Força

Capítulo 4

Ao chegar a casa, Gaara se sentia frustrado. Afrouxou a gravata com um suspiro exasperado e serviu-se de uma dose de uísque. Por que Hyuuga Hinata era uma mulher tão complicada?

Na tarde anterior, quando percebeu Kabuto sentar-se à mesa de cada um dos concorrentes àquela vaga infame, fez o download preventivo de seus próprios arquivos. A rede permitia o acesso a qualquer material dos colegas, mas a exclusão só era possível diretamente no computador de sua criação. Por isso a atitude de Kabuto era muito suspeita, e Gaara criou uma cópia de seu trabalho em uma pasta escondida. Propositalmente levantou-se para beber água e, quando voltou, concluiu estar certo. O maldito apagara seus documentos recentes.

Quando observou Hinata seguir para o banheiro, Gaara rapidamente baixou os arquivos dela. Não teve tempo para refletir sobre isso, mas sabia respeitar um oponente à altura. Ela definitivamente não merecia ter seu trabalho usurpado por alguém. Os demais colegas não lhe eram páreos, por isso salvaguardá-la fazia total sentido. Não queria, ainda, tirá-la de seu caminho. O tempo e o progresso de cada um mostrariam ao Yashamaru quem deveria ser promovido. Hinata seria descartada naturalmente.

Mas, com os arquivos em mãos, Gaara percebeu-se capaz de oferecer a ela uma vantagem. Lembrou-se de como ela o acusou de ter “regalias”, o que era verdade. Já percebera que Hinata vinha de metrô todas as manhãs, o que significava que acordava muito antes dele. E percebera que ela geralmente ficava no escritório depois de todos irem embora.

Gaara não precisava de horas extras. Sua rotina era saudável e estável. Diferente da única colega digna de ser uma adversária.

A campainha soou, e ele suspirou outra vez. O copo em mãos já estava vazio e as mangas da camisa dobradas nos braços quando recebeu sua irmã Temari.

— Você parece mal-humorado – comentou ela, sentando-se no sofá. – Bem, isso não é novidade.

— Ajudei uma colega, mas ela não ficou satisfeita – confessou, ainda perturbado.

Temari o encarou e sorriu.

— Você geralmente tem uma definição distorcida das coisas, não é sua culpa.

Ela o entendia, porque conhecia seu passado.

— O que quer vindo aqui? – perguntou Gaara.

— Soube da promoção disponível. – Temari deu de ombros. – Você precisa que eu encurte o caminho?

Gaara, contrariado, serviu-se de uma nova dose de álcool. Irritava-o que Temari quisesse favorecê-lo. Era como se o subestimasse.

Oh, inferno! Desejou bater em si mesmo ao perceber que fora assim, muito provavelmente, que Hinata se sentiu com a interferência dele.

— Já disse. – Voltou-se para a irmã. – Vou obter tudo com minhas próprias mãos.

O olhar sombrio de Gaara ainda a assustava. Como Alexandre III, o Grande, seu irmão apreciava executar suas próprias batalhas. Não à toa, recebera instruções de uma hábil mentora: a velha Chiyo revelara uma sabedoria tão grande quanto Aristóteles ao educar Alexandre III nos caminhos da ciência. Era motivo de gratidão, ou talvez apenas fosse o destino, que Gaara se tornasse seu filho adotivo.

A genialidade de Gaara poderia oprimir o mais confiante oponente. E Temari tinha certeza de que, um dia, a Sabaku S.A. cairia em suas mãos.

A verdade é que Temari era filha de Karura e Sabaku no Rasa, atual presidente da Sabaku S.A. Devido ao relacionamento abusivo, Karura divorciou-se cedo. Alguns anos depois, engravidou de um breve envolvimento com um sujeito que nunca mais viu e deu à luz seu meio-irmão, Gaara.

Temari e Gaara foram felizes juntos, até a mãe falecer vítima de um enfarto. Sabaku no Rasa assumiu os cuidados de Temari, então com 12 anos, mas recusou Gaara.

A separação dos irmãos foi traumática. Gaara, com 9 anos e sem nenhum outro parente vivo, foi conduzido a uma instituição social. Chiyo veio a adotá-lo meses depois, batizando-o de Akasuna no Gaara.

Hoje, Gaara queria destronar quem o separou de seu único elo de sangue.

E para Temari, como Alexandre III, ele provaria sua força.

[Continua]