Laços - INTERATIVA escrita por Lubs


Capítulo 3
Capítulo 2 - Problemas


Notas iniciais do capítulo

Heyyy

Então, no último capítulo, eu falei que ia postar esse mais rápido. Acabou que eu demorei mais k k k k k

Enquanto eu estava com aulas, foi impossível. Eu mal tinha tempo pra existir, quem dirá escrever. Mas minhas aulas acabaram vai fazer UM MÊS amanhã, e nesse período que eu estava de férias, eu não tenho realmente muitas justificativas além de que eu realmente tenho dificuldade em escrever início de fic. Por isso, peço mil desculpas.

Eu finalmente terminei de responder os comentários do prólogo, e assim que eu terminar de postar esse, vou responder os do último capítulo (que, por acaso, teve pouquíssimos, mas eu não to em posição de exigir muita coisa, visto minha demora).

Espero que vocês consigam me perdoar por passar tanto tempo sem atualizar e me abençoem com comentários lindos e cheirosos ♥

Enfim, eu espero que gostem desse capítulo! Ele explora outros lados da história, saindo um pouco da confusão de Eileen - afinal, ela não é o centro da fanfic, né?

AH, IMPORTANTE! Enquanto eu não conseguia escrever nessas férias, pra voltar ao clima da fanfic, eu repaginei o tumblr COMPLETAMENTE, e ele é meu xuxuzinho! Quando vocês puderem entrar nele pelo computador (ele desformata todo no celular, é uma bagunça. Não recomendo), indico, porque ele tem informações novas e tá todo organizadinho! Sério, vale a pena.

Também mudei a capa! É simples, mas beeem melhor que a última!

Agora, aproveitem esse capítulo! Sou suspeita, mas gosto muito dele hauahau, então espero que vocês gostem também!

GO!



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No segundo dia de aula, a poeira ainda não havia baixado. Eileen tinha balançado as estruturas do Instituto, e o fato de ter acontecido tão no começo do ano, quando tudo ainda estava quieto e tedioso, apenas aumentou as proporções de seu retorno. Aumentou tanto que um outro filhote que retornava ao ninho, modificado e, em certos aspectos, “melhorado”, passou despercebido a olhos outrora ávidos e atentos a qualquer novidade...

 Eileen Eaton não era a única estudante do St. Clair a ter se mudado sem dar notícias.

 

C a p í t u l o  2  -  P r o b l e m a s   

 

Ele não podia acreditar que, dentre todos os dias possíveis, ele perdera a hora justo em seu primeiro dia de volta ao Instituto. Enquanto acelerava pelas ruas de Montreal, torcendo para não tomar nenhuma entrada errada após tanto tempo e torcendo para chegar dentro do horário, Valerian amaldiçoava o inventor da função soneca e toda a sua família até a última geração. Ele sabia que, se não fossem as três ou quatro vezes que apertou aquele bendito botão, não precisaria estar dirigindo em uma velocidade perigosamente alta apenas para não chegar atrasado.

Ao seu lado, Veronica permanecia impassível, vendo algo em seu celular enquanto escutava música com os fones de ouvido e mascava um chiclete. Valerian havia pensado em falar que estava muito cedo para doces, mas se bem conhecia a irmã, ia ganhar uma resposta petulante (especialmente àquela hora. Veronica ficava especialmente mal-humorada de manhã), então logo descartou a ideia. No meio da ansiedade de chegar na hora e a preocupação de não bater em nenhum carro, poste, animal ou árvore no caminho – e se ele acabasse atropelando alguém? Deus, sua mãe lhe mataria -, Valerian encontrou tempo para ponderar sobre como seria recebido em seu retorno.

Quatro anos é muito tempo, e se ele havia virado praticamente outra pessoa nesse espaço de tempo, como os outros estariam? Gostariam de vê-lo novamente? Será que sequer o reconheceriam? Sinceramente, ele não sabia dizer. Por um pequeno intervalo de tempo, pensou em como estaria Arabella. Não sentia mais nada pela garota, mas não podia evitar a curiosidade. Será que, “reformulado” do jeito que estava, ela mostraria algum interesse? Não podia evitar pensar que sim. Futilidade era uma das características mais marcantes dela, e Valerian tinha dificuldade em acreditar que esse aspecto teria mudado.

