A Senhora do Lago escrita por Enypnium


Capítulo 6
Capítulo 5: A INGENUIDADE DAS CRIANÇAS.


Notas iniciais do capítulo

Queridos leitores, eu não tenho palavras para expressar a gratidão pela compreensão e incentivo que recebi de vocês com a reedição dessa estória. Obrigada a todos.

Dedico toda a reedição aos meus leitores: Mille Portinari, Lady Morgana, Anna, MaduBlackfyre, Cerejinha negra, Gabi Felix, Frozen e Niinha.... e para você também, que leu mas não comentou... eu te espero pacientemente.

Espero que gostem...



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Capítulo 5: A INGENUIDADE DAS CRIANÇAS. 

[...] Harry jamais imaginara um lugar tão diferente e esplêndido. O Salão Principal, era   iluminado por milhares de velas que flutuavam no ar sobre quatro mesas compridas, onde os demais estudantes já se encontravam sentados. As mesas estavam postas com pratos e taças douradas. No outro extremo do salão sobre um estrado, havia mais uma mesa comprida em que se sentavam os professores.

A Professora Minerva conduziu os alunos do primeiro ano pelos corredores entre as quatro mesas, até que eles estivessem em frente à mesa dos docentes.

Misturados aqui e ali aos estudantes, os fantasmas brilhavam como prata envolta em névoa.

Harry olhou para cima e viu um teto aveludado e negro salpicado de estrelas. Ouviu Emma cochichar:

— É enfeitiçado para parecer o céu lá fora. Li em Hogwarts, uma história.

Era difícil acreditar que havia um teto ali e que o Salão Principal simplesmente não se abria para o infinito.

Harry baixou depressa os olhos quando a Professora Minerva silenciosamente colocou um banquinho de quatro pernas diante dos alunos do primeiro ano. Em cima do banquinho ela pôs um chapéu pontudo de bruxo. O chapéu era remendado, esfiapado e sujíssimo.

Talvez tivessem que tentar tirar um coelho de dentro dele, Harry pensou delirando, parecia apropriado. Por alguns segundos fez-se um silêncio total. Então o chapéu se mexeu. Um rasgo junto à aba se abriu como uma boca e o chapéu começou a cantar:

 Ah, vocês podem me achar pouco atraente,

Mas não me julguem só pela aparência

Engulo a mim mesmo se puderem encontrar

Um chapéu mais inteligente do que o papai aqui.

Podem guardar seus chapéus-coco bem pretos,

Suas cartolas altas de cetim brilhoso

Porque sou o Chapéu Seletor de Hogwarts.

E dou de dez a zero em qualquer outro chapéu.

Não há nada escondido em sua cabeça

Que o Chapéu Seletor não consiga ver,

Por isso é só me porem na cabeça que vou dizer

Em que casa de Hogwarts deverão ficar

Quem sabe sua morada é a Grifinória,

Casa onde habitam os corações indômitos.

Ousadia e sangue-frio e nobreza

Destacam os alunos da Grifinória dos demais,

Quem sabe é na Lufa-Lufa que você vai morar,

Onde seus moradores são justos e leais

Pacientes, sinceros, sem medo da dor,

Ou será a velha e sábia Corvinal

A casa dos que têm a mente sempre alerta,

Onde os homens de grande espírito e saber

Sempre encontrarão companheiros seus iguais,

Ou quem sabe a Sonserina será a sua casa

E ali estejam seus verdadeiros amigos,

Homens de astúcia que usam quaisquer meios

Para atingir os fins que antes colimaram.

Vamos, me experimentem! Não devem temer!

Nem se atrapalhar! Estarão em boas mãos!

(Mesmo que os chapéus não tenham pés nem mãos)

Porque sou único, sou um Chapéu Pensador!

 O salão inteiro prorrompeu em aplausos quando o chapéu acabou a canção e em seguida ficou muito quieto outra vez.

— Então só precisamos experimentar o chapéu! - Cochichou Rony a Harry. -  vou matar o Fred, ele não parou de falar numa luta contra um trasgo.

Harry deu um sorriso sem graça. O chapéu parecia estar pedindo muito, Harry não se sentia corajoso nem inteligente nem qualquer outra coisa naquele momento. Se ao menos o chapéu tivesse mencionado uma casa para gente que se sentia meio nervosa, quem sabe teria sido a sua casa.

A Professora Minerva então se adiantou segurando um longo rolo de pergaminho.

— Quando eu chamar seus nomes se apresentem para a seleção.

Um a um os alunos novos se adiantavam até o banquinho, punham o Chapéu Seletor na cabeça e se sentavam e esperavam, até o que Chapéu anunciasse o nome da casa para o qual o aluno fora selecionado. As vezes o Chapéu demorava longos minutos para anunciar sua decisão, mas as vezes isso acontecia rapidamente, como ocorreu com Rony e Emma, que foram selecionados para a Grifinória juntamente com outros tantos alunos.

Harry era o próximo. Ele se adiantou, e se sentou no banquinho, mais nervoso do que nunca.

A última coisa que ele viu antes de o chapéu lhe cair sobre os olhos foi um salão cheio de gente se espichando para lhe dar uma boa olhada. Em seguida só viu a escuridão dentro do chapéu.

— Difícil. Muito difícil. Bastante coragem vejo. Uma mente nada má. Há talento, ha, minha nossa, uma sede razoável de se provar. Ora isso é interessante.... Então onde vou colocá-lo?

Harry apertou as bordas do banquinho e pensou "Sonserina não, Sonserina, não".

— Sonserina não, hein? - Disse a vozinha. - Tem certeza? Você poderia ser grande, sabe, está tudo aqui na sua cabeça, e a Sonserina lhe ajudaria a alcançar essa grandeza, sem dúvida nenhuma, não? Bem, se você tem certeza, ficará melhor na GRIFINÓRIA!

Ela fez uma pausa para efeito dramático e o silêncio da sala permaneceu inquebrável. Até mesmo o constante arranhar de pena em pergaminho produzido por Meistre Luwin, que trabalhava na cópia de um livro danificado, tinha esmorecido.

O velho Senhor, olhou para ela por cima de livro à espera da conclusão da história e só não estava mais curioso para ouvi-la do que o restante da plateia.

