Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 12
Capítulo onze, ano dois


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, boa tarde e bom dia ♡ como vão vocês?

Primeiro, gostaria de me desculpar pela demora. Essas "férias" aproveitei pra descansar, e descobri um negócio incrível: só consigo escrever enquanto estou trabalhando. Quando pego pra descansar, descanso MESMO. Agora que retomei o ritmo do trabalho, voltarei a postar sem mais demoras.

Vou deixar vocês com o capítulo agora. Boa leitura!



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Aperto sua mão, perdida.

— Mamãe disse que você vinha hoje. Bem pontual — ele continua dizendo, ignorando minha expressão chocada à porta.

— Hum, obrigada? Digo... sim, costumo ser.

Tento reagir, no entanto meus pensamentos ainda estão em seu rosto alheio. Será que eu deveria dançar conforme a música? Aliás, o que estávamos dançando? Valsa, ballet, mambo? Rasteiras no pé? Essa definitivamente era a opção mais plausível.

— Claro. Por favor, entre!

Muito formalmente, Adrien abre a porta um pouco mais, indicando a entrada com a mão. Quase como se estivesse pisando em ovos, entro pelo caminho que já conheço. Resisto a perguntar sobre a caminhonete estacionada quando já deveria estar em estrada, contudo parece que ele adivinha meus pensamentos.

— Hoje meu irmão vai precisar faltar na escola, pois irei para a universidade. Tudo muito corrido, eu sei, mas... não vou ter uma oportunidade dessas na vida de novo. Entende?

 Assinto com a cabeça, assimilando o que aquela mensagem significa para mim. Ele está indo embora. Estudar. Indo atrás da vida. Deveria estar feliz por ele. Entretanto, agora que ele não faz ideia de quem sou, é impossível que eu encare essa notícia como algo bom. Posso estar sendo egoísta, mas... queria que ele estivesse falando comigo, e não com uma desconhecida. Então, abro um sorriso mínimo.

— Claro que entendo. É por isso que estou aqui, afinal — respondo, sem muita emoção. — Fico feliz de ser requisitada por esse motivo.

Ele parece satisfeito com a resposta. Se soubesse...

Atrás de mim, Adrien fecha a porta. Em seguida, caminha pela casa indicando o que supostamente está fora do lugar: Daisy-Lynn já está acordada, visto a agitação da casa. Caleb está sentado no lugar que costuma ser de Aimee, com o notebook no colo assistindo alguma série que ainda não conheço. Aimee, por sua vez, divide o espaço no sofá com Maddie – uma lê e a outra luta para terminar a lição de casa. Maddie sabe que é esperta, então sempre deixa as lições para antes da entrega. Mas, afinal, ela tem sete anos. Suas lições demoram dez minutos para serem feitas.

Ao me ver, Daisy-Lynn solta um gritinho de felicidade, batendo a mão no sofá do couro. Por sua vez, seus irmãos se assustam, olhando instantaneamente para ela e para mim, como numa partida de tênis.

Durante alguns segundos, todos permanecem em silêncio, esperando alguém quebrar o gelo. E esse alguém é Daisy-Lynn. Ela ergue seu corpinho e corajosamente vem cambaleando até mim e Adrien, agarrando-se à minha perna. Olho para baixo, para ela, e sorrio.

— Lou! Lou! — Daisy-Lynn praticamente grita de alegria.

Não posso evitar de franzir a testa, olhando de relance para Adrien. Ela me reconhece...?

— Parece que alguém anda ouvindo demais nessa casa — Adrien ri, pegando-a no colo. Mas, para ou minha infelicidade ou felicidade, Daisy-Lynn estende seus bracinhos para mim. Chega a vez dele de franzir a testa.

— Olha só, como é dada! — Caleb se pronuncia, no sofá.

— Posso pegá-la? — peço em tom baixo para Adrien. Ele confirma com a cabeça. Em seguida, transfere Daisy-Lynn de braços. Como das outras vezes, ela gargalha, principalmente quando coloco um braço ao redor de suas pernas. Acho que Daisy sempre sente cócegas. Não evito de sorrir e ficar vesga no intuito de fazê-la rir mais. Dá certo: ela exibe seu sorriso quase todo dentado. — Acordou cedo hoje, tampinha.

— Lou — ela repete, estendendo o “o” da palavra, deleitando-se com o som.