—Não sei se você percebeu, mas chegamos.

A voz arrastada de Veronica o trouxe de volta a realidade, e Valerian freou bruscamente ao ver a estrutura moderna do Instituto mais próxima do que esperava. Poucos alunos ainda adentravam a escola, sinal de que estava tarde, mas ele ficou extremamente aliviado ao perceber que ainda faltavam sete minutos para o sinal bater. O desespero voltou, entretanto, ao perceber o estacionamento lotado e a falta de vagas aparente. A irmã soltou uma risadinha debochada e, tirando o cinto, comentou:

—Boa sorte estacionando. Da próxima vez acorda mais cedo.

Veronica, então, saltou do carro, sem se dar ao trabalho de fechar a porta.

—Boa aula pra você também!

Gritou Valerian, se debruçando sobre o banco do carona para puxar a porta do veículo. Se endireitando no banco e começando sua caçada por uma vaga antes que desse o horário das aulas, resmungou que ela era muito arrogante para uma garota de 12 anos e sobre como, da próxima vez, deixaria ela pegar o ônibus escolar. Constatou, finalmente, que era realmente muito sortudo. Perdera o primeiro dia de aula por conta de uma diarreia bizarra que o atingira sem mais nem menos, no segundo se atrasava e, quando milagrosamente conseguia chegar dentro do horário, era incapaz de achar uma bendita vaga para estacionar o carro.

—Eu devo ter cuspido chiclete na cruz, porque não é possível...

Murmurou, exasperado, enquanto se concentrava em procurar uma vaga. E se concentrou tanto que quase não viu a pessoa que atravessava a rua e, pela segunda vez em menos de cinco minutos, sentiu o impulso de uma freada repentina.

—Ei, presta atenção na rua!

Praguejando pela distração, Valerian ergueu os olhos para mirar sua quase vítima. O garoto de cabelos negros e olhos azuis o encarava através do retrovisor, com uma cara fechada e um tanto quanto indignada. Valerian não o reconhecia, deveria ter entrado depois que ele havia saído da escola, mas ele não podia negar que o menino era extremamente atraente. Empurrando os pensamentos sobre a beleza do desconhecido para longe (pelo menos temporariamente), abriu a janela e colocou a cabeça para fora.

—Desculpa aí! Tava procurando uma vaga e me distraí completamente. Foi mal, mesmo.

O garoto deu de ombros. Ele passava uma impressão de fechadão e até mesmo emburrado, mas Valerian não conseguia deixar de se encantar pelas feições bem construídas.

—Tranquilo, já foi. Só fica mais atento da próxima vez.

O desconhecido ameaçou retomar seu caminho, e mesmo que timidez não fosse um problema para ele, Valerian não conseguiu se forçar a perguntar seu nome. O garoto, entretanto, parou e se virou novamente para o carro.

—Tem uma vaga ali, atrás daquele carro preto e do lado do vermelho.

