Brincadeiras, Erros Mortais escrita por 2Dobbys


Capítulo 7
Capítulo 6




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VI

Subitamente, a porta da enfermaria abriu-se de rompante, fazendo entrar um pequeno grupo de pessoas: Albus Dumbledore, Severus Snape, Minerva McGonagall e madame Pomfrey, que vinham a carregar qualquer coisa. Vinham tão concentrados no que tinham entre eles que nem se deram conta da presença de Line, Ty e Sophie ao lado de George Weasey.

- Minerva, ponha-os aqui… - disse Pomfrey pálida, apontando para as duas camas mais longe de onde o grupo de amigos estava.

O grupo de professores rapidamente se aglomerou junto às camas sugeridas, pousando algo de pesado em cada uma.

Sophie sentiu o estômago às voltas; Ty não conseguia reagir; George estava mais adormecido do que propriamente acordado; Line tentava controlar as cambalhotas incómodas que o seu estômago insistia em dar, tentando perceber o que se passava.

- Por Merlin, estes ainda estão piores… - disse McGonagall baixinho.

Quando conseguiram espreitar por uma brecha entre os professores, os três amigos recuaram até à parede, horrorizados: nas camas, estavam os corpos dilacerados de Mel e Dan… completamente irreconhecíveis. No entanto, só podiam ser eles… aqueles gritos não podiam pertencer a mais ninguém.

Parecia que alguém se tinha dedicado a arrancar-lhes a pele da cara, sem cuidado nenhum, deixando vários furos pequenos por todo o lado, a carne em sangue vivo, brilhante, nojento. Eles eram sangue por todo o lado…

Sophie deu um pequeno grito de histeria. Ver aquela cena não lhe fazia bem nenhum… afinal, era uma das suas melhores amigas. Sentia-se um caco, tal como Ty e Line interiormente. Os três começaram a ter dificuldade em enxergar alguma coisa, já que as lágrimas se tinham formado demasiado depressa, caindo em cascata.

Ty apenas abanava a cabeça, murmurando coisas sem nexo, sendo possível, por vezes, distinguir-se algumas delas, como o 'Não…!' repetitivo.

Line continuava estátua de mármore, como aquelas que costumava ter no jardim das suas inúmeras casas, que deitavam água pelos olhos, como se chorassem verdadeiramente… ela sentia-se como fazendo parte delas, daquela pedra fria, dura por fora, mas com sentimentos por dentro… sentimentos demasiado fortes para serem totalmente refreados.

- Mel… - soluçou alguém.

Parecia que os professores e a enfermeira tinham finalmente dado conta de que estava mais alguém na enfermaria sem ser eles, alguém que não devia.

- MENINOS WALKER, KING E NELINI! O QUE PENSAM QUE ESTÃO A FAZER? – berrou Pomfrey, enquanto McGonagall e Snape ficavam vermelhos de fúria e preocupação mal contida. Dumbledore era o único que, embora também demonstrasse preocupação, olhava-os mais curioso do que zangado, especialmente para Line que, apercebendo-se do facto, desviou o olhar daqueles olhos azuis que a faziam sentir como se estivesse a ser analisada a raio-X.

Como eles nada conseguissem articular, Dumbledore interpôs-se – Poppy, acho que é melhor acalmares, já todos vimos que esses jovens se encontram de perfeita saúde, pelo menos fisicamente… no entanto, gostaria que Minerva e Severus acompanhassem o senhor Walker e a menina King ao respectivo dormitório improvisado… creio que seria melhor dormirem separados dos outros esta noite, mas juntos; assim irão aguentar melhor, pelo menos por agora.

Os jovens agradeceram silenciosamente com um único olhar ao Director, que retribuiu com um ligeiro sorriso, mas imediatamente olharam para Line. E ela? Ela estava com semblante de estátua, a olhar serenamente o rosto de George, adormecido.

- … Em relação à menina Nelini… - continuou Dumbledore a olhá-la fixamente por detrás dos óculos de meia-lua – Gostaria de ter uma pequena conversa em particular, no meu gabinete. – como se ela não o tivesse ouvido por esta numa outra dimensão, Dumbledore aclarou a garganta – Line!

Ela suspirou longamente, fechando os olhos e virando a cabeça na direcção do professor. Abriu os olhos lentamente, ainda a expirar o ar contido, como se esse simples acto fosse a sua sentença de morte; como se tivesse sido derrotada.

Olharam-se por uns momentos. Azul celeste e castanho negro. Dumbledore pareceu relaxar um pouco, insistindo com ela – Vamos? – perguntou acenando para a porta com a cabeça.

