Laços - INTERATIVA escrita por Lubs


Capítulo 4
Capítulo 3 - Ravena


Notas iniciais do capítulo

HEYYY
Então galeuris, eu sei que eu prometi mimar vocês com mil capítulos nessas férias, mas eu tive menos tempo pra escrever do que eu imaginava... Basicamente, amanhã eu vou pra um acampamento e eu só volto dia 2 de fevereiro (véspera do meu aniversário ♥). Eu planejava escrever três a quatro capítulos e agendar a maioria deles para serem postados enquanto eu estava lá, mas acabou que eu só consegui escrever dois: esse e o próximo.
Eu ia agendar esse também, mas entre a dúvida sobre poder agendar mais de um capítulo ou não e a ansiedade minha e de meus amiguxos, eu resolvi postar logo kkkk
Esse capítulo é menor que os outros e ele é um pouco diferente: é focado apenas em Ravena. Ela é uma personagem que eu adoro, e virou um capítulo só dela enquanto eu o escrevia. Foi aí que eu decidi que, em certos momentos da fic, eu vou postar capítulos focados apenas em personagens específicos, e ao invés da introduçãozinha de sempre, a letra de uma música. Eu não poderia começar eles com algo além de Queen e Bowie (minha banda e meu cantor preferido) e acho que Ravena, que tem muito a ser explorado, é a personagem ideal para isso. Espero que gostem do capítulo, me digam nos comentários o que vocês acharam desse formato!
O próximo vai ser postado dia 26 de janeiro (sábado) às 15:05. Repito: 26 DE JANEIRO, 15:05 NO HORÁRIO DE BRASÍLIA (14:05 se você é que nem eu e mora em uma cidade que não tem horário de verão).
Aproveitem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763864/chapter/4

“Turned away from it all

Like a blind man

Sat on a fence, but it don't work

Keep coming up with love

But it's so slashed and torn”

Queen & David Bowie – Under Pressure (1982)

C a p í t u l o  3   -  R a v e n a

Ravena chegou em seu prédio mais do que cansada. As pálpebras estavam pesadas, se fechando contra sua vontade; ela estaria mentindo se dissesse que não dormira durante todo o percurso do ônibus do St. Clair até sua casa. Era apenas o segundo dia de aula e, salvo algumas aulas de física e biologia, não havia motivo para toda aquela sonolência: as provas só iniciariam dali a um mês, não havia dever de casa e os assuntos nada mais eram que uma revisão rápida do ano anterior. Ravena sabia o que havia de errado: sua maldita mania de férias de dormir tarde ainda não tinha ido embora. Ela adormecia de madrugada e acordava sete da manhã, para então dormir parte da tarde do dia seguinte, criando uma bola de neve sem fim. Tinha certeza de que era assim que funcionava pois grande parte de seu terceiro ano* havia sido daquela maneira.

—Boa tarde, Fred.

Cumprimentou, com a voz arrastada. O porteiro sorriu e rugas de idade se fizeram visíveis ao redor de seus olhos escuros. Era um senhorzinho muito gentil, Ravena tinha uma simpatia forte por ele.

—Srta. Ravena! Como foi a escola hoje?

Perguntou, energético, enquanto sinalizava para ela aguardar e buscava algo em sua saleta. Ravena suspirou, se apoiando na parede com exaustão para esperar o porteiro.

—A mesma coisa de sempre. Começa bem parada, mas já, já vai ficar impossível de acompanhar.

Fred riu, entregando um envelope pardo e uma prancheta para a garota. Ravena pegou o que lhe era estendido e, colocando a correspondência embaixo do braço, procurou seu apartamento na lista. 2001 – Família Black. Assinou rapidamente e, bocejando, devolveu a prancheta para o senhor.

—Obrigada, Fred. Até mais!