Não quero olhar para Adrien agora. Pois, se o fizer, não tenho certeza de que me manterei sã o suficiente para administrar as crianças Thomas-Abbott. Então, sorrio de volta para Daisy-Lynn.

— Sou eu, tampinha. A senhorita é bem esperta, não é?

Como se estivesse revolta junto a mim, ela pisca uma vez, como quem diz “talvez, mas não tenho perda de memória como estes outros tontos, obrigada”.

Daí, pelo resto da manhã, Adrien me explica a rotina – cuja qual, a essa altura do campeonato, já sei de cor e salteado – e parte para dentro do quarto terminar de arrumar as malas. Me agarro à Daisy-Lynn, que consegue me animar.

Subitamente, toda amizade que cultivei com Aimee desce pelo ralo. Maddie continua adorável como de praxe, mas ainda está retraída com a nova presença em sua casa. Caleb ou me ignora ou está cansado demais, pois se rende a um cochilo, ainda grudado aos fones de ouvido. Assisto Adrien tirar o notebook de seu colo e passá-lo para outro cômodo.

Então, eu e Daisy-Lynn nos entreolhamos. Fico surpresa de ver tanta sabedoria nos olhos de uma criança de dois anos. Mas é o melhor que tenho.

— Somo só nós agora, não somos? — murmuro para ela.

Em resposta, Daisy-Lynn solta um grunhido triste.

Adrien se despede das irmãs mais velhas com um beijo em cada uma. Aimee é mais receptiva, por ser mais velha e compreender o que significa partir por conta de uma faculdade. Já Maddie se contorce numa careta quando o irmão a segura pela bochecha e deposita ali um beijo estalado. Finjo não notar que o mais velho dos irmãos Thomas-Abbott se chateou com isso. Tento consolá-lo, enquanto preparamos o almoço. Caleb ainda cochila no sofá, alheio à situação.

— É que ela é uma criança, ainda. Algum dia ela vai entender e tentar recuperar o tempo perdido.

— Assim espero — ele suspira, pegando o alho que acabei de raspar. — É que, para ser sincero, eu nunca pensei que fosse me apegar a elas, entende...?

Procuro me atentar à narrativa. Esses são detalhes os quais ele nunca mencionou.

— Ah, é? Por quê?

Adrien procura as palavras certas, com o cheiro de alho fritando enchendo o ar. Enquanto isso, separo o pacote de macarrão espaguete, quebrando-o no meio. A água está quase fervendo, então creio que teremos tempo de sobra até ficar pronto o almoço.

— Digamos que sempre achei que seríamos só minha mãe, Caleb e eu. Costumava ter um pouco de ciúmes, porque foi a família com a qual sempre convivi. Quando ela começou a sair com o Franz, achei que estivesse se precipitando. Ou talvez eu só quisesse atenção exclusiva para mim e Caleb pelo resto da vida — ele ri, fraco. — E, principalmente, a ideia de dividir o salário com mais pessoas me parecia um tanto assustadora.

— Porque a situação financeira já não era boa, e não queria que sua mãe sofresse para sustentar todos, se não fosse nada sério — completo, e ele assente com a cabeça. — Na verdade, faz sentido.

— Faz? Não parece completamente egocêntrico e babaca?

Solto um suspiro, colocando o macarrão para desmanchar na água fervida. Ele me acompanha, com o garfo.

— Não, não acho. É até bem cuidadoso. Continue a história — peço, lançando um sorriso encorajador.

— Certo. Bem, então, quando vieram Aimee e Maddie eu não pude deixar de ficar com ciúmes. Aimee só tinha oito anos e Maddie era uma bebê de colo. A mãe delas tinha acabado de falecer, então minha mãe seria uma mãe para ela, não para a Aimee. Era óbvio que eu ficasse assustado aos dezesseis — Adrien falava automaticamente, como se tivesse ensaiado um monólogo por anos a fio. E em nenhum minuto tirou os olhos do fogão, ao passo que eu me concentrava em Daisy brincando no chão. — Mas... sempre vi o afeto que o Franz e a minha mãe nutriam um pelo outro. E ele cuida dela. Isso é muito mais que meu pai jamais fez.

Deixo que ele pense um pouco mais, antes de continuar. Adrien se aproxima de mim e diz num tom mais baixo:

— Além disso, sem eles, não teríamos a Daisy. E é simplesmente impossível imaginar a vida sem ela.

