Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 2
A Criança de Pacem


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitor!
Estou tentando postar capítulos aqui na segunda, quarta e sexta.
Conto com a sua visita!



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Caminhando em passos pesados, Ryu finalmente entrou para o salão, obviamente se dirigiu a direção oposta da bruxa.

Notou a decoração bem organizada e um telão onde aparecia imagens dos guerreiros, acompanhadas de informações do seu desempenho.

Ele também estava lá, ocupando o top 5. Sorriu orgulhoso por alguns segundos, mas logo em seguida se sentiu idiota.

“Sou eu uma espécie de touro premiado?”

— Tecnicamente sim! — A voz de Kai apareceu repentinamente.

—  O que?

— Se você vê o festival como venda de gado, estar no top 5 te faz um bovino premiado. — O homem disse de forma calma.

Ryu poderia jurar que não falou aquilo em voz alta.

— E não falou! — Kai sorriu — Qual é? Você acha que eu sou só um vagalume?

Foi então que Ryu se lembrou que os poderes de iluminação de Kai, iam além da física.

— Não, você também é um incendiário. — Ryu se lembrava de acontecimentos passados.

— Do que você está falando cara? Eu sou um bruxo bonzinho, não esquece! Luz e amor para todos nós! — O cinismo dele transbordava de seu sorriso dissimulado.

Ryu levou a mão ao rosto um pouco impaciente.

— A garota na sacada… — Kai parou alguns segundos — Olha, eu não sou padrão de gentileza mas... Por que foi tão cruel?

— Ela é uma bruxa… — Ryu estava receoso.

— Eu também sou, cara! E eu sou muito legal!

Um breve silêncio e olhar de reprovação  fez o garoto repensar sobre sua fala.

— Tem também a Lya e…

— Mercado do centro! — Ryu o interrompeu.

— Aquele cara roubou a sacola de compras dela! — Kai justificativa.

— É, e hoje ela é conhecida como demônio de Otium!

Kai parou por alguns segundos e desistiu de argumentar.

Ryu pegou uma bandeja de um dos garçons, preencheu de comida e se sentou distante dos outros.

Kai o seguiu:

— Ela se chama Catherine Gibran!

— Eu não estou interessado! — Ryu disse e em seguida entupiu a boca de comida.

Comer era algo que ele fazia quando estava irritado.

— Mas eu estou caramba! — Kai jogou um livro enorme na frente do garoto e em seguida o abriu — Ela é o mistério dos mistérios!

Uma certa curiosidade surgiu em Ryu, mas ele se esforçou para não transparecer.

Ciente dos sentimentos do amigo Kai continuou:

— Catherine foi encontrada sozinha no meio do grande incêndio de Pacem, há 15 anos. Ela só tinha 3 anos de idade e estava lá chorando, intacta... enquanto tudo ardia ao redor! — Kai estava empolgado — Foi aí que os membros do Statera a levaram. Acreditavam que ela poderia ser uma bruxa de fogo que havia perdido o controle, mas era jovem demais para ser punida, por isso seria levada para a capital e criada por boas bruxas. Mas os Minus apareceram...

— E aí? — Ryu se debruçava sobre a mesa completamente tomado pela curiosidade.

Kai sorriu com pretensão e continuou:

— Os testes mágicos negaram o fogo na alma dela, mas a sua magia parecia mexer com tudo a sua volta e destruir aquilo que a incomodava. Eles a queriam na fogueira! — Kai passou a página e mostrou uma fotografia antiga — Então esse homem a tomou para sua responsabilidade.

— O Ivan? — ao ver a foto de seu mestre, Ryu demonstrou total surpresa.

— O velho Ivan, já foi um caçador! Membro da Statera. — O bruxo sorriu com certo deboche — Você não faz o tipo interessado não é? O que você aprendeu nas aulas de combate a magia?

— Combater magia! — O guerreiro dizia de forma óbvia — Eu estudo a matéria e não o professor.

— Para mim a aula compõe tudo o que se encontra na sala, inclusives alunos e professores. — Kai dava de ombros.

— Continue…

— Enfim… Ele a observou por alguns meses e percebeu algumas coisas sobre a sua magia. Ela não tinha controle sobre o dom, seus sentimentos faziam o trabalho por ela. Chuva, terremotos, raios, tropeços e até espinhas — Kai sorriu — Catherine era uma bruxa que atraía azar.

— Uma bruxa impura? — Ryu se recostou na cadeira.

— Não exatamente! Pessoas que tratavam a pequena bem e conquistavam a sua simpatia, eram abençoados por uma boa sorte surpreendente. — E graças a esses acontecimentos ela conseguiu se registrar no Grande Livro das Bruxas como uma bruxa neutra.

Em silêncio, Ryu folheou as páginas do livro de Kai, a fotografia de uma criança suja no meio do incêndio o causou incômodo. Seus olhos traziam uma solidão familiar.