Ty agarrou o braço da amiga, quando ela deu sinais de o seguir. Line estacou, cabisbaixa, sentindo o amigo encostar a boca ao seu ouvido para lhe falar baixinho – Line, seja qual for o segredo que tenhas guardado todos estes anos, não o deixes que te destrua. Se achares que não o deves contar a Dumbledore, não o faças. Ele é teu, e fazes dele o que bem entenderes. É a tua vida! Não deixes que ninguém a tente manipular por ti! Mesmo ele… sejas quem fores, Line, estaremos sempre aqui para ti! Sempre! Nunca te esqueças disso.

Aquelas palavras iriam permanecer na mente da jovem por muito tempo… ela estava tão grata por elas que apenas conseguiu olhar o amigo nos olhos. Ele sorriu tristemente, juntamente com Sophie atrás – ela também tinha ouvido e apoiava totalmente o que o amigo dissera.

No entanto, a última coisa que Line lhes disse antes de seguir Dumbledore foi com uma expressão séria – "Para sempre" é muito tempo… - e voltou a sorrir. O sorriso deles aumentou um pouco – eles sabiam parte do que aquilo significava. Ela iria fazer o que achava melhor. Ponto. E, normalmente, o que seria melhor no ponto de vista de Line, era que os seus amigos não se metessem em problemas.

Line sentiu-se a ir em direcção ao cadafalso, ao se separar daqueles que gostavam dela verdadeiramente – e ela esperava do fundo do coração que assim continuassem após saberem os factos que lhes escondera durante todos aqueles anos –, aproximando-se do Director de olhos acutilantes, que a punham extremamente desconfortável. E entraram na lareira. Um último olhar antes de desaparecer fê-la contrair-se por dentro: Ty e Sophie estavam pálidos, de semblante preocupado.

oOo

Ao se depararem com o outro lado, Line ficou impressionada com a divisão: livros e mais livros enchiam prateleiras que pareciam não ter fim, as mesas estavam cheias de pequenos objectos, de todos os feitios e tamanhos, um poleiro vazio… mas os seus devaneios pelo escritório foram subitamente interrompidos.

- Senta-te, por favor… - disse amavelmente Dumbledore apontando para a poltrona em frente à sua secretária. Line assim o fez, automaticamente, enquanto observava todos aqueles retratos dos antigos directores e directoras de Hogwarts, que dormiam – ou pelo menos fingiam muito bem.

- Chá? Limonada? Sumo de abóbora?

- Talvez uma limonada, por favor…

- Muito bem… - disse Dumbledore dando um sorriso sincero - Excelente escolha, devo dizer… também vou querer uma para mim. – e fazendo um gesto com a varinha, surgiram dois copos enormes cheios de uma limonada refrescante, com direito a rodela de limão e palhinha. Só faltava o chapeuzito de sol colorido, pensou Line momentaneamente divertida.

- Então… o que é que tens para me contar? – começou o Director, dando um pequeno trago na sua bebida.

Line aproximou o copo à boca, mas não bebeu. Antes disso, olhou fundo nos olhos azuis, que a encaravam amavelmente. – Podes beber à vontade, só utilizo Veritasserum em pessoas que não confio…

Ele não estava a mentir. Levou um pouco do sumo à boca. Estava delicioso! Sentiu-se mais calma… tinha de relaxar, mesmo para manter a cabeça fria.

- O que deseja saber?

- Podemos começar por saber a razão de estares com o senhor Walker e a menina King na enfermaria quando todos os alunos tinham sido avisados para se manterem nos dormitórios.

- Isso não é um pouco óbvio?

- Está claro, vocês e as vítimas eram chegados… mas como é que conseguiram passar a barreira?

Ela emudeceu. Dumbledore continuou – Line, sempre achei que serias um mistério a partir do momento em que te pus a vista em cima. A tua mente sempre esteve fortemente protegida, mas os teus olhos não mentiam: eras uma boa pessoa. No entanto, algo aconteceu hoje para que tantos anos de treino fossem momentaneamente por água abaixo… senti a aura que emanava de ti e, deixa-me que diga uma coisa, nunca vi nada assim em toda a minha vida… e ficas a saber que ela não foi nada curta. – acrescentou com um sorriso.

Ela suspirou. Bem, não fazia mal contar o que a preocupava, pois não?

- É que… - começou ela, fazendo um esforço para encontrar as palavras correctas – Tudo bem, quem está predestinado a vencer o "Mal" é o Potter, sempre foi ele que conseguiu escapar de Voldemort de todas as vezes que se defrontaram, é ele que Voldemort quer ver morto e tal…

