Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 50
O Lorde das Trevas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo final da temporada, eu espero que vocês gostem ♥



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— Precisamos checar esse braço! — Anabel avisava.

— Não agora! — Josh corria sem pausa, pela floresta sombria — Catherine está vagando sozinha por aí, não vejo sinal do Ryu e o Minus está rondando por aqui… preciso encontrá-la.

No meio da escuridão Catherine seguia sem rumo, diferente de antes, ela evitava correr por medo de acabar esbarrando com algum caçador.

— Tommy! — Ela tentava atrair a atenção do cavalo com um tom mais controlado, mas a chuva incessante tornava ainda mais difícil ser ouvida.

Foi quando um vulto esbranquiçado chamou sua atenção?

— Tommy? — A bruxa apertava os olhos para tentar identificá-lo.

Ao ouvir a voz da dona, o animal relinchou.

Saber que o Minus não o havia encontrado antes dela era  um grande alívio para Catherine.

No momento em que tentava se aproximar do animal, foi surpreendida por deslizamento de terra que a fez escorregar por um enorme barranco. A chuva não havia permitido que ela avistasse aquele perigo com antecedência. Enquanto rolava pelo barranco, a bruxa se arranhou inúmeras vezes e acabou aterrissando em um riacho.

As águas violentas junto a falta de experiência aquática da garota a fizeram ser arrastada pela correnteza.

Não demorou muito para que Tommy aparecesse na margem e começasse a saltar de um lado para o outro desesperado.

Vez o outra Catherine era arremessada contra as pedras, mas em nenhuma das vezes conseguiu se agarrar a elas devido a enorme quantidade lodo que as cobria.

Em uma das colisões, a bruxa sofreu um impacto tão grande que quase perdeu a consciência.

Cansada e ferida, Catherine cessou seus movimentos e esperou pelo pior.

Foi então que ela sentiu seu corpo sendo agarrado e arrastado para fora da água.

Zonza e quase desmaiando Catherine conseguia apenas ver pequenos flashes de imagens e sons confusos.

Viu Tommy agitado ao seu lado e um homem encapuzado se aproximar.

— Você está bem? Fique tranquila, eu sou médico! — Ela conseguiu discernir parte de suas palavras — Tente ficar acordada.

“Um bruxo?”

Foi tudo o que a bruxa pode concluir, antes de perder a consciência.

— Faltam apenas 36 horas… — Hendrick entrou em um pequeno escritório onde Ivan se preparava — Enfim essa tensão vai se dissipar. Durante os 18 anos em que eu tomei a frente da fortaleza de Otium, jamais havia visto uma travessia tão complicada.

— Não sei se fico aliviado ou mais nervoso — Ivan deu um suspiro — Talvez falte poucas horas para ver a minha filha segura, ou poucas horas para ver sua única esperança sendo destruída… Na pior das hipóteses, faltam poucas horas para eu descobrir que ela está morta.

— Mas que droga Ivan! — Hendrick franziu as sobrancelhas — Vira essa boca para lá! Você bem sabe que palavras ruins atraem coisas ruins!

— Boa tarde! — Lya entrou na sala juntamente com Kai — O senhor mandou me chamar?

— Sim — Ivan acenou para a garota — Como você já sabe, esse ano ficamos novamente responsáveis pela segurança do portão do santuário do primeiro reino.

— Sim, senhor — Lya acompanhava.

— O problema é que devido a invasão de Vanitas, ficamos com um número muito baixo de soldados e preciso do apoio do exército real — Ele se levantou e entregou uma folha para a bruxa — Hendrick e eu cuidamos de toda a parte burocrática e precisamos que você faça a parte diplomática.

Lya congelou.

— Não acredito que seja uma boa ideia… — Hendrick soltou.

— Lya? — Ivan a encarou.

— S-sim senhor… — Lya estava receosa.

— No pior dos casos — Kai pegou o documento da mão de Ivan — Eu cuido de tudo.

— Obrigada, Kai. — Ivan agradeceu e os dois saíram da sala em seguida.

— Tem certeza de que é uma boa ideia mandar a Lya nessa missão? — Hendrick questionou.

— Não há melhor! — Ivan sorriu com empolgação.

Na floresta que cercava a cidade de Ferrum, os caçadores analisavam a garota que havia sido deixada para trás.

