Pieces of You escrita por Foster


Capítulo 2
Hands


Notas iniciais do capítulo

Oie! Não vou nem comentar sobre a demora do segundo capítulo! Mas senti que não estava no momento de voltar a escrever, acho que me sinto um pouco mais segura agora e estou com as ideias mais bem articuladas. Agora vai!

Espero que apreciem o capítulo! ♥



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Albus e Rose me deram aulas de reforço durante todo o restante do primeiro ano, o que foi de enorme ajuda, mas havia muito conteúdo perdido, de maneira que pude apenas tirar notas suficientes para passar. Suficientes também para minha mãe abrir um sorrisão e meu pai dar um tapinha nas minhas costas quando mostrei minhas notas. 

A despedida dos meus mais novos amigos na plataforma 9 ¾ foi um acontecimento e tanto. Muitos pais desconheciam o fato de que eu havia entrado para a Grifinória. E pior: era amigo de um Potter e uma Weasley. 

— Vou tentar colecionar o maior número de sapos de chocolate que conseguir! - Albus estava animado, tudo por conta do mais novo hobby dos garotos do primeiro ano: tentar encontrar a lendária figurinha que não levava o rosto de nenhum bruxo famoso, mas sim um espelho, onde quem a encontrasse pudesse se olhar. O boato que rondava é que quem tirasse essa carta especial, teria muito sucesso. - Já consigo sonhar com a próxima Firebolt!

Tentei não mostrar muita excitação, mas tirar essa figurinha seria um dos meu passatempos das férias também. Talvez fosse minha única chance de chegar perto do sucesso. Ter o sobrenome Malfoy era quase que uma sentença de morte para mim, e eu também não tinha nada em especial. Era apenas comum. Ordinário no sentido mais puro da palavra.

— Isso é tudo besteira. - Rose ralhava enquanto empurrava seu carrinho e segurava algumas malas de mão, tentando, sem sucesso, passar pelas pessoas. Suas mãos estavam vermelhas devido à força que fazia. - Isso é claramente uma estratégia de marketing para voltarem a comprar essa coisa tosca. 

— Martuque? - Albus perguntou, confuso, ultrapassando Rose com o carrinho, deixando-a levemente irritada.

— Marketing. - corrigi. - É o termo que trouxas usam para definir tipo uma estratégia de vendas. 

— E desde quando você sabe tanto sobre coisas trouxas, Rose? - Al alfinetou a prima, ignorando parcialmente minha explicação. Rose empurrou o carrinho com mais força que o necessário, atingindo Al nas costas. 

— Ai! Rose! Que merda é essa? 

— Albus Potter! - viramos no mesmo momento para procurar a voz, mas Albus sequer precisou virar. Apenas murchou, já sabendo o que estava por vir. Parada diante de mim estava Gina Potter. A melhor jogadora que o Holyhead Harpies já teve! É claro que eu não acompanhei nem nada no tipo, pois ela se aposentou quando veio o primeiro filho, James Sirius. 

Meu pai se tornou um fã enorme das Harpies e cresci ouvindo ele reclamar de como ela nunca mais foram as mesmas após a saída de Gina Potter. Minha mãe às vezes ficava enciumada, o que acabava rendendo boas situações entre meus pais, onde eles demonstravam um pelo outro o quanto se importavam. Foi em um desses momentos raros de alegria que meus pais começaram a me perguntar o que eu acharia de ter uma companhia na mansão. Foi passageiro, no entanto. Logo meus pais voltaram ao jeito apático de sempre, só que pior, e o assunto da minha nova companhia não foi levantado novamente. 

— Não eduquei você para dizer esse tipo de coisa. - agradeci imensamente por não ter a Sra. Potter como mãe. Seu olhar era penetrante e Albus parecia querer correr para qualquer outro lugar. Não julgo ele, pois eu quis fazer o mesmo quando seus olhos voaram para cima de mim. No mesmo momento, todo o clã Potter-Weasley apareceu, para meu desespero. 

Não sabia muito bem o que esperar. Nossas famílias nunca tiveram uma relação muito boa. Eu seria tachado como estranho, mais uma vez. 

— Você deve ser o Scorpius. - senti a mão de Harry Potter em meu ombro e arregalei os olhos. Ele sorria como se eu fosse um parente ou algo do tipo. - Albus falou muito sobre você. - olhei, ainda sem acreditar muito, para Al, que desviava o olhar. Ele tinha, realmente, falado sobre mim nas cartas? 

