frente da Torre, e quando Ned olhou para trás para vê-lo, congelou completamente. Seus olhos pararam em Peter novamente, agora aterrorizados; Peter não se conteve e acabou rindo.

 — Vem Ned — Ele o chamou de novo, mas o garoto apenas continuou lhe encarando em pânico.

 — Eu tô muito ferrado

 Peter deixou seus ombros caírem, pensando num jeito de convencer o amigo. Demorou um pouco para alguma ideia vir a sua mente — nada que envolvesse voltar e empurrar Ned pela catraca —, e então ele se lembrou.

 — Se lembra no primeiro dia de aula? —Peter perguntou, fazendo Ned franziu os lábios em uma careta pensativa, mas ele parecia aterrorizado demais para pensar na mesma velocidade que o normal. No final, o garoto acenou em concordância. — Você disse algo sobre o meu pai

 Os olhos de Ned se arregalaram quando ele percebeu, no mesmo instante agarrando seu crachá e o levantando para analisa-lo mais de perto. Ele levou o olhar para Peter surpreso, abrindo e fechando a boca alguma vezes.

 — Seu pai é sócio do Tony Stark?! — Perguntou, um sussurrou real dessa vez. Peter não concordou ou negou, ele apenas deu de ombros.

 — Algo assim — Disse por fim.

 Peter pode ver quando Ned engoliu em seco, se aventurando agora por conta própria para passar pela catraca. Peter observou com um sorriso divertido quando os olhos do amigo se iluminaram e ele percebeu que de fato tinha passado.

 — Cara isso é tão maneiro! — Ele disse, um sorriso enorme no rosto, e então olhou de soslaio para os seguranças novamente — E tão assustador

 Peter agarrou novamente usa mão, certo de que Ned não iria segui-lo se ele apenas fosse na frente. Ambos se aproximaram do elevador pessoal dos moradores da Torre, e Peter percebeu quando Ned entendeu o que ele estava fazendo.

 — Peter! Isso é...?

 Novamente, o jovem aranha não respondeu, optando apenas por demonstrar. Ele ergue novamente o crachá, o disponibilizando para o scanner. Não demorou muito e o apito de aceitação veio quase como um sino, e as portas do elevador se abriram.

 — Você mora aqui?! — Ned perguntou, lutando novamente quando Peter o puxou para dentro do elevador. — Você tem acesso a cobertura dos Vingadores, isso significa que você mora aqui... ou é parente de algum deles — Foi necessário um puxão a mais para fazer Ned entrar no elevador. — Espera... você conhece os Vingadores?!

 — Bem-Vindo de volta Peter — A voz de Sexta-Feira ecoou nas paredes quando as portas se fecharam e o elevador começou a subir. Peter olhou para Ned, encontrando com o amigo encarando o teto com o queixo caído. Ele não pode conter uma risada. — Esse é o seu amigo?

 Peter acenou firmemente.

 — Sexta-Feira, esse é o Ned — Peter disse, olhando para o teto como um reflexo involuntário. Ele estava acostumado a fazer isso. — Ned, essa é Sexta-Feira, a inteligência artificial que controla toda a Torre

 Ned arfou ao seu lado. Ele desviou o olhar do teto e encarou Peter com os olhos arregalado, ele então levantou um dedo, apontando diretamente para o teto com uma pergunta não dita.

 — Seja bem-vindo Ned — Sexta-Feira disse, sua voz deixando de ser sarcástica como sempre e assumindo algo mais amistoso, assim como ela sempre faz quando fala com Peter. — Onde é a parada Peter?

 — Onde está o meu pai? — Perguntou sem hesitar, endireitando os ombros, sendo novamente tomado por um nervosismo.

 — O chefe está atualmente na cobertura, se preparando para ir pegar a srta. Potts e o sr. Rhodes no aeroporto — Sexta-Feira respondeu, e Ned pareceu engasgar.

 Peter olhou para ele, um sorriso lúdico nos lábios.

 — Pepper Potts? — Ele perguntou num sussurro estrangulado, olhos brilhando de excitação. — Tipo, Pepper Potts? CEO das Industrias Stark? — Peter acenou, sorrindo.

