Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 8
Verdades




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Na manhã seguinte, Richard convidou Isabelle para tomar café da manhã numa padaria próxima ao Bushwell. Queria ter a oportunidade de se desculpar:

— Belinha, eu sinto muito pela cena patética da minha mãe ontem. Eu juro que se soubesse que ela iria fazer isso, não teria convidado você e a sua família.

— Eu não tenho dúvidas disso, Rick. Não precisa se desculpar, não foi sua culpa.

— Minha mãe colocou na cabeça que você só entra na minha vida para me fazer sofrer. Sabemos que isso não é verdade. Você me faz muito feliz. Esse ano que passamos juntos, no nosso apartamento em Nova York, foi o melhor desses meus 23 anos de vida. Você jamais me faria sofrer ou me trairia, como reafirma minha mãe, não é Belinha?

— Que pergunta – disse Isabelle, sem graça, dando um grande gole no seu copo de café com leite.

— Saiba que da minha parte, eu preferiria morrer a te magoar ou te trair, tem a minha palavra. Mas, por outro lado, eu morreria se você me magoasse ou traísse. Acho que é disso que minha mãe tem medo, ela sabe que eu não suportaria, mas não tem motivo, já que eu confio totalmente em você, sei que jamais faria algo desse tipo.

Isabelle não conseguia encarar Richard depois de ouvir tudo isso. Nem levantava a cabeça, até suava frio. Ele percebeu e perguntou:

— O que houve, amor? Não se sente bem?

Ela começou a chorar e falou entre soluços:

— Sua mãe tem razão! Eu vou acabar machucando você, Rick! Eu não te mereço! Não posso fazer isso com você. Acho melhor acabarmos com isso antes que o pior aconteça – tirando a aliança do dedo e entregando a ele.

A loira levantou-se e saiu apressada do local, Richard teve o impulso de ir atrás, mas foi contido por um garçom, que o lembrou da conta.

Enquanto isso, no oitavo andar do Bushwell, Cristopher revia fotos antigas dele e de Isabelle no seu notebook. Mabel desceu as escadas sem fazer barulho e surpreendeu o marido sentado no sofá da sala.

— Eu sabia! – gritou ela, fazendo-o dar um pulo – Você nunca esqueceu a Isabelle!

— Eu disse que tinha esquecido? – indagou ele, fechando a tela do notebook – Ela fez parte da minha vida, foi minha primeira namorada, meu primeiro amor...

— O problema é que ela não foi, ela é!

— Você tem razão, Bel. Infelizmente, pra você pelo menos, ela não foi o amor da minha vida, ela ainda é.

Mabel pegou um vaso em cima da mesa de centro e tentou acertar em Cris, mas ele foi mais rápido e se abaixou. Ela começou a chorar e gritar:

— Como pode falar isso pra mim, assim? Eu sou a sua esposa, a mãe da sua filha!

— Agora Ellie é minha filha? Outro dia você jogou na minha cara que ela não era e que iria tirá-la de mim!

— Eu ainda posso fazer isso.

— Faça isso! Vá em frente. Vingue-se daquele que te acolheu no momento de maior desespero na sua vida, daquele que sacrificou a própria felicidade para impedir que você tirasse a vida de um ser inocente. Por isso, eu sou sim o pai da Ellie, sempre fui. Ela nasceu graças a mim. Se eu não dei o material genético, eu permiti que ela nascesse, eu a protegi desde o ventre! Ela me reconhece como pai e me ama tanto quanto eu a amo.

— Joga na cara, Cristopher! Sua máscara de bom moço caiu! Você é um falso! Até outro dia dizia que me amava, bastou a minha prima voltar para seus sentimentos mudarem. Era tudo dissimulação, né?

— Eu sempre deixei claro que te amava como a uma irmã, depois que nos casamos, pelas circunstâncias, demoramos a viver, de fato, como marido e mulher e eu jamais a teria possuído como minha mulher se meus sentimentos por você não tivessem mudado. Eu te amei como minha esposa.

— Amou? Não ama mais?

— Já que estamos jogando no ventilador todas as verdades, eu admito, amei, hoje não tenho tanta certeza.

— Está bem, Cristopher. Acho que está tudo muito claro entre nós.

Mabel calou-se, secou as lágrimas e subiu. Cris surpreendeu-se, não sabendo o que esperar depois disso.

No décimo terceiro andar, Isabelle chorava copiosamente no quarto. As batidas na porta não demoraram. Era Sam:

— Posso entrar, filha?

— Eu quero ficar sozinha, mãe.

Sam não atendeu ao pedido da filha e entrou. A moça se insurgiu:

— Saía, mãe! Por favor.

— Não quer desabafar?

— Já passei da adolescência, posso dar conta das minhas crises sozinha, agora.

— Está bem. Bom saber que você é bem adulta e capaz de lidar com suas crises, porque o seu noivo está na sala desesperado pra falar com você.

Isabelle chorou mais ainda e abraçou à mãe:

— Pensando bem, eu ainda preciso de ajuda!

Pouco depois, Sam foi à sala e informou a Richard:

— Isabelle chegou muito nervosa e eu dei um calmante a ela. Está dormindo profundamente. Eu tentei acordá-la várias vezes, nada adiantou. Só faltou eu jogar um balde de água fria nela. Se você não puder esperar para falar com ela mais tarde, posso tentar isso.

O rapaz se assustou:

— De forma alguma, Senhora Benson. Eu volto depois.

— Eu acho que já comentei, mas, vou repetir, detesto ser chamada de Senhora Benson, remete à minha querida sogrinha. Apenas Sam, está bem?

— Claro, Sam. Até mais tarde.

A noite caiu e Isabelle sabia que era inevitável a conversa com Richard. Estava disposta a falar toda a verdade. Chegou à conclusão de que era melhor magoar Rick antes do casamento do que se casar com ele e magoá-lo ainda mais depois. Sentia-se uma traidora por ter beijado Cris, indigna do enorme amor de Rick, ainda mais traidora seria se não tivesse coragem de contar a ele o que se passou.

A campainha tocou. Ela sabia que era ele. Estava na hora de encarar o noivo e os fatos.

No apartamento do oitavo andar, Cris assistia à televisão, quando olhou o relógio e viu que já passava da hora do leite de Ellie, que ela sempre tomava antes de dormir.

Quando Cris chegou do trabalho, encontrou a porta da suíte do casal trancada e ouviu Mabel gritar para ele ir embora. Sophie relatou que a cunhada havia passado o dia trancada ali com a filha. Ele resolveu não insistir.

Contudo, preocupado com a alimentação da filha, resolveu bater na porta da suíte novamente. Continuava trancada e ninguém respondia. Começou a temer por Mabel e Ellie, pensando no que a doida da sua esposa poderia ter feito. Então, afastou-se e num impulso arrombou a porta. Teve uma grande surpresa ao ver que Mabel e Ellie não estavam no local. Procurou por tudo. Encontrou um bilhete sobre a cama e o leu rapidamente, sob os olhares nervosos de Sophie.

— O que diz? – perguntou a menina ao irmão.

— Mabel foi embora com a minha filha!


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