Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 73
Código Cinza




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Na porta da mansão, Catherine os outros se despediam de seus anfitriões.

— Eu não sei como agradecer por tudo que fez por nós — Catherine dizia com ternura — Obrigada por nos abrigar e muito obrigada por salvar a vida do Ryu.

— Estou em dívida com vocês — Ryu se curvou educadamente.

Trevor os encarou com certo desdém e se virou para sair. No entanto, antes que pudesse se afastar foi cercado pela bruxa e surpreendido com um abraço.

— Não permiti que me tocasse, pirralha — Trevor agarrou a garota firme pelos ombros e a afastou.

Diferente do que o bruxo esperava, Catherine tinha um sorriso infantil em seu rosto. Como se a atitude dele não a ofendesse, mas fosse algo esperado.

— Volte quando quiser — Trevor disse enquanto caminhava para dentro da mansão — Pode até trazer os híbridos, se der vontade.

— Bom, como puderam perceber, são bem vindos aqui — Marcos sorriu — São os primeiros em décadas.

— Vou trazer meu pai para conhecer vocês! — Catherine sorria com empolgação enquanto se afastava — Tenho certeza que ele vai adorar passar as férias de inverno enfiado na biblioteca do Trevor!

Marcos queria dizer a garota que aquilo não agradaria a Trevor, mas se manteve quieto e apenas se despediu com um sorriso.

Catherine, Josh, Ryu e Tommy seguiram o caminho que levava ao fim da floresta. Marcos havia facilitado o trajeto, por isso, até Montis não houve quaisquer impedimentos. 

— A partir daqui as coisas vão começar a esquentar — Josh observava se área estava limpa.

Em cima de Tommy, Catherine respirou fundo. Havia sido instruída a correr caso as coisas se agravassem, no entanto estava extremamente insegura em relação ao fim daquela travessia.

— Fique perto de mim, por favor… — A bruxa sussurrou para Ryu — Eu estou com muito medo.

— Você vai chegar ao santuário, Catherine — Ryu segurou a mão da garota — Eu prometo!

Silenciosos, eles andavam em passos rápidos. Anabel mantinha uma barreira que camuflava o grupo e Eveline se mantinha atenta a necessidade de erguer o seu escudo sobre os aliados.

— O que você vai fazer depois da travessia? — Ryu se virou para Josh.

— O que? — Josh estava confuso em relação aquela conversa fora de hora.

Em silêncio o guardião, fez um sinal com os olhos apontando para Catherine. De todos, a bruxa era a que mais estava tensa. Assim Josh compreendeu rapidamente o objetivo daquela conversa: Deixar mais leve o ambiente que afligia a todos ali.

— Desde que abandonei o Minus, e junto com ele a influência do meu pai, eu não tenho tido muitos planos. Eu vago de cidade em cidade para ajudar as pessoas. Sei que não vou estar em todo lugar a todo momento que uma injustiça acontece, mas estou dedicando minha vida a dar o máximo de mim para isso — Josh sorriu — Acho que provavelmente, vou apenas voltar a fazer isso.

Catherine se atentou a conversa, tinha muita simpatia pelos valores de Josh.

— Depois de deixar a Catherine no Santuário, eu não sei bem o que fazer da vida. Não acho que tenho saco para mais uma travessia dessas com outra bruxa — Ryu comentou — Mas se quer saber, estou pensando em usar minhas novas habilidades para conseguir um emprego como caçador.

— Acho melhor mesmo — Catherine opinou na conversa pela primeira vez — Você não precisa de outra travessia — A bruxa encarou Ryu com uma expressão descontente — E nem de outra bruxa.

— Então apóia minha ideia de me tornar um caçador? — Ryu sorriu largamente para Catherine — Como híbrido eu vou ganhar muito dinheiro lá dentro e vou me aposentar antes dos 40!

Josh acompanhava aquela conversa em silêncio, era inacreditável o quanto Ryu havia aceitado sua condição com tranquilidade. Acabara de descobrir que sua mãe era uma bruxa e que ele jamais havia sido um humano completo, no entanto isso não o abalou, estranhamente o encheu de gás e planos para o futuro.

— E você Cat? — Ryu perguntou com animação — O que espera do santuário?

A bruxa pensou por alguns segundos em uma boa resposta, mas não tinha.

