Truque do Destino escrita por Akiel


Capítulo 1
I - Lembranças




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Truque do Destino

 

I – Lembranças

 

                           Truque do Destino. Ser que não deveria existir. Mistura de sangues que não deveriam ser   compatíveis. Traz consigo um grande poder e uma profunda conexão com a magia. Quando humanos, podem ser poderosos feiticeiros (as). A natureza e a extensão de seu poder dependem do sangue misturado. Extremamente raro. Mas dizem que um nasceu da noite das mil luas. Imagino se isso é verdade. E, se é, que tipo de truque do destino poderia ter nascido daquela noite?

(Trecho do diário de um feiticeiro desconhecido)

 

Anos atrás

As estrelas brilham no escuro firmamento, silenciosas em seu constante e brilhante pulsar, acompanhando o caminhar de duas jovens sobre a ponte. O som da água sobre o leito do rio se transforma no eco da noite, se ampliando para além daquele pequeno ponto, daquela cidade, indo para além das fronteiras do tempo e do espaço. Um sussurro que carrega o desejo de um coração, os pensamentos escondidos por trás de brilhantes e intensos olhos verdes. As jovens param no centro da ponte e o olhar esverdeado observa o reflexo ondulado na água abaixo. Por um momento, a mente se deixa levar para longe, para outro mundo, para aqueles que ela deseja reencontrar. As írises voltam a atenção para a acompanhante, o longo cabelo negro emoldurando a face bela – tão parecida com outra – e o ato atrai para si o foco das írises douradas com pupilas verticais, semelhantes às dos felinos. E dos witchers.

— Você deveria voltar comigo. – a dona dos olhos verdes diz em um tom de voz apenas um pouco mais alto do que um sussurro – É o seu mundo também.

— É um mundo do qual não me lembro. – a outra jovem responde, um fraco sorriso esticando os lábios vermelhos – Este é o meu mundo.

A jovem de olhos dourados toca a face da companheira, os dedos acompanhando a linha da cicatriz que marca um dos olhos verdes até poderem tocar alguns fios acinzentados, afastando-os da face marcada pelo furacão de emoções que domina o coração. Direções são dadas, orientações de como se movimentar na cidade silenciosa, a noite já caminha para suas últimas horas. Logo, o sol irá voltar a brilhar e o feitiço será desfeito. As consequências das decisões feitas sob as sombras noturnas terão que ser enfrentadas. Esse breve momento é apenas um interlúdio, a calma antes da tempestade. Lábios vermelhos beijam a testa coberta pela franja clara. Isso é um adeus.

Va fail, Zireael.— a jovem de olhos dourados sussurra.

Va fail, Ileanna. – é a resposta dada, quase hesitada.

Com os músculos tremendo sob a pele, a jovem de olhos verdes dá as costas para a companheira, os passos cruzando o que resta da ponte com rapidez e determinação. O olhar dourado a observa por alguns segundos, até que as sombras a envolvam e a ocultem da luz. A jovem com olhos de witcher então se volta para o próprio caminho, oposto àquele tomado pela Andorinha.

Presente

Velen

Os habitantes de Velen tem estranhos costumes, isso o witcher não pode negar, mas ele também não está em posição de questionar. Em uma terra abandonada e sem leis, não é uma surpresa que as pessoas se voltem e se agarrem a qualquer promessa de ajuda ou proteção, mesmo que essas sejam oferecidas por seres dos quais elas desconhecem a verdadeira natureza. Ainda assim, orelhas parecem um pagamento exagerado. Respirando fundo, o witcher coloca todos os sentidos em alerta e deposita a orelha decepada sobre a pedra. O resultado é imediato.

O próprio ar do pântano parece mudar, se tornando mais denso e pesado, carregado com uma magia que é imediatamente reconhecida pelo medalhão do witcher. Uma espessa névoa surge próximo à casa e três criaturas aparecem através dela, uma mais repugnante do que a outra. O perigo parece estralar no ar, deixando Geralt ainda mais em alerta. Quando as Senhoras da Floresta falam, a malícia que abraça as palavras faz com que o estômago do witcher se revire. Entretanto, ele sabe que deve tomar cuidado com o modo como fala com aqueles seres. O witcher não sabe exatamente o que elas são, mas ele sabe que não devem ser subestimadas.

O modo como elas falam com a Vovó, as ameaças entrelaçadas em afirmações de bondade, revelam a verdadeira face das Senhoras. E também a real identidade da Vovó. Geralt nunca imaginou que aquela mulher esquecida no pântano pudesse ser a esposa do Barão Sanguinário.

— Vamos, é outra mulher que o interessa. – uma das Senhoras diz, o único olho visível observando o witcher atentamente – Fale, cabelos brancos.

— Nosso acordo. Eu fiz a minha parte, agora, façam a de vocês.

— A palavra, uma vez dada, nós nunca quebramos. – outra das Senhoras diz.