— Estamos felizes por ele ter encontrado um bom amigo. - a mãe de meu amigo falou, sorrindo amavelmente. - E sei que sua mãe lhe deu uma educação impecável. Espero que aprenda com seu amigo, Albus Severo, já que pelo visto resolveu ignorar o que aprendeu comigo. - o olhar foi cortante, de maneira que Al apenas assentiu enquanto ainda abraçava o pai. 

Ver Al, que geralmente é tão seguro de si, agir dessa maneira na frente dos pais, era algo novo para mim. Acho que todos têm seus problemas familiares, afinal. Olhei de relance para Rose, que cumprimentava os pais. Engoli em seco.  

— Oi! - uma voz fina me chamou. - Sou Lily. - a irmã mais nova de Al estava com a mão estendida para mim. Apertei sua mão, um pouco sem graça e surpreso que uma garota da idade dela pudesse ser tão direta. - Al falou mesmo sobre você. James também, mas ele não conta. 

— Ei! - o Potter mais velho apareceu. Mesmo que fôssemos da mesma casa, James evitava contato comigo e eu, para falar a verdade, evitava ele também. Ser amigo do seu irmão e pertencer à Grifinória eram apenas fatores que relativizavam o fato de eu ser um Malfoy. Não significava que ele realmente gostasse de mim. Eu sabia muito bem o meu lugar. - Nada de se engraçar pra cima dele, Lilu!

— Eu odeio esse apelido! - a ruivinha bateu o pé. James puxou suas tranças e ela se ocupou em correr atrás dele.

— Mãe, pai, Hugo… Esse é o Scorpius. - Rose puxava o pai pelo braço, que parecia desconfiado. Eu estava suando muito! Passei as mãos em minhas vestes diversas vezes, tentando secá-las. Ser o centro das atenções era novo, mas não era algo bom. - Eu falei sobre ele… - ok, agora eu estava pasmo! Rose Weasley falou sobre mim com os pais! 

Como eles introduziram o assunto? “Oi mãe, oi pai! Então, meu novo amigo é filho do seu antigo inimigo de escola! Ele é um Malfoy, que está na Grifinória!”. É, não existem muitas outras apresentações que possam ser feitas. 

— Olá, Scorpius! - foi Hermione Weasley que falou. Com a voz tão doce como a da Sra. Potter, me senti um pouco mais calmo. Mas só um pouco. - Muito prazer em te conhecer!

— O prazer é meu, Sra. Weasley. - falei timidamente após longos minutos. Foram tantas apresentações que não pude responder cada um. 

— Apenas Hermione, por favor. Amigos dos meus filhos e dos meus sobrinhos podem ter essa intimidade! 

— Vamos com calma, Hermione. - o pai de Rose resmungou, para receber em seguida uma cotovelada da esposa. O olhar dela conseguia ser mais aterrorizante que o de Gina Potter, pois o Sr. Weasley não pensou duas vezes em emendar um cumprimento. - Olá, Malfoy. - ele pareceu ter muita dificuldade em pronunciar essas palavras. - Pretende ficar aqui plantado por muito tempo? - ele levou uma outra cotovelada de Hermione, mas provavelmente muito mais forte, pois acabou deixando escapar um gritinho de dor.

— O que ele quis dizer, Scorpius, é que teremos todo o tempo do mundo para nos conhecermos. Mas você deve estar querendo matar as saudades dos seu pais, certo? 

— Isso mesmo. - Sr. Weasley confirmou, com a voz um pouco mais aguda do que antes. 

— Desculpe por isso. - Rose cochichou, me puxando de lado. Al se juntou logo em seguida. - Por Merlin, você está branco! - ela levou as mãos à minha testa rapidamente, me fazendo dar uns passos para trás como reflexo. O contato de sua mão quente com minha testa gelada forneceu uma sensação gostosa, quase que amortecedora. 

— Você quer que a gente procure seus pais, Scorpius? - Al parecia preocupado também. - Nossos pais podem enviar um patrono ou coisa do tipo se você precisar ir ao hospital. 

— Eu estou bem. - falei já me sentindo um pouco melhor. Causar mais alvoroço só me traria mais mal estar. 

— Não assuste a gente desse jeito de novo! - Rose retirou a mão da minha testa para me empurrar de leve.

— Não esperava que eles fossem saber da… Da… Bem... - tentei falar sem soar idiota. Em vão. 

— Da nossa amizade? - Rose encorajou. Assenti, olhando para o lado. Al pigarreou.

— Ah. É. Tipo isso. - ele assentiu e eu concordei.

— Valeu. - agradeci sem jeito.

— Que isso. - Al devolveu. Rose deve ter achado tudo aquilo muito patético, pois revirou os olhos de uma maneira que eu podia jurar que eles ficariam travados.