— Eu espero um enorme desafio — Ela respondeu meio sem jeito — Eu frequentei escolas até os 13 anos, a partir daí minha educação foi feita em casa. As bruxas não gostavam de mim por ser diferente e o fato do meu pai ser um ex caçador dificultava muito minha socialização — A garota coçou a cabeça e continuou — Bom, nenhum humano gosta realmente de bruxas, então eu nunca pertenci a um grupo de verdade. Essa falta de socialização pode dificultar o meu convívio e eu nem se vou conseguir fazer amizades… eu realmente sou péssima nisso.

— Tá brincando? — Ryu estava surpreso — Você fez amizade com bandidos, uma bruxa fugitiva, camponeses aleatórios, crianças sequestradas…

— Não esqueça do Lorde das Trevas! — Josh acrescentou.

— Exatamente! — O guardião estava empolgado — Quem consegue fazer amizade com o Lorde das Trevas?

Catherine deu um sorriso empolgado.

— Até o caçador que queria te matar tá aqui te protegendo — Ryu apontou para Josh.

— Ei… — Josh estava tímido — Esquece o passado Ryu!

— Mas o Josh é muito fácil! — Catherine debochou — Difícil seria não fazer amizade com ele.

— Isso é verdade — Ryu fingiu estar pensativo.

— Ei! — Josh estava incomodado e tímido — Vocês já podem parar!

— Particularmente eu acho a Catherine muito irritante — Eveline comentou, ainda estando na forma da espada pousada na cintura de Ryu.

— Olha quem fala — Catherine se irritou — Você me fazia ter pesadelos quando eu era criança!

— Você desenhava coelhinhos na minha lâmina — Eveline retrucou.

— Não pode culpar uma criança de 10 anos por querer usar uma caneta brilhante em uma superfície lisa e negra! — Catherine se defendia.

— Mas posso puni-la! — Eveline tinha um tom áspero em sua voz.

— Por isso o seu apelido é medonha! — Catherine resmungou.

— Só você me chama assim e eu posso contar quantas vezes isso aconteceu — Eveline tinha desprezo em sua voz — Isso só prova que você é pouco criativa e tem uma péssima memória.

— MEDONHA! MEDONHA! MEDONHA! — Catherine cantarolava como uma criança.

— Vou entregá-la para o Blanc… — Eveline sussurrou.

— E eu sou chata? — Catherine estava incrédula — Você é um monstro.

— Exatamente, e devoro criancinhas mal criadas como você!

— Ah… — Ryu suspirou com um sorriso — O amor fraternal.

O coro de risadas foi interrompido pela movimentação brusca de Eveline, se lançando sobre o grupo como um manto. Logo em seguida, ouviu-se um barulho oco se chocando contra a superfície do manto. Uma criatura escorregou para o lado do grupo, se levantou um tanto atordoada e em seguida rugiu agressivamente.

sucessivamente, mais e mais bestas de tamanhos e formas diferentes despencavam do alto dos dois paredões que os cercavam.

— Corram! — Josh gritou antes de sacar o chicote — Elas não podem nos cercar!

Ryu seguiu com Eveline em punho, abrindo espaço para que Tommy e Catherine passassem.

As bestas não paravam de cair, tornando o caminho a frente deles cada vez mais tortuoso. Era inacreditável que haviam tantas criaturas como aquelas.

— Eveline, o quanto consegue se esticar? — Ryu lançou a pergunta.

— O suficiente — A bruxa respondeu de imediato.

— Então fique bem afiada!

Naquele momento, surgiu na mão do guardião uma espécie de haladie gigante que começou a decepar, cabeças, troncos e qualquer coisa que se opusesse ao caminho do feroz híbrido. Para trás era deixado um amontoado de corpos e o sangue das criaturas jorrava para todas as partes, incluindo em Catherine e Tommy. A bruxa estava aturdida diante daquela cena que mais parecia um terrível pesadelo. Foi então, que a garota se assustou com a presença de uma besta que estava prestes a despencar sobre ela, no entanto, antes que pudesse alcançar seu objetivo, o monstro foi partido ao meio pelas cimitarras voadoras de Josh, pousando cada parte no chão ao lado do cavalo.

Uma luz mais intensa denunciava o fim daquele vale infernal, no entanto o que parecia ser uma esperança de se sentirem um pouco menos encurralados se tornou um pesadelo quando uma terrível explosão dispersou o grupo.

