Castle escrita por Romanoff Rogers


Capítulo 6
VI - Pinturas De Sangue




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"Não amar por temer a dor é não viver por temer a morte." - Desconhecido

 

Abri os olhos sobressaltada. O suor escorria da minha testa, e minhas mãos tremiam. Eu estou no quartoTudo bem. Foi um pesadelo. Levantei, cambaleante, tentando estabilizar minha respiração. Meu coração estava apertado.


Parei em frente ao espelho, vendo minha aparência pálida. Foi só um pesadelo. Ajeitei os cabelos com as mãos, e nesse momento ouvi batidas na porta. Agora não, droga. Suspirei, já indo com passos largos até ela. Espero que eu esteja parecendo melhor.

Steve. Me amaldiçoei por ter aberto a porta, não queria que ele me visse assim. Pisquei, já perdendo o controle do meu corpo. Não conseguiria esconder nada dele.

Imediatamente ele ficou sério, encarando meus olhos desviantes.

— Você está bem? - assenti com a cabeça, me apoiando na porta. - Você nunca mentiu tão mal.

— Por que perguntou se sabia a resposta? - eu disse, ríspida, e ele arqueou uma sobrancelha. Suspirei. - Foi... Um pesadelo. - respirei fundo, sentindo tonturas. Não fraqueje, Romanoff. - Dormi sem querer. - Notei que ele ia dizer algo, mas eu não precisava ser consolada. - Aconteceu algo?

— Isso pode esperar. - ele negou com a cabeça, sem tirar os olhos dos meus. - Quer ficar sozinha?

— Não. - eu falei, dando espaço para ele entrar. Ele obedeceu, passando pelo vão e começando a observar meu quarto.

— Quantas armas você tem escondidas aqui? - abri um sorrisinho que não consegui conter, e arqueei uma sobrancelha para despistar.

— Não me lembrava que você me conhecia tão bem.

— Não devia estar surpresa.

— Pessoas mudam. Eu mudei. - ele me olhou, tranquilo mesmo com minhas alfinetadas. Abriu um sorriso, me encarando com seu oceano azul.

— Eu sei. - Steve cruzou os braços. - Abre o jogo. Quantas?

— Oito espadas, doze adagas, e outras coisinhas. - cruzei os braços, e ele assentiu, provavelmente impressionado.

— Bom. Mas eu tenho treze escondidas no meu. - arqueei uma sobrancelha, vendo-o se movimentar até a prateleira de livros vazia, e com um puxar de mãos ele tirou uma faca pouco maior que minha mão escondida na madeira. - E tenho uma aqui.

— Impressionante, Rogers. Agora vamos ver quem ganha usando elas? - ele riu, se sentando no sofá onde eu dormia antes.

— Foram emoções de mais hoje.

— Medroso. - murmurei, me sentando do seu lado.

— Quem não teria medo de você?

— Você não tem que ter medo de mim. - um dos cantos de sua boca se ergueu.

— Só tenho quando você está brava.

— Certo, aí até eu tenho medo de mim mesma. - ele ri, se concentrando na adaga em suas mãos. Rodou-a na mão mais de três vezes, e se perdeu nesse movimento. Sei o que isso significava. - Como está seu pai, Steve?

Ele suspirou, se encostando ao meu lado.

— Só piora a cada dia. - olhei para baixo, sem ter muito o que dizer.

Decidi apenas tocar seu braço. Eu não tocava em ninguém com frequência. Mas ele estava mudando isso, e eu não gosto. Mais ou menos.

— E o seu? - ele me olhou, esquecendo um pouco da tristeza repentina. Bufei.

— Vivo, infelizmente.

— Longa vida ao rei. - ele ironizou, com as sobrancelhas erguidas e eu dei de ombros, me levantando.

Fui até a janela, analisando o que acontecia lá fora. Nada. Só uma tarde de primavera nublada. Steve devia ter muita coisa pra fazer, então fiquei quieta.

— Você está entediada, não está, Natasha? - fiz uma cara dramática, assentindo com a cabeça e ele riu. - Tive uma ideia.

Ele se levantou, e eu logo o segui. Não ligo se ele me colocaria para ler papéis chatos, eu queria me ocupar com algo que não fosse dormir e ver Wanda e Bucky se beijando.