— Meu Merlin, quanta masculinidade tóxica. - eu e Al franzimos o cenho. - Vocês deveriam ler mais, sabia? 

— Mas ler o que, exatamente? Isso é de alguma aula de Estudo dos Trouxas? - Al me perguntou enquanto Rose mexia em uma de suas diversas malas de mão. Dei de ombros. Às vezes eu simplesmente não fazia ideia do que ela estava falando.

— Tome. - ela me deu um bolo considerável de papéis. - São alguns dos meus resumos, das matérias do começo do ano. Você esteve atrasado, e algumas dessas serão base para as matérias do próximo ano. Estude! - estendi a mão para pegar seus papéis e relei em sua mão quente. O toque não demorou muito, pois ela logo retirou a mão, pigarreando. - Boas férias, Scorpius. - Rose girou nos próprios calcanhares, saindo apressada, sem que eu pudesse lhe desejar boas férias de volta. Fiquei com cara de tapado, ainda com a mão estendida.

* * *

 

Foi muito difícil ficar as férias todas longe deles, mas nos falávamos todos os dias. Me senti mal por não ter contato para meus pais sobre minhas novas amizades como eles fizeram. Acho que eu estava sempre à espera de que algo fosse acontecer e eles não quisessem mais ser meus amigos. Não seria a primeira vez. Mamãe estava feliz como nunca, apesar de um pouco enciumada quando contei de Rose.

— Acho bom que eu não perca o posto de melhor amiga. – resmungou ela enquanto me colocava para dormir, como sempre fazia desde que eu me lembro por gente. 

— Fique esperta. – brinquei enquanto ela se afastava. 

— Traga-os aqui qualquer dia! – exclamou ela, animada. 

— Não sei se o pai de Rose deixaria... – comentei cabisbaixo. Mamãe suspirou. 

— Nós, adultos, somos complicados. Mas jamais deixaremos que isso tenha reflexo em suas vidas! Não passamos por uma guerra para deixar que uma velha rixa atrapalhe a vida de nossos filhos, francamente!

Na maioria das vezes eu tinha um pouco de inveja da família Potter-Weasley. Não de uma forma negativa, mas eu queria ter aquilo que eles tinham. Queria ter um ambiente aconchegante, inúmeros primos e familiares, casa cheia, intimidade, risadas... Meu pai claramente amava muito minha mãe, mas não demonstrava amor com frequência.  Não havia muito conflito em casa, mesmo assim não se parecia nada como um lar. 

Fiquei a maior parte do tempo lendo ou revisando alguma matéria simplesmente para passar o tempo e minha mãe me ajudava sempre que podia. Aprendi muito naquelas férias. Foi um pouco chocante quando meu pai se ofereceu para me ensinar algumas coisas. Mas um chocante bom.

Porém, é como dizem. Tudo que é bom dura pouco. No meu caso durou cerca de cinco dias. Logo após o almoço de sexta fui, como de costume, para o escritório de meu pai. Ele estava de costas e segurava um papel na mão. Reconheci a cor do papel e a letra cursiva de longe: era de Rose. 

Um filme do pouco tempo de amizade que tive com ela e Albus passou pela minha cabeça. É claro que papai não apoiaria. É claro que tudo seria passageiro, como tudo sempre foi pra mim. Não pude sequer reagir. 

— Vamos à biblioteca. - falou simplesmente, falando meu coração falhar algumas batidas. Seria lá o lugar mais à prova de som da mansão? Eu iria apanhar? 

Apenas segui o caminho, temendo mais pelo fim da nossa amizade do que de fato por uma possível tortura que eu fosse sofrer. Não queria deixar Rose. Não queria deixar Albus. 

Mas então papai começou a me contar sobre a história da família Malfoy e Greengrass. Observei melhor todos os quadros que quando menor sempre evitei olhar. Familiares que nunca conheci, mas tinha a sensação que sim. Afinal, o que mais definiria um Malfoy do que cabelos loiros, olhar frio e expressão irredutível - ou até mesmo assustadora em algumas situações. 

Senti pela primeira vez em anos os olhares me cortarem. Mas era muito pior que antes. Mas algo eu não pude deixar de admitir: todos os bruxos os dois lados da família eram excepcionais, construíram fortunas, tiveram feitos grandiosos… Até mesmo os mais controversos fizeram enorme sucesso e foram respeitados, independentemente de como. Não pude deixar de ficar incomodado, afinal qual era meu maior feito durante meus 12 anos de idade? Ter “sujado” a linha da família em diversos níveis entrando para a Grifinória e me aliando a uma Weasley e a um Potter?

