Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 1
O Festival


Notas iniciais do capítulo

Oiê!
Espero que se divirta, mergulhando nesse mundo mágico.



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No passado os homens acreditavam que as bruxas fossem mensageiras do demônio que tinham como principal missão trazer o inferno de volta à terra.

Devido a crendice exacerbada, inúmeras pessoas foram mortas em fogueiras, acusadas de bruxaria. Desde as crianças até os idosos, qualquer um que demonstrasse qualquer ligação com magia era condenado e morto em praça pública.

Depois de anos se escondendo nas sombras, um grupo de bruxas poderosas se reuniram para combater as injustiças contra a sua raça.

Esse grupo pregava o orgulho do nascimento mágico e a superioridade das bruxas sobre a humanidade. As ideias rebeldes conquistaram inúmeros simpatizantes e logo donas de casa, mineiros e até banqueiros assumiram suas identidades como criaturas mágicas.

Descontentes com o “crescimento do mal”, os humanos passaram a reprimir com mais força os servos do diabo. Uma pequena cidade chamada Altiorem foi construída para abrigar todas as bruxas da ira dos humanos, mas o crescimento imparável da tensão dos dois lado fez com que estourasse a Guerra de Raças.

Bruxas e humanos em constante confronto, sejam em batalhas diretas ou atentados.

No ápice de sua desvantagem os humanos investigaram um fenômeno curioso.

Alguns dos soldados que iam à batalha eram melhores em combates, mesmo sendo jovens inexperientes comparados com guerreiros exemplares.

Com o tempo acabaram descobrindo que a habilidade desses soldados especiais não se resumiam apenas a bom treinamento e sim, nasciam com eles.

Foi assim que surgiram os primeiros caçadores: Mais fortes, com recuperação mais rápida que uma pessoa comum, maior resistência a magia e o mais importante, eles eram capazes de identificar bruxas apenas pelo cheiro. Isso havia posto fim a uma desvantagem antiga da humanidade, que só era capaz de identificar uma bruxa se essa fizesse alguma manifestação incomum. Tal maneira também estava sujeita há muitos erros e condenações injustas.

Mesmo agora contando com um grupo grande de caçadores e estando visivelmente em maioria, a humanidade estava sendo massacrada pelas bruxas.

Nessa época pensadores famosos começaram a levantar questões novas sobre os inimigos mágicos. Perguntas como “será que o servo do diabo poderia curar uma ferida do homem?” “Se a natureza é de deus, aquele que pode manipulá-la não seria o seu seguidor mais assíduo?” Estampavam as páginas de livros com sucesso de venda. Tomados pelo desespero da guerra, pela escassez de comida e a morte de seus entes queridos, os humanos passaram a aceitá-las sem menos inibições.

Foi assim que as primeiras tentativas de um acordo de paz por parte da humanidade ocorreram.

Cientes que a prolongação da guerra só resultaria no massacre da sua raça, eles se curvaram diante das bruxas.

Para surpresa de todos, não houve resistência. As bruxas aceitaram a rendição de braços abertos, impondo somente a condição de fim da retaliação e do preconceito.

Muitas regiões habitadas por humanos se recusavam a aceitar aquela decisão e ainda mantinham o pensamento retrógrado de que as bruxas eram o próprio mal.

Mas esses foram ignorados e então aconteceu o fim da guerra que já havia perdurado por 50 anos.

A maioria das bruxas saíram de Altiorem e voltaram a viver suas vidas em suas cidades natais, mas muitas delas permaneceram lá.

As líderes da revolta e também as mais poderosas das bruxas, se reuniram e construíram santuários para passar seus ensinamentos para as bruxas mais jovens.

Nesses santuários, foi aplicado magias de selamento nos portões que só poderiam ser abertos na presença de um humano e uma bruxa.

Esse feitiço poderoso era uma forma de manter o orgulho das bruxas controlado, para que nunca se deixem levar pelo sentimento de superioridade. Era uma forma de nunca se esquecerem do acordo de paz e igualdade.

Posteriormente Altiorem se tornou Otium e é aqui 500 anos depois da Guerra de Raças, que a nossa história se inicia.

 

***

 

Ryu é um guerreiro morador de uma importante fortaleza de guardiões que se situa na grande cidade de Otium, parte do primeiro reino.