Concordo com a cabeça. Daisy-Lynn é a alegria da casa. Ergo o olhar para ele, me concentrando naqueles olhos castanhos tão gentis. Penso no quanto Adrien deve ter abdicado das próprias vontades ao longo dos anos por alguém que sequer gostava de início. Adoraria dizer que, após tudo que ele me contou desde o ano passado, penso que ele é uma das pessoas mais amorosas que tive a chance de conhecer. No entanto, me contenho. Aqui, agora, ainda não tenho esse direito. Então, só sorrio.

Queria tanto que ele se lembrasse...

— É muito boa em ouvir histórias — ele finaliza, desligando a água do macarrão depois de cozido. De prontidão, pego o caldeirão de suas mãos para que possamos escorrer a água e transferir o macarrão para a outra panela, com o alho. É como se estivéssemos sincronizados. — Parece que te conheço há mais do que apenas algumas horas.

— Ah, obrigada. É que gosto mais de ouvir do que falar. E... parecia que precisava falar tudo isso, então eu que agradeço por me escolher.

Adrien arqueia as sobrancelhas, surpreso com minha escolha de palavras.

— Bem, disponha, então.

Terminamos o macarrão, a olho e alho mesmo, em silêncio. Caleb apenas acorda para comer, e até oferece algumas piadinhas para descontrair. Imagino que ele esteja tentando me enturmar à nova família, no entanto é estranho quando isso acontece comigo já enturmada. Mantenho minha pose e procuro auxiliar Daisy-Lynn com a comida.

Então, pelo resto do tempo em que Aimee e Maddie ainda estão na escola, Adrien termina suas malas. Quando finalmente as termina, joga-as no banco do carona da caminhonete. Tenho de me segurar para não o puxar para perto e mantê-lo ali, mas sei que é de seu futuro que está em jogo. Aliás, ele sequer me conhece, só está confortável com minha presença súbita em sua família.

Eu, Daisy-Lynn e Caleb fazemos uma fila. Caleb abraça primeiro o irmão, por ser o “menos sentimental” dos que estão em aguardo. No entanto, o elo que os liga é mais forte que a masculinidade frágil que deveria estar implícita na situação – ou seja, é óbvio que os irmãos Thomas se abraçam demoradamente. Vejo Adrien sorrir por cima do ombro do irmão, e depois ambos se soltam, encerrando o momento de desabafo silencioso. Em seguida, Caleb volta para dentro de casa, de braços cruzados.

Chega a vez da mais nova, que não entende que o irmão passará bastante tempo fora, ausente. E que também não tem noção do tempo ao seu redor. Aproveitando-se beneficamente disso, Adrien abre um sorriso triste para a irmã, enquanto a aguardo para retornar para meu colo.

— Vou voltar já, Daisy — ele promete, pegando as mãozinhas dela e aplicando ali um beijo cheio de ternura.

— Tá! — em resposta, ela abre um sorriso desdentado. — Tchau!

— É, tchau, pilantra. Vai se comportar com a Louna?

Daisy-Lynn parece avaliar a situação. Depois, pisca os olhos azuis como o céu para ele.

Pilanta, não — em seguida, abre um bico adorável. — Lou, sim!

Adrien parece satisfeito com a resposta, visto que a devolve para o meu colo. Abre aquele sorriso gentil de praxe e gira a ignição da Lyla. Me pergunto como a caminhonete velha vai aguentar até a UT. Acabo sorrindo com o pensamento, para contrapor a tristeza da despedida.

— Boa sorte com eles, Louna.

— E eles, boa sorte com você — brinco, me afastando.

Fico feliz que a piada tenha dado certo. Então, respiro fundo e observo Adrien Thomas deixar o lar para perseguir seus sonhos. Ao mesmo tempo, observo meu sonho ir embora.

— Vamos para casa, Daisy? — pergunto, não conseguindo conter meu tom choroso na voz.

Daisy-Lynn resmunga. Pelo menos não sou só eu a ficar triste com algo que deveria ser bom...


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Notas finais do capítulo

Mamma mia, here we go again ♪

Cês viram? A Daisy se lembra da Louna, acham que pode ser bom daqui a algum tempo?
Adrien tá indo embora :c mas fiquem calmos que capítulo que vem ele volta. Me digam o que acharam, se amaram, odiaram, se querem me matar pela demora, vale tudo!

Nos vemos em breve!



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