Tentei ignorar os olhares e resmungos, mas senti algo muito ruim quando um deles simulou o que acredito ter sido um cuspe. Estremeci e meu pai parou a caminhada, dando meia volta e me puxando pelo ombro. Olhei para ele com cuidado, sem saber muito o que esperar desse toque novo. Ele apenas me olhou por alguns segundos e voltou a caminhar. Suspirei, com um sentimento que eu não conseguia explicar crescendo dentro de mim e me deixando desconfortável. 

— O que… Isso quer dizer? - perguntei após uma caminhada silenciosa por quase toda a mansão. Eu tinha vontade de chorar e de gritar. Meu pai não estava sendo um pai. Estava sendo apenas Draco Malfoy e isso era irritante. - Percebi que sou a vergonha da família, então se puder dizer logo como quer que eu acabe minha amizade com Rose e Albus para eu poder ir para o meu quarto eu agradeço. - eu tremia enquanto falava. Não fazia ideia de onde toda aquela coragem veio. Acho que estava com pouco amor à vida, pois meu pai jamais toleraria isso. 

— O quê? - perguntou ele, virando-se. Senti a morte de frente comigo. - Scorpius… Por que você acha que te levei lá? 

— Para me lembrar que sou um Malfoy. E que Malfoy’s não se misturam com Potter ou Weasley. - falei sem rodeios. A merda já estava feita, não poderia fazer muito mais do que isso. 

— Não… - suspirou, massageando as têmporas. - Queria te mostrar tudo isso para você entender algumas coisas. O que você notou em relação a todos os familiares que falamos?

— Todos eles foram bem sucedidos. 

— Bom, em partes. - pontuou meu pai. - Mas o que é ser bem sucedido?

— Alcançar algo muito bom na vida? Ter muito dinheiro e prestígio? - respondi meio que perguntando. Não sabia onde isso iria dar.

— Você considera que alguém que não realizou seus sonhos e não possui dinheiro ou prestígio não seja bem sucedido? 

— Eu… - fiquei confuso sobre o que deveria responder e comecei a suar. Meu pai aguardou tão sereno que respirei fundo. - Isso não faz alguém melhor que o outro… - falei baixinho. 

— Exatamente. Sinceramente, Scorpius, o que aquela maldita guerra me ensinou e o que também aprendi com meus antepassados é que não adianta ter dinheiro, respeito ou bens. O que importa é caráter. Quantos dos nossos parentes você encontrou em livros de história? - ele perguntou e eu tentei me recordar. 

— Alguns… - na verdade eram quase a maioria. 

— Certo. E quantos de fato tiveram feitos positivos. Positivos no sentido puro da palavra. - não respondi e meu pai sorriu. - O que estou tentando dizer é que todos temos nossos vínculos, mas isso não nos define. Uma casa não define você nem com quem você anda. Você não é menos Malfoy por ser da Grifinória ou ser amigo de um Potter ou uma Weasley. Você é um Malfoy único, Scorpius. E um dia terá seu quadro naquela parede. Não se esqueça de onde você veio, pois podemos aprender com os erros e os acertos. Mas não deixe de ser você e construir sua história. 

Fiquei alguns minutos encarando meu pai sem dizer nenhuma palavra. Jamais esperava por uma coisa dessas. Nunca em meus 12 anos de vida. Não mesmo.

— Faço muito gosto da Weasley e do Potter. Sei que receberam a melhor educação possível, pois seus pais são pessoas muito boas. E fico satisfeito de saber que você tem um suporte lá. - ele sorriu de canto, colocando a mão no meu ombro. - Pode respirar tranquilo, filho. Admiro sua coragem em me confrontar hoje. Você é bastante maduro para sua idade, Scorpius. - viramos nossa cabeça quando ouvimos um suspiro. 

Minha mãe nos olhava com orgulho. Eles trocaram olhares e sorriram e eu pude finalmente respirar tranquilo. 

— Acho que poderíamos fazer uma viagem… - sugeriu minha mãe, andando de mãos dadas com meu pai. Algo diferente estava em minha mente agora. Um diferente bom.

 

***

 

— Fico feliz por você ter se aproximado do seu pai, Scorpius! – Rose falava enquanto passava creme no rosto devido às queimaduras que adquiriu da praia em que ficou com a família. – Ele não é de todo ruim afinal. 

— Você precisa conhecer o Chalé das Conchas! – Albus falava animado após saber que minha mãe tinha dado todo suporte para nossa amizade. – Chame sua mãe também! E agora seu pai.