O silêncio perdurou por mais alguns instantes, então, vendo que ela não pretendia continuar Rickon se virou no colo de Hermione para poder observa-la, seus olhos estavam vermelhos de sono, mas cintilavam de excitação.

—  O que acontece com Harry agora? – Ele sussurrou curioso.

— O que acontece eu conto amanhã, agora está na hora de ir para a cama – Hermione disse, levantando do chão com ele no colo.

— Mas eu não entendi muito bem porque Vol.… aquele-que-não-deve-ser-nomeado queria matar Harry? – Perguntou Bran agitado. Ele ainda estava sentado no tapete de peles que Hermione colocara em frente a lareira para que eles se acomodassem enquanto ela contava a história.

— Ninguém sabe. Esse é o mistério da coisa toda, não é?!- Hermione falou, bagunçando os cabelos castanhos avermelhados dele, com a mão livre.

— Mas eu preciso saber o que acontece... é um caso de urgência! – Bran insistiu levantando num pulo e puxando a mão de Hermione para que ela voltasse a se sentar.

— Bran – Chamou o Meistre com gentileza. – Está tarde. Tenho certeza que a estória continuará amanhã tão boa quanto foi hoje, mas por hora, já chega.

 - Então vou passar a noite acordado. Vai ser impossível dormir sem saber o que acontece depois. - Bran bufou indignado e cruzou os braços teatralmente.

Rickon sonolento, deitou a cabeça no ombro de Hermione e olhou para o irmão mais velho desinteressadamente, seus olhos estavam quase se fechando. Hermione acomodou-o melhor nos braços para aguentar seu peso.

— Eu prometo que essa história será tão longa e tão cheia de aventuras, que ela não vai terminar tão cedo – Hermione afirmou com um pequeno sorriso, enquanto o empurrava carinhosamente em direção a porta.

Insatisfeito, mas obediente ele marchou até a saída em direção de seu próprio quarto resmungo sobre Hermione ser uma adulta muito mandona.

A bruxa, estava prestes a segui-lo quando foi interceptada pelo chamado do Meistre.

— Espere Milady, um segundo – Ele pediu se levantando e contornando a mesa para se aproximar mais dela. - Agradeço imensamente pelo que está fazendo pela família Stark. Hoje foi um dia de notícias difíceis para Robb e tenho certeza que ele aprecia a atenção que tem dispensado a Bran e Rickon, mas preciso lhe pedir, por favor, que tenha cuidado com essas coisas de magia. Bran tem estado obcecado com esse assunto ultimamente e é um menino muito impressionável. Não tenho certeza se ele entende de que se tratam só de estórias e não da realidade. Temo que logo ele terá que assumir responsabilidades para com a casa Stark e seria ruim se ele ficasse preso nesses sonhos de magia.

— Quer que eu não conte mais essa estória para eles, Meistre? – Hermione perguntou respeitosamente.

Rickon em seu colo levantou a cabeça, de repente, desperto e prestando a atenção na conversa. Hermione e Luwin trocaram um sorriso de admiração pela perspicácia do mais novo dos Stark.

— Não, não – O Senhor se apresou em esclarecer acariciando os cabelos de Rickon que voltou a deitar no ombro de Hermione – Bran certamente não lhe deixara em paz até que a termine. Só peço que tenha cuidado, sim? Deixe claro que se trata somente de uma fantasia.

Hermione baixou os olhos para que sua expressão não a traísse. Quando teve a ideia de contar sobre seu passado, pensou em fazê-lo como um conto, e não tinha considerado qualquer consequência negativa com isso, apenas queria distrair os garotos de um dia ruim.

Mais cedo, estavam todos à mesa para o dejejum quando Robb recebeu uma carta amarrada na perna de um corvo – a correspondência de Westeros sempre fazia Hermione lembrar fortemente de casa -  conforme ele lia o conteúdo da carta ia perdendo a cor, quando terminou, amassou o pergaminho com mãos tremulas e uma expressão de fúria.  

A reação raivosa e pouco características não passou desapercebida de Bran, que logo exigiu que lhe contasse as notícias que a carta trazia. Mas Robb não quis lhe dizer nada apenas saiu da mesa seguido do Meistre Luwin e Theon Greyjoy e os três passaram em conferencia o restante do dia.

As crianças Stark eram inteligentes o suficiente para entender que havia algo errado acontecendo, e ansiosas e apreensivas, não deixaram mais ninguém trabalhar no Castelo, até que, Hermione os arrastou para um dos aposentos mais tranquilos com a promessa de contar uma estória.

Ela não foi muito bem-sucedida no primeiro quarto de hora, sendo incapaz de distrai-los com o arsenal de contos de fadas trouxas que conhecia, até que Bran prestes a desistir de escuta-la, lhe deu uma última chance pedindo uma estória de magia.

O Meistre entrou no aposento pouco depois, munido de tinta pergaminho e livro também a procura de uma sala tranquila para trabalhar. Não ficou nada mais do que chocado ao ver Bran e Rickon comportados e quietos, absurdos na estória que Hermione contava. Ele começou sua tarefa em uma mesa mais afastada da lareira, enquanto ela renomeava a si mesma, inventava algumas partes e ocultava outras da sua própria história, tomando o cuidado de escolher o ponto de vista de Harry, porque os meninos, como era próprio de suas idades, não queriam saber de histórias de garotas.

— Não se preocupe Meistre, eu vou tomar esse cuidado – Hermione assegurou ao Senhor. - Posso fazer uma pergunta pessoal?

— Claro – Ele assentiu com um sorriso encorajador.

— Está tudo bem com o Lorde Robb? – Ela perguntou tão preocupada com o conteúdo da tal carta, quanto qualquer outro membro do Castelo tinha ficado aquela manhã.

— Refere-se ao corvo que ele recebeu? – Luwin olhou para o pequeno Rickon ainda acordado no colo de Hermione. Ele suspirou – Deixarei que ele mesmo lhe conte sobre isso. Tenho certeza de que ele irá gostar de ter um motivo para falar com Milady. Agora vá descansar.

Luwin a dispensou com um pequeno sorriso de simpatia.

Enquanto caminhava pelos corredores iluminados por tochas Hermione rumou em direção ao quarto de Rickon para pô-lo na cama, considerando se agira bem em contar sobre sua antiga vida, mas não conseguia ver como isso poderia ser ruim. Não havia motivo para que não acreditassem que tudo não passava apenas de um conto ou qualquer coisa do tipo.