Vamos até uma sala na torre do último andar, a mais alta do castelo. Não tenho ideia do que era aquele lugar, mas o segui pelo enorme lance de escadas em espiral mesmo assim.

Steve abriu a porta, revelando seu ateliê bem iluminado. Havia mesas com tintas para todo lado, o chão todo sujo e uma enorme janela iluminando tudo. As paredes eram coloridas, pintadas. Uma enorme paisagem, o reino Roger, reconheci. Os enormes campos de flores, o castelo que estamos agora. É de tirar o fôlego.

Eu já me encontrava analisando tudo animada, observando cada detalhe. Adoro arte, mas meu talento para tal coisa é zero. É muito lindo.

— Você pintou? - perguntei, muito impressionada, e ele deu um sorriso triste.

— Minha mãe. - sorri também, encarando tudo aquilo maravilhada. Sarah Rogers era como uma tia pra mim. A pessoa que mais amava Steve no mundo.

No canto vi telas. Peguei uma e sei que foi ele quem fez. É Bucky apoiado naquela mesma janela. Ele está igualzinho, com o sorriso encantador brilhando aos olhos claros.

— Nossa, Steve. Eu estou sem palavras, isso é lindo.

— O Bucky? Nem tanto. - ele cruzou os braços com um sorriso, e eu neguei.

— A pintura, Rogers. Quando aprendeu a pintar desse jeito?

— Ela me ensinou. Desde pequeno. Mas... Quando ela morreu... Não consegui mais. Voltei recentemente.

— Você tem talento. - o encarei, pronta para analisar o resto. - É sério.

— Que nada. - ele sorriu mais, quase corado. - Mas não te chamei aqui pra revirar velharia.

Sem aviso prévio, ele puxou meu braço delicadamente para me sentar num banco de frente para a tela. Soltei uma gargalhada quando percebo o que ele pretendia.

— Vai me pintar?

— Vou.

— Eu estava entediada, agora sem poder mexer eu vou mofar.

— Vai nada. - ele fez uma careta, me analisando. - Hm... Certo.

— Eu estou horrível, Rogers, faz uma pintura da sua pintura do Bucky que é melhor.

— Você está linda, fica quietinha. - Steve se sentou, segurando um pincel. Me avalia novamente, ajeitando a tela e as cores que precisaria.

Meu vestido é vinho, com flores de veludo preto por toda sua extensão. Fechado até o pescoço, de mangas compridas, minha coroa de pontas afiadas de ferro preto reluzia a luz do ambiente, e meus brincos de espada inseparáveis era o que destacava meu rosto.

— Fica séria. - ele pediu, e eu refleti sobre isso. Séria, séria mesmo, ou séria olhar mortal? Optei pela segunda. - Isso aí. O olhar mortal, vai ficar incrível.

— Uhum. Se demorar eu vou embora.

— Não vai demorar. - ele disse, e sei que está mentindo.

Fiquei sentada naquele banco por pelo menos uma hora. Conversamos o tempo todo, eu me esforçava para não mexer, e foi até divertido. Ele me dizia que estava pintando chifres, e eu respondi que realmente ficaria melhor assim. Mas acho que ele não fez chifres de verdade.

— Acabou?

— Não, Natasha.

— E agora?


— Não, igual as outras oitocentas vezes que perguntou.

— E agora? - ele bufou, se concentrando na tela. Ele ficava um gato concentrado. Seus dedos ágeis deslizam sob a tela, e meu passatempo foi só observar sua beleza.

— Okay... Acabou. - disse, depois de algum tempo, e abriu um sorriso enorme. Pulei do banco, indo até ele depressa.

— Steve... - eu sorri de orelha a orelha, fitando a tela. Eu não era tão bonita assim. Queria chorar. Queria muito chorar, e choraria se fosse capaz. E só saiu uma cara emocionada.

— Não gostou? - ele ficou sério, e eu neguei com a cabeça.

— Tá maluco, Steve? Ficou maravilhoso. - ele sorriu, cruzando os braços. - Valeu a pena, Rogers, é sério, ficou... Espetacular. Eu nem conheço mais adjetivos que isso, porque nenhum deles expressa o quanto eu gostei.