A intensa fumaça dificultou a visão de todos, mas a percepção de Josh foi o suficiente para notar a aproximação do autor do disparo.

Uma enorme besta avançou rumo a Catherine com suas afiadas garras prontas para dilacerar sua presa. Instintivamente Josh se lançou na frente da garota e acabou sendo atingido nas costas. O ferimento o fez cambalear, Catherine o apoiou mas ele acabou caindo de joelhos. A fera urrou e preparou-se para atacar mais uma vez, mas sem dar espaço para aquela investida Josh a acertou no abdômen e rasgou a criatura até o ombro. Por mais que a besta se movimentasse em total desespero, o híbrido só parou quando ela caiu morta no chão.

— Catherine! — Ryu tentava recuperar os sentidos, já que havia perdido parte da sua audição.

Com a visão um pouco embaçada ele se deparou com a imagem de dezenas de bruxas se aglomerando ao seu redor. Imediatamente, Eveline se ergueu ao redor de seu portador como um globo negro impenetrável.

— Consegue vê-la? — Ryu rasgou um pedaço de seu casaco e uso para estancar a ferida em seu braço.

— O Josh está ferido mas está protegendo ela, o cavalo parece machucado também e eles não vão durar muito com esse bando de bruxas zumbis atacando — Eveline respondeu de imediato.

— Tem bruxas ao redor da esfera? — Ryu continuou se informando da batalha.

— Cerca de 12 se amontoando em cima de mim — Notificou.

— Encha a superfície de espinhos — Ryu terminou seu nó — Limpe nossa saída.

O globo começou a se mover pela multidão de bruxas perfurando e assassinando tudo ao seu redor, ao chegar no local onde estava o pequeno grupo a esfera os engoliu e seguiu seu caminho de morte para longe da concentração de inimigos.

— Você vai conseguir curá-lo? — Catherine estava ansiosa.

— Foi uma ferida superficial — Anabel dizia com calma — Pronto! — Ela estendeu os braços — Está novinho em folha.

Tommy, continuou silencioso enquanto recebia o aflito carinho de sua dona.

Josh estava incomodado de não ter tido prioridade no atendimento, mas não comentou nada.

Um pouco distante dali, Blanc e seu numeroso exército se organizava .

— Preparem os canhões! — O general instruía — Essa batalha é pelo destino da humanidade!

Uma sequência de tiros foi lançada sobre o grupo. Mas ausência de magia nos ataques não causava nenhum tipo de dano ao escudo de Eveline.

Um segundo posto havia sido levantado há poucos quilômetros do primeiro grupo. Lá Ryan e Masumi se preparavam para ser a próxima defesa antes da área desmilitarizada.

— De onde saíram aquelas bruxas? — O caçador estava confuso — E aquelas criaturas? — Uma preocupação havia surgido em sua mente — Elas estão atacando aleatoriamente e se espalhando… Se elas alcançarem alguma cidade, será um desastre.

— Aparentemente são o apoio do seu estimado general — Masumi tinha escárnio em sua voz.

— Mas… — Ryan estava em choque.

Queria negar aquela afirmação, mas como poderia?

— Não te incomoda? — Yuki se aproximou de Ryan.

— O que? — O garoto levantava uma barra de ferro.

— Aquele chamado repentino para que nos posicionassemos próximo a Vanitas. — A caçadora completou.

— Nosso líder trabalha rápido.

— Não faz sentido… o tempo não bate! — Yuki andava de um lado para o outro — É quase como se ele estivesse pronto para o ataque antes mesmo que ele estourasse.

— Se isso fosse verdade, não teria morrido tanta gente — Ryan parecia desconfortável com a desconfiança da garota — Se soubéssemos disso antes, teríamos impedido as bruxas antes mesmo que pisassem na cidade.

— Mas e se ele quisesse pisar na cidade? — Yuki insistiu — Foi necessário muito desespero para permitir nossa entrada em Vanitas.

— Yuki! — Ryan largou a barra de ferro com força no chão, provocando um barulho ensurdecedor — Por que você simplesmente não aceita as coisas sem especular o tempo inteiro? Você reclama e critica tudo o que acontece!