Contudo, se Hermione fosse sincera consigo mesma, e ela gostava de pensar que era, admitiria que não estava partilhando aquele pedacinho dela apenas para distrair crianças.

Até esse momento, ela não encontrara nada nos livros da biblioteca de Winterfell, que pudessem ajudá-la a retornar para casa e quanto mais o tempo se passava, maior ia ficando sua saudade.

Contar sobre seu passado para essas pessoas, mesmo que em forma de um conto, pensar nos amigos e nas coisas que tinham passados juntos, lembrar da coragem de Harry e na sua sempre e constante perseverança, fazia Hermione se sentir mais próxima dos amigos e menos assustada com a possibilidade de tê-los perdido para sempre.

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Ela estendeu sob o tapete de grama e folhas secas sua capa e puxou para cima as mangas do vestido simples de lã crua, enquanto se sentava no chão para apreciar a paisagem a sua frente.

O ar era surpreendentemente leve e limpo, e os aromas dos pinheiros, da grama e das flores eram fragrâncias ricas e fortes. Ela apoiou o corpo nos braços estendidos atrás de si, para observar o céu tão azul que parecia pertencer a um conto de fadas, o sol estava brilhando radiante e formigava sua pele aquecendo-a por completo.

Hermione fechou os olhos por um momento, tentando expulsar da mente todos os pensamentos e ficar apenas com as sensações que o dia lhe despertava.

Não era sempre que Winterfell amanhecia com um clima tão agradável. A maioria dos dias eram passados com céus encobertos, neblina e frio e ela estava aprendendo a valorizar esses momentos preciosos.

O tempo bonito e quente, instaurara no Castelo, uma atmosfera geral de contentamento, partilhada euforicamente pelas crianças Stark, que com doses certas de carinhas pidonas e bom humor convenceram Robb que um passeio além das Muralhas da Fortaleza era tudo o que faltava para o dia ficar perfeito.

Assim, logo após o desjejum, Theon, Robb, Hermione, Rickon e Bran cavalgaram para um dos muitos bosques que rodeavam a propriedade. 

Foi prazeroso percorrer a estradinha de terra que cortava a Vila e passear entre as casinhas da aldeia, embora Hermione tivesse se sentido constrangida, quando Robb era saudado entusiasmadamente pelos aldeões e ela, cavalgando com ele, também virava alvo de atenções.

Hermione não percebera o quanto se sentia presa dentro das paredes de Winterfell, até ver-se longe delas. Era um sentimento com o qual ela não estava acostumada a lidar.

Bran, molhado e sorrindo verdadeiramente alegre pela primeira vez desde que acordara da sua inconsciência, se jogou aos pés dela, deitando na grama e respirando pesadamente.

Ele e Rickon passaram a última hora e meia brincado em um pequeno córrego. Hermione não entendera muito bem em que consistia a brincadeira, mas tinha a ver com uma ponte que precisava ser cruzada. No final não passava de uma desculpar para ficarem encharcados.

— Então, qual foi o veredicto? – Hermione perguntou a Bran sem tirar os olhos de Rickon que pisoteava uma poça d'água ali perto.

— Com certeza nos dois gostaríamos de ser o Senhor da Travessia, mas sem mais crianças a brincadeira fica chata. Você podia brincar conosco? – Ele pediu esperançoso.

— E sujar meu lindo vestido? – Hermione fingiu indignação com a ideia.

— Você parece a Sansa as vezes – Bran falou decepcionado.

Hermione deu uma risada satisfeita.

Sorrateiramente Bran se aproximou dela com dedos enrugados como de uma velinha má dos contos de fadas, e a assaltou com um ataque de cócegas, Rickon correu para ajudar ao irmão na incursão e logo Hermione estava sem folego implorando por rendição.

Os três caíram de costas no chão arquejando, Hermione tinha a barriga doendo, ficaram quietos por um momento, observando as nuvens formarem desenhos no céu.

— Bran. Conte-me o sonho que teve comigo! – Hermione implorou pela enésima vez, esperando tê-lo distraído o suficiente para que ele respondesse sem querer.

Quando finalmente Bran acordara de seu estado de inconsciência, ele dissera reconhecer Hermione de um sonho, mas sempre quando questionado a esse respeito ele se negava a contar qualquer coisa.

Meistre Luwin dizia que provavelmente uma parte da consciência de Bran, reconhecia o nome de Hermione por tê-lo ouvido no quarto enquanto dormia, e que isso fazia ele achar que conhecia ela, mas que não era mais do que a imaginação fértil de um menino sem muito que fazer.

Hermione, porém, não inteiramente satisfeita com essa explicação estava disposta a obter de Bran uma resposta melhor.

O menino ficou quieto por tanto tempo que Hermione teve certeza de que tinha fracassado mais uma vez.

— Existem corvos de três olhos? – Ele perguntou, de repente, muito sério.

— Não. Porque? – Hermione perguntou se virando de lado em cima da capa para ficar de frente para Bran.

Rickon não querendo perder nada da conversa se debruçou por sobre as pernas de Hermione para prestar atenção.

— Enquanto eu dormia, depois de cair da torre, tive muitos sonhos – Disse Bran colocando um braço atrás da cabeça e olhando para a copa dos pinheiros que cresciam muito altos. – Sempre havia um corvo neles. Na maioria das vezes ele me dizia que eu deveria voar, eu dizia para ele que não sabia como, mas ele insistia comigo... Ele tinha três olhos.

— É um sonho esquisito esse – Hermione disse vagamente.

— Foi o corvo que me disse que você viria. Ele me mostrou – Bran olhou para ela e ficou calado.

Hermione franziu a testa, ele falava tão sinceramente que era difícil duvidar.

— O que ele lhe disse? – Ela o instigou a continuar.

— Muitas coisas.  – Bran contou de modo enigmático. 

Hermione sentiu o coração bater descompassado no peito.

— Em um dos sonhos, eu estava em uma floresta como essa – ele continuou. – Eu e meu Lobo, Verão. Nós passeávamos quando um corvo pousou em uma arvore próxima. Ele tinha o terceiro olho na testa, acima dos outros dois. Ele olhou para mim como se me conhece, como se fosse uma pessoa e não corvo. Ele me disse para abrir meus olhos, e eu disse “já estou com eles abertos”, mas ele me respondeu que eu não estava. Eu caminhei um pouco e Verão e o Corvo me seguiram. Então eu vi uma menina, e ela era igualzinha a você. Ela estava sentada em um tronco em uma clareira. Você estava chorando e parecia perdida. O corvo me disse, que você me ensinaria a voar e que eu deveria ver.