Falou, apontando na direção. Valerian ergueu o olhar, procurando o local indicado, e sorrindo ao perceber que ele falava a verdade. Se virou para agradecer, mas o menino bonito de olhos azuis já tinha virado as costas e andava na direção da entrada do Instituto. Valerian não sabia dizer se ele era tímido ou mal-humorado (ou se sua lerdeza habitual tivesse atacado no tempo em que procurava a vaga com os olhos. Tinha a impressão que poderia ter demorado um pouco demais para achar o espaço), mas de algo ele tinha certeza: queria conhece-lo melhor.

~~~~

Ao entrar na escola, faltando dois minutos para o sinal tocar, Valerian se deparou com o corredor abarrotado de alunos absortos em conversas animadas e sussurros fervorosos. Todos andavam em grupos de amigos para lá e para cá, e nem mesmo aqueles que estavam sozinhos não lhe direcionavam um segundo olhar. Ele não esperava por isso.

Sendo sincero, Valerian não sabia exatamente o que esperar, mas sabia que não era aquilo. Os alunos do St. Clair nunca deixavam um aluno novo passar completamente despercebido, e ele, no fundo, acreditava que o fato de que estava retornando iria causar uma comoção maior. Ele estava preparado para ser tomado como o acontecimento do ano, assim como estava preparado para não ser reconhecido e, portanto, recebido como um aluno novo qualquer. Mas, Valerian tinha que admitir, ser completamente ignorado não estava nos milhares cenários que previu, e o pegou de surpresa.

O sinal soou alto em seus ouvidos, o fazendo lembrar que ainda tinha que colocar todos os seus livros do dia no armário novo (como sua mochila pesava!), e se dirigir para o outro lado da escola, onde uma sofrida aula geminada de matemática lhe aguardava, segundo a grade de horários que recebera uma semana antes do início das aulas. Sabendo que suas costas provavelmente sofreriam depois e que era bem capaz que ele se arrependesse mais tarde, Valerian resolveu pular a etapa do armário e disparar através dos corredores cada vez mais vazios até a sala de matemática.

E, enquanto fazia seu caminho, só conseguia pensar em uma coisa além do peso exagerado de sua mochila: os olhos azuis elétricos do garoto do estacionamento.

=+=

A perna balançava nervosamente. De dois em dois minutos, passava a mão esquerda através dos cabelos, e mordiscava o lábio inferior sem perceber. Até mesmo quem não soubesse de que todos aqueles eram sinais de absoluto nervosismo saberia dizer. Quem, em sua situação, não estaria entrando em pânico, pelo amor de Deus?

Era só o que lhe faltava. Sinceramente, não podia deixar de rir do quão irônica era a situação. Será que era punição? Sabia que havia errado ao longo do último ano, sabia que havia contado diversas mentiras (e também sabia que, após o dia anterior, elas iriam, no mínimo, triplicar em quantidade), mas aquilo parecia demais.

Sentiu alguém cutucar levemente seu ombro com uma caneta, e discretamente se inclinou para trás, com cuidado para a professora carrasca de gramática não perceber a conversa (embora, sinceramente, duvidasse que fosse lhe causar algum problema. A sra. Davidson lhe amava).

—Quer parar de se balançar assim? Dá pra sentir seu nervosismo a milhas daqui. Se você quer pagar de “de boa”, pelo menos age assim.

Sussurrou Alex, no pé do seu ouvido. Comprimiu os lábios, em um movimento forçado para parar de mordê-los, e cruzou as pernas para ver se paravam de balançar. Pensou em talvez ocupar as mãos copiando o que a professora anotava no quadro (que estava, por acaso, assustadoramente cheio para o segundo dia de aula), mas desistiu assim que se tocou que, embora não demonstrasse, o nervosismo não iria permitir que se concentrasse de maneira alguma. Suspirou, e discretamente respondeu o amigo:

—Eu sei, mas tá foda. Eu devo ter crucificado Jesus, porque não é possível que esse tanto de merda aconteça comigo tão cedo no ano.