— Albus, não queremos que o Chalé exploda. – comentou Rose e Albus bufou.

— Podemos logo começar a estudar? Cansei de esperar Dominique. – ele falou abrindo o livro de poções. Logo na primeira aula já tínhamos um trabalho em grupo para fazer, então Rose decidiu que era melhor fazermos logo antes que os trabalhos se acumulassem. Dominique era a quarta integrante do nosso grupo, a contragosto de Al, que dizia que a prima era mimada demais para fazer uma poção tão fedorenta. 

— Desculpem o atraso! – ela chegou cerca de meia hora depois que já havíamos começado as pesquisas. Quando ela me viu soltou um gritinho e levou a mão à cabeça – Scorpius! Acabei esquecendo de novo de trazer sua bússola, desculpe!

Albus e Rose se entreolharam sem entender. Abri a boca para explicar, tendo em vista de que desde que chegamos em Hogwarts eles estavam animados falando da viagem deles e se surpreenderam demais com a história do meu pai que não sobrou tempo para contar que em uma breve viagem pela europa acabei encontrando Dominique por acaso, que passava uma temporada com os avós maternos. Mas Dominique foi mais rápida:

— Ah, tudo foi tão conturbado que acabei nem contando para vocês. Fui visitar a vovó e , como vocês sabem, tem aquele acampamento bruxo de Beauxbatons. Acabei dando de cara com ele em um dos eventos de astronomia! Legal, né?

— Tá… Mas a bússola não é exatamente para olhar o céu, é? - perguntou Albus confusa. 

— Ah não, não. - Dominique negou com as mãos. - Aproveitamos e fizemos uma trilha por alguns lugares e em algum momento acabei ficando com a bússola. Aliás, sei que agradeci muitas vezes, mas lá vai. Obrigada pela companhia incrível!

— Não foi nada… - respondi um pouco envergonhado. Dominique era mais expressiva que seus primos e isso de certa forma não era algo que eu estava totalmente acostumado. - Minha mãe embalou o pote da sua vó e deixou comigo. Depois também preciso te entregar.

— Ok, a gente se encontra depois da aula, tudo bem? - ela perguntou sorridente e eu assenti rapidamente.

Ninguém disse nada. Albus tinha a expressão de quem tinha acabado de ouvir uma pergunta da prova de herbologia e Rose cutucava os cantos das unhas sem parar.  

— Bem, o que eu perdi?

— Bem, você nada… - Rose comentou e eu levei um pequeno susto. Ela estava incomodada? - Tudo bem, nós mal começamos. – falou suspirando. 

— Faremos qual poção? – a Weasley loira perguntou sentando-se ao lado de Albus.

— Saberia se prestasse mais atenção na aula e não na sua aparência. – Albus resmungou. Dominique fuzilou-o com os olhos castanhos, mas o Potter não se abalou. - Poção Wiggenweld, madame. – resmungou Albus. 

— Que seria o que, gênio? – retrucou a garota. 

— Uma poção que restaura a energia. – respondi automaticamente ainda lendo. 

— Hum... Quais os ingredientes? Não vou precisar mexer com nada gosmento, vou? -  abri a boca para responder, mas Rose respondeu feito um raio. 

— Casca de Wiggentree, muco de verme gosmento, ditamno e moly.

— Somos em quatro e como você não estava aqui no horário marcado cada um se responsabilizou por um ingrediente. Adivinhe qual você pegou? – Albus sorriu malicioso para Dominique, que fez cara de nojo.

— Rose! Albus continua implicando comigo! Faça alguma coisa!

— Albus, pare de implicar com Dominique e fique responsável pelo muco gosmento. – a ruiva foi enfática, ainda tentando se concentrar. 

— Que absurdo, Rose! Eu não quero ficar com o muco! A Dominique que tem que ficar!

— Por que eu, seu idiota? – a loira agora estava vermelha como os cabelos da prima. Eu estava ficando de saco cheio de tanta amolação. Às vezes era difícil ficar no meio de tantos primos que muitas vezes agiam mais como irmãos.

— Eu fico com o muco gosmento. – falei por fim. Dominique virou-se como um raio para mim, sorrindo abertamente. Albus queria me matar, não tanto quanto queria matar Dominique. 

— Finalmente um cavalheiro aqui! – ela falou colocando a mão na minha. – Muito obrigada. – ela virou e mostrou a língua para Albus, irritando-o ainda mais.

— Vamos focar aqui, por favor. – Rose pigarreou e passou nervosamente as páginas do livro. 