Dumbledore não a interrompeu; no entanto, ficou admiradíssimo e intrigado por ver que ela utilizava o nome do Lord das Trevas sem se sentir amedrontada por isso, como se o tivesse feito durante toda a vida. Aquela rapariga tinha mais cabedal do que à primeira vista se poderia supor… como é que nunca se dera conta disso? Bem, tinha estado constantemente concentrado no Harry e na sua tarefa para o fazer crescer preparado, verdade seja dita… além disso, a áurea benigna de Harry era tão forte que era impossível ficar contida, principalmente por quem era uma nódoa (verdade fosse dita) a manter a mente fechada. Line conseguira realizar essa proeza mesmo antes de entrar para Hogwarts! E Dumbledore nunca conhecera os pais dela… nem se interessara. Afinal, ela era uma aluna exemplar, nunca tinha dado problemas – embora alguns dos amigos por vezes se encontrassem em situações desconfortáveis para eles próprios -, embora não fosse uma aluna que desse tanto nas vistas como Hermione Granger. Esta última possuía algo que a fazia "subir no posto": a amizade do 'grande' Harry Potter. Sim, Line era simples, não dava nas vistas e fazia por isso mesmo, era uma aluna normal… ou assim pensava ele antes de a ter visto perder ligeiramente o controlo da mente.

Line continuava a falar – Mas porque é que tem de ser apenas ele a defrontá-lo no final? Quer dizer… e se alguém o quiser ajudar realmente? Não por quem dizem que é, mas por quem ele é realmente? Por confiar nele? Por ter a certeza de que consegue vencer Voldemort, mas com uma pequena ajuda? Eu sei perfeitamente que ele não está bem preparado para o defrontar a sério…

Dumbledore teve de interromper – Peço imensa desculpa, Line, mas… disseste uma pequena ajuda? Queres ajudar? Sabes de alguma coisa que pode ajudar o Harry a vencer Voldemort?

- Eu não disse isso…

- Mas foi o que insinuaste. – vendo que ela continuava meia calada, continuou – Line, não confias em mim?

Ela ponderou um momento – Acho que o senhor esconde tantas coisas ou mais do que eu… eu não consigo confiar plenamente em alguém assim, peço desculpa.

Albus emudeceu, ficando levemente pálido – Compreendo… não te censuro.

Line olhava para as próprias mãos, que estavam pousadas no colo – Mas… confio no Harry. Não sei bem porquê, mas confio. Plenamente. Enquanto ele tem mais do que razões suficientes para derrotar quem foi o responsável pela sua vida sem o amor de um pai e uma mãe, não posso dizer o mesmo de si, professor.

- Achas que não apoio o Harry incondicionalmente? – desde quando é que Line tratava o Harry pelo primeiro nome? E desde quando é que se tornara tão transparente, principalmente para alguém que mal conhecia e com quem nunca tivera uma conversa propriamente dita? Aquela rapariga estava a deixá-lo levemente nervoso. – Achas que tudo o que ando a fazer desde que Voldemort surgiu… é tudo uma fachada?

- Não; eu não disse isso. – disse ela, agora olhando bem nos olhos do director – Apenas acho que tenho mais razões para confiar naquele rapaz de 17 anos do que em si. Ponto. Lamento, mas a minha opinião não vai mudar.

- Estás no teu direito. – disse Dumbledore encolhendo os ombros. Era, de facto, uma criatura extraordinária. Ela fizera-lhe frente, coisa que mais ninguém se atrevera a fazer directamente, a não ser Voldemort… mas mesmo assim, o próprio senhor das Trevas temia-o. Line não o temia, isso era bem claro. Mas…

- Foste tu que fizeste com que a barreira da enfermaria se desintegrasse?

- E como é que o faria?

- Diz-me tu!

- Se supuséssemos que o tinha feito, o que é que implicava?

- Achas que seria algo assim tão mau?

- Diga-me você!

Line estava a ficar farta daquela conversa.

Dumblerore olhava para ela atentamente, tentando descortinar o que ela escondia.

- És bem mais poderosa do que sempre deste a entender… o que escondes deve ser mesmo importante, para teres todo esse trabalho.

Como se ela nada respondesse, continuou:

- Sendo assim, não me vais contar o que escondes, pois não? Talvez eu te pudesse ajudar…

- Não, ninguém me pode ajudar nisto. Apenas irei dizer algo quando chegar a altura certa…

O Director adivinhou uma expressão sombria e triste escondida por detrás daqueles olhos magníficos… olhos que ele conhecia… de onde? Ele estava assim tão velho que não se lembrasse? Desse tipo de coisas ele não se costumava esquecer.

Ela levantou-se rapidamente – Posso retirar-me? Não me sinto muito bem…

Ela parecia prestes a desmaiar, de tão pálida que estava. – Claro, querida, queres um chocolate?

Ela abanou debilmente a cabeça – N-não… obrig… - não chegou a terminar a frase. A última coisa que lhe veio à mente antes de desmaiar foi o grito que ouvira há anos, vindo da mãe, quando o seu pai se fora embora… e um último pensamento dirigido a alguém de uns olhos verdes intensos, perdido no meio da escuridão, ferido, abandonado: Ele precisa de mim… preciso de lhe contar!


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Notas finais do capítulo

N.A.: huhuhu, e agora? o que acharam? o que se passa com a Line? reviews, por favor!



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