I M P E R I U S escrita por T in Neverland


Capítulo 19
Nurmengard


Notas iniciais do capítulo

Capítulo revisado e atualizado em 11/07/2021.



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Nurmengard - Capítulo XIX

Quando a semana do natal chegou e Ilka teve de dar a notícia a Tom de que eles não iriam passar o feriado juntos, o garoto ficou bastante decepcionado, mas ainda assim foi bastante compreensivo, afinal, iria completar dois anos que ela não via o pai, talvez até mais.

Juntou seus itens essenciais do quarto, guardando em uma espécie larga de bolsa de couro. Não havia necessidade de montar um malão com todos os seus pertences, já que iria passar somente alguns dias fora. 

Antes de partir, decidiu ir atrás do professor Dumbledore, para que pudessem revisar o passo a passo do plano que executariam.

Como esperado, o professor estava na sala de transfiguração, onde passava a maior parte de seu tempo. Ilka bateu na porta antes de entrar, e assim que Alvo a convidou para dentro, ela fechou a porta atrás de si, para que ninguém entrasse enquanto os dois conversavam.

— Vim me despedir do senhor, professor – Ilka finalmente se pronunciou, enquanto se aproximava do professor.

Era notável que a garota não estava usando os trajes da escola, o que revelava que ela partiria em breve. Usava uma saia de tom azul claro, que lhe alcançava a metade das panturrilhas e era rodada, em conjunto com um blazer de mesma cor, que estava abotoado e marcava bem sua cintura com um fino cinto preto. A bolsa que havia arrumado com seus pertences mais cedo estava pendurada no ombro, e a garota parecia segurar algo em mãos, um recipiente de vidro.

— Vou partir hoje de encontro ao meu pai, e queria ficar alguns dias com ele antes de lhe mandar a localização exata de onde ele está, tudo bem para o senhor? – explicou a Grindelwald, esperando uma resposta positiva do professor.

— Tudo bem, eu nunca exigiria algo além disso de você, Ilka. Não sei o que acontecerá e se poderá manter o contato com Gellert após tudo, então aproveite esses dias como se fossem os últimos. Por mim, já que eu não tive a oportunidade de fazê-lo – Dumbledore a aconselhou, com os seus belos olhos azuis demonstrando certo arrependimento.

Para Ilka era bastante óbvio que a amizade de seu pai com o professor havia sido bem intensa, e que talvez Alvo tivesse alguns sentimentos reprimidos. 

Não o condenava por isso, muito pelo contrário, era essa característica afetiva que fazia com que ela gostasse mais do vice-diretor.

— Trouxe isso para o senhor, como presente de Natal. É uma maneira de agradecer todo apoio que o senhor vem me dado – disse a loira, lhe entregando o recipiente que tinha em mãos.

Dumbledore não demorou a reconhecer o que tinha dentro do vidro. Eram diversas balas de tom verde claro, cobertas por uma fina camada de açúcar. Um doce trouxa bastante conhecido, que ele não sabia como a garota havia conseguido.

— Gotas de limão... Muito obrigado! Como descobriu o meu gosto por elas? – perguntou ele, ainda admirado pelo presente.

— Perguntei a alguns alunos da Grifinória, não foi muito difícil descobrir – explicou-se, contente pela reação positiva do professor – Feliz natal professor, até daqui a alguns dias.

Após entregar o presente e se despedir do professor, Ilka caminhou até a sala do diretor, onde havia pedido com antecedência para que pudesse usar a lareira. Dippet não gostava da garota, mas também não recusou, já que a menina havia pedido com bastante educação a ele ao perguntar.

A sala estava vazia, livre para que a garota pudesse usar sem se preocupar se o diretor desconfiaria ou não de seu destino.

Como se fosse um movimento ensaiado, Ilka encheu sua mão do pó que se encontrava em um pote, logo ao lado da lareira. E pôs-se de pé dentro da caixa de fogo, onde atirou as cinzas ao seu pé, com confiança.

— Nurmengard – pronunciou, em alto e bom som.

Seu corpo foi consumido pelas chamas verdes causadas pelo pó de flu, e tudo que ela viu por alguns minutos foi um grande borrão esverdeado. Sabia que seria mais demorado viajar para outro país através da rede de flu, mas preferia não arriscar ser rastreada pelo ministério através de aparatação ou chave de portal.

É claro que a garota reconheceria o castelo no qual passara grande parte de sua vida, e ela sabia que a única lareira do lugar era na cozinha. 