 

***

 

O stress de Rose foi ficando cada vez mais evidente a cada aula que tínhamos e a cada trabalho. Passei a responder as perguntas dos professores, coisa que antes apenas ela fazia. Frequentemente minha mão e a dela iam ao ar instantaneamente para responder alguma pergunta. A competição estava acirrada. Eu gostava disso em sala de aula, mas Rose estava levando a competição para fora das aulas.

— Terminei de comer! – bradou ela com a boca cheia e o prato limpo enquanto eu ainda estava na minha segunda garfada. – Vou subir e terminar meu trabalho de História da Magia. Quando vocês vão sequer começar o de vocês, lesmas? – ela sorriu de canto e levantou-se e marchou para fora do salão. Albus revirava os olhos enquanto bufava.

— Isso não te irrita? – perguntou ele enquanto cortava um pedaço de seu bife.

— Acho engraçado. – dei de ombros.

— Rose é boba. – Dominique sentou-se no lugar que antes era de Rose. Ela sorriu docemente para mim enquanto ignorava claramente o primo. – Ela sempre foi competitiva desde criança. Em algum momento ela vai parar.

Mas Rose não parou. Estava cada vez mais impossível conversar com ela. Ou estava estava competindo comigo ou estava estudando para competir comigo. Era exaustivo. Eu me sentia cada vez mais deixado de lado. 

Até que resolvi parar de responder as perguntas. Me sentei mais ao fundo da sala pois estava bravo com Rose. Albus foi sentar-se com ela e Dominique logo correu até minha carteira. 

— Se importa se eu me sentar aqui? – ela perguntou baixinho. Neguei sem dar muita atenção. Estava tão bravo que se abrisse a boca com certeza magoaria alguém.

A aula de Transfiguração correu sem muitas perguntas, e Rose estava claramente inquieta. Quando Minerva finalmente abriu para perguntas a mão de Rose voava no ar. Eu evitava olhar para não ficar com mais raiva ainda. 

Albus, por alguma razão, estava bravo com tudo. Não falava muito comigo, principalmente agora que Dominique não me largava. Rose continuava me deixando bravo e eu não queria vê-la. A companhia de Dominique não era ruim. Ela não era tão mimada quanto Albus falava, na verdade era bem divertida. Não foi o mesmo que o acampamento de Beauxbatons, porque em Hogwarts ela tinha seus outros amigos, então eu acabava ficando um pouco de lado. E foi em um desses momentos que Albus me abordou. 

— Você ainda lembra que tem um amigo? Porque a Rose parece que sim. - resmungou e eu não disse nada. - Por que você só anda com a Dominique pra lá e pra cá?

— Ela é legal. - dei de ombros. - E Rose anda muito chata. Você também está estressadinho. - acusei. Albus foi para trás, chocado.

— Você é que está estressadinho.

— Você também estaria se tivesse uma garota no seu ouvido o dia todo competindo até pelo ar que você respira. 

— Você tem um ponto. - assentiu Albus. - Mas o que vai fazer sobre isso?

— Nada. - respondi secamente.

— Isso é tão ridículo. Vocês dois são ridículos.

— Você que é ridículo. - devolvi, começando a me irritar de verdade com tanto resmungo. 

— Estão competindo para ver quem é mais ridículo é? - ouvimos a voz de Rose atrás de nós. Não evitei revirar os olhos e ela me fuzilou. - O que é?

— Se isso de fato for uma competição vai querer participar também? Porque ultimamente é só isso que você faz. - ralhei. Rose suspirou tão fundo que me irritei. Aliás, tudo nela naquele momento estava me irritando. O cheiro forte de melancia que saía dos seus cabelos, os olhos absurdamente azuis me olhando como se pudessem me atravessar, a boca rosada comprimida devido à raiva… 

Me desculpe se estou incomodando vocês somente por causa da minha personalidade. — ela praticamente cuspia as palavras para dar ênfase. 

— Nossa, grande personalidade que você tem, Rose. - falei debochado, não muito certo de onde minhas palavras vinham ou porque eu estava fazendo isso. 

— Vá arranjar outra amiga então! Ah não, você já encontrou. - Rose praticamente gritou e o corredor inteiro prestava atenção em nós três. - Quero ver quem vai ajudar você quando precisar recuperar suas notas.

— Acho que você se esqueceu que eu estou indo muito bem nas aulas. Melhor que você.

— Ah é? Que ótimo. - ironizou.

— Ótimo. - devolveu ela, ficando mais vermelha que seus cabelos.  

— Perfeito!

— Magnífico! - ela berrou, batendo palma e saindo dali como um furacão. Segurei um grito de ódio e me movi na direção oposta, querendo apenas sumir dali. 