— É certo que se trata de uma bruxa, mas você faz alguma ideia de quem seja? — Ryan se dirigiu a Benjamin.

— Só conheço duas bruxas ruivas — Benjamin estava pensativo — A que se autodenomina sacerdotisa e a Bortoluzzi.

— A incendiária… — Ryan olhou para a bruxa com desprezo — Coloquem-na no cavalo, no pior dos casos, ao menos não voltaremos para a sede de mãos vazias.

— Me solte… — Claire tentava se libertar, mas o efeito da raiz de laranjeira impediu que ela obtivesse algum sucesso.

Diante da movimentação ao redor, Henry foi aos poucos retomando sua consciência.

— Hey você… — Ryan se aproximou do rapaz — É o guardião dela?

— S-sim… — Henry se pôs de pé — Todos nós… somos…

— Somos do Minus, sua senhora foi acusada de um crime grave, por isso a levaremos conosco para ser julgada e executada — O caçador explicou a situação — Não faremos mal a você ou a seus amigos, mas se tentarem resgatá-la seremos forçados a matá-los.

Ao ouvir aquelas palavras, Henry sentiu seu coração acelerar. Os olhos suplicantes de Claire o encaravam sem pausa enquanto os ensinamentos que lhe foram passados em Otium pulsavam em sua cabeça.

“Proteja sua bruxa com a própria vida.”

“Elas são o equilíbrio do mundo.”

Mas ao mesmo tempo, ele se lembrava de todas as coisas que havia passado ao lado de Claire. O incêndio em Ita, os funcionários que ela feria, as pessoas que ela humilhava, Ryu…

Ele saiu de Otium disposto a morrer por uma bruxa, mas não foi necessário muito para entender que na verdade, estava escoltando um monstro.

— Não moverei um dedo… — Henry soltou sua espada no chão — Se a matarem, o mundo será um pouco menos podre.

Ao ouvir as palavras de seu guardião, os olhos de Claire se arregalaram.

— Não imagino o que deve ter passado ao lado dessa tirana… — Ryan tinha uma voz compreensiva.

— Henry… — Os olhos de Claire estavam cheios de lágrimas.

Mas aquilo não o comoveu, nem por um segundo e ele apenas se virou de costas.

— HENRY… — A bruxa usou todo o seu fôlego para implorar uma última vez, antes que os cavalos se afastassem.

Sentada no alto de um morro, Lya tinha uma visão privilegiada do jardim de uma família rica que residia na tranquila cidade de Montis.

Sem ter a menor ideia do que se passava, um pai atencioso brincava de se esconder com uma garotinha que parecia ter em torno de 7 anos. Não era a primeira vez que os observava, ela já havia visto a esposa daquele homem, uma mulher refinada e gentil. Tinha longos cabelos lisos e negros que mantinha sempre presos em um coque. Eles também tinham um filho mais velho, talvez tivesse alcançado a maior idade há pouco tempo. O filho mais velho se chamava Andrés, o pai se chamava César, a mãe se chamava Alessandra e tinha também a pequena Babi.

— Se continuar enrolando, o Hendrick vai puxar sua orelha! — Kai se sentou ao lado da esposa.

— Olhe só para a Babi… — Lya tinha um sorriso bobo em seu rosto — Ela cresce um pouco a cada dia! Amanhã é o aniversário dela…

— Você vai aparecer para parabenizá-la?

— Claro que não! — Lya se levantou rapidamente — Que atrevimento uma simples funcionária da fortaleza, dar as caras na festa da filha do comandante do exército do primeiro reino!

— Não, Lya… — Kai também se levantou e tocou os ombros da bruxa — É só uma garota, aparecendo no aniversário da irmãzinha mais nova dela.

Lya respirou fundo e desviou os olhos.

— Se você quer fazer parte disso, porque foge tanto? — Kai insistiu — Já faz tantos anos que você descobriu sobre eles, mas preferiu guardar segredo… e se torturar com isso diariamente.

— Vamos entrar! — Lya respirou fundo e saltou do morro.

Ainda muito sonolenta, Catherine sentia as gotas de chuva caindo forte em seu rosto. O relincho de Tommy, fundido a uma série de estrondos tornava tudo muito confuso.