 — Pra cobertura então — Ele parou por um segundo e então olhou para Ned. — Eu falei que era um pouco estranho. Só não surte okey?

 — Peter — Perguntou, se aproximando mais de Peter. — Seu pai é um Vingador?

 Peter não respondeu verbalmente, ele apenas deu um leve e lento aceno hesitante. O rosto de Ned voltou a se iluminar como fogos de artificio em um enorme e brilhante sorriso.

  — Wow! Quem? — Ele perguntou com entusiasmo, não se importando se agora estava gritando ou não. Peter já podia sentir a enxurrada de perguntas que estavam por vir. — Eu nem sabia que algum Vingador tinha filhos! Espera, isso meio que torna você famoso... — Ned fechou a boca por segundos e então seus olhos se arregalaram novamente. — Eu sou o melhor amigo do filho de um vingador! Isso é simplesmente incrível. Cara, por que você não me contou antes?

 Peter não teve tempo de responder, justamente porque as portas do elevador se abriram e agora eles estavam na cobertura de Tony.

 Em casa. Peter estava em casa.

 — Ah vocês chegaram! — Peter pode ver quando seu pai se levantou da sua poltrona usual, celular na mão e vestido com um terno e óculos escuros. Era bem óbvio que ele iria sair.

 Peter segurou firmemente uma risada quando Ned congelou ao seu lado, por isso foi necessário um pouco de força para puxar o amigo para fora do elevador. Ned não disse nada, e Peter fez o possível para não se virar e dar uma olha da expressão do amigo.

 Ele não iria conter as gargalhadas se o fizesse.

 — Sexta-Feira disse que você já está de saída, que horas volta? — Peter perguntou, como um filho normal falaria com um pai normal.

 — Provavelmente daqui a duas horas— Ele respondeu, e então se virou para Ned, um sorriso fácil se formando em seus lábios.

 Peter, particularmente, odeia quando seu pai usa óculos escuros, porque isso o impede de ver os seus olhos.

 — Você deve ser o Ned — Ele disse, estendendo uma mão para o adolescente.

 Peter se virou e olhou para o amigo, o encontrando completamente estático enquanto encarava o homem na sua frente. Como se por um surto, Ned se mexeu alcançou a mãos do bilionário com entusiasmo, seus olhos brilhando e um enorme sorriso dominou suas feições.

 Era como se ele tivesse acabado de receber a notícia que ganhou 1 milhão de dólares na loteria.

 — É um prazer conhece-lo sr. Stark! —Ned disse, sua voz borbulhante. Surpreendentemente, ele não gaguejou, mas talvez tenha ultrapassado alguns decibéis a mais. Peter sorriu para a visão, completamente divertido.

 — O mesmo Ned, Peter falou muito bem de vocês — Tony parecia satisfeito por ser bombardeado com perguntas, principalmente quando ele estava prestes a sair. Ele soltou a mão do adolescente, o deixando borbulhando para trás. Tony então deu uma olhada em seu relógio e franziu o cenho. — Eu tenho que ir garotos, então não explodam nada... ouviu Peter?

 Peter riu, revirando os olhos para a brincadeira óbvia. Afinal, ele ainda não explodiu nada.

 Ainda.

 — Sim pai

 — Ótimo — Ele entrou no elevador e então se virou para ambos novamente. — Cuidado

 O elevador se fechou quando Peter acenou para seu pai, e agora ele estava sozinho com Ned.

 — Peter — Ned o chamou depois do que pareceu minutos em silêncio. — Qual é o seu nome…?

 — Peter Benjamin Parker — Ele respondeu, abrindo um sorriso lentamente, satisfeito com tudo isso. As coisas tinham ocorrido bem até aqui. — Stark


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei, demorei para um caramba pra atualizar, mas isso tudo é culpa da minha recente depressão (que inclusive eu meio que estou lidando enquanto escrevo uma oneshot, que provavelmente vou dividir em capítulos), então, culpem essa súbita onda de inspiração.

Esse capitulo ficou ENORME, me perdoem por isso, acabei adicionando muitas coisa na revisão e deu nisso. Peço perdão, tanto por isso quanto pelo erros que com certeza estão espalhados por ai.

~~ See Ya Later



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