 

***

O afastamento do trio acabou chamando a atenção de muitas pessoas, principalmente as que eu não queria. Mas agora era de uma forma diferente. Corria o boato de que eu era um cara agressivo, principalmente depois com a briga com Rose, em que quebrei um copo sem querer de tanta frustração. Todos juravam que eu tinha praticamente tentado agredi-la. Rose andando sorrateiramente e não falando com ninguém não ajudava muito a situação. 

Albus ficou bastante ao meu lado, mas não por estar me defendendo ou coisa do tipo. Ele foi até Rose, que praticamente o azarou. Então agora ele estava comigo para não ficar sozinho, mais ranzinza do que nunca. Não à toa Dominique parou de tentar falar comigo quando Albus estava perto, então apenas trocávamos cumprimentos de longe. 

— Veja por um lado positivo, ninguém mais vai sequer tentar te agredir fisicamente. - Albus ponderou.

— Isso é ridículo. Eu jamais bateria na Rose. E outra, como alguém pode ficar quieto em relação à isso e sequer ir falar com ela? Assim, eu não fiz nada de errado, mas não significa que todo mundo deva achar normal um garoto bater em uma garota. - ralhei enquanto tentava ignorar os vários olhares em minha direção.

— Você está defendendo a Rose? - Al me perguntou confuso.

— Cala a boca. Só estou falando a verdade. - bufei. 

— Wow, alguém aqui está passando por uma transição de personalidade. - Al me provocou, bem como vinha fazendo. Era um saco ter que aturar tanta ladainha em silêncio, então eu tinha que pelo menos conseguir extravasar minha raiva de algum jeito.

Por mais que eu tentasse não escutar os cochichos, não pude deixar de captar uma coisa:

— Se ele realmente bateu nela foi merecido. Ela não passa de uma traidorazinha do sangue de merda. 

Antes que eu pudesse pensar duas vezes minha varinha já estava na garganta de Sebastian Zabini. Suas sombras e Al ficaram estupefatos, empunhando a varinha também. 

— Não ouse repetir o que você disse. Nunca mais. - ameacei, sentindo uma onda de raiva que estava quase me consumindo por inteiro. 

— Ou o quê? Vai bater em mim também? - Zabini estava me afrontando, mas eu não cederia tão fácil. 

— Nunca bateria nela e você sabe. E também não te daria o gostinho de quebrar sua cara. Só estou te avisando. - larguei suas vestes e estava prestes a ir embora, quando ouvi um grito. Me virei e Zabini estava no chão, urrando de dor e com a mão no nariz. Ao seu lado estava Rose, com a mão cheia de sangue. 

Percebi uma movimentação estranha e apenas tive tempo de gritar o nome de Rose antes que ela fosse atingida por um feitiço. Logo ela estava de ponta cabeça, pendurada no ar pelos pés. 

— Mas que merda! - Albus gritou, empunhando a varinha novamente. Antes que eu pudesse lançar um feitiço nos dois idiotas, senti minha varinha voar.

— Já chega! - estremeci ao ouvir a voz. - Todos para minha sala. Agora. 

 

***

Ter parado na direção por conta de Sebastian Zabini e sua dupla de idiotas me fez querer morrer de ódio. Estava preocupado com Rose, que havia ido diretamente para a Ala Hospitalar, assim como aquele idiota. Além do mais tive que esclarecer que jamais bati em Rose e que nossa discussão, não briga, foi puramente verbal.

Minerva não viu a situação como totalmente justificável, então teríamos que cumprir duas semanas de detenção.

— Não vou colocar os senhores juntos, pois sei que seria a oportunidade perfeita para terem um acerto de contas. Mas você, senhor Malfoy, é de bom grado que se entenda com a senhorita Weasley. Pelo que pude compreender ela também defendeu o senhor, ou não estaria onde está agora. - abaixei a cabeça, envergonhado. - Façam algumas detenções juntos e usem esse tempo para pensar em suas ações. Se vale pegar detenção por uma amizade, que pelo menos estejam em bons termos um com o outro. - Minerva foi firme. Não pude deixar de sentir um pouco de ansiedade sobre a detenção. Não sei se estava preparado para passar tanto tempo sozinho com Rose, afinal estávamos brigados. Ela basicamente me odiava por eu ter ofendido a personalidade dela. 

— Acho melhor você falar com ela, se é o que está pensando. - comentou albus enquanto voltávamos para o Salão Comunal da Grifinória. 

— Hm? - perguntei, tentando me fazer de desentendido, sem muito sucesso.