Ele parou de falar e ficou calado por um momento.

— Foi isso? – Hermione perguntou, sua voz saiu num sussurro.

— O sonho mudou depois disso.

— Essa foi a única vez que sonhou comigo?

— Sim – Bran respondeu desviando o olhar rapidamente dela para as nuvens novamente.  

Hermione tremeu internamente. Era uma coisa esquisita essa e ela não era capaz de compreender o significado, se é que tinha um.

Entretanto, era provável que Meistre Luwin tivesse razão. Bran tinha muita imaginação e devia estar confuso. Sonhara com uma garota e achava que fosse Hermione. Não fazia sentindo algum que ele tivesse sonhado com uma pessoa que nunca vira antes, era impossível...

De repente, um barulho na mata quebrou o silêncio que cercava os três, era Robb e Theon que voltavam da pequena caçada que fizeram.  Eles tinham algumas aves pressas em galhos jogados sobre os ombros.

Bran e Rickon pularam de pé rapidamente e foram investigar os espólios que o irmão conquistara na Floresta. 

Hermione se levantou pegando a capa do chão e chacoalhando-a para tirar as folhas pressas nela, provavelmente voltariam para o Castelo agora que Robb retornara.

O Ruivo passou sua caça a Theon que arrumava os arcos e flechas, nas montarias.

— Winterfell está adquirindo um plantel de Cavalos para substituir aqueles que meu pai levou para Porto Real. Já pedi a Hallis Mollen que separasse uma boa égua para Milady – Robb falou se aproximando de Hermione. A voz dele soou com leveza, como já não soava desde o dia em que ele recebera a misteriosa mensagem.

— Milorde dele estar aliviado por não precisar mais cavalgar comigo – Hermione falou sorrindo para ele.

— Na verdade estou decepcionado – Robb respondeu lançando a Hermione um olhar penetrante que ela não foi capaz de sustentar.

— Eu sou grata Lorde Stark. Mas eu não sei montar. – Hermione falou tentando colocar a conversa em termos mais seguros.

— Ira aprender. Hall é um bom professor, e já está mais do que na hora de Rickon começar suas lições. Vocês podem tomar aulas juntos. Além disso, aprender a montar é uma questão de necessidade por aqui.

— Obrigada. – Disse Hermione num misto de sinceridade e tristeza.

Ela não poderia ter imaginado que os Stark fossem trata-la tão bem, por outro lado, também nunca pensou que ficaria presa neste lugar tempo suficiente para que se tornasse necessário aprender tais coisas.

Theon se aproximou dos dois e limpou a garganta para a se fazer anunciar.

— Milady – ele chamou – Quero pedir perdão pelo meu comportamento do outro dia. – Theon falou com uma seriedade pouco típica, ele olhou para Robb que o incentivou a continuar. - Foi totalmente inapropriado e se puder me perdoar, prometo que nunca mais a tratarei desse modo.

Robb voltou seu olhar para Hermione com expectativa.

— Eu também lhe devo desculpas, Lorde Theon – Hermione assumiu sua parcela de responsabilidade na discussão – Também eu não agi da melhor forma.

— Eu fico realmente muito feliz que façam as pazes. Nada me agradaria mais do que haver amizade entre nós três – Disse Robb com um sorriso para os dois. 

— Você tem razão. Vamos começar de novo. Está bem para você assim, Theon? – Hermione perguntou recebendo do Stark um olhar de gratidão.

— Está – Theon respondeu parecendo aliviado.

— Entretanto, preciso deixar uma coisa clara, e o farei na presença de Hermione – Robb falou de repente bastante sério, lançando a Theon um olhar grave – Que você nunca mais toque em Lady Hermione sem a permissão dela. Se o fizer, não serei clemente.

— Não se repetirá – O moreno respondeu baixando a cabeça envergonhado.

— Fico contente com isso.  – Robb falou soltando um suspiro.  – Especialmente porque precisarei de todos os amigos que puder ter.

Robb voltando ao seu tom normal repentinamente desanimado.

— Está acontecendo algo? – Hermione perguntou e esperando não ser muito indiscreta, emendou: - Tem a ver com a carta que recebeu?

Robb olhou em volta a procura dos irmãos, mas eles tinham voltado a brincar no córrego e não prestavam a atenção na conversa.

— Cartas no plural – Robb falou trocando um olhar com Theon. – Meus pais conseguiram identificar na Capital o dono do punhal que o assassino de Bran usava.

— Quem? – Hermione perguntou sentindo a respiração ficar presa na garganta.

— Tyrion Lannister – Ele revelou com uma voz grave.

— O irmão da Rainha e tio de Joffrey? – Hermione perguntou certa de que não se tratava do mesmo Tyrion de que ela conhecera.

— Ele mesmo. O anão – A voz de Robb tinha ácido.

— Impossível! – Hermione deixou escapar. Tinha que haver algum engano.

— Porque seria impossível, Milady? Acha que meus pais estão mentindo? – Robb questionou bravo.

Hermione podia sentir a tensão sair em ondas dele.

— Não. De modo algum – Ela se apresou em esclarecer. – É só que não parece fazer sentido que se trate do mesmo homem que conheci.

— Quando o conheceu, Hermione? – Robb perguntou desconfiado.

Ela tinha mantido o incidente da floresta guardado apenas para si durante todo esse tempo, contudo, agora parecia ser importante revelar o ocorrido, porque o caráter que Tyrion demostrara a época não combinava com o relato de Robb.

Ignorando a possibilidade de que seu desentendimento com um membro da Família Real pudesse lhe trazer problemas, Hermione contou tudo a Robb. Ela contou como estava se sentindo sozinha e perdida e que desorientada, caminhou novamente até a floresta. Narrou como fora encurralada por Joffrey e como o Príncipe parecia desejoso em feri-la. Descreveu, com todos os detalhes de que conseguia se lembrar, de como Lorde Tyrion apareceu na floresta, na interferência dele em favor de Hermione, e no modo como ele freara o sobrinho, e que depois, preocupou-se em leva-la novamente ao Castelo.  