Ao chegar lá, notou que o ambiente era um pouco mais escuro do que se lembrava, sendo iluminado apenas por algumas poucas velas e o fogo aceso sob um grande caldeirão. Dois ou três elfos domésticos passavam de um lado para o outro, trabalhando com alimentos.

Não conteve sua felicidade e saiu correndo com um grande sorriso, atravessando o lugar e subindo correndo pelas escadas, que davam para um amplo e iluminado salão. 

O salão principal possuía um belo piso em mármore claro, e ao centro do ambiente havia uma longa mesa de mogno, com detalhes em dourado em suas laterais. Não havia cadeiras na mesa, como o usual, e um grande lustre, também dourado, se localizava logo acima dela.

Foi impossível evitar que os seus olhos se enchessem de lágrimas quando reconheceu a figura que estava de costas para ela, de pé ao lado da mesa, olhando a paisagem através da grande janela à sua frente. 

Mesmo de costas era possível notar que Gellert Grindelwald havia mudado.

Os cabelos, que Ilka lembrava de serem compridos e loiros como os seus próprios, estavam agora bem mais claros, chegando ao branco, e bem mais curtos e espetados. Pareceu notar a presença de sua filha ali, e virou-se devagar, revelando o seu rosto. 

O bigode fino era branco, assim como seus cílios e sobrancelhas, e os seus olhos continuavam os mesmos que Ilka se lembrava, sendo um azul como o céu em um dia ensolarado, e o outro escuro como piche.

Ilka correu em direção ao homem e se atirou em seus braços, dominada pela saudade. Grindelwald não demorou para reagir, e abraçou a filha em retorno, levantando-a por alguns segundos do chão. 

Depois de certo tempo, onde um apreciava o abraço do outro, o homem finalmente afastou a garota, podendo enfim olhar para o rosto de sua menina, que havia crescido e amadurecido tanto nesses anos em que ele estava afastado.

— Você está tão bonita... Fico feliz que tenha entrado em contato comigo, Ilka – disse ele, enquanto corria os dedos pelos fios de cabelo dourados da garota, com zelo – Está mais alta também, e os cabelos mais curtos do que eu me lembrava.

Não era mentira, de fato desde que havia deixado Durmstrang e começado a estudar em Hogwarts, havia crescido alguns bons centímetros, deixando um pouco a estatura abaixo da média que possuía e se igualando a quase todas as outras meninas do dormitório. 

Somente perdia para Emma e Walburga. Era poucos centímetros mais baixa que a Black, e Macmillan era bem alta, parecendo uma modelo e sendo difícil de se superar na estatura, até mesmo para alguns garotos. Havia cortado também os cabelos antes de sua volta às aulas, e seus fios agora passavam um pouco de seu queixo.

— E o senhor está mais velho – alfinetou ela, com um tom divertido em sua voz.

— A idade chega para todos, querida, espero que um dia chegue para você também.

Grindelwald fez um gesto com a mão, e as cadeiras, que Ilka notou naquele momento que estavam ao canto da sala, se aproximam da mesa, todas em seus devidos lugares. O bruxo se sentou, e fez o convite para que a garota se sentasse junto a ele, para que pudessem conversar.

— Sinto muito por não ter sido um pai tão presente nesse último ano, como tem sido sua estadia em Hogwarts? – perguntou o homem, estalando os dedos logo em seguida para chamar um elfo doméstico.

Não demorou muito para que uma elfa aparecesse. Baixa, como todos os outros, com seus típicos trajes rasgados, e olhos grandes e esbugalhados, de um tom azul escuro, que dependendo da luminosidade podia parecer violeta. 

Diferentemente dos outros elfos que Ilka já havia visto, as orelhas dessa eram caídas, e não altas como o tradicional da espécie, também não eram pontudas, sendo levemente arredondadas nas pontas, como as de um coelho. Porém era perceptível que não era algo regular, provavelmente alguém havia as cortado para ficarem naquele formato.

Gellert disse em voz baixa para elfa o que ele queria, e Ilka não conseguiu ouvir direito, mas deduziu que ele estava a pedir o almoço, já que estava ficando tarde e ela ainda não havia comido.

— O que aconteceu a ela? – perguntou, curiosa pela história da criatura.

— A quem?

— A elfa, o que aconteceu? Percebi que as orelhas dela são mutiladas – explicou, torcendo para que seu pai não tivesse feito tal atrocidade a uma criatura indefesa e prestativa como aquela.