— É óbvio que você está se remoendo, Scorpius. Você pode até estar tentando bancar uma de durão ultimamente, mas você não me engana. Sei que está preocupado com ela. E bem, preocupado sobre se vai ou não morrer, também. - Assenti, soltando o ar que segurava. 

Naquela noite não desci para jantar, então fiquei esperando no Salão Comunal até que Rose aparecesse. Não sei por quanto tempo fiquei lá de fato, até que finalmente ela passou pela entrada. Não havia mais ninguém porque todos ainda estavam jantando, então ficamos nos encarando meio desconfortáveis por um tempo até que eu finalmente fosse em sua direção.

Mas como eu deveria começar? “Rose, me desculpe por não gostar da sua personalidade e obrigado por praticamente quebrar sua mão para me defender, mesmo eu sendo um idiota?”.

— Olha. - ela começou, me pegando de surpresa. - Eu gosto de ser bem direta. Você sabe. - assenti, não conseguindo olhar em seus olhos. Duvido que ela queira continuar sendo minha amiga. - Não gostei do que você e Al estavam falando aquele dia. Me magoou. Mas também sei que não fui fácil. - foi a vez dela de olhar para baixo. - Não é de hoje que brigamos por algo que falei ou que fiz. 

— Mas não é como se fosse culpa sua. - falei rapidamente.

— Bom, não é mesmo. - ela deu de ombros. - Quero dizer, não totalmente. Somos culpados igualmente. - ela afirmou e eu concordei com a cabeça. - Não gosto de manter as coisas assim. Quero agradecer por ter me defendido. Quando vi que ele ia te azarar não pensei duas vezes. 

— Você poderia ter usado sua varinha. - reclamei, olhando para sua mão. O curativo recém feito estava ensanguentado novamente. 

— Ele merecia um soco. - ela deu de ombros.

— Obrigado. Por sua sinceridade e por ter me defendido também. Queria ter feito meu papel de amigo um pouco melhor. 

— Não estaríamos assim se eu tivesse feito meu papel de amiga bem, para começo de conversa. Fico feliz que você tenha outras pessoas também, sabe. Acho que conviver comigo pode ser um pouco exaustivo, às vezes. - não entendi muito o que ela quis dizer. - Você é uma pessoa maravilhosa, Scorpius. 

— Rose… Não mereço esse crédito todo. - falei envergonhado. Ela riu.

— Gosto desse novo Scorpius. Você está falando bem mais e se impondo… Só não se imponha demais, ok? Duas semanas de detenção já é uma lição suficiente. 

— Ah! Aí estão vocês! - Dominique veio correndo em nossa direção e Rose e eu demos, sem perceber, um passo para trás. Não foi uma reação muito natural, mas eu não havia percebido o quão estávamos perto. - Soube do acontecido e resolvi trazer algumas coisas do jantar já que não vi vocês por lá. - ela tinha um prato com muita, muita comida empilhada. - Espero que o nariz do Zabini esteja doendo muito. Quem sabe amanhã não dou uma conferida e quebro mais um pouco? - Rose estendeu as mãos para pegar o prato, mas sua mão machucada cedeu um pouco. Estiquei minhas mãos a tempo, apoiando nas dela. Mesmo com o curativo pude perceber o quão sua pequena mão estava inchada e o quão quente Rose estava. A sensação de nossos toques foi estranha. Quase que como um pequeno choque. Ela removeu as mão rapidamente e eu dei um passo involuntário para trás novamente. 

— Obrigada, Dominique! 

— Obrigado. - acompanhei com um sorriso.

— Não há de que! 

Mesmo com o Salão Comunal começando a encher com o fim do jantar eu sequer conseguia ouvir o que estava ao meu redor. Eu só conseguia observar as mãos de Rose enquanto comíamos, me perguntando se agora estavam quentes ou se haviam esfriado. Queria saber se sua mão machucada latejava de dor e de quantas em quantas horas ela deveria trocar o curativo. Mas só consegui ficar ali. Olhando. E pensando o quão Rose Weasley era incrível por ter proferido o melhor soco que Hogwarts já viu e como eu desejava que ela jamais precisasse ter feito aquilo.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Scorpius está tendo altos e baixos, coitado. Acho que ninguém é sempre 100% legal e essa fase é muito uma época de descobertas e definição de caráter mesmo, então dá para dar aquela perdoada em algumas coisas inconvenientes que crianças/ pré-adolescentes fazem e dizem.

Se tudo der certo, semana que vem o terceiro capítulo já vai ser postado!

E falem a opinião de vocês! É muito importante para mim :D

Beijos e até a próxima



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