Olhei para ele, que me fitava com um sorrisinho e braços cruzados.

— O que? - perguntei, sem parar de sorrir.

— Você é linda, Nat. - senti minhas bochechas corarem no mesmo instante, mas eu não conseguia largar meu sorrisinho.

— Você me chamou de Nat.

— Chamei?

— Sim. Eu gostei. - encarei o quadro de novo, analisando cada traço. Ele me vê assim? Sem defeitos? Sem demônios? Minha expressão mudou, e eu senti meu coração apertar. - Essa não sou eu.

Neguei com a cabeça, sentindo o quarto fechar e me engolir. Isso tinha saído tudo errado, não era para eu ter feito isso com ele. Ter feito ele gostar de mim. Gostar de uma pessoa que não existe.

— Natasha. - neguei com a cabeça, sem olha-lo. Eu quero realmente chorar. Quero sentir as lágrimas escorrendo, isso ou um pincel enfiado na minha garganta para tirar esse nó. - Natasha. - ele repetiu, eu fitei os olhos verdes no quadro.

Seus braços puxaram os meus bruscamente, e antes de ver seus olhos, sinto seus lábios nos meus. Suaves como a brisa de verão, avassaladores como uma avalanche e me senti uma adolescente como na época que fazíamos isso.

Eu perdi totalmente o controle. Minhas mãos envolveram seu pescoço, seus dedos firmes em minhas costas, me abraçando como se sua vida dependesse disso. Eu só conseguia sentir um fogo me consumindo, e se alastrava para todos os lados. Queimava todas as minhas armaduras e as transformava no mais insignificante pó.

Eu o queria. Desesperadamente.

Nossas línguas dançavam em sincronia, meus olhos fechados querendo que esse momento durasse para sempre. Suas mãos no meu vestido, meus dedos em seu cabelo.

Meu pulmão queimava sem ar, e nossas bocas se separam, ofegantes. Testas coladas, eu sentia meu corpo fundir ao dele. Eu queimava por completo. Queria mais, mas sabemos que isso é impossível agora.

— Me escolha. - eu falei, entre suspiros, fechando os olhos.

— O que? - senti seu sorriso nos meus lábios.

— Me escolha. - repeti, não achando divertido. Aquilo era mais sério que tudo. Eu queria ficar com ele.

— Não tem nada pra escolher. - abri os olhos, encontrando os seus a milímetros dos meus. - Eu escolhi você quando tínhamos sete anos. Sempre foi você. - ele sorriu de lado, e eu não consigo.

Minha missão sempre foi completa. Então ele não é mais um alvo. É só o Steve. E é meu.

Não tenho tempo de pensar em mais nada, seus dedos deslizam sobre minha bochecha, colocando ali algo melado que eu sei que é tinta.

Ele se separa de mim, já gargalhando, e passei a mão na tinta vinho no meu rosto. Em segundos, minha mão encontra a tinta amarela na mesa, e a lanço em seu nariz, rindo também. Mas no fundo eu estava com raiva. Ele devolve, sujando meu cabelo.

— Certo. Mexeu com meu cabelo. Se quer guerra, vai ter guerra.

Minhas mãos envolveram o pote de tinta verde, e num movimento rápido jogo todo o conteúdo nele. Ele ficou verde dos pés à cabeça, o cabelo, rosto, as botas. E eu não consegui parar de rir, contorcendo no canto do quarto imundo. Mas minha alegria durou pouco, ele me abraçou, esfregando o rosto no meu, e eu logo fiquei completamente verde também.

— ROGERS! - ele riu, antes de jogar respingos de pincel sujo vermelho no meu rosto.

— Está mais linda. - enfiei a mão em uma delas, e deixei a marca da mesma em sua bochecha.

— Você é um pintor muito sujo.

— Você é uma modelo muito suja. - revirei os olhos, já acalmando os ânimos, e soltei um palavrão quando vi o estado da sala. - Vamos ficar marcados nesse chão para sempre.

— Só no chão? - perguntei, e ele se aproximou de mim.

— Na história. - assenti.

Rei e Rainha.

 

 


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