Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 29
A Fuga


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do capítulo de hoje.



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Na academia de uma das unidades da Minus, vários caçadores se reuniam para os treinos diários.

— Não te incomoda? — Yuki se aproximou de Ryan.

— O que? — O garoto levantava uma barra de ferro.

— Aquele chamado repentino para que nos posicionassemos próximo a Vanitas. — A caçadora completou.

— Nosso líder trabalha rápido.

— Não faz sentido… o tempo não bate! — Yuki andava de um lado para o outro — É quase como se ele estivesse pronto para o ataque antes mesmo que ele estourasse.

— Se isso fosse verdade, não teria morrido tanta gente — Ryan parecia desconfortável com a desconfiança da garota — Se soubéssemos disso antes, teríamos impedido as bruxas antes mesmo que pisassem na cidade.

— Mas e se ele quisesse pisar na cidade? — Yuki insistiu — Foi necessário muito desespero para permitir nossa entrada em Vanitas.

— Yuki! — Ryan largou a barra de ferro com força no chão, provocando um barulho ensurdecedor — Por que você simplesmente não aceita as coisas sem especular o tempo inteiro? Você reclama e critica tudo o que acontece!

— É melhor do que ser passivo a tudo o que acontece — Yuki encarou o companheiro com desdém — Lealdade e burrice são coisas diferentes.

Sem permitir que Ryan dissesse mais nenhuma palavra, ela apenas se retirou da academia.

— Você está questionando coisas que não deveria. — Benjamin sussurrou.

Ele estava na porta da academia e fez com que Yuki se assustasse.

— Até você Ben? — A garota se mostrava irritada.

— É apenas um conselho de amigo. — Ele deu de ombros — Temos mais do que precisamos e mesmo assim você sempre se mostra insatisfeita.

— A insatisfação é o que mantém a evolução humana em curso — Yuki tentava demonstrar tranquilidade por fora, mas o seu coração estava acelerado.

Ela não sabia bem o porquê, mas fazia um tempo que a presença de Benjamin a causava calafrios.

Isso era estranho porque ela o conhecia desde muito nova e o via quase como um irmão mais velho, porém ultimamente era como se parte dele fosse algo que ela desconhecia.

— Quem não se contenta com o que tem, pode acabar ficando sem nada — Depois de dizer essas palavras, o caçador se levantou e caminhou lentamente pelos corredores da unidade.

Os passos do homem eram lentos e fortes, faziam um barulho estalado que ecoava pela área vazia. Yuki se prendeu a esse barulho por alguns segundos e quando ele se afastou por completo ela relaxou e respirou. Só então reparou que havia prendido o fôlego por todo aquele tempo.

— Mas que merda é essa… — A garota sussurrava para si mesma.

Em Pack, Ryu e Josh continuavam detidos na delegacia da cidade.

Enquanto o caçador se mantinha calmo, tentando de alguma forma encontrar uma maneira de se libertar, Ryu esmurrava as barras de ferro sem pausa.

— Você vai acabar se machucando se continuar nisso. — Josh comentou.

Ryu permaneceu em silêncio, repetindo seu movimento vez após vez.

O caçador se preparava para dizer mais alguma coisa, quando ouviu o som agudo de uma barra caindo no chão.

Ao contrário do que o feito merecia, o guardião não esboçou nenhuma reação e continuou a socar as barras restantes.

— Ei cara… — Josh tentava chamar a atenção do companheiro de cela — Suas mãos…

O sangue escorria pelos punhos de Ryu, mas isso não o impediu de continuar socando as grades.

Uma expressão desesperada tomou o rosto de Josh, mas com um pouco de esforço ele conseguiu se controlar.

— Marie, Joane — Ele sussurrou.

Dois objetos rasgaram o ar como raios e pararam firmes nas mãos de Josh. Se tratava de um par de Cimitarras idênticas com lâminas de cristal.

Ryu parou seus movimentos para apreciar aquelas belas e exóticas armas.

Com um movimento cruzado, Josh cortou as barras que os prendiam como se fossem galhos secos. Ao terminar o feito ele sussurrou algo para as armas que Ryu foi incapaz de ouvir. O guardião poderia chamá-lo de esquizofrênico, mas depois dos momentos com Eveline, teve uma ligeira ideia do que se tratava.

— Por que não fez isso antes? — Ryu protestou.

— O que? — Josh estava incrédulo — Não está surpreso?

Ryu se limitou a balançar a cabeça negando a pergunta do companheiro.

Josh ficou realmente chocado com a reação do rapaz, afinal de contas tentava ao máximo evitar que alguém visse seu tesouro celestial, pois para os leigos aquilo não passava de uma lenda.

Ele tentou perguntar mais para Ryu sobre o que ele sabia, mas foi interrompido pela aparição de um guarda na porta.