Alex riu de maneira anasalada, atraindo levemente a atenção da professora. Ambos se ajeitaram em suas carteiras, e foi preciso um sorriso leve dos dois para que a sra. Davidson voltasse ao curso normal da aula. Percebeu Arabella olhando de lado, com aquela expressão convencida e ladina. Ergueu as sobrancelhas para a garota, como quem indagava o que tanto olhava, e com sua arrogância típica, ela revirou os olhos e se virou para frente mais uma vez.

O sinal que indicava o fim do terceiro período soou como música aos seus ouvidos. Afinal, o motivo de seu nervosismo latente ter se manifestado tanto naquela aula era que uma das razões dele estava sentada a apenas duas fileiras de distância e a segunda, diretamente resultante da primeira, algumas cadeiras na sua frente.

Em sua direita, Eileen se levantou calmamente, pendurando a bolsa no ombro direito e se dirigindo à porta sem lhe olhar duas vezes. Os cabelos, antigamente compridos o suficiente para atingir a cintura da menina, mal alcançavam os ombros. Se perguntou o porquê de ela os ter cortado. Não que estivesse feia, nunca ficaria feia, mas...

Piscou com força. Foco. Você precisa focar em quem realmente importa.

Na frente, Savanna havia acabado de se levantar, mas ainda não tinha se virado. Ciente de que Alex o observava e sabia de tudo que se passava em sua cabeça (o maldito simplesmente tinha essa habilidade), e resolvendo ignorar a risada levemente sádica do melhor amigo, foi até a menina de cabelos cacheados e a abraçou por trás, depositando um beijo em seu pescoço. Ela tencionou por um curto período de tempo, mas relaxou assim que percebeu quem era e que se certificou de que a sra. Davidson já saíra da sala. Savanna se virou, enlaçando os braços em volta da nuca do namorado, e ele não hesitou em depositar um beijo em seus lábios. Quando se afastou, ela estava corada.

Nate sempre se surpreendia com a pureza de Savanna.

—Qual sua aula agora?

Ela gemeu, jogando a cabeça para trás, preguiçosa.

—História. Você?

—Biologia. Quer trocar?

Ela riu. O rosto de Savanna se iluminava quando o fazia, ela tinha um dos sorrisos mais bonitos que ele já vira. Mas não chegava aos pés... interrompeu seus pensamentos. Foco, Nathaniel. Foco. Mesmo assim, ele quase podia ouvir a gargalhada e sentir aquele cheiro, que ele nunca soube classificar. Aquele cheiro que, infelizmente, era seu preferido.

—Bem que eu gostaria. Você aproveita seu inferno que eu aproveito o meu. Pode ser?

Nate riu, irônico.

—Duvido muito que eu consiga aproveitar alguma coisa em uma aula de biologia, mas ok.

Savanna abriu a boca para replicar, um sorriso no rosto, quando foi interrompida. Na porta da sala, impaciente, Arabella chamou:

—Savanna, pelo amor de Deus! Bora logo, vocês podem ficar de lenga lenga no intervalo.

Nate lançou o dedo do meio para a amiga de infância, que fingiu pegar no ar e levou a mão até o coração sarcasticamente. Voltou a atenção para a namorada, que lhe olhava como quem pedisse desculpas.

—Desculpas, mas ela tá certa. Eu realmente preciso ir. A gente conversa depois.

Se ergueu rapidamente na ponta dos pés, dando um selinho em Nathaniel, saindo do abraço em seguida. Antes de ir até Arabella, se virou para ele mais uma vez.

—Eu te amo.

Falou, sorrindo de leve. Ele retribuiu, e sabia que, naquela frase, não precisaria mentir.

—Também te amo.

Savanna ficou mais sorridente, mas seu tom saiu mais sério. As palavras que ela falou em seguida rasgaram os tímpanos de Nate como uma trilha sonora de filme de terror.

—Eu te amo mais que qualquer pessoa no mundo, e mais do que eu já amei alguém.

Ele sorriu. Estava ficando bom em atuar, talvez devesse entrar no grupo de teatro.

—Você sabe que eu também.

Savanna saiu da sala leve como uma pena, mas deixou Nate para trás com o peso de suas palavras assombrando sua consciência. Mentiras como aquela sempre foram as mais difíceis de contar.