As Senhoras da Floresta, então, contam sobre Ciri, sobre como a encontraram e planejaram saboreá-la antes de entregá-la para Imlerith. Raiva começa a queimar no sangue do witcher diante da narrativa das irmãs e do modo como tentam mascarar o verdadeiro intento que tinham para com Ciri com afirmações de querer cuidar dela, apesar da garota ter se mostrado levada e fugido. O conhecimento de que Ciri escapou é exatamente o que mantém Geralt sob controle.

— Diga, cabelos brancos, é apenas sobre ela que deseja saber? – a maior das Senhoras, com algo semelhante a uma cesta de vime a esconder o rosto, questiona e intriga o witcher.

— Ele não se interessa pela outra. – a primeira, que usa um pontudo chapéu vermelho responde por Geralt – Ele já a esqueceu. – há provocação na voz da Senhora da Floresta.

— De quem vocês estão falando? – o witcher pergunta, o olhar observando atentamente cada uma das Senhoras, e sentindo uma estranha inquietação fazendo a pele formigar.

— Viu? Ele a esqueceu. – a que parece carregar um avental cheio de membros humanos fala com divertimento na voz.

— Roubada em uma batalha. – a maior das Senhoras volta a falar – É uma pena que ele não queira saber como ela cresceu.

— Proibida. Intocável. – a Senhora de chapéu pontudo diz.

— Bela como uma feiticeira. – a terceira completa.

A cada palavra dita pelas Senhoras da Floresta, lembranças antigas renascem na mente do witcher, conquistando a liberdade após anos enterradas. Geralt se recorda da batalha mencionada, inesperada e brutal em sua rapidez. Uma derrota que deixou uma cicatriz profunda no Lobo Branco, pois ele nunca pensou que pudesse recuperar o que foi roubado naquela noite. A risada das irmãs ecoa no pântano, a mesma névoa que anunciou a chegada delas servindo, agora, para levá-las embora. Mesmo que deseje, o witcher não consegue encontrar a voz para impedi-las, questioná-las e exigir respostas. O som das risadas se dispersa, deixando apenas o silêncio no Pântano Retorcido. Um silêncio quebrado apenas pelo nome que ressurge na mente de Geralt, como uma cicatriz que volta a sangrar.

Ileanna...

 

Skellige

O frio das ilhas é prazerosamente familiar, o distante som das ondas fazendo a mente recordar de quedas d’água vista do jardim de um palácio. A lembrança faz com que os passos sobre a grama parem por um momento e um suspiro escape por entre lábios finos e vermelhos. Uma mão envolta por uma negra luva toca o lado esquerdo da face clara, os dedos traçando a linha de uma cicatriz que começa no meio da bochecha e corre até a metade do pescoço. Tudo é apenas uma lembrança agora. O pensamento faz com que a caminhada seja retomada, a mente se concentrando em sentir o fraco rastro da magia que envolve essa parte da floresta. Onde você está, Zireael? A pergunta, mesmo feita apenas em pensamento, faz os lábios tremerem com a vontade de vocalizá-la. Diga-me que não está com ele.

A névoa que envolve as árvores se torna mais densa e não demora para que a jovem perceba a movimentação que acontece escondida. Um nevoloso tenta atacá-la pela direita, mas cai antes que o intento seja cumprido, cortado pelo rápido movimento de uma espada de prata, a lâmina brilhando levemente com o poder das runas escritas. Outro tenta o mesmo que o companheiro, mas também falha sob o movimentar rápido e preciso da jovem. Um terceiro é o último corajoso a tentar um ataque, vindo por trás da jovem. Um giro rápido e um movimento da mão é o que basta para que o nevoloso cai congelado sobre a grama. Por um momento, o medalhão que a jovem usa ao redor do pescoço – a cabeça de um lobo – brilha com uma luz azulada. Dura apenas um momento, até a luz ao redor da mão da feiticeira também sumir.

Vozes, altas e alteradas, capturam a atenção da jovem, que segue o som sem hesitar. Perto da praia, afogadores atacam alguns guerreiros, tendo até mesmo um ou dois nevoloso entre eles. Um segundo é o que basta para que a feiticeira esteja junto aos soldados, o pulo de um lugar para outro já sendo algo natural após uma vida de treinamento. Os soldados quase não percebem a nova adição ao grupo, sentindo apenas uma movimentação rápida que corta os afogadores e os nevolosos sem dificuldade. Quando tudo termina, as criaturas se encontram mortas no chão e os olhares dos guerreiros são capturados para a figura encapuzada que permanece parada em meio aos cadáveres.

— Quem é você? – um dos guerreiros, o uniforme exibindo as cores dos an Craite, questiona. Os dedos do homem permanecem firmes no cabo da espada, ainda não decidido se a desconhecida é uma aliada ou uma inimiga.

Diante da pergunta, a desconhecida abaixa o capuz, revelando um rosto jovem emoldurado por longos e lisos fios negros, olhos dourados como os de um witcher e uma cicatriz que corta parte da beleza exibida.

— Meu nome é Ileanna. – ela responde com uma mesura.


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Notas finais do capítulo

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