Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 19
A volta de Mabel




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De mãos dadas, na sala de espera do hospital, Isabelle e Cris aguardavam ansiosos o resultado do exame de compatibilidade. A enfermeira trouxe dois envelopes, entregando-os a cada um deles. Cris abriu mais rapidamente, dizendo, tristonho:

— Como eu imaginava: Não sou compatível! Vou ter que achar a Mabel, nem que eu tenha que trazê-la arrastada aqui dessa tal clínica psiquiátrica!

— Calma, amor. Eu sou compatível – informou Isabelle, com um sorriso, mostrando o documento nas suas mãos – Só não sabia que o nome da Ellie é Elena.

— Sim, Elena Gibson Shay. Ellie é a abreviação. Mas, caramba, você é compatível, meu amor – abraçando Isabelle.

— Eu sou!

Os dois deram um beijo estalado nos lábios.

Ao final daquele dia, Cris conseguiu entrar em contato com Melanie e informar o estado de saúde de Ellie. A avó ficou bastante preocupada e afirmou que daria um jeito de tirar Mabel da clínica, mesmo sem alta, para que estivesse perto da filha nesse momento.

O pediatra afirmou que o procedimento era de urgência e logo providenciou tudo para o transplante. Isabelle estava nervosa, mas feliz com a possibilidade de salvar a vida de sua querida Ellie.

Cris despediu-se da moça pouco antes de ser levada à sala de cirurgia, dizendo:

— Eu lhe serei eternamente grato pelo o que está fazendo por minha filha hoje, meu amor.

— Não precisa me agradecer. Ellie já havia levado um pedaço do meu coração, agora, vai levar um pedaço da minha medula também. Ela terá um pedacinho meu, ainda que eu não seja a mãe dela.

— Você é uma mãe incrível para Ellie, melhor que Mabel.

— Melhor não entrarmos em comparações. Tenho minhas questões com a minha prima, mas ela sempre será a mãe de Ellie.

— Você é incrível – dando um beijo nos lábios da moça – Vai dar tudo certo.

Os dois trocaram um sorriso e a enfermeira levou Isabelle para a sala de cirurgia.

Após o procedimento, Isabelle e Ellie estavam isoladas na sala de recuperação. A moça foi logo para o quarto e pôde receber as visitas dos pais e do namorado, mas a pequena iria ficar mais alguns dias em isolamento, o período de adaptação do transplante.

Mabel e Melanie chegaram ao hospital. A avó parecia preocupada e a mãe contrariada. Logo que viu Cris começou os ataques:

— Minha filha estava doente e você só avisa quando ela está a caminho do transplante?

— Foi tudo muito rápido, Mabel! Quando surgiram os sintomas, a doença já era preocupante. Eu fiz tudo o que estava ao meu alcance no tempo certo. Além disso, você estava incomunicável na tal clínica.

— Mas, a minha mãe não estava!

— Eu tentei falar com a sua mãe por dois dias até conseguir ser atendido!

Melanie se manifestou:

— Eu passava os dias na clínica com ela. Lá o celular tem que ficar desligado.

Mabel continuou:

— Minha filha poderia ter morrido!

— Mas, não morreu, graças a mim e à Belinha!

— Ah, claro! A minha priminha querida!

— Sim, a sua priminha querida. Graças a ela, nossa filha recebeu uma medula e vai se curar dessa doença horrorosa!

— O que quer dizer? Ela não pode ser compatível! Ela não é a mãe, eu sou!

— Ela é sua prima, é parente, e sim, é compatível! O transplante já foi feito!

— A minha medula seria muito mais adequada para Ellie, com certeza a compatibilidade seria maior. A medula da Isabelle pode ser rejeitada. Ela nem é parente próxima.

— Que tal pensarmos de forma positiva, considerando que amamos muito a nossa filha, no sentido de que o transplante será muito bem sucedido e sentir gratidão à sua prima que salvou a vida da nossa pequena?

— Poupe-me das suas ironias. Eu quero ver a minha filha!

— Não dá. Ela está em isolamento. Período de adaptação do transplante, tem risco de rejeição, infecção e tudo mais. Podemos observá-la de longe, pelo vidro.

— Que seja! Quero vê-la!

— Há horário de visita supervisionada.

— Eu sou a mãe dela! Tenho o direito de vê-la quando quiser! Eu quero estar perto da minha filha!

— Não parecia querer tanto antes.

— Eu estava doente! Jamais abandonaria a minha Ellie! Por falar nisso, quando ela tiver alta, vai comigo.

— Veremos isso depois. Ela está se restabelecendo e isso é tudo o que mais importa agora.

Mais tarde, à noite, Cris afirmou à Sam e Freddie que iria ao Bushwell pegar um pijama e que voltaria para passar a noite na Cia de Isabelle no hospital.

Mabel observou o ex-marido saindo, depois viu Sam e Freddie passarem para a lanchonete e aproveitou a oportunidade, entrando no quarto de Isabelle:

— Olá, priminha! Como vai?

— Mabel? Quem bom que está aqui! Ellie vai gostar muito de te ver quando sair do isolamento.

— Deixa de ser sonsa! Eu sei que você não me suporta e que quer tudo o que é meu!