Atrás de si, Alex começou a rir alto enquanto se aproximava. A sala já estava vazia, e ele tinha se esquecido completamente que o melhor amigo estava ali.

—Você tá tão fudido...

Nathaniel riu, batendo no ombro do outro de leve.

—Cala a boca, idiota.

Mas, ao saírem da sala e se separarem a caminho de suas respectivas aulas, Nate sabia que Alexander estava certo. Ele estava completa, total e absurdamente fudido.

=+=

Era uma escola esquisita. Todos se metiam na vida alheia, a fofoca parecia impregnada no ar. Nunca gostou muito de gente que ficava cuidando dos problemas dos outros ao invés de olharem para o próprio umbigo. Bem, Ivy supunha que o famoso “retorno de Eileen Eaton” havia lhe poupado alguns estresses. Todos estavam ocupados demais com a garota (que, pelo que ela vira na aula de geografia, não tinha mais paciência alguma para todos os cochichos) para se importarem com a vida dela.

A pior parte de mudar de escola era a hora do almoço. O St. Clair parecia ter uma grande comunidade de gente que estudava lá desde crianças, e os laços eram bem fortes. Ivy não tinha interesse em sentar na maioria daquelas mesas – não sem conhecer as pessoas previamente. As chances de explodir com algum preconceituoso de merda eram grandes demais, e ela estava sem paciência para ficar impaciente. Andou confiante entre as mesas, procurando uma vazia, até que achou uma – bem, quase.

Uma garota negra de cabelos grossos e ondulados estava praticamente encolhida no canto do banco, encostada na parede. Mastigava um sanduíche lentamente e tinha o olhar fixo em um ponto aleatório do tampo da mesa. Ivy decidiu, naquele momento, que era ali que se sentaria. Se aproximou decididamente e, educada, indagou:

—Posso sentar aqui?

A menina piscou, saindo do transe, e acenou positivamente com a cabeça. Ivy sentou de frente para ela, e abriu um pacote de batata frita com uma expressão neutra. Olhou para o outro lado da mesa, e silenciosamente avaliou a menina, que parecia ter se retraído ainda mais com sua aproximação. Ela tinha olhos escuros que buscavam qualquer coisa que não Ivy, parecia acanhada pelo refeitório inteiro e movia as mãos nervosamente quando não estava comendo. Constatou que ela era bonita, provavelmente muito tímida e que queria ser sua amiga. Tirando o cabelo do rosto e pigarreando levemente, começou:

—Ivy McKinley. Prazer.

Estendeu a mão. Embora estivesse apenas se apresentando, tinha um tom seguro e levemente impositivo, como se requeresse uma resposta imediata. A outra hesitantemente esticou o próprio braço.

—Sasha Graham.

Ivy apertou firmemente a mão de Sasha e, deixando o saco quase completamente cheio de lado da mesa, se empertigou e usou ambas mãos como apoio para o queixo.

—Eu sou nova aqui, primeiro dia. Sinceramente, achei que eu ia me impressionar mais, mas a maioria das pessoas aqui não tem nada melhor pra fazer além de ficar fuxicando sobre a vida alheia.

Rolou os olhos, abrindo uma lata de refrigerante dando um gole generoso enquanto mirava Sasha, esperando uma resposta. Ela estava meio confusa e talvez um pouco intimidada, mas Ivy não estava com paciência para se segurar. Colocou a latinha na mesa e ergueu as sobrancelhas.

—E então? O que você acha?

Sasha pareceu pensar um pouco, mas finalmente respondeu, olhando para baixo:

—Bem, eu também sou nova aqui, mas concordo com você.

Ivy bateu no tampo da mesa, animada. Estava satisfeita que alguém concordava com ela, e a pobre Sasha sequer sabia no que estava se metendo.

—Ainda bem que conheci alguém como eu! Achei que eu ia ficar presa nessa escola de fofoqueiros sozinha. Você tem que eletiva depois do almoço.

—Música.

Respondeu Sasha. A garota achou melhor dar as menores respostas possíveis o mais rápido que pudesse, Ivy era intensa e impaciente, e não parecia muito disposta a recuar um pouco de seu temperamento para a timidez da mais nova conhecida. A de cabelos roxos resmungou baixinho, terminando de mastigar um punhado de batatas fritas e engolindo calmamente.

