Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 52
Os Habitantes de Shima


Notas iniciais do capítulo

Oie de novo!
Então pessoal, eu não to com uma boa pontualidade nas postagens dos capítulos pq minha vida acadêmica está muito corrida!
Espero que gostem e deixe um comentário como pagamento pelo duro trabalho dessa escritora sofredora hahah



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Em uma das sedes do Minus próxima Montis, chegava o grupo que havia saído em busca de Catherine.

— Mais uma falha? — O doutor Hoffman se aproximou dos soldados — Não entendo como vocês conseguem se manter na elite.

— Não enche o saco! — Benjamin se mostrava ofendido.

— Com sorte ela já está morta — Agnes, que também estava por ali, parecia aliviada.

— Onde está o Blanc? — Ryan se dirigiu a Hoffman.

— Foi a Shima — O médico respondeu — Não deu muitos detalhes, mas provavelmente é sobre os novas crianças que chegaram esse ano.

Shima… A terra natal de Yuki,  um arquipélago no norte do continente, repleto de pequenos clãs com culturas completamente diferentes das dos 7 reinos. Ryan sentiu um aperto no peito e escolheu se isolar em seu quarto.

— Senhor Rousseau? — Uma garota o chamou.

Diante da porta de seus aposentos, Ryan parou e a encarou.

— Aqui estão seus pertences — A menina entregou uma pequena caixa para o caçador.

Ryan a recebeu e analisou os objetos. Uma olhada rápida foi suficiente para sentir algo fora do lugar.

— Esse não é o meu comunicador, Naira — Ele a encarou mais uma vez.

A garota tremeu.

— Achei que tinha sido claro que queria tudo igual a antes! — Ele entregou a caixa novamente para Naira, entrou no quarto e fechou a porta.

Do lado de fora, a menina estava um pouco chateada. Os modelos antigos haviam sido trocados, o que ela poderia fazer? Era sua primeira semana no emprego e já estava lidando com um caçador temperamental.

— Eu deveria ter ido para o Statera… — Lamentou quase silenciosa, enquanto saía dali.

Dentro do quarto, Ryan estava sentado no chão com as costas apoiadas na cama. Não compreendia o motivo de ter sido tão duro com a nova funcionária, mas não sabia como agir diferente. Ele sentia como se tudo estivesse mudado demais, Benjamin era um estranho, uma nova linha de comunicadores estava sendo distribuída, os uniformes sofreram modificações em seus designs e Yuki estava morta…

Naquele momento, Ryan se perguntava se na época em que ele era feliz, estava consciente disso.

Na mansão sombria localizada na floresta de Ferrum, Josh e Marcos observavam Ryu.

— O que é aquilo? — Josh se referia a uma exótica flor lilás, enrolada no braço do guardião.

— Uma orquídea arco-íris, é bem rara — Marcos explicava pacientemente — Temos um pequeno jardim cheio delas nos fundos.

— Serve para o que? — O caçador se mostrava curioso.

— Ajuda a estabilizar os batimentos do paciente, além de informar seu estado de saúde — O bruxo deu uma pausa e continuou — Quando presa a uma pessoa saudável, a flor fica verde, em pessoas doentes mas estáveis como o Ryu, ela tem esse tom lilás. Caso o estado do paciente piore, ela fica vermelha. Mas se por acaso ela murchar…

— Morte… — Josh deu um longo suspiro.

— Olha… — Marcos compreendia a preocupação do garoto — Diante das circunstâncias, ele já deveria estar morto… O que eu quero dizer é que… — Ele limpou a garganta — Se ele conseguiu chegar até aqui, não acredito que vá perder essa batalha.

Josh acenou positivamente com a cabeça.

— Obrigado por confiar — Marcos disse baixinho.

— Você não tem que me agradecer… eu é quem deveria — O caçador coçou a cabeça meio sem jeito — Na verdade eu te devo desculpas.

— A sua reação não foge do esperado — Marcos estava pensativo — Nem um pouco na verdade. O Trevor tem um temperamento forte… Ele afasta todo mundo… Fizeram muito mal a ele… É difícil confiar nas pessoas — deu um longo suspiro e continuou — Mas ele é uma boa pessoa.