Quando ela terminou, Robb e Theon ficaram calados por um momento, ao ponto de Hermione começar a se preocupar. Mas então, Robb começou a andar para cima e para baixo na frente dela. Ele tinha os punhos cerados ao lado do corpo e seus olhos azuis estavam escurecidos pela raiva.

Ele parou de andar e olhou para Hermione passando a mão pelos cabelos.

— Está bravo comigo? – Ela não resistiu a necessidade de saber, repentinamente ansiosa.

— Bravo com você? – Robb perguntou como se não tivesse compreendido direito o que ela falava – Estou bravo comigo.

Robb explodiu quase gritando, Hermione nunca o vira elevar o tom daquele modo.

— Aquele infelizes Lannister.

— Baratheon. Joffrey é um Baratheon e não um Lannister – Theon o corrigiu, mas ganhou apenas um olhar zangado de Robb.

— Ah, ele é tão corajoso para molestar garotinhas... duvido que tivesse a mesma coragem para agir assim com um homem – Robb recomeçou a andar para frente e para traz. - Recebi uma ordem. Deveria tê-la levado em segurança para casa, e o que foi que eu fiz? A abandonei naquele pátio a mercê de gente como Joffrey.

— Isso não foi culpa sua, Robb. Eu saí sozinha do Castelo – Hermione falou com veemência – Não estava pensando direito, se você quer saber.

— Também não foi culpa sua – Theon falou, para surpresa de Hermione.

— Fiz mal em lhe contar? – Angustiada, ela questionou Robb que ainda caminhava para cima e para baixo muito zangado.

— Sim. Fez mal – Ele falou grosseiramente aos gritos – Fez mal em contar apenas agora. Deveria ter contato na mesma noite. Minha irmã Sansa, acompanhou meu Pai a Porto Real prometida em casamento a esse sádico.

— Des... desculpe – Hermione disse se encolhendo diante da fúria dele.

Robb estancou no lugar ao perceber a reação de Hermione. Ele fechou os olhos e respirou profundamente várias vezes. Quando voltou a olha-la estava mais controlado.

— Eu é que peço desculpas – Ele favou parecendo arrependido - Nunca deveria tê-la deixado sozinha aquele dia. Julguei que estaria segura em minha própria casa. Também peço desculpas pela atitude de agora. Não deveria ter gritado desse modo com você.

Novamente ele passou a mão pelos cabelos e um cacho saltou para cima e logo em seguida, voltou a se acomodar perto de seus olhos. Ele tinha um semblante cansado.

— Tudo bem Robb. Por favor, deixe isso para lá – Hermione pediu baixinho, olhando para o azul de seus olhos tão terrivelmente parecidos com os de Harry - Só contei isso, porque como você deve ter percebido a atitude de Lorde Tyrion foi muito educada e gentil, muito diferente de um homem que manda um assassino matar a um garotinho com sua própria adaga.  

— Há muitas estórias sobre o anão. Sobre sua perversidade e lascividade. Talvez ele esperasse ganhar de Milady, algum tipo diferente de agradecimento – Disse Theon, com uma sugestão luxuriosa no olhar.

 - Ele nem sequer sugeriu uma coisa dessas, Theon – Hermione disse com um quê de irritação.

— Eu não sei o que pensar. Mas isso não é tudo – Robb falou abaixando o tom de voz e olhando por sobre os ombros para os irmãos que ainda brincavam distraídos.

— Quando minha mãe retornava de Porto Real ela encontrou Tyrion Lannister em uma hospedaria – Ele fez uma pausa e sua expressão mudou de raiva para contrariedade – Ela acabou fazendo do anão seu prisioneiro e o escoltou até Ninho da Águia, a casa de minha tia Lysa Arryn. Ela também suspeita que os Lannister estejam envolvidos na morte de seu marido Jon Arryn, o antigo Mão do Rei, a quem meu pai foi substituir na Capital.

— Por Merlin – Hermione exclamou percebendo que a gravidade das mensagens recebidas por Robb, iram muito além do que ela supunha inicialmente.

— Por causa disso, os Lannister reagiram e meu pai foi atacado nas ruas de Porto Real por Jaime Lannister, que exigiu que minha mãe libertasse Tyrion. Jaime, enfiou uma lança na perna de meu pai, e matou três nortenhos.

Hermione cobriu a boca com as mãos. Tudo isso parecia uma completa insanidade.

— Mas e seu pai? Ele não...

— Ele vai sobreviver mas teve a perna quebrada. – Theon falou quando Robb foi incapaz de continuar.  

— Então. Tyrion está preso por sua mãe e seu pai foi atacado por Jaime Lannister? – Hermione resumiu em uma pergunta, só para ter certeza de que tinha entendi direito.

Robb balançou a cabeça em confirmação.

A temperatura parecia ter caído vinte graus.

 - Mas eu pensei que seu pai, como Conselheiro Real teria proteção do Rei?

— As informações que recebi de meu pai estão um pouco incompletas, mas se entendi corretamente o Rei ordenou que meu pai se desculpasse com os Lannister, libertasse Tyrion e permanecesse como mão do Rei. E depois foi caçar... – Robb falou indignado.

— Caçar? Típico! – Hermione rolou os olhos para alto pensando em Cornélio Fudge, e como ele também estava fugindo da verdade sobre o retorno de você-sabe-quem.

Theon franziu a testa para a atitude de dela, mas a Bruxa o ignorou.

— Mas o Rei não é amigo de seu pai? Ele deixará os Lannister impunes?  - Hermione perguntou no mesmo tom de indignação de Robb.

— Quem sabe o que pensa o Rei? Ele parece achar que foi apenas um mal-entendido – Robb deu de ombros.

— O que acontece agora? – Hermione perguntou incerta.

— Os Lannister precisam pagar pelo que fizeram – Theon se apreçou em falar.

Robb olhou para ele em silencio.

— Você está falando de guerra – Ele falou mortalmente sério.

— Estou falando de justiça – Theon teimou.

Hermione não pode evitar que um suspiro escapasse de seus lábios, essa conversa estava tomando uma direção perigosa rápido demais.  

— Espera... espera um pouco – Hermione exclamou apressadamente – Tem que haver uma maneira de resolver isso. Não sei... talvez com um Conselho... uma Mediação... um Acordo... uma maneira de resolver o conflito de forma pacifica.