—Uma pena. Eu tenho dança, mas sem problemas, a gente se fala depois.

Comentou, colocando as últimas batatas na boca de amassando o saquinho vazio, que atirou no lixo ao lado. Errou o alvo e acabou acertando um garoto loiro e relativamente alto que passava olhando algo no celular. Ergueu as sobrancelhas, o reconhecia da aula de física.

Ivy não gostava dele.

—Cuidado aí, porra!

Ele praguejou, olhando para ela de cenho franzido. Sasha parecia querer desaparecer, mas Ivy deu de ombros e o encarou, desafiadora.

—Não foi de propósito, imbecil. Da próxima vez fica mais atento ao caminho.

Ela realmente não tinha ido com a cara daquele menino. Ele riu, debochado, atraindo a atenção de algumas pessoas próximas.

—Tá de TPM é, garota?

Ah, Ivy tentou ao máximo não se estressar naquele dia, mas aquele garoto estava lhe dando nos nervos. Levantou de supetão e se aproximou dele, irritada, sem sequer se importar com o fato de que ele era esmagadoramente mais alto que ela. Ivy não brincava e não se deixava intimidar por alguns centímetros.

—Repete. Repete o que você falou na minha cara, filho da puta. Repete!

O menino riu, olhando para alguma coisa à sua esquerda. Com o canto do olho, Ivy percebeu os amigos dele sentados em uma mesa próxima. Alguns riam de leve, outros só encaravam com o cenho franzido. Duas garotas pareciam preocupadas e uma terceira, loira, olhava algo no celular ignorando completamente a situação. Ivy se perguntou como que alguma menina poderia ser amiga daquele cara. Ele voltou a atenção para ela e, ainda sorrindo de lado, perguntou:

—Qual seu nome, lindeza? 

Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa e indignada com a audácia daquele garoto. Sabia que não deveria, mas depois de um segundo tentando se conter, explodiu:

—Não te interessa, senhor babaquice. O dia em que você conseguir uma palavra de mim que não seja de desprezo, seu rostinho branquelo vai ser bonito de se olhar.

Para finalizar, deferiu uma joelhada bem dada no pênis do menino. Ele imediatamente fechou os olhos em agonia e levou as mãos à parte íntima, se retorcendo de dor. Olhando para baixo, onde ele continuava em seu sofrimento, Ivy perguntou, ácida:

—Qual seu nome, lindeza?

Ele riu rapidamente, retraindo o maxilar e a olhando de baixo. Os olhos azuis estavam marejados, mas mais que lágrimas, transbordavam raiva.

—Joshua, mas pra você é Josh, doçura.

Respondeu. Ivy trincou os dentes, se retendo diante do deboche e da cara de pau daquele menino, que mesmo no meio de tanta dor, arrumava espaço para ser petulante.

—Pois bem, Joshua. Deixa o trabalho de cagar só pro seu cu da próxima vez, sua boca não precisa soltar merda também.

Completamente possessa, e lembrando vagamente de Sasha, Ivy jogou os cabelos para trás do ombro e saiu do refeitório com passos firmes e o queixo erguido.

=+=

Às vezes Shania se perguntava o motivo de não ter escolhido nenhuma eletiva para aquele dia. Dança estava fora de cogitação, mas música era até legal, e ela não se importaria de fazer. Era melhor do que aquele horário vago que só ela parecia ter, já que a maioria dos outros alunos estavam em alguma das duas aulas. Mas essa dúvida era apenas temporária, porque bastava esperar mais um tempo naquele local silencioso que ela logo lembrava o porquê. Estava sendo assim desde o início do ensino médio, e agora que estava no último ano, sabia que teria que fazer mais uso daqueles 50 minutos do que nunca.

Era apenas o segundo dia de aula, não tinha muito o que fazer ainda, mas ela sabia que aquela era justamente sua vantagem. Enquanto ainda não estava completamente abarrotada de coisas, ela tinha tempo de desenrolar toda a confusão que se formaria em sua cabeça. Com a expressão séria de sempre, andava pelos corredores em direção à biblioteca, espantando com um único olhar os poucos alunos curiosos que também tinham aquele período livre.