— Winnie era elfa de um servo meu. Ele morreu no último movimento para um bem maior e deixou ela para mim, quando chegou aqui no castelo já estava assim, nunca reparei em suas orelhas antes.

— Para um bem maior? Esse é o nome do movimento agora? – ela questionou, claramente desgostando da ideia.

— Sempre foi esse o nome. Não percebeu as escritas na entrada do castelo? Foi feito sob encomenda no ano passado.

— Não entrei pela porta da frente.

— Perdão, esqueci-me deste detalhe. A mocinha ainda não me respondeu, o que está achando de Hogwarts? Li nos jornais que houve um atentado à escola – Grindelwald retornou ao assunto, claramente querendo desviar do anterior ao notar que sua filha estava na defensiva.

— A escola é melhor do que eu esperava, alguns professores são bem fracos, mas outros compensam – começou, claramente se referindo a Dumbledore - Fui selecionada para Sonserina, não sei se já comentei isso em alguma correspondência, e os ataques estão sob controle, eles nunca foram um problema para mim.

— Isso significa que estava envolvida nos ataques? – perguntou ele, parecendo um pouco mais interessado e levemente orgulhoso.

— Não, eu não seria burra a ponto de soltar uma criatura que não tenho controle sobre as ações em uma escola como Hogwarts – respondeu, rispidamente, já acabando com as esperanças de seu pai.

— Pensei que fosse menos careta, Ilka. Às vezes o caos é bom para trazer visibilidade.

— É uma linha tênue que divide o caos entre ambição e loucura, papai – explicou, com calma – Não sou louca, e não consigo ver o caos em uma escola como algo ambicioso. Então preferi me abster desse caso em específico.

— Preferiu? Quer dizer que você esteve envolvida indiretamente, mesmo que sendo somente ciente de todo o acontecimento desde o começo – ponderou o bruxo, refletindo sobre por quais motivos a filha não havia mencionado isso desde o começo. 

Era um caso grande, que ganhara visibilidade da mídia, e ainda assim ela preferia deixar subentendido que não havia participado daquilo.

Ilka havia mudado muito desde que ele havia partido, deixando-a sob os cuidados de sua tia. Grindelwald tinha tido uma filha com a intenção de ter uma sucessora nos seus planos, caso falhasse em algum momento, por isso a havia doutrinado com tudo que acreditava com tanto cuidado.

 A garota, de fato, tinha as mesmas crenças que ele quando entrou na escola, mas muita coisa havia mudado em um ano e meio.

Emma era totalmente desligada a esse assunto de pureza de sangue, e além disso, seu melhor amigo e o seu namorado eram mestiços. 

Inclusive Tom era um dos bruxos mais inteligentes e talentosos que já havia conhecido, mesmo sendo um mestiço. O próprio professor Dumbledore era um mestiço, e era o melhor docente da escola. Então cada vez menos ela se importava com assuntos do tipo.

Também acreditava que era um desperdício que tanto sangue mágico estivesse sendo derramado com toda aquela guerra que seu pai liderava. Muitas coisas vinham a frustrando ultimamente, e as atitudes de seu pai eram parte delas. 

Não almejava mais tanto poder e visibilidade como antes, agora ela só desejava que todo aquele caos acabasse e ela pudesse ficar em paz, sem se preocupar se a próxima manchete do profeta diário seria ou não a da morte de seu pai.

Tentou relevar todas as ideias que divergiam, e aproveitou ao máximo os últimos dias que teria com seu pai.

 Tiveram a ceia de natal juntos, como uma família, o que não acontecia há anos, e Ilka foi mimada das mais diversas maneiras, ganhando sempre presentes e agrados durante sua estadia. No primeiro dia de janeiro, sentiu-se finalmente preparada para uma despedida e escreveu a carta que ela tanto temia para o professor Dumbledore.

Estamos em Nurmengard. A rede de pó de flu foi fechada após a minha chegada aqui, por isso recomendo que siga a coruja ou tente aparatar, não mande resposta pois corre o risco de ser interceptada pelo ministério ou até mesmo meu pai. Boa sorte, espero por você.

Com um aperto no coração, a menina amarrou o pequeno pedaço de pergaminho ao pé de uma das corujas de seu pai e enviou o recado, simples e direto, como deveria ser. 

Também não escreveu nomes, com medo que alguém a interceptasse. E a partir dali somente esperou para que tudo desse certo.

 


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