— É melhor do que ser passivo a tudo o que acontece — Yuki encarou o companheiro com desdém — Lealdade e burrice são coisas diferentes.

As lembranças de sua antiga companheira pareciam gritar em sua mente. Ele não poderia ignorar aquilo não poderia fingir que estava tudo sob controle, tudo indo de acordo com o que ele acreditava.

— Yuki havia falado dessas bruxas… — O caçador sussurrou — Quando elas apareceram em Vanitas.

— O terrível ataque terrorista de bruxas em Vanitas — Masumi recitou — Nunca explicado, nunca justificado. Mostrando que as bruxas eram tão perigosas que causavam insegurança até mesmo para a sua própria espécie.

— Ela disse que o Minus estava lá — Masumi parecia delirar — Estrategicamente posicionado para salvar o dia — Com a mão na cabeça sua feição estava completamente transtornada — Mas ninguém percebeu aquele ataque… Tão repentino.

— Queima de arquivo — Masumi sussurrou — Se você conhece a Yuki tanto quanto eu sabe que ela não iria engolir isso sem averiguar.

— Como poderia… — Ryan caminhou para longe Masumi — Como eu posso me basear nessas suspeitas absurdas? Aqueles desgraçados mataram ela! — Apontava para o campo de batalha, se referindo ao grupo da bruxa do azar.

— Quais? — Masumi o interrompeu abruptamente — Quais daqueles desgraçados? — O bruxo apontou para todo o campo de batalha 

Ryan ficou paralisado.

— Senhor! — Um soldado se aproximou do comandante — Qual investida faremos contra a bruxa do azar?

Um silêncio se instalou entre os ali presentes.

— Organize uma tropa com 15 soldados e os instrua a me seguir em direção a Ferrum — Ryan dizia com autoridade — Há uma imensa quantidade de bruxas se dirigindo a cidade — Ele pausou e continuou — Faça mais um grupo com 15 soldados e os mande em direção a Montis, acredito que algumas criaturas estão indo naquela direção.

— Mas senhor… — O subordinado estava um pouco aflito — Fomos encarregados de…

— Sua obrigação como caçador é salvar o maior número de vidas humanas possíveis — Ryan tinha um tom de voz irritado — Obedeça, soldado!

O garoto hesitou por alguns instantes, mas fez como mandado.

No meio do campo de batalha o grupo de 15 soldados, seguiram a passos rápido em direção ao grupo de bruxas que voltavam em direção a Ferrum.

— O que está fazendo? — Blanc usou o comunicador para contatar Ryan no momento em que o viu, juntamente com os outros, passar pelo segundo posto, local onde ele mesmo se encontrava.

— Há um grupo de bruxas se dirigindo aos arredores das cidades próximas — Ryan respondeu com tranquilidade.

— Que se dane essa merda! — Blanc estava alterado — VOLTE AO SEU POSTO SOLDADO!

A única resposta que o general ouviu foi o som do comunicador se desligando. Ryan o abandonou no campo de batalha, e esse logo foi pisoteado pelos demais soldados.

— Sem o apoio do pelotão de elite estamos muito desfalcados, senhor! — Um homem de meia idade havia se aproximado de Blanc.

— Código Cinza — Blanc disse com autoridade.

— O senhor tem certeza disso? — O homem estava um pouco assustado — Trazer isso à luz pode ter consequências danosas a tudo o que construímos.

— Eles estão no caminhão não estão? — Blanc tinha desprezo em sua voz — Se Catherine alcançar aquele portão, teremos consequências muito maiores!

Sem mais nada a dizer, o homem apenas acenou positivamente para seu superior e saiu do local a passos rápidos.

Não muito distante dali, a bola de espinhos que guardava o pequeno grupo continuava a avançar, até o momento em que foi brutalmente atingida por uma energia extremamente poderosa que a despedaçou.

Ryu estava confuso, a explosão havia separado o grupo por isso ele se viu sozinho no meio de uma enorme nuvem de fumaça. Do meio da densa poeira uma silhueta se formou e aos poucos revelou a forma de de um garoto extremamente branco, com longos cabelos negros e que não parecia ter mais do que 15 anos. Em suas mãos ele carregava uma pequena adaga extremamente luminosa.

— Quem é esse? — Ryu se mostrava surpreso.

— Híbrido — Eveline respondeu com convicção — E não é o único.


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