Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira
Sam entrou no quarto sentou-se numa das cadeiras da pequena mesa e colocou as pernas para cima, deixando Melanie indignada:
— Os anos passam e você não aprende a ter educação, não? – empurrando os pés da irmã, que deu uma risada irônica.
— Posso não ser muito educada, como você, cheia das etiquetas, porém, você há de concordar comigo que dou excelente em guardar segredo!
— O que está insinuando irmãzinha?
— Quando vai contar ao Gibby que Mabel não é filha biológica dele? Ou melhor, quando vai contar para a sua filha que a enganou por mais de 20 anos, pela vida toda dela?
— Isso é um absurdo! Mabel é filha do Gibby! Está até acima do peso, como ele.
— Se ser gordo garantisse parentesco, haveria uma grande família no mundo – gargalhando.
— Não vejo a menor graça!
— Melzinha, eu tenho ótima memória! Na época em que você namorava o Gibby à distância, namorava também o seu vizinho, como era mesmo o nome dele? Aquele mais jovem que você, capitão do time de futebol no último ano da escola... Josh?
— Eu nunca me envolvi realmente com o Josh, foi só uma paquera, eu estava carente, longe do Gibby...
— Corta essa! Quem não te conhece que te compre!
— Você não tem prova nenhuma do que está falando!
— Realmente, mas hoje existe uma coisa chamada exame de DNA.
— O Gibby nunca vai cair nas suas acusações sem sentido.
— Será? Eu sou a melhor amiga de infância da Carly, que é a esposa do Gibby, que tem muita influência sobre o Gibby....
— Chega! O que quer, Sam?
— Uma coisinha muito simples: deixe o Cris ver a filha no dia do aniversário dela!
— Isso não depende de mim.
— Tenho certeza de que dará um jeitinho. Espero o seu contato, irmãzinha – pegando a bolsa, jogando um beijo no ar e saindo do quarto com um sorrido cínico.
Enquanto isso, Cris abraçava-se à Ellie sem conseguir conter as lágrimas. A pequena não entendia:
— O que está acontecendo, papai? Por que está chorando? – abraçando-o.
— O papai está chorando porque vai sentir saudades de você.
— Eu também, papai! Não quero ir – agarrando-se ainda mais ao pescoço dele, no colo.
— Vai sim, minha pequena. A mamãe e o tio Richard querem fazer uma viagem bem legal com você, como umas férias! – tentando esboçar um sorriso.
— Mas, eu vou te ver de novo, né papai?
— É claro, minha querida. Férias não duram para sempre. Agora, vai dar um beijo na tia Belinha – colocando-a no chão.
Isabelle se abaixou, já continha o choro e a menina beijou a sua bochecha e depois a sua barriga, dizendo:
— Até logo, meus irmãozinhos!
As lágrimas não puderam mais ser controladas e Isabelle deixou-as rolar. A menina percebeu:
— Você também tá chorando, tia Belinha? Não chora não, eu volto logo, antes dos meus irmãozinhos chegarem, porque quero pegar eles no colo logo.
— Eu sei disso, meu amor – beijando a face da menina – Eu te amo, vai com Deus.
— Eu também te amo, tia! Cuida do meu papai e dos meus irmãozinhos enquanto eu não volto.
— Pode deixar, minha bonequinha.
Mabel se manifestou:
— Vamos logo, Ellie. A gente tem hora para chegar no aeroporto – pegando a menina pela mão, enquanto Richard carregava a mala da pequena.
O casal não se despediu, simplesmente levou a menina, sem olhar para trás.
Isabelle e Cris se abraçaram, restava-lhes apenas o pranto, com o apoio um do outro.
Mais tarde, quando o casal Celle já nem tinha mais lágrimas para chorar e tentava se distrair com uma série, ouviram a campainha. Cris se levantou para atender, abriu a porta e viu a sogra:
— Sam! Por favor, queira entrar – saindo da frente e dando-lhe passagem.
Ela deu um beijo no rosto do genro e caminhou em direção à sala de TV, onde a filha estava jogada no sofá, com aparente desânimo. Sentou-se ao lado dela, depois de um abraço apertado e um beijo estalado no seu rosto disse:
— Cris poderá ver a Ellie no aniversário!
— Como a senhora conseguiu isso?
— Conto o milagre, mas não conto o santo.
— Sigilo da fonte é?
— Total.
— Cris! – chamou Isabelle – Vem logo aqui.
O rapaz que havia ido para a cozinha, a fim de deixar mãe e filha a sós, entrou correndo:
— O que houve?
Sam respondeu:
— Compre suas passagens para Los Angeles, rapaz! Verás a sua pequena Ellie no dia em que ela completa 4 anos!
— Você só pode estar brincando?
— Nunca falei tão sério!
— É sério, amor! – confirmou Isabelle, conseguindo abrir um sorriso.
Cris aproximou-se de Sam e deu-lhe um beijo na bochecha:
— Serei eternamente grato a você, sogrinha querida!
— Só não sumir com a minha filha e meus netos que tá tudo certo.
— Eu jamais os afastaria de você, quero que meus filhos conheçam a avó incrível que têm.
Os dias se passaram e chegou o dia do embarque de Cris para Los Angeles. Isabelle foi proibida pelo médico. Estava inchada e prestes a entrar no oitavo mês de gestação. Os bebês poderiam nascer a qualquer momento, ainda que prematuras, por ser uma gestação gemular, dado o estado da mãe.
Cris despediu-se dela com um beijo nos lábios e disse:
— Cuide-se direitinho, eu vou num pé e volto no outro. Não perderia o nascimento dos nossos filhos por nada.
— Pode deixar. Estarei no apartamento dos meus pais, sendo muito bem cuidada por eles e ainda tendo a sua mãe por vizinha.
— Então, prepare-se para os cuidados exagerados da Dona Carly.
— E da Dona Sam, também – rindo.
— Agora estou mais seguro de ir.
— Que bom. Mande um beijo meu para Ellie e diga que já estou com saudade.
— Pode deixar.
Deram mais um beijo e ele se afastou, acenando pouco antes de entrar na sala de embarque.
Isabelle saiu do aeroporto a procura de um táxi e sentiu uma leve pontada em baixo da barriga, mas, logo passou. Pensou: “Eles têm muito tempo para nascer, não será com o pai longe”.
Acariciou a barriga e falou baixinho:
— Sejam um pouco mais pacientes, o papai não está aqui no momento.
Como se entendessem, sentiu dois chutes na sequência, abrindo um sorrido. Encontrou o táxi e embarcou rumo ao Bushwell.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!