— Como você veio parar aqui? — Josh encarou o rapaz — Um médico com as suas habilidades, não seria muito mais útil em uma cidade?

— Você se surpreenderia com a quantidade de pessoas que eu encontro perdidas por aqui — O bruxo sorriu — Alguns com ferimentos no corpo, outros na alma… Sinto falta das cores fora dessa floresta negra, mas me pergunto o que seria dessas pessoas se eu não às ajudasse… entende?

— É um trabalho que só você pode fazer, não é?

— Sim! — Marcos se sentia compreendido.

— Eu também carrego a minha cruz… — Josh se jogou contra o encosto da poltrona e respirou fundo — Algo que ninguém mais pode fazer por mim.

Enquanto olhava para o teto, o caçador se deparou com a pintura de uma garota no meio de uma guerra. Os cabelos encaracolados lembravam a Catherine, ela trajava um vestido branco que parecia tingido de sangue.

— O apocalipse… — Marcos sussurrou e se levantou da cadeira.

Josh o seguiu, e conforme avançava, mais da pintura conseguia ver.

O vermelho era predominante naquele desenho, junto com os rostos aterrorizados. No fim, muitos passos longe do quarto onde estava Ryu, ele estava diante da imagem de um homem atravessando uma espada no peito da garota.

— Eu cresci assombrado por essa pintura — Josh se referia a última cena — Meu pai fez questão de colocá-la no meu quarto, para que eu nunca esquecesse o meu propósito.

— Que interessante — O lorde caminhou até os dois com um sorriso irônico no rosto — Seu pai decorava o seu quarto com itens roubados.

— O que? — Josh estava confuso.

— O que foi? Você acha que ele comprou uma Pintura Premonitória em uma feira de souvenires? — Trevor tinha um ar sarcástico — O Minus roubou da minha família tudo o que podia, enquanto mandava os verdadeiros donos para fogueira, para que não fossem capazes de reivindicar seus direitos.

— Eu sinto muito… — Josh sentiu o peso daquelas palavras.

Apesar de não ter feito parte de nada daquilo, sabia bem que ser um caçador dava a ele parte da culpa.

Trevor encarava o garoto com olhos confusos e surpresos. Ele parecia não esperar por aquela reação.

— Eu roubei quase tudo de volta — O bruxo se recompôs — Mas não confio em caçadores, então… fique longe dos meus pertences!

Ao terminar a sua frase, Trevor saiu da sala.

— Ele só se faz de difícil — Marcos sorriu para Josh.

O caçador por outro lado, mantinha os olhos fixos nos desenhos estampados nas paredes.

— Você realmente acha que ela é capaz de fazer isso? — Josh perguntou enquanto observava a pintura mais brilhante de todas.

Nela, o que parecia ser Catherine, estava no alto de uma montanha, enquanto o céu era rasgado por uma infinidade de luzes intensas. No centro, uma luz mais forte do que as outras se aproximava do solo. Na cena seguinte tudo estava em chamas.

Aquele era o futuro em que ele não matava a bruxa do azar.

— Eu não duvido que Catherine tenha o poder de destruir o continente — Marcos também encarava a pintura — Mas isso não significa que ela tenha qualquer pretensão de fazê-lo.

— Eu to apostando tudo nisso… — Josh sussurrou.

— Se quiser cortar o pescoço dela, pode contar comigo! — Uma voz infantil surgiu junto a imagem de uma criança ao lado de Josh.

— Eu sei bem disso, Joane. — Josh disse com desânimo.

Marcos encarava a garotinha com uma expressão assustada, afinal, além da sua aparição inesperada, seu rosto adorável e inocente não combinava com aquelas palavras macabras.

Ao lado da garotinha, surgiu uma outra idêntica a ela, entretanto, seu semblante estava extremamente fechado.

— O que há com ela? — O bruxo perguntou.

— Está brava porque eu a usei para atacar um caçador do Minus na floresta — Josh deu um longo suspiro — Marie é extremamente sensível e não admite ser usada para ferir outras pessoas.

— Uma lâmina que não mata? — Marcos ergueu as sobrancelhas — Atípico.