Se despediu, caminhando até o elevador à passos lentos enquanto examinava o envelope que recebera. Era do tamanho de uma carta e, no verso, em caneta preta, alguém escrevera, com uma caligrafia que seria bonita se não houvesse sido rabiscada de maneira apressada:

“Para os líderes da Incandescente

Abrir assim que possível”

Não havia qualquer indicação de quem pudesse ter escrito. Ravena ergueu as sobrancelhas, levemente intrigada, enquanto adentrava o elevador e apertava o andar que levava até o último andar do edifício. Rodou a carta mais algumas vezes, chegou até a coloca-la contra a luz para ver se conseguia espiar seu interior, mas logo perdeu o interesse. Cartas anônimas eram mais comuns do que se imaginava quando sua família era fundadora de uma religião, e ela sabia que não havia nada escrito naquele envelope pardo que ela já não tivesse visto. Mesmo assim, Ravena não ousou abrir a correspondência – não estava destinada a ela, e sim aos seus pais. Ela respeitava a privacidade deles.

Com um apito, as portas do elevador se abriram, e Ravena adentrou o hall de seu andar. O seu apartamento era logo em frente de onde havia saído, mas algo atraiu a sua atenção para a casa do vizinho. Pela primeira vez desde que chegara na cidade, a porta do local estava escancarada. Pilhas de caixas de papelão se acumulavam na entrada, assim como as partes enroladas em plástico bolha de uma penteadeira desmontada. Ninguém se fazia visível e, ao constatar que o segundo elevador se encontrava parado na garagem, a garota imaginou que estivessem pegando o resto dos pertences.

Erguendo as sobrancelhas, Ravena destrancou a porta de sua própria moradia e a fechou atrás de si. Deu logo de cara com a escada que levava aos quartos e ao terraço do apartamento. Resistiu à vontade de subir e se jogar de vez em cima da cama, de roupa e tudo, e virou para a esquerda, adentrando a confortável sala de estar. Era pequena, mas aconchegante, com apenas um sofá de três lugares meio puído e uma mesa onde faziam as refeições, com alguns quadros abstratos decorando as paredes amarelinhas e um punhado de vasos de plantas espalhados.

Largou a carta na mesa e continuou andando em direção ao cubículo que era a cozinha do apartamento. Se encostou no batente da porta, cruzando os braços e observando a cena que se desenrolava diante de seus olhos. Sua mãe, Rhiannon, vestindo uma saia longa estampada e uma blusa branca folgada, que escorregava por um dos ombros, expondo as inúmeras sardas que tinha na região, espremia os olhos para as instruções do macarrão instantâneo que segurava. Ravena franziu o cenho, estranhando: raramente consumiam aquele tipo de comida.

—Mãe? Tá fazendo o quê?

Rhiannon teve um pequeno sobressalto e se virou para filha, sorrindo e largando o macarrão em cima do balcão. Os cachos revoltos se mexiam e balançavam de maneira encantadora sempre que a mulher se movia. Ravena lembrava que, quando era menor, almejava os cachos definidos da mãe; queria a liberdade que eles pareciam conter.

—Ravena, que bom que você chegou! Pensei que talvez você pudesse me ajudar a fazer essa coisa daqui. Eu tô morrendo de fome; acordei muito tarde, acabei não almoçando e você sabe como eu sou um desastre na cozinha! Fiquei com tanta fome que saí e comprei esse negócio, mas eu tô completamente confusa sobre como preparar...

Ela gesticulava enquanto falava. Em algum momento, pescou o pote de macarrão instantâneo e o meneava de maneira eufórica. As várias pulseiras em seus pulsos tilintavam com os movimentos, as enormes argolas que pendiam das orelhas balançavam junto com a cabeça. Ravena se perguntava como que aqueles brincos não enrolavam no cabelo da mãe.

Balançando a cabeça, ela tomou o macarrão das mãos de Rhiannon e, andando até o armário, o jogou lá dentro.

—Você realmente não deveria comer isso. Faz mal, e você não precisa. Papai chega em pouco tempo e ele vai fazer a janta, então espera a comida de verdade chegar. Tem granola ali, iogurte na geladeira e mel na mesa. Pega uma caneca e mistura tudo, fim do dilema.