— Do que você está falando? – Theon a questionou parecendo confuso.

 - Você está sugerindo que Robb declare guerra à revelia das intenções de Lorde Eddard e do próprio Rei. Isso não é o mesmo que se rebelar contra a Coroa?

— E o que você compreende de política? -  Theon falou desdenhoso.

Hermione estava prestes a dar a resposta que Theon merecia, quando foi impedida por Robb.

— Ela tem razão. Só o Lorde de Winterfell pode convocar os porta bandeiras e criar um exército e sim, isso seria o mesmo que se insurgir contra o Rei – Ele falou com urgência.

— Vocês dois estão sendo muito otimistas se acham que o Rei Robert ira intervir. Se fosse para fazer isso já teria feito – Theon falou energicamente - Você não é mais um menino Robb. Agora deve se portar como um homem e se preparar para essas coisas. Caso você não tenha entendido, os Lannister começaram a Guerra.

Hermione suspirou derrotada, Theon tinha razão... em partes. Entretanto, admitir isso não a impedia de pensar que essa conversa tinha tons perigosos de inconsequência.

De repente, Robb olhou em volta com os olhos apertados.

— Onde está Bran e Rickon? – Ele perguntou ansioso.

Foi só então que Hermione se deu conta de que a clareira estava anormalmente silenciosa. Ela e Robb foram até o pequeno córrego, mas as águas corriam imperturbáveis, sem qualquer sinal dos dois.

Hermione sentiu o coração acelerar.

— Rickon! Bran! – Robb gritou caminhando pelo leito do pequeno córrego - Rickon! Rickon...

Apenas o silencio respondeu.

— Vamos nos separar – Hermione sugeriu com urgência. – Você percorre o leito na direção sul. Eu vou para o oeste e Theon para o norte.

Robb e Theon concordaram com um aceno de cabeça e se puseram nos caminhos que Hermione indicou. Ela caminhou até o outro lado da clareira para fazer o caminho a oeste.

A moça não era nenhuma especialista em seguir trilhas na mata, mas supunha que duas crianças deixariam pegadas e marcas descuidadas por onde passassem.

Ela caminhou atentamente sempre a oeste por uns bons quinze ou vinte minutos inteiros, antes de começar a se preocupar para valer. Ninguém parecia realmente ter pisoteado a mata e os sons da floresta eram apenas aqueles produzidos pela natureza. Não havia qualquer sinal de nenhum Stark avista.

Conforme ela prosseguia ia ficando cada vez mais nervosa com a inexistência de pistas e apenas a esperança de que Robb e Theon já pudessem ter encontrado os dois, é que mantinha o pânico longe.

Lá pela meia hora de buscas, a ansiedade já tinha tomado conta de Hermione completamente, ao ponto de ela considerar sugerir castigos dignas de Argo Filch quando eles fossem encontrados.

Mas então um restolhar de folhas se fez ouvir a suas costas, e ela se virou se permitindo sentir alivio, mas os homens esfarrapados que saíram detrás das grossas arvores, não eram amigos.

— Bom dia para o Senhores – Hermione cumprimento nervosa, de súbito consciente de que não trouxera sua varinha. Robb considerava o bosque seguro o suficiente para passearem sem a guarda e para ela isso tinha bastado.

Com uma olhadela rápida Hermione notou que eram três e que todos carregavam armas, ainda que algumas estivessem enferrujadas e que suas lâminas parecessem danificadas. 

— Tá sozinha, hã? - Disse o maior dos homens, um careca de semblante rude, com a pele queimada pelo vento. – Perdida na Mata de Lobos. Pobre menina.

— Não estou perdida – Hermione se apresou em dizer. Notando que atrás dela mais alguém se aproximava – Meus amigos se afastaram apenas um momento.

 - Que mentirosa – disse uma voz de mulher às costas de Hermione – Você está a muito tempo caminhando sozinha por aqui.

 - Eles não demorarão a retornar – Hermione tentou novamente.

 - Não tardarão, hã? - Disse um segundo homem. Uma barba cinzenta cobria seu rosto magro.

— Que capa bonita a sua. Aposto que ficaria bem em mim – Disse a mulher logo atrás da Bruxa.

Ela pegou o braço da garota com força e num gesto hábil rodou Hermione para ficar de frente para ela. A mulher era esguia, e tinha a mesma expressão dura dos outros, seus cabelos castanhos escuros, eram um emaranhado de nós e sujeira. Ela segurava uma lança feita de dois metros e meio de carvalho negro, com uma ponta de aço enferrujado.

— Eu a dou para você. Se quiser – Hermione ofertou para a outra que era muito mais alta e mais forte do que ela.

— Também vamos ficar com seus sapatos – Disse um terceiro homem, que usava uma capa imunda, quase desfeita em pedaços, remendada aqui de marrom, ali de azul e acolá de verde-escuro, e por todo o lado desbotada até ficar cinzenta, mas que antes fora um manto negro.  

Com uma calma previamente desconhecida, Hermione tirou o manto forrado, bastante consciente de que era uma peça muitíssimo melhor do que qualquer uma das roupas dessas pessoas. Ela não sentiria a perda da capa, mas seus tênis, seus únicos, macios e quentes tênis seriam uma perda para lamentar.

Ela desamarrou os cadarços, empurrando para fora dos pés um tênis depois o outro, com o calcanhar. A umidade do chão penetrou por suas meias, mesmo assim, ela apanhou o par de tênis e ofereceu para a mulher que os pegou, virando-o nas mãos em todas as direções, admirando sua estranheza.

— Tem cavalos? – Perguntou o careca de repente.

Hermione negou com um gesto de cabeça.

— Não minta para mim. Você se veste como uma Lady. Tem que ter cavalos. – Ele ameaçou e uma faca de gume irregular com uma serra, deslizou para sua mão de dentro de sua manga.

 - Que se dane o cavalo. Olha como ela é bonita. Não vejo um rosto assim a muito tempo. Vamos ficar com ela – Disse o homem de manto puído.

A calma que Hermione estava sentindo anteriormente desapareceu por completo, diante do olhar repugnante que ele lhe lançou. Ela sentiu sua pele se arrepiar como se uma peste muito nojenta estivesse rastejando por ela.