Depois de alguns segundos de reflexão, Ryu se levantou e deixou Kai sozinho na mesa.

Ele caminhou por todo o salão e finalmente chegou a uma grande mesa isolada em um canto, nela havia apenas uma pessoa: Catherine.

A garota, antes perdida em seus próprios pensamentos, notou a presença do rapaz e pôs em seus rosto uma expressão de raiva.

— Olá! — Ryu sorriu um pouco sem graça.

— Oi. — Ela não o olhou nos olhos.

O guerreiro sentiu a resistência da garota, mas não podia culpá-la, seu comportamento anterior o fazia merecedor do gelo recebido.

— Está gostando da festa? — Ele se sentou na mesa junto dela.

Em silêncio ela apenas o olhou nos olhos por alguns segundos, franziu as sobrancelhas e depois voltou a ignorá-lo.

— Olha, eu sinto muito pela minha atitude Catherine…

— Já foi fazer pesquisa? — A garota o interrompeu.

— O que?

— Há poucos minutos atrás você nem sabia que eu era bruxa, mas agora já sabe até o meu nome! — A bruxa não demonstrava nenhuma piedade.

— Sabe como é… os boatos correm… — Ryu chocava a ponta dos dedos indicadores a frente de seu corpo.

Catherine continuou ignorando.

O guerreiro se sentiu intimidado mas não desistiu:

— Já decidiu quem vai ser o seu guardião?

— Não vou para o santuário. — A garota disse depois de um suspiro.

— Por que? — Ryu estranhou a resposta.

Catherine o olhou olhos, arqueou uma das sobrancelhas e desviou o olhar.

Sua expressão dizia algo como “Você realmente acha que tem direito de me perguntar coisas assim?”. Ryu entendeu o recado e mais uma vez se sentiu intimidado.

— Em Otium temos ótimos guerreiros!

— Por que você está fazendo isso? — a garota bateu com força na mesa — Você vem, me trata bem, descobre que eu sou uma bruxa, me trata mal e depois aparece aqui e tenta fazer amizade?

— Eu acho que eu também acharia estranho no seu lugar… — Ryu se encolheu.

— Não me entenda mal. — Catherine se recostou em sua cadeira e assumiu uma expressão pretensiosa — Eu não achei estranho. Na verdade isso é tão comum que você não faz ideia.

O guerreiro foi incapaz de entender do que a garota falava.

— O que você apostou com seus amigos? Se eu seria capaz de explodir os seus olhos para fora da sua cabeça? — Catherine o encarou — Ou talvez que eu poderia te ajudar a ganhar na loteria se você fosse gentil?

As palavras de Catherine causaram repulsa em Ryu, mas ele apenas sorriu e disse:

— Se você quiser conversar, eu vou estar do outro lado do salão com meus amigos.

A atitude do garoto foi completamente inesperada para Catherine, por esse motivo ela permaneceu em silêncio em seu lugar.

Ryu atravessou o salão com passos tão fortes que poderiam ser ouvidos até mesmo em meio a todo o barulho da festa.

— E aí como foi? — Kai perguntou para o Ryu assim que ele o alcançou, mas foi ignorado tão friamente quanto uma parede.

— Tem uma bruxa importante de olho em você, vá para o seu posto. — Lya apareceu em frente ao rapaz e o fez parar.

— Eu não estou interessado! — Ryu respondeu de forma ríspida.

— Você provavelmente vai ser escolhido por uma bruxa muito rica! Além da compensação padrão que o servo recebe pela travessia, é provável que a família dela pague o seu peso em ouro para que a deixe em segurança.

— Eu realmente não estou interessado Lya. — O guerreiro demonstrava impaciência.

— Olha aqui, Ryu você não vai me fazer passar vergonha!

Naquele momento, Lya havia começado uma intensa série de reclamações que aos poucos desapareciam da mente de Ryu, até o momento em que ele parou de ouvi-la. O motivo da distração, além da sua falta de interesse cotidiana, se dava ao fato de uma pequena faísca de luz perambulando ao seu redor.

Ela era extremamente brilhante, volta e meia tomava a forma de uma pequena mariposa, e parecia buscar por alguma coisa. Ryu então estendeu a mão e ela pousou sobre a sua palma. No momento em que fez isso, se transformou em um bilhete:

“Me desculpe pela inflexibilidade, o mundo não tem sido gentil comigo.”

Assim que ele terminou de ler, o bilhete se desfez em um brilho belo que logo se apagou por completo.

Foi então que Ryu se virou para a mesa em que estava Catherine e a viu sorrir para ele.

— Bom Lya — Ryu disse sem nem ao menos olhar para sua superior — Eu não estou interessado na tal bruxa nobre porque… Eu já tenho meu contrato.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado do capítulo.
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Até a próxima :)



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