Enquanto falava, Ravena coletava diversos tipos de castanhas e, ao terminar, sentou no balcão da cozinha e começou a comer em paz. Sua mãe ensaiou algumas palavras, mas no fim desistiu de argumentar e resolveu fazer o que a filha sugeriu. Fitando distraidamente seu lanche, Ravena mencionou:

—Ah, chegou correspondência pra você. É uma daquelas anônimas sobre a Incandescente de novo.

Rhiannon ergueu as sobrancelhas, colocando granola no iogurte que havia acabado de pegar da geladeira. Os novos vizinhos que estavam se mudando para a casa ao lado cruzaram a mente sonolenta de Ravena, mas ela decidiu não falar nada, não era da sua conta.

—Obrigada querida, vou checar. Vai que é alguém interessado em se juntar à religião.

Ela fitou a mãe por um instante. Quando falava sobre a Incandescente, o peso de ser uma líder religiosa ficava evidente no rosto de Rhiannon, pelo menos para Ravena. As marcas da idade e do cansaço eram mais aparentes, mas os olhos dela também brilhavam com uma paixão que não era presente na maioria das pessoas. Era a mesma paixão que ela mesma tinha pela Incandescente e pela atuação. A mais velha, tendo terminado de preparar seu lanche, se apoiou no balcão em frente ao que Ravena estava sentada, sorrindo de maneira jovial, voltando a parecer aquela mulher jovem e brilhante que era.

—Então, alguma garota interessante esse ano?

Ravena ergueu as sobrancelhas e comprimiu os lábios, segurando a respiração. O rosto da novata dos olhos bonitos (Lara? Lore?) cruzou sua mente rapidamente, mas foi logo ofuscado por cachos bem definidos, olhos duros e lábios carnudos. Shania Bryant, sua paixão e maior “cobiça” desde que pusera os olhos nela pela primeira vez. De uma vez, soltou todo o ar pela boca, descendo da bancada e colocando o pote que segurava, outrora cheio de castanhas, na pia. Às vezes, Rhiannon podia ser um pouco constrangedora ao querer ser a “mãe legal”.

—E essa é a minha deixa, eu vou subir pro meu quarto e fingir que você não perguntou isso.

Deu um beijo rápido na bochecha da mãe e saiu da cozinha, seguindo seu caminho. Quando estava subindo a escada, ouviu um grito:

—Não esqueça do culto nove e meia!

Ravena parou por um instante, sorrindo. Ela nunca esqueceria.

Chegou no quarto e nem ao menos tirou os sapatos antes de se jogar na cama de solteiro. Colocou um alarme no celular para nove da noite, virou para o lado e fechou os olhos. O efeito do cansaço foi praticamente imediato:

Em menos de cinco minutos, apagou.

~~~~

—Obrigada por tudo que tenho e que virei a ter. Obrigada por me sempre me guiarem na direção correta, e peço que continuem a fazê-lo. Obrigada àqueles que já se foram e à natureza por sua sabedoria, serei eternamente grata por sua ajuda. Obrigada.

Murmurou Ravena, de olhos fechados. Estava pronta para ir para escola, com sua típica calça jeans, camisa folgada e um par muito confortável e bonito de botas pretas. Os pais ainda dormiam, e ela havia parado para fazer seus agradecimentos diários. Muitos a taxavam de esquisita e estranha por conta de sua religião, mas Ravena era completamente apaixonada pela Incandescente. Genuinamente acreditava no que era pregado, e era tão crente quanto Rhiannon e Bruce (seu pai), os próprios fundadores da religião. Considerava até mesmo uma bênção que algumas pessoas fossem tão explícitas em relação ao seu preconceito com a Incandescente, porque aí ela poderia se manter longe delas com mais facilidade e pretexto.

Abriu os olhos, olhando diretamente para o espelho. Passou a mão na franja uma última vez, pendurou a mochila no ombro e saiu para o corredor. Os Black podiam até morar na cobertura do edifício, mas não eram ricos e o apartamento era consideravelmente pequeno. O andar de baixo continha apenas a sala, a cozinha e uma minúscula saleta onde colocavam a máquina de lavar e os produtos de limpeza. Ao se subir a escada, encontrava-se um estreito corredor com quatro portas: o quarto de Ravena, o de Rhiannon e Bruce, o banheiro e o terraço – que era, também o maior cômodo da casa. Era lá onde os cultos da Incandescente aconteciam. Acabava sendo, portanto, o local mais importante do apartamento.

Desceu às escadas, saltando de dois em dois degraus, e saiu para o hall do andar, fechando a porta.

Todas as caixas que se acumulavam na porta vizinha no dia anterior haviam desaparecido. A porta estava entreaberta, e mesmo sem querer, Ravena conseguiu vislumbrar as inúmeras silhuetas de móveis e caixas de papelão. Se lembrava de quando se mudara para Montreal, um ano antes, e de como havia sido tedioso desempacotar tudo. Apertou o botão do elevador e, enquanto ele subia, conectou os fones no celular e colocou sua playlist no aleatório. A batida marcante de Under Pressure começou a tocar e Ravena esboçou um sorriso. O dia estava começando bem.

As portas se abriram com um “ding”. Ela adentrou, cantarolando os murmúrios iniciais junto a Freddie Mercury. O elevador começou a se fechar e, no exato momento em que Bowie e Mercury explodiam em um majestoso “Pressure!”, uma mão feminina se colocou na fenda ainda aberta do local.

Enquanto o elevador voltava a se abrir, Ravena tirou um dos lados do fone e espiou, curiosa, quem seria sua nova vizinha.

Olhos distintos, vagamente familiares. Verde e castanho.

A novata sorriu, carregada de segundas intenções, ao ver a garota dentro do elevador. Ravena retribuiu, pensando que seria no mínimo interessante ter seu novo interesse vivendo no apartamento ao lado do seu. Se ela ao menos conseguisse lembrar exatamente do nome dela...

—Ora, parece que somos vizinhas!

Exclamou, tomando a iniciativa. Na realidade, estava só ganhando tempo enquanto vasculhava a mente em busca do nome da menina. O elevador se fechou, Under Pressure ainda tocava em seu ouvido direito. A outra alargou um pouco o sorriso de canto, cruzando os braços abaixo dos seios. O olhar de Ravena se desviou para lá durante um segundo.

—Pois é. Que coincidência mais excitante, né?

Ravena percebia a escolha meticulosa de palavras da garota nova, e gostava do jeito como ela flertava. Era sutil e, ao mesmo tempo, absurdamente direto.

—Pois é!

Riu amarelo, desesperada pelo nome dela. Não adiantaria nada dar em cima da menina sem lembrar como se chamava. O elevador agora passava pelo décimo andar, e ela estava aflita por estar, possivelmente, estragando toda aquela dinâmica. Sabia que começava com L e que não era muito comprido. A outra ergueu de leve as sobrancelhas, obviamente se perguntando se aquilo era tudo. Ravena forçou a memória daquele dia no laboratório de química, quando se aproximara dela com o exato objetivo de beijar.

O silêncio era estranho e levemente desconfortável. A batida crescente da música era vagamente audível dos fones de Ravena, mas tirando isso, estava tudo absolutamente quieto. A garota de olhos diferente continuava encarando, não desviara o olhar em momento algum após a resposta decepcionante da Black. Estava quase lá...

Liana, Lia, Lyvia...

“Bingo”

Ravena lembrava. Alargou o sorriso, redobrando o charme, e esperou o elevador parar no térreo. Andou alguns passos enquanto a outra continuava parada lá dentro, fitando suas costas de maneira intensa. Parou, jogou os cabelos para o lado e virou a cabeça para olhar para ela:

—Vai ser um prazer dividir o andar com você, Lyra.

Voltou-se para a frente e continuou andando, mas teve a impressão de que Lyra sorria, satisfeita, atrás dela. Ravena também sabia brincar com palavras.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Terceiro ano - No Canadá, eles estudam em um sistema com quatro anos de ensino médio. O terceiro ano deles seria equivalente ao nosso segundo.
Para ADivas, criadora da maravilhosa Ravena: como você não colocou na ficha, eu tomei a liberdade de escolher o nome do casal Black. Os nomes tem um motivo, me chama nas MPs que eu respondo assim que voltar do acampamento!
No mais, é isso! Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Laços - INTERATIVA" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.