— Não seja parvo, Stiv. Mais uma boca para alimentar só vai atrasar nossa viagem para o Sul e quero colocar distância entre mim e os Caminhantes Brancos o mais rápido possível. – Argumentou a mulher, ainda segurando a capa e os tênis com uma mão, enquanto mantinha a lança firmemente na outra.

Ele ignorou o comentário dela e caminhou até Hermione que tentou não demostrar fraqueza.

— Cale a boca Osha. Os Caminhantes Brancos não vão irromper por essa floresta agora e ninguém aqui está dizendo que ela precisará comer - O homem falou, passando um dedo indicador sujo no rosto de Hermione - Podemos nos divertir aqui e agora.

Ela empurrou a mão dele para longe sentindo seu estomago se embrulhar.

— O que acha Edy? E quanto a você Wallen? Não precisamos de cavalos quando podemos montar ela.

Dessa vez Hermione não fingiu coragem, se afastou dele o máximo que pode, até que suas costas bateram em uma arvore próxima. Ela se preparou para correr.

— Larguem as armas. Soltem ela e deixarei vocês viverem - gritou Robb, vindo de algum lugar, sua voz soou como um trovão.  

Vindo dos céus”. Hermione pensou delirando, antes de se sentir escorregar pela arvore, até que seus joelhos tocassem o chão. Ela ficou tonta.

Robb estava de pé atrás dos homens. Ele tinha um ar selvagem.

— O amigo - disse o homem da barba cinzenta chamado Edy.

— É um tipo feroz, ah, se é - troçou Stiv - Pretende lutar com a gente, rapaz?

— Não seja tonto, jovem. É um contra quatro – Osha baixou a lança. – Solte a espada. Nos de seu manto e esse lindo broche de prata que está usando. Agradeceremos delicadamente pelas roupas, e você e sua moça podem seguir caminho.

— Que se dane a roupa dele. Eu a pego quando eu quiser e eu quero meu prêmio macio aqui – Disse Stiv apontando para Hermione.  

Edy puxou um machado das costas, era uma coisa torta e feia, mesmo assim, suficientemente ameaçadora. Ele foi ao encontro do Stark.

— Robb – Hermione gritou em alerta tentando se pôr de pé, mas suas pernas não queriam obedecer ao seu comando.

Robb não vacilou diante do homem, ele desembainhou a espada e o som de aço raspando em couro encheu a mata.

Tudo aconteceu num ápice, Edy avançou, lançando um golpe do machado que cortou o ar fazendo um barulho horripilante. Robb inclinou o corpo para traz e conseguiu evitar a lamina que passou a centímetros de seu rosto. Edy retrocedeu e tentou golpeá-lo novamente fazendo seu machado desenhar um arco em direção da barriga do rapaz, mas de novo Robb foi capaz de se desviar com facilidade. Quando Edy levantou o machado sobre a cabeça, Robb vez sua espada dançar próximo da garganta do homem e um corte em seu pescoço o fez tombar.

Hermione desviou o olhar do corpo de Edy caído no chão vertendo sangue abundantemente. Ela tremia descontroladamente, e queria não ver, queria desviar sua atenção da luta que se seguia, mas se sentia incapaz de fazê-lo, completamente em pânico por Robb.

Osha tomou o lugar de Edy. Ela mirou a lança no peito de Robb tentando estoca-lo. O jovem agilmente afastou a arma com a ponta de sua espada e cortou o cabo da lança no processo. Com apenas metade de um cabo nas mãos Osha golpeou Robb nas costelas, ele ficou momentaneamente sem ar.

Hermione gritou o nome dele, a floresta ficou embasada a sua frente. Uma dor lancinante a invadiu. Alguém a agarrava pelos cabelos e a estava arrastando pela mata, ela sentiu um punhado de fios se soltarem de sua cabeça.

Com os olhos turvos pelas lagrimas que a dor repentina lhe causou, Hermione viu com horror, quando Stiv investiu contra Robb que ainda lutava com Osha.

Milagrosamente Robb conseguiu dominar a mulher, obrigando-a a ficar de joelho a seus pés, mantendo uma mão fortemente sobre ela. Com um movimento fluido da mão livre, ele conseguiu aparar o golpe de Stiv bem a tempo. Libertou a espada com um empurrão e trespassou a barriga do homem com ela. Stiv caiu para o lado e não voltou a se mexer mais.

Hermione sentiu o aperto em seus cabelos diminuir levemente, ela chutou e se debateu tentando de libertar, mas o toque frio de uma lamina em sua garganta a obrigou a parar.

— Largue a espada – Exigiu o homem careca que se chamado Wallen. Ele mantinha Hermione ajoelhada a sua frente com uma adaga firmemente pressionada sob sua pele. - Juro que abro a traqueia dela.

Ela compreendeu, assim que conseguiu visualizar o quadro geral a sua frente, de que Wallen e Osha matariam os dois, assim que Robb estivesse longe de suas armas. Se, no entanto, ele mantivesse sua espada pelo menos poderia lutar por sua vida.

— Não faça isso, Robb – Hermione conseguiu dizer.

— Cale a bora – O homem gritou com ela, e Hermione sentiu um fio de sangue escolher onde a adaga fazia pressão contra seu pescoço – Largue a maldita espada.

Robb ficou completamente imóvel, os olhos dele encontraram os dela e pela primeira vez, havia medo neles. Os lábios de Hermione soletraram um silencio “NÃO”, isso fez com que a lamina mordesse ainda mais sua pele.

Mas Robb a ignorou se abaixando lentamente para depositar a espada no chão, no entanto, manteve a mão firme sobre Osha. 

Wallen fez menção de falar novamente, mas um vrum baixo vindo das árvores calou o homem.

A apenas centímetros acima da cabeça de Hermione uma flecha explodiu no peito dele.

O punhal caiu da garganta dela. Wallen cambaleou e foi para o chão. A flecha estalou e se partiu sob seu corpo grande. Ele estava morto, assim como os outros.

Osha arquejou quando Theon surgiu entre as arvores com uma nova flecha preparada e apontada para ela.

— Misericórdia, Senhor - ela gritou para Robb.

Hermione se arrastou para longe do corpo de Wallen. Ela não pode controlar a onda de náusea que a atingiu e vomitou diante da cena de morte a sua frente.

Depois que já não havia o que vomitar, parecia que o ar estava se negando a entrar em seus pulmões, seu peito parecia que ia estourar a qualquer momento.

