Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 10
O grande dia




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Cris chegou ao hospital com Mabel nos braços e Ellie segurando firmemente no bolso de sua calça, como ele mandou. Uma enfermeira rapidamente trouxe uma cadeira de rodas para que ele pudesse colocar a moça e perguntou:

— O que houve com ela?

— Eu não sei, estava desmaiada no banheiro.

— É sua esposa? O senhor está muito nervoso.

— É sim.

— Fique calmo, quem sabe, não vem novidade boa por aí. Pode ser mais um bebê – sorrindo e encaminhando Mabel, ainda desmaiada, para dentro da emergência.

Cris pegou a filha no colo, que observava a tudo assustada e questionou a si próprio, mentalmente, se era possível uma gravidez de Mabel. Chegou à conclusão de que embora a vida conjugal deles fosse inexistente nos últimos dias, não fazia tanto tempo assim que não se deitavam juntos, de modo que poderiam ter gerado um filho, principalmente, porque ela afirmava tomar anticoncepcionais e ele mesmo não se preocupava com o uso de preservativos.

Ele ainda divagava fazendo cálculos na cabeça quando o médico apareceu:

— O senhor é o marido de Mabel Puckett Gibson Shay?

— Sim, sou eu. Como ela está?

— Temos que fazer exames mais aprofundados, mas, a princípio, tudo indica um excesso medicamentoso. Sua esposa toma remédios controlados?

— Não que eu saiba.

— Bom, os exames de sangue vão apontar qualquer substância. Por ora, temos que fazê-la eliminar o excesso do organismo. Sugiro que o senhor vá para casa com a sua filha enquanto fazemos os procedimentos e realizamos os exames, pode levar horas. Volte mais tarde e terei novidades. Até porque um hospital não é o ambiente mais saudável para uma criança.

— O senhor tem razão, vou pra casa, deixo a pequena com a minha mãe e volto.

Assim Cris fez e o médico logo o informou que a suspeita se confirmara. Os exames apontaram para um excesso de tranquilizantes no sangue de Mabel.

O médico permitiu a visita dele à esposa no quarto da enfermaria.

Mabel estava pálida e com um semblante triste, ele se aproximou e perguntou:

— Sente-se melhor?

— É claro que não! Eu queria ter morrido.

— Você diz que ama tanto a sua filha, quer até levar ela só pra você, bem longe de mim. Então, como pode querer morrer e deixar ela?

— Talvez a vida dela seja mais feliz sem mim. Eu sou uma droga de ser humano.

— Desde quando você toma remédios controlados?

— Eu tenho depressão há muito tempo, desde a adolescência. Mas, é um segredo meu e de minha mãe. Faço acompanhamento com psiquiatra há anos.

— Você poderia ter confiado em mim?

— Poderia? Você é mais um que me abandona! Como minha mãe, que me largou aos 3 anos, ou o meu pai, que entrou em depressão e me deixou na mesma idade, aliás, deve ser mal de família, ou como os meus tios, que fingiam me amar como a uma filha, mas amavam mesmo a filha deles, a Belinha. Sempre a Belinha! Ela tem tudo! Todo o amor que eu nunca tive! Até você ela tá levando de mim!

— Mabel, você está nervosa e tá puxando fundamento, distorcendo eventos do passado. Seu pai estava doente e sua mãe não te abandonou, te deixou com os seus tios, que te amavam como filha sim, eu vi, eu estava lá. A própria Belinha te amou como a uma irmã.

— Mentira! Ela me detestava! Ela abriu a barriga da minha boneca!

— Isso é coisa de criança e irmãs também brigam e se provocam.

— Ela acaba com tudo o que é meu, ela acaba com a minha vida, tira as minhas coisas, sempre!

— Você deve estar ainda sob o efeito do excesso de tranquilizantes, porque nada do que diz faz sentido.

— Não faz pra você! Porque não foi com você! Eu fui a enjeitada nessa família, a Belinha foi a amada!

— Você está magoada com a sua prima e isso é compreensível, mas, se quer culpar alguém, culpe a mim. A Belinha nem sabe da nossa separação, pelo menos eu não contei, não falo com ela há dias.

— Mentira! Você ama a Belinha! Você fala com ela!

— Eu não vou discutir com você nesse momento e no seu estado.

