Nada em mim sou eu escrita por Unknown


Capítulo 11
Capítulo 11 - O nome




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Eu estava na cama com ela e nossas bocas uma na outra. Tirei sua camisa e ela deixou. Coloquei a mão por debaixo do seu sutiã. Pressionei sua intimidade com a minha coxa. E de repente nós estávamos ofegantes, o cabelo bagunçado feito nuvem, as bocas vermelhas como se tivesse batom. A língua dela no meu pescoço e meu corpo todo arrepiado.

E então eu sussurrei o nome.

O nome proibido.

O nome dele.

Foi pouco mais que um sopro, um ruído baixinho que ela ignorou.

Acho que ela nem ouviu.

Mas eu ouvi. Eu senti.

Senti o nome dele voltando para a minha vida com tudo.

Senti-o tomando o ar, inundando meus pulmões, fluindo nas minhas veias.

Senti-o perfurando meus poros, subindo pelo meu nariz, matando meu cérebro.

Senti-o em cada espaço disponível do universo, senti-o duma ponta a outra.

De repente, ele tinha voltado do inferno.

Outro dia, caminhava e escutava alguma música triste. Uma música vazia e amena. O dia estava bonito, eu tenho certeza.

E eu estava aérea.

E enquanto eu caminhava meu corpo desenhava o ar, meus dedos trançavam linhas de luz e meus cílios iam se fechando devagar. Tinha uma música linda e muito solitária ressoando por trás da outra. E eu estava tão verdadeiramente sozinha que sussurrei seu nome mais uma vez.

Dessa vez, ele teve mais liberdade na minha boca.

Meus lábios contornaram cada sílaba. Cada letra me tirava todo o ar dos pulmões, como se ele me fosse uma memória pesada em cima do peito.

E depois que saboreei seu nome lentamente, senti um medo de congelar os ossos.

Um medo que fez a música acabar e todas as palavras fugirem de mim. A única palavra que existia no meu corpo era o seu nome, e eu tinha medo dele. Medo da memória dele. Medo de tudo que me trazia.

E então eu continuei meu caminho.

Outro dia, eu o ouvi me chamar ao longe. Como instinto, respondi o chamando também. Ele me entregou meu casaco e não sorriu. Agradeceu por eu tê-lo emprestado. Continuou a caminhar como se eu fosse uma pedra tirada do seu sapato. Eu estava vidrada em seu cabelo indo pra trás, vidrada no seu jeito de caminhar. Vidrada demais para perceber na hora.

Mas depois eu percebi.

E, quanto percebi, comecei a rir.

Porque seu nome saira de mim com tanta naturalidade, de jeito tão bobo. Nem havia doído. Falei como se não significasse nada.

Quando percebi isso, precisei tentar de novo.

O chamei.

E chamei.

E chamei.

E fiz isso até dizer seu nome três vezes. E então mais três. E mais três. Depois continuei fazendo até minhas bochechas doerem.

Em meus olhos, tinha um brilho infantil. Em minha boca, meu sorriso brincava com aquele nome proibido.

Depois de descobrir que não doía, chamei mais alto. E em todos os lugares, pra todas as pessoas, com peso em todos os fonemas. Chamei-o até o ar enjoar de receber seu nome, até minha garganta ficar seca de cuspi-lo, até conhecer tanto aquele som que ele se tornou parte da minha respiração.

Eu dançava com o nome dele, íamos assim, numa valsa apaixonada. Eu o conhecia tão bem, quase o mesmo tanto que conhecia o meu.

Mas tinha algo errado.

Por mais que eu o chamasse tantas vezes, ele não me chamava de volta.

Na verdade, ele mal me respondia.

Não tinha interesse de sorrir com meu nome entre os dentes. Não via sentido em pronunciar mais que o necessário. Acho que não queria nem segura-lo por muito tempo pra não acabar me conhecendo demais.

Foi com essa certeza que o nome dele começou a morrer em mim.

A palavra foi se desmanchando, letra por letra, feito uma flor que acaba pétala por pétala.

Eu não queria deixar, não queria viver sem seu nome morando na minha boca. Mas não adiantava! Eu recolhia as letras, juntava as sílabas, soprava aquele ruído só dele com tanto desespero, tanta pressa, tanta agonia. E quando tudo caía no chão de novo, eu fazia o processo mais uma vez. Por mais que me machucasse. Por mais que me fizesse esquecer o real significado do meu próprio nome!

O dele era mais importante que o meu.

Eu estaria disposta e dar todo o meu fôlego para poder dize-lo de novo, eu me sufocaria com ele se fosse preciso.

Mas não adiantava.

O nome tinha morrido.

Doeu, doeu muito. Me fazia falta. Me alucinava. Me deixava louca.

Mas cicatrizou, passou. Virou uma coisa esquecida que foi sendo coberta por muitas outras coisas.

Então, se você encontrar com ele por aí, digo, com o dono desse nome, por favor comunique o meu recado.

Diga para ele que, dessa vez, eu preferiria sufocar a dizer o seu nome de novo.

Diga para ele que eu vou morrer antes de deixa-lo voltar.

Diga para ele que vou cuspi-lo toda vez que o vir, e nunca, nunca, nunca responder quando ele chamar.


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