O livro e caderno pesavam em seus braços, mais pela consciência que ela tinha deles do que pelo peso material, e embora não quisesse, sabia que era inevitável. Tinha que fazer aquilo, ou não sabia que reação sua mãe poderia ter – da última vez, ameaçara tirar de Shania uma das coisas com as quais mais se importava no mundo. Ela não poderia arriscar.

Adentrou a biblioteca extremamente branca e fria. Shania sempre achou que aquele local parecia parte de outra realidade. O ar parecia diferente, como se pudesse tocar o frio, e o silêncio era quase uma melodia, tinha um som próprio. Lá, mesmo que não fosse verdade, se sentia imune às fofocas e olhares ladinos daquele Instituto. Sorriu para a bibliotecária, uma adulta de aproximadamente 43 anos muito doce e simpática.

—E aí, Marylin? Tudo tranquilo por aqui?

Comentou baixinho. A mulher sorriu, meiga como sempre fora. Shania gostava dela.

—Tudo ótimo! E com você? Tudo bem? O que te traz aqui hoje?

Ela suspirou, abrindo um sorriso amarelo.

—O de sempre, né?

A bibliotecária chegou a se assustar, mas sabia que já deveria ter esperado. Nunca vira alguém mais dedicada que Shania Bryant. Rindo e levemente incrédula, começou a procurar uma chave em suas gavetas.

—Ah, sim, claro! Eu deveria saber que você era a única que faria isso no segundo dia de aula. Sinceramente, Shania, ás vezes eu acho que você se esforça até demais. Mas venha, venha, eu vou abrir a sala para você.

Marylin contornou o balcão e Shania a seguiu até uma porta branca com uma pequena janela, que servia para quem estava fora conferir se estava ocupada. Era uma cabine de estudo para aqueles que queriam ter mais privacidade e focar mais no que estavam lendo, sem nenhuma distração. A mais velha destrancou e, abrindo espaço para a estudante, sorriu.

—Aqui. Você já sabe o que fazer na saída, né?

Shania sorriu e entrou na salinha. Era um cubículo bem iluminado por uma única lâmpada, contendo uma única mesa e uma cadeira. O suficiente para apenas uma pessoa.

—Sei, sim. Valeu, Marylin.

A bibliotecária abanou a mão, fazendo pouco caso.

—Que é isso, menina! Você sabe que não é trabalho nenhum. Bem, vou te deixar em paz com seus estudos. Aproveita bem, hein?

 Não esperou uma resposta; voltou direto para seu balcão. Shania suspirou e fechou a porta, se acomodando na cadeira levemente acolchoada. Fechou os olhos e respirou fundo, torcendo para que seu “problema” tivesse desaparecido magicamente.

Abriu os olhos, pegou um lápis e folheou o livro até parar na parte que havia estudado por último (havia começado uma semana antes do início aulas, e ainda estava na décima página). Abriu o caderno e leu o problema proposto:

“4. Se v e w são as raízes da equação x2 + ax + b = 0, em que a e b são coeficientes reais, então v2 + w2 é igual a:”

Bhaskara. Não deveria ser difícil, ela sabia exatamente a fórmula que deveria aplicar. Mas os números pareciam não tomar forma em sua cabeça, ela não conseguia idealizar onde deveria botar o que. Começou a escrever a fórmula, mas travou, porque não conseguia pensar, era como se seu raciocínio não processasse números e cálculos.

Apagou tudo e levou as mãos à cabeça, em desespero. Queria jogar tudo para o alto e desistir, sua vida seria mais simples se não tivesse que fazer matemática. Mas ela tinha, e sabe-se lá o que aconteceria se não obtivesse sucesso.

Shania respirou fundo novamente e, pegando o lápis, recomeçou.


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Notas finais do capítulo

That's it!

Realmente espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu (e que comentem k k k k, eu sou uma autora carente)!

Também queria dizer que eu pretendo mimar vocês horrores durantes essas minhas férias, então esperem capítulosss!

Até os comentários (espero)! Se não...
Até o próximo capítulo! ♥



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