 - Respire, querida – Uma voz masculina pairou sobre ela. – Apenas respire.

Hermione demorou o que pareceu um século para perceber que era Robb quem falava. Ele estava ajoelhado ao lado dela indeciso sobre o que fazer. Parecendo tomar uma decisão, ele tentou puxa-la para seus braços, mas Hermione o empurrou para longe, sem nem compreender o porquê.  

Robb se deteve no lugar e uma expressão ferida cruzou seus olhos, mas desapareceu tão rápido que Hermione poderia ter imaginado. 

— Feche os olhos – Ele ordenou em tom baixo soando extraordinariamente gentil. Ela obedeceu num reflexo - Deixe o ar entrar devagar. Está tudo bem. Estamos todos bem. Já acabou. Apenas respire... isso... respire devagar. Já acabou. Está vendo, você está conseguindo. Isso... muito bem... muito bem. Boa garota.

A voz dele penetrou Hermione como um calmante, um balsamo para o choque e depois de alguns momentos, ela se sentiu capaz de respirar mais naturalmente. Ela abriu os olhos apenas para encontra-lo vigiando-a de perto.

— Está ferida? – Ele perguntou ainda com aquele tom de voz, até então, desconhecido para ela. Ele não ousou toca-la novamente.

Ela conseguiu apenas balançar a cabeça em negativa.

Mas Robb olhou para sua garganta de onde sangue vertia. Ele empalideceu.

 - Não vou machuca-la. Quero apenas olhar seu ferimento – Ele pediu permissão para Hermione. Seus olhos azuis estavam suplicantes presos nos castanhos dela.

A bruxa balançou a cabeça em concordância.

Ele se aproximou ainda mais e Hermione sentiu a floresta se apertar em volta dela.

Com um gesto lento e paciente Robb levantou o queixo dela para cima e olhou atentamente para o corte.

— Não é profundo. Mas devemos retornar ao Castelo o quanto antes para que Luwin se certifique de que está tudo bem - Ele concluiu mais para si do que para ela. Mesmo assim, ele parecia aliviado.

Robb se levantou e tirou a própria capa, ele a depositou com cuidado sobre os ombros de Hermione. Ela ficou ali encolhida contra a arvore, sentindo a floresta rodopiar e seu estomago se revirar ainda nauseado diante da quantidade de sangue que maculava a floresta.

— Um inimigo morto é uma beleza – Disse Theon com um sorriso no rosto enquanto olhava os três corpos ao redor da mata.

 - Jon sempre disse que você era um cretino, Greyjoy – disse Robb em voz alta – Você ficou louco? E se tivesse errado o tiro? E se a tivesse ferido?

— Ele teria te matado e depois cortado a garganta de Hermione – Theon se defendeu.

— Você não tinha o direito... – Robb gritou sem notar como Hermione voltou a se encolher de encontro a arvore. 

— De que? De salvar as suas vidas? – Theon respondeu também elevando a voz. Ele ainda mantinha Osha sob a mira de seu arco – Era a única alternativa, então foi o que fiz.

— E quanto a ela? – Robb perguntou olhando para Osha ainda no chão.

A mulher levantou a cabeça quando percebeu que se referiam a ela. Hermione notou que Osha estava mais assustada do que todos os três.

— Poupe minha vida, meu Senhor, e eu serei sua – Ela implorou de joelhos.

Robb olhou para Hermione e ficou em silencio por um momento.

— Vamos mantê-la viva – Ele concedeu desviando o olhar com uma expressão envergonhada.

Osha caiu no chão novamente chorando de alivio.

— Esse aqui é um Guarda da Patrulha da noite – Theon falou indicou com a ponta do arco o corpo de Stiv que jazia no chão próximo a seus pés.

— Os outros são selvagens – Robb falou olhando em volta e se detendo na mulher – O que queriam desse lado da Muralha?

Robb questionou Osha com seu tom de voz duro como aço. Ela não poderia se negar a responde.

— Fugindo dos Caminhantes Brancos – Ela falou com olhos arregalados.

— Louca – Theon bufou olhando para ela. – Seja como for. Que faremos com esses três?

— Eles não nos teriam enterrado – Disse Robb com a fúria, mas então, ele suspirou cansado – Mas não seriamos melhores do que eles se agíssemos como eles. Mandarei os homens enterra-los.

— Rickon e Bran? – Hermione perguntou lembrando-se dos meninos repentinamente. Ela voltou a sentir a tontura a dominar e a respiração pesar.

— Estão na clareira. Estão bem. – Robb lhe respondeu retornando ao tom gentil.

— Quero ir para casa. – Hermione falou sentindo a garganta doer.

— Vamos retornar ao Castelo imediatamente – disse Robb, compreendendo mal o que Hermione quisera dizer. Não era Winterfell que a garota tinha em mente.

A moça tentou se levantar usando a arvore atrás dela como apoio. A floresta não parava de rodar a sua volta e ela sentia-se frustrada por não conseguir reagir.

Hermione quase foi ao chão novamente, mas Robb chegou até ela bem a tempo. Inseguro, ele passou um braço pela cintura dela para sustenta-la, esperando apreensivo que ela fugisse dele novamente.

Entretanto, a ansiedade anterior que Hermione sentira com a aproximação dele tinha desaparecido e vendo que ela não voltou a se encolher para longe dele, Robb simplesmente passou um braço por trás de seus joelhos e a pegou com facilidade no colo, ajeitando-a em seus braços.

Hermione não ofereceu resistência. Agora era apenas reconfortante sentir a presença dele. Ela não achava que conseguiria caminhar o restante do caminho até os cavalos, de qualquer modo. Sentia-se bastante mal.

Sim. Hermione Granger já tinha vivido algumas experiências diferentes, algumas bem ruins, inclusive. Coisas que poucos bruxos tinham experimentado em seu próprio mundo, e que com certeza, esses trouxas mal poderiam acreditar possíveis. Mas toda aquela matança, toda aquela violência, eram demais para ela.

Harry, seu doce e benevolente Harry, inundou sua mente. Por tudo o que ele já tinha vivido, por tudo o que ele já tinha enfrentado, ela só podia admirá-lo e ama-lo ainda mais por jamais ter matado seus inimigos... nunca tinha precisado!

Só havia uma coisa que Hermione conseguia pensar agora, ela queria... não... ela tinha que voltar para casa. 


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