Mesmo sonolenta, a bruxa conseguiu se sentar no chão enlameado, foi então que ela se deparou com a batalha que acontecia ao seu redor. Josh contra o homem encapuzado que a havia resgatado.

“Ele me salvou…”

— Josh! — Catherine correu para o campo de batalha — Não lute com ele! Ele me salvou!

— O que? — Josh estava confuso — Mas você estava ferida e ele estava ao seu lado e…

— E você não se deu ao trabalho de perguntar nada, não é mesmo? — O bruxo tirou o capuz, revelando seu rosto — Típico de caçadores!

.O homem olhou Josh com desprezo e em seguida se virou para sair.

— Espera por favor! — Catherine segurou a mão do estranho — O meu amigo precisa de ajuda…

— Está falando do que está em cima do cavalo? — O bruxo apontou para Tommy — Eu tentei me aproximar, mas esse animal está agitado e agressivo!

— Ele está protegendo o Ryu… — Catherine correu em direção ao cavalo — Tommy, fique calmo por favor, ele é amigo…

— Disso não sabemos ainda. — Josh mantinha sua espada em punho.

— Eu não tenho nada a ganhar ajudando esse cara — O estranho encarou Josh — Assim como não ganhei nada salvando a garota de se afogar.

Por um momento, Catherine e Josh não compreenderam se ele estava do lado deles ou não.

— O que eu estou tentando dizer… — O homem respirou fundo — É que eu não tenho nada a ganhar aqui. Vocês parecem dois mendigos perdidos e um ainda é agressivo e instável.

Josh ficou vermelho.

— Eu deveria ter medo de vocês, e não o contrário! — O bruxo concluiu.

— Eu não tenho medo de você… — Catherine tinha uma expressão firme, mesmo com os olhos marejados — Eu só quero que você ajude o Ryu… e eu não me importo com as consequências disso.

O estranho ficou por alguns minutos, encarando a bruxa, estava claramente comovido com a pureza das intenções dela.

— Eu me chamo Marcos — O homem se curvou educadamente — Marcos Alonso.

— Catherine Gibran — Cat também se curvou e em seguida o encarou — Por favor, salve o meu amigo.

Sem mais delongas, Marcos correu em direção a Tommy, e analisou o corpo de Ryu.

— Minha nossa… — O homem estava perplexo — Me admira que ele esteja vivo.

— O que aconteceu com ele? — Josh estava igualmente pasmo.

— Claire… — Catherine estava angustiada — Aquela maldita… Nós estávamos distraídos e ela o atacou pelas costas!

Por um instante, Josh havia se sentido culpado por ter deixado ela lá para ser capturada pelo Minus, mas diante do que sabia agora, tudo havia mudado de figura. O Minus foi feito para bruxas como ela.

— Uma bruxa de fogo? — Marcos supôs, devido as queimaduras.

— Ela lança raios… na verdade… — Catherine dizia com receio.

— Ok, isso torna as coisas um pouco mais complicadas… — O bruxo estava pensativo — A eletricidade pode ter ferrado o coração dele.

— Você pode ajudá-lo, não pode? — A garota estava a ponto de chorar mais uma vez.

— Talvez… — Marcos respondeu — Mas precisamos levá-lo para o meu laboratório.

Josh não protestou, estava tão preocupado com o seu amigo quanto Catherine, mas algo nele parecia feder,  seus instintos pareciam ficar completamente alertas diante daquele estranho.

— Tem soldados do Minus vagando por aí — O ex caçador alertou — Precisamos ficar alertas.

— Não se preocupe — Marcos tinha uma expressão serena — Não importa qual direção tomem, acabaram sempre fora dessa floresta.

As palavras do bruxo causaram certo arrepio em Josh. E aquilo não se tratava de um blefe, pois não muito distante dali, os caçadores perambulavam perdidos.

— Ali é a saída! — Benjamin apontava para um pequeno espaço entre as árvores, de onde era possível avistar a luz do fim de tarde nublada.

— Mas isso é impossível… — Ryan olhava uma pequena bússola que havia em seu relógio — Tenho certeza de que estamos do lado oposto a ela.

— Talvez estejamos em Montis… — Mesmo confuso, Benjamin buscava por uma explicação.

— Montis fica ao Sul! — Ryan avançou com passos apressados em direção a saída e então confirmou suas suspeitas — Estamos em Ferrum!