O médico reapareceu e pediu para conversar no seu consultório com Cris, onde explicou:

— Sua esposa apresenta um quadro de depressão grave com tentativa de suicídio.

— Ela não pode só ter exagerado na dose tentando se acalmar?

— Fizemos um breve exame psicológico nela com nosso psicólogo e nosso psiquiatra e ambos concluíram que ela quis tirar a própria vida, que sofre de um processo de depressão há anos e que a separação de vocês está causando grande regressão no quadro psicológico.

— O que o senhor sugere? Que eu fique com ela por pena?

— Não, senhor. Sugiro que a ampare nesse momento difícil, por compaixão. Se não como marido, como um bom amigo. Ela precisa muito disso. Caso contrário, nada garante que não saía daqui e se atire do prédio ou na frente de um caminhão.

Cris dormiu aquela noite no hospital, no sofá, ao lado da cama de Mabel, que também dormiu profundamente. No dia seguinte, foram para casa.

Carly e Gibby esperavam o retorno da moça com um belo almoço. Todos comeram. Em seguida, Mabel pediu para ir à sua suíte, onde se recostou na cama e pediu para ler um bom livro. Cris pegou um da sua coleção e entregou à esposa. Ellie queria brincar com a mãe, mas ela pediu que o marido levasse a menina.

Volte e meia, Cris ia olhar a esposa, perguntar se precisava de algo. Depois da advertência do médico, temia que ela atentasse novamente contra a própria vida. Resolveu voltar a dormir ao lado dela, já que há alguns dias, havia eleito o sofá como sua nova cama.

Mabel pouco falava, não chegava perto de Cris na cama ou tentava beijá-lo ou tocá-lo. Estava distante e aérea, o que muito preocupava o rapaz.

No dia seguinte, Cris acordou profundamente triste. Viu Mabel ainda adormecida ao seu lado. Lamentava por ela, mas o motivo da sua melancolia era saber que dia era aquele: O dia do casamento de Isabelle e Richard!

No décimo terceiro andar, Sam acordou Isabelle muito empolgada, dizendo que deveriam tomar o café da manhã rapidamente e que logo partiriam para o dia da noiva (e da mãe da noiva) num SPA, reservado especialmente para o dia.

O final da tarde chegou e Isabelle estava pronta para a cerimônia, a se realizar às 7 da noite na sinagoga judia frequentada há gerações pela família Puckett. Os últimos retoques eram dados no jardim do SPA, num ambiente de beleza ali montado.

Sam, Carly e Alison estavam agitadas, conferindo cada detalhe. Se a maquiagem da noiva não havia borrado ou um fio do penteado se soltado, se a limusine estava a postos, se as damas de honra estavam prontas, se Freddie já aguardava a filha... Eram muitos telefonemas, trocas de mensagens e perguntas à noiva, que se sentia tonta. Olhava em volta como se tudo não passasse de um filme, como se aquela fosse a história de outra pessoa e não a sua.

De repente, Isabelle teve o ímpeto de chorar e não se conteve. As lágrimas começaram a escorrer pela sua face enquanto ela soluçava sem parar.

Sam, Carly e Alison pararam tudo e foram em socorro da noiva, aflitas, indagando o que houve, alertando sobre a maquiagem, etc.

Isabelle nada ouvia, apenas chorava.

Alison então disse à mãe e à madrinha da noiva:

— Vocês podem nos dar licença um minuto?

— Eu não vou sair, sou a mãe dela.

— Nem eu, sou a segunda mãe – completou Carly.

— Eu entendo e não estou menosprezando a importância de vocês na vida dela, mas, têm coisas que devem ser ditas apenas à melhor amiga.

Como Isabelle ainda chorava sem parar, Carly e Sam acharam melhor dar crédito à Alison e se retiraram.

— Amiga, você não quer mais se casar, não é mesmo? Pode me dizer, você sabe que eu sempre vou te entender e te apoiar.

— Eu não sei o que eu quero! – foi tudo o que a loira conseguiu responder, chorando mais ainda.

Alison abraçou a amiga e disse:

— Respira, vamos, comigo – inspirando e expirando lentamente, fazendo Isabelle seguir o seu ritmo – Pra tudo tem um jeito, conte comigo, vamos resolver isso.


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