— Em compensação, Joane é uma máquina sanguinária de destruição em massa — O caçador tinha em sua expressão uma mistura de nostalgia e medo — As vez sinto que nem preciso me mexer para atacar meus inimigos.

— Joane parece cumprir melhor seu objetivo certo? — O bruxo encarava as duas garotinhas.

Marie se encolheu como um animalzinho assustado e seu semblante irritado agora era triste.

— Não ligue para ele Marie… — Josh se aproximou da garota — Temos um contrato certo? E eu preciso de um equilíbrio, vocês são como dois pesos em uma balança para mim.

A menina abriu um sorriso tímido e em seguida abraçou, Josh.

— Me desculpe — Marcos estava um pouco sem jeito —, não quis parecer grosseiro.

— Ele está morrendo! — Eveline saiu às pressas do quarto onde Ryu estava.

Josh e Marcos se entreolharam e em seguida correram em direção ao guardião.

A orquídea piscava como um sinalizador de advertência, um vermelho vívido e assustador.

— Droga… — Marcos resmungava — Ele estava bem agora pouco…

O bruxo fez alguns preparos com ervas distintas e aplicou na corrente sanguínea do paciente. Poucos segundos foram necessários para que Ryu começasse a se debater. Marcos usava sua magia para fortalecer os componentes daquele preparo que já caminhava pelo corpo de Ryu, mas nada parecia cessar aquela convulsão.

— Ele vai morrer? — Josh estava nervoso.

— Ele não deveria morrer… — Marcos se jogou contra um poltrona e levou as mão a cabeça. Seus olhos perdidos buscavam por respostas.

Josh, por outro lado, era incapaz de conter a ansiedade. Seu amigo estava a beira da morte e o único capaz de salvá-lo parecia desesperançoso.

— Mas é claro… — Marcos ergueu a cabeça, mantendo seus olhos ainda no vazio — Era para ele ter morrido na hora, mas isso não aconteceu… por quê?

— O que? — O caçador estava confuso.

— Chame Catherine imediatamente! — O bruxo se levantou bruscamente.

— Mas ela provavelmente deve estar dormindo…

— Esse é o problema! — Marcos tinha uma expressão de desespero em seu rosto.

Josh não hesitou mais nenhum segundo e subiu em disparada as escadas que levavam até o quarto.

— Quanta agitação — Trevor estava encostado em uma parede do lado de fora da sala — Ele fica espalhando esse fedor de híbrido por toda a minha casa, é realmente incômodo.

Marcos se manteve em silêncio. Não entendia o motivo daqueles comentários em um momento como o que estavam passando.

Não demorou muito para que Catherine e Josh aparecessem na porta da sala. A bruxa, ainda sonolenta, não entendia porque havia sido arrastada da cama com tanta brutalidade.

— O Ryu está mal… — Josh explicou.

Os olhos de Catherine se arregalaram e ela correu imediatamente para o lado do companheiro. Nesse momento, as convulsões de Ryu se cessaram e a orquídea vermelha tornou a ficar lilás, mostrando que Ryu estava mais uma vez estável.

— O que está acontecendo? — Josh estava confuso.

Muito distante dali, Blanc caminhava pelo porto de uma das ilhas do arquipélago de Shima. Ele havia escolhido sair sem escolta, ou quaisquer outros caçadores, por isso estava sozinho. Caminhou um tempo por uma trilha que cortava o imenso jardim que cercava a cidade, até chegar a uma estação de trem.

— Para onde vai, senhor? — Um jovem atendente se pronunciou.

— Oeste, Distrito 16 — Blanc respondeu sem hesitação.

— Poderia me dizer o seu nome, senhor? — O garoto digitava em um pequeno computador — O clã Yamamoto não recebe visitas sem aviso prévio.

— Blanc Lagunov — O caçador disse de forma firme. Como se já soubesse a reação que viria a seguir.

O semblante do garoto se fechou por completo e foi substituído por uma expressão depressiva.

— Yuki Yamamoto é o orgulho de Shima — O atendente disse de forma respeitável — Até mesmo os clãs inimigos de sua família, prestaram homenagens a ela.

Era muito raro que alguma criança de Shima nascesse com a habilidade de um caçador, por esse motivo, todos os caçadores que iam viver nos 7 reinos eram tidos como uma espécie de símbolo nacional.