— Eu nunca quis nada que é seu.

— Ah não? Só o meu marido e a minha filha!

— Quem roubou o meu namorado foi você e quem largou a filha, idem.

— Sua vagabunda, destruidora de lares! – gritou Mabel.

— Você realmente não está bem da saúde mental, Mabel. Não é a toa que estava numa clínica psiquiátrica. Por isso, nem vou levar em conta as suas agressões.

— Você se acha a perfeita, a superior! Agora, bancando a heroína, doando a sua medula para a minha filha. Eu mesma teria feito isso se você não se intrometesse!

— O caso era urgente e eu fiz isso de coração, pela Ellie, que merece todo o meu amor. Você nem precisa me agradecer – disse Isabelle com ironia.

— Você me tira do sério!

Sam e Freddie retornavam da lanchonete e presenciaram o final da discussão. Sam foi para o ataque:

— O que faz aqui Mabel? Minha filha acabou de sair de um transplante para salvar a vida da sua filha! Não permito que a oportune em recuperação!

— Sua máscara finalmente caiu, não é titia? Isabelle sempre foi sua única e legítima filha. Quando me acolheu, fez por pena, nunca gostou mesmo de mim! Nunca me teve na mesma conta que a sua filha de sangue! Na primeira oportunidade de me descartar, fez isso!

— Isso não é verdade, Mabel. Eu te defenderia de uma conduta errada da Belinha da mesma maneira. Uma boa mãe toma atitude quando um dos filhos age errado e você está errada! Eu sinto tanto por te ver dessa forma. Se dependesse de mim, você seria outra pessoa hoje. Eu mesma me culpo por ter te devolvido aos seus pais. Talvez se fosse criada comigo, como eu e Freddie criamos Isabelle, Eddie e Nick, seria outra pessoa hoje.

— Agora entendo de onde a Isabelle herdou a empáfia de se sentir perfeita, a salvadora da pátria, a pessoa mais correta do mundo.

Freddie interveio:

— Mabel, você não está bem e é compreensível. Sua filha está com uma doença grave, acabou de passar por um transplante, está isolada. Mas, descarregar essa pressão em agressões não te tornará mais leve.

— Economize suas palavras de livro de auto-ajuda, titio! Vocês são patéticos! Eu já estou de saída.

Mabel saiu batendo a porta. Sam abraçou Isabelle, dizendo:

— Não se deixe impressionar. Você precisa descansar e se recuperar desse gesto tão bonito. Se ela não sabe reconhecer, sinto muito por ela.

— Não me importo se ela reconhece ou não, mãe. Só quero poder curar Ellie, só isso me importa.

Cris voltou para dormir no quarto de hospital com Isabelle. Sam e Freddie voltaram para casa.

O rapaz acomodou-se no sofá-cama. Isabelle começou a conversar:

— Seus pais já sabem que Ellie não é sua filha de sangue?

— Sim, resolvi abrir mão desse segredo de uma vez por todas!

— E se Mabel usar isso para tirar Ellie de você?

— Ela pode tentar, mas, vou lutar por minha filha até o final, com todas as minhas forças. Um pai ou uma mãe, de verdade, não desiste de um filho.

Isabelle começou a chorar e Cris ficou preocupado:

— O que houve, meu amor?

— Cris, eu também preciso te contar uma coisa.

— Conte. Você pode confiar em mim.

— Eu perdi o nosso filho, eu não lutei por ele, eu coloquei a vida dele em risco com as minhas atitudes e ele se foi.

— Filho?

— Sim, eu engravidei naquela tarde em que fizemos amor no seu carro. Descobri quando já estava em Nova York. Mas, eu descuidei da minha saúde, fiz muito esforço, comi e dormi mal, não pensei nele. Sofri um aborto espontâneo enquanto tomava banho depois de uma longa caminhada.

— Oh, meu amor – levantando-se e indo se deitar ao lado de Isabelle na cama, abraçando-a – Você deveria ter me contado logo que soube da gravidez, não precisaria ter passado por isso sozinha.

Isabelle encostou a cabeça no ombro de Cris, limpando as lágrimas, mas, sem conseguir parar de chorar e disse:

— Eu ainda estava magoada com você, não tive vontade de contar, eu tinha vontade de crescer na empresa pra conseguir criar o meu filho sozinha. Eu sei que fiz tudo errado. Você me perdoa?

— Não há nada para perdoar. Não quero te ver sofrer tanto por isso. Eu imagino o quanto deve ter sido difícil passar por essa perda sozinha. Mas, nós somos jovens e ainda teremos outros filhos. Daremos irmãozinhos lindos e saudáveis para Ellie, pode acreditar nisso. Eu te prometo, meu amor.

Os dois se beijaram. Isabelle acomodou a cabeça no peito de Cris e logo adormeceu.

No dia seguinte, a moça retornou à casa dos pais. Cris a visitava todos os dias para ver como estava e passava suas horas livres com ela.

O médico marcou um horário com Mabel e Cris para informar sobre a evolução do quadro clínico de Ellie.

Isabelle tinha muita vontade de ir, mas, sabia que Mabel não toleraria a sua presença, então, pediu a Cris que lhe informasse de tudo com a maior brevidade possível.


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