— Essa sua bússola não está quebrada? — Benjamin o olhava desconfiado.

— Ela estava funcionando bem até agora pouco… — Ryan estava pensativo — Isso é feitiçaria.

— A bruxa do azar poderia…

— Catherine ainda é uma pirralha sem nenhuma experiência — Ryan interrompeu aquele raciocínio falho — Isso foi bolado por um bruxo bem experiente e forte…

— S-senhor… — Um dos caçadores se manifestou.

— Sabe de alguma coisa Igor? — Ryan encarou o subordinado.

— Dizem que nessa floresta vive um demônio… — O homem estava apavorado — Um bruxo impuro que nenhum caçador foi capaz de capturar…

— Lendas — Benjamin revirou os olhos.

— A lenda dele por acaso está nos fazendo de idiotas! — Ryan encarou o companheiro com um olhar repreensivo — Continue, Igor…

— O chamam de Lorde das Trevas… mas ninguém nunca viu o seu rosto…

Ryan permaneceu um tempo pensativo, se perguntava o motivo de ele ser o único a não saber dessa história.

“Porque o Minus já perdeu muitos soldados em expedições para capturar esse bruxo.”

A voz de Safira ecoou na cabeça do garoto.

“Depois de um tempo com a neutralidade do Lorde das Trevas, Blanc optou por enterrar essa história, acreditando ser um caso sem solução, pelo menos provisoriamente. Isso justifica o fato de um jovem soldado nem ao menos saber da existência dele.”

— Vamos embora! — Ryan caminhou à frente do grupo.

— O que? — Benjamin estava incrédulo — Vai amarelar por causa dessa historinha de criança?

— Ouviu as ordens. — Ryan continuou seu caminho, sendo seguido por seus subordinados.

— Maldito covarde! — Benjamin resmungou enquanto esmurrava uma árvore.

— Mais um desacato desse nível e te reporto ao nosso superior — Ryan disse sem olhar para trás — E faço você sair da elite em um segundo.

Os olhos de Benjamin se arregalaram e algumas veias surgiram em seu rosto. Era nítido o ódio que ele sentia por Ryan, até para o próprio Ryan.

“Precisa manter seus olhos abertos… sinto a intenção assassina dele daqui.”

Safira mais uma vez se comunicou telepaticamente com seu portador.

“Eu percebi… Na verdade, nessa missão de capturar a bruxa do azar, eu descobri que não posso confiar em ninguém, muito menos em você.”

— Estamos quase chegando — Marcos comunicava ao grupo.

— Chegando aonde? — Josh estava receoso — Ferrum é para o outro lado e Montis fica há mais algumas horas a frente.

— Não iremos para a cidade — Marcos informou.

Num súbito reflexo, Josh puxou Catherine para trás de seu corpo e apontou sua espada para o bruxo.

— As coisas estão ficando claras agora… — O caçador tinha uma expressão séria — É você o Lorde das Trevas?

— O que está acontecendo Josh? — Catherine estava confusa — Lorde das Trevas?

Marcos também ficou sério, deixando o clima pesado.

— Disse que não temos nada a oferecer, mas temos uma dama entre nós não é mesmo? — Josh não desviava os olhos dele nem por um segundo — É como o Chermont, Catherine…

— Se ele ouvisse essa comparação, você provavelmente morreria antes de perceber o que o havia atingido — Marcos sorriu de forma irônica.

— Ele? — Josh continuava a encarar — Então você é o mensageiro do diabo?

— Um pouco mais que isso… — Enquanto Marcos falava, uma enorme quantidade de raízes começaram surgir do solo e se posicionarem ao redor de Josh.

— Catherine… — Josh estava tenso — Prepare-se para correr, eu cuido dele.

— A floresta é como se fosse meu próprio corpo — Marcos tinha uma expressão tranquila — É tolice acreditar que pode me vencer aqui.

 


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Notas finais do capítulo

Hey pessoal!
Obrigada por acompanhar essa aventura até aqui!
A temporada final será lançada ano que vem, mas não tenho uma data certa, pois ainda estou escrevendo.
Favoritem Questão de Sorte para serem informados por e-mail quando um novo capítulo for lançado!
Feliz natal, um próspero ano novo e até logo!



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