Lá eles são treinados desde muito jovens para se tornarem guerreiros poderosos e exercerem seus papéis como guardiões de jovens bruxas durante sua travessia até o primeiro santuário.

Os guardiões são responsáveis pela proteção das bruxas jovens, contra ataques de saqueadores e assassinos, mas principalmente contra o ataque de caçadores de bruxas.

Existem três classes de bruxas: As bruxas puras, as bruxas impuras e as bruxas neutras.

As bruxas puras normalmente possuem poderes de cura, luz, amor entre outros. Esse tipo de bruxa extremamente raro e muito poderoso.

As bruxas impuras costumam ser do tipo venenosas, ou causam sentimentos como ódio e tristeza. Esse tipo de bruxa também é muito forte.

As bruxas neutras possuem poderes tipicamente ligados a elementos ou telecinese, poderes esses que podem ser usados para o bem ou para o mal.

Anualmente, acontece o festival das bruxas. É um evento que acontece um dia antes da grande travessia para o santuário. As bruxas inexperientes comparecem a fortaleza, para selecionar um guardião que as guie até seus destinos. Bruxas de famílias muito ricas podem escolher até mais de um guerreiro para acompanhá-las na jornada, embora isso vá contra as tradições. Mas existem alguns tipos de bruxa que são tão poderosas, que procuram guerreiros apenas para seguir o protocolo, não necessitando de proteção alguma.

Os guardiões contratados eram muito bem pagos e por isso essa profissão era muito  procurada por pessoas que tinham como intuito melhorarem de vida.

Naquele dia em especial, era o dia do festival e isso causava certa irritação a Ryu.

Ele treinou por muitos anos até se formar como um guardião, mas em seu coração repudiava a idéia de se tornar um.

Ele acreditava que todo o treinamento e preparação de um guardião era bom demais para uma função tão trivial.

“Os guardiões deveriam proteger o povo.”

Era seu mantra.

“Bruxas são o equilíbrio do mundo, devemos mantê-las a salvo da ignorância.”

Ivan, o mestre de Ryu, dizia sempre que lhe aparecia uma oportunidade.

Para o jovem guerreiro todas essas palavras eram nada mais nada menos que o fruto do tradicionalismo, gritante.

Mas de fato aquilo não lhe importava tanto, ele pretendia trabalhar por um tempo e depois se aposentar antes dos trinta. Parecia um futuro perfeito.

Deitado na grama que cercava seu campo de treino, ele refletia sobre essas coisas, enquanto ao seu redor seus companheiros corriam de um lado para o outro com os preparativos para o evento.

— Você não vai ajudar a levar essas cadeiras? — Um homem alto e incrivelmente branco parou alguns instantes, incomodado com folga do companheiro.

— Não estou interessado. — Ryu olhava com desdém para o rapaz.

— Se você ficar, nem que seja mais um maldito segundo, jogado nesse chão, eu vou garantir que você nunca mais sente. — Uma voz ameaçadora fez um frio inexplicável surgir na espinha do jovem guerreiro e ele levantou tão rápido quanto um piscar de olhos.

A autora da voz, uma mulher pequena, com cabelos que não passavam do seu pescoço e de aparência gentil, sorriu amigavelmente e seguiu seu caminho em direção ao salão de festas.

Aquela era Lya, ou como Ryu apelidou carinhosamente “A Lei”.

O homem que havia aparecido primeiro, deu de ombros e sorriu para Ryu com um sarcasmo característico. Ele se chamava Kai e era marido de Lya.

Kai e Lya eram bruxos, ambos trabalhavam em Otium como orientadores dos guardiões. Lya era uma bruxa neutra com especialidade em explosões e Kai era um bruxo puro, especificamente um bruxo de luz.

Ryu passou algumas horas trabalhando junto com os outros moradores de Otium até o momento em que foi abordado por seu instrutor:

— Os guardiões recém formados já podem sair para se arrumar!

— Arrumar? — Ryu estava confuso.

— Sim! Tomar um banho, pentear o cabelo e quem sabe fazer essa barba… — O homem analisou Ryu de cima a baixo.

Ryu acenou positivamente com a cabeça e saiu do salão, mas diferente do recomendado ele não foi para o alojamento, mas sim para uma das sacadas, afastadas