— O Minus também se orgulha da Yuki, ela foi uma guerreira incomparável! — Blanc respondeu de forma terna.

Um sorriso surgiu nos lábios do garoto e sem mais delongas, ele preencheu o formulário. Blanc embarcou no trem e logo se acomodou em um dos acentos.

O trem era confortável, composto da mais sofisticada tecnologia e com uma velocidade quase inacreditável.

O avanço tecnológico dos 7 reinos foi obra das bruxas. Com magia e intelecto superior aos humanos convencionais elas fizeram uma revolução no modo de vida social. Máquinas, automóveis, cultura pop. Para Blanc aquilo não passava de pura futilidade. Os humanos acreditavam que deviam aquilo as criaturas mágicas e que sem elas, jamais alcançariam a evolução. Mas Shima estava ali para provar que não era necessário a intervenção das bruxas para que a tecnologia chegasse, afinal, em Shima apenas 1 a cada 100 mil habitantes tinha algum tipo de poder mágico.

Não foram nem 10 minutos de viagem até que Blanc chegasse ao seu destino. No momento em que desembarcou no distrito 16,  foi abordado por um grupo de jovens soldados que tinham estampado no peito de suas armaduras a imagem de uma montanha, símbolo da família Yamamoto. Sem nenhuma resistência, Blanc os acompanhou até o palácio onde residia a família principal.

— Meus pêsames — O caçador se sentou de frente para o patriarca, que o aguardava na sala de reuniões.

— Um guerreiro morto em batalha é um orgulho para o seu clã — O velho respondeu de forma tranquila — Yuki agora descansa com nossos ancestrais.

Em silêncio, Blanc apenas assentiu positivamente com a cabeça.

— Mas creio que o senhor não veio aqui apenas para falar sobre algo que já havia sido comunicado a nós — Hiroshi serviu um pouco de chá para o convidado.

— Não, mas não é como se não tivesse qualquer ligação com isso — Blanc ergueu a xícara e deu um gole na bebida — É necessário que a missão que Yuki iniciou seja concluída.

— E como acha que podemos ajudar? — O velho tinha uma expressão desconfiada.

— Soube que existe um rapaz nesse clã que possui uma habilidade um tanto inusitada — Blanc deu mais um gole em seu chá e em seguida continuou — Os campos que pertencem a essa região não sofrem com pragas, o clima é sempre agradável e…

— Ele não pertence a nosso clã — O velho interrompeu o caçador de forma tranquila — Masumi é do clã Koyama, nossas famílias são aliadas há muitos séculos.

— Quais a chances desse garoto nos ajudar a capturar a bruxa do azar? — Blanc estava sério.

— Não sei, pergunte a ele — O velho disse de forma calma enquanto puxava um tecido decorativo que estava a poucos metros dele.

Pouco depois um rapaz despencou de uma estrutura de madeira e caiu no meio dos dois líderes.

— Como sabia que eu estava ali? — Masumi se levantou rapidamente.

— Estar velho não faz de mim surdo! — Hiroshi encarou o garoto com uma expressão irritada.

Blanc estava surpreso, afinal, nem ele havia notado a presença de mais uma pessoa naquela sala. Os habitantes de Shima eram formidáveis.

— Eu vou ajudar a vingar a morte da minha noiva! — Masumi se virou para Blanc e fez uma reverência.

“Noiva…” Blanc não tinha essa informação, mas isso tornava tudo mais fácil.

— Quando partiremos? — O caçador se levantou.

— Assim que eu buscar as minhas coisas no templo! — O garoto se curvou mais uma vez e em seguida saiu correndo da sala.

— Meu povo é livre para ir e vir quando desejar — Hiroshi tinha uma voz firme porém pacífica — Mas se perder mais uma vida dos nossos nessa empreitada, não terá mais nosso apoio.

— Matar a bruxa do azar é um bem para tudo o que conhecemos — Blanc se impôs.

— O que manteve nosso povo em paz até hoje, foi saber escolher quais batalhas lutar — O velho disse enquanto se levantava.

Blanc acenou com a cabeça. Nem um pouco satisfeito com a resposta.


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Notas finais do capítulo

Comentem crianças! Comentem!



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