— Ei vocês! — O homem levantou a voz — De volta para suas celas!

Ryu avançou na direção do policial e o recebeu com um chute aéreo no estômago. A vítima se chocou contra uma parede próxima e se apoiou nela. O homem estava pronto para se render e cair sentado no chão, quando foi erguido por Ryu.

O braço direito do guardião pressionava a garganta do inimigo e seus olhos o encaravam com ódio.

Tomado por medo, o guarda não fez perguntas ou objeções, apenas entregou para ele a chave do pavilhão.

Ryu tomou as chaves das mãos do homem e seguiu seu caminho em direção a porta que separava as celas da área em que ficava o delegado e a saída.

Dois buracos pequenos denunciavam a passagem das espadas de Josh pela porta de metal.

— Não precisava bater nele daquele jeito — Josh se aproximou de Ryu enquanto o rapaz abria a porta — Ele só estava trabalhando.

Com a porta já aberta Ryu avançou pelo corredor, a movimentação havia atraído mais dois homens.

O primeiro, avançou na direção de Ryu com um cassetete em punho. O guardião agarrou seu pulso e o girou de forma que ficasse de costas para ele, após tomar sua arma, o guerreiro o atingiu na cabeça tirando seus sentidos. Enquanto o segundo se aproximava, Ryu arremessou o homem inconsciente em cima dele. O guarda tentava lidar com peso do corpo sobre ele e isso resultou no seu desequilíbrio, aproveitando a oportunidade, Ryu o acertou no rosto com um pontapé e logo esse também havia ficado inconsciente.

Diante do caminho sangrento que o guardião havia deixado para trás, Josh tinha uma expressão de desaprovação. Ele nunca havia visto em Ryu um inimigo, talvez um obstáculo na sua missão, mas nunca um inimigo. Mas agora, era como se Ryu fosse algo fora de controle, que ele tinha como obrigação impedir que fizesse mais estragos.

A sua reflexão indecisa foi interrompida pelo som de uma mesa sendo virada, os gritos do velho delegado fizeram com que Josh apertasse seus passos.

Chegando no escritório encontrou Ryu segurando o velho pelo pescoço e o erguendo junto a uma das paredes do cômodo.

— Ryu! — Josh puxou o ombro do guardião com força e o afastou do homem o suficiente para que ele fosse libertado — Que droga, ele é só um velho!

— Ele não é velho demais para ser corrupto, nem para traficar pessoas sabendo que essas serão mortas ou quem sabe pior! — Ryu retirava a mão de Josh do seu ombro com brutalidade — Então para mim ele não é velho demais para tomar uma boa surra até falar onde a Cat está.

— Existe um jeito mais fácil de resolver isso… — Josh olhava para o velho ofegante e ferido se arrastando pelo chão.

— Você tem 5 minutos — Ryu disse de forma fria enquanto se afastava do local e se dirigia até a sala onde se encontrava os pertences dos prisioneiros.

A espada negra se destacava ao longe dentre os objetos expostos na estante. Quando Ryu pôs suas mãos na arma sentiu um arrepio percorrer a sua espinha.

Lembrou-se do sonho que havia tido com Eveline, as pessoas que ele havia matado naquela ilusão e do prazer que havia sentido nisso. Ele culpou a espada por aquilo, mas hoje, espancar aqueles homens havia sido como uma terapia. Era como se os ensinamentos de Ivan tivessem se perdido em lembranças.

Lute para sobreviver e não para matar.

— Eu não acho que eu preciso de uma arma para ser um selvagem… — Ryu sussurrou para si mesmo.

Enquanto refletia sobre seus princípios, o guardião foi atraído por um brilho prateado insistente.

No pequeno compartimento que continha o nome de Josh, havia um chicote e um sobretudo negro que ele sempre carregava consigo. Do bolso da roupa uma insígnia brilhante revelava a imagem de uma pomba prata.

— As garotas estão no porto dos girassóis — Josh entrou na sala em que Ryu estava — Fica na praia e…

— Você é um Minus — Ryu interrompeu a fala do garoto enquanto erguia o distintivo — Eu desconfiei disso mas ter certeza é realmente assustador.

— Ryu eu… — Josh suava.

— Fica tranquilo cara — Ryu sorriu de forma amigável — Mas escolher Lancelot para esconder o Lagunov só prova que você é um péssimo mentiroso.

— O que? — A expressão surpresa de Josh se intensificou ao máximo — Como você soube?

Ao ouvir as palavras do caçador, Ryu teve uma crise de risos.

— O que há com você? — Josh estava confuso.

— Eu não sabia… — Ryu tentava conter o riso — Eu só joguei e você caiu como um pato.

A expressão do caçador se fechou.

— Quase todo mundo soube da história do filho renegado — Ryu recuperou o fôlego — Uns diziam que ele havia morrido outros que ele vagava por aí como um mendigo.

— Eu não sou um mendigo! — Josh se mostrava irritado.

— Está mais próximo disso do que de um cadáver — Ryu pegou seus pertences e se dirigiu até a porta — Porto Dos Girassóis certo?

— Você não se importa com isso?

— “Isso” você diz ser filho do Blanc? — Ryu se virou para o rapaz.

O caçador acenou positivamente com a cabeça.

— Sabe, eu já detestei as bruxas simplesmente pelo fato de ter conhecido muitas ruins, mas nessa jornada eu tive a oportunidade de conhecer muitos humanos terríveis e uma bruxa gentil — Ryu sorriu de forma nostálgica e continuou — E nem toda a bondade que eu já vi na vida, mesmo unida, poderia se comparar a ela.

Josh estava um pouco apreensivo, não compreendia onde seu companheiro pretendia chegar.

— Desde então, eu aprendi a avaliar as pessoas pelo que elas são e não pelo grupo a qual elas pertencem — Ryu deu alguns tapinhas no ombro do caçador — Eu odeio o seu pai e terei o prazer de matá-lo caso ele entre no meu caminho, mas o Blanc é o Blanc e você é você.

— Compreendo… — Josh estava um pouco inseguro — Fico feliz por isso.

— Mas… Tente não dizer isso a Catherine — Ryu mordeu os lábios — Ela guarda muita mágoa do Minus e principalmente do Blanc. Não sei se será fácil para ela fazer essa distinção.

Josh assentiu em silêncio mais uma vez.

Ele não se lembrava quando a opinião daqueles dois começou a ser algo que o importava tanto, talvez isso estivesse ligado ao fato de eles serem o mais perto que ele tinha de amigos, em muito tempo.

Enquanto pensava sobre isso, Josh se sentiu um pouco envergonhado.

Não muito longe dali, no Porto dos Girassóis, Catherine recuperava sua consciência.

Ela estava deitada em um piso de madeira sujo, ao seu lado estava Mirian inconsciente e com os pulsos presos por raízes de laranjeira.

Apesar de ainda estar um pouco tonta e com fortes dores na cabeça, devido a pancada que havia levado mais cedo, Catherine se levantou rapidamente e tratou de livrar a bruxa das raízes.

— Ei você! — Um homem largo e mal encarado percebeu a movimentação da garota.

A bruxa do azar nem ao menos o tinha notado até aquele momento, mas agora tentava acelerar seus movimentos para libertar a companheira.

— Ora sua vadia metida…

No momento em que o homem se aproximava de Catherine, pisou em um prego exposto. O guarda gritou como um porco assustado e ficou saltando de um lado para o outro do cômodo.

— Venha! — Catherine estapeou o rosto da bruxa algumas vezes — Precisamos sair daqui.

Mirian se levantou, ela ainda estava desnorteada, mas seguiu Catherine até a porta.

— Paradas!

O velho tentou agarrar Catherine, mas antes que pudesse alcançá-la, pisou com outro pé em mais um prego fora do lugar. Dessa vez o guarda caiu sentado no chão, chorando como uma criança.

Com a porta à sua frente, Catherine não teve tempo de tocar na maçaneta antes que ela fosse aberta. Diante dela estava o homem que a havia sequestrado na cadeia.

O recém chegado a agarrou pelo braço e sorriu enquanto estava bem próximo de seu rosto.

— Eu não costumo ser gentil com crianças malcriadas.

— Senhor Hector… Me desculpe… — O guarda ferido estava assustado.

O homem o ignorou e continuou a encarar a bruxa que estava sob seu domínio.

— Acho que você precisa de um golpe um pouco mais forte para ficar quieti…

Antes que Hector pudesse terminar sua frase, foi arremessado contra uma parede do lado de fora da sala com uma rajada de vento violenta.

De joelhos no chão, Mirian estava exausta por usar sua magia naquele momento, os efeitos da raiz de laranjeira ainda permaneciam em seu corpo e isso limitava suas capacidades.

— Vamos embora! — Catherine passou o braço da garota pelo seu pescoço e assim gerou apoio.

— Ian… — A bruxa cansada dizia com um tom quase inaudível.

— O que? — Cat estava confusa.

— Meu noivo…

Foi então que a ficha caiu, ela havia se esquecido completamente do noivo da mais nova companheira. Ele estava preso ali em algum lugar e talvez Mirian não tivesse outra oportunidade de salvá-lo, entretanto no estado atual da bruxa do vento e a incapacidade de Catherine em controlar seus poderes, tornava aquele resgate quase impossível.

— Por hora, vamos tentar nos esconder até você se recuperar… — Cat tentava contornar a situação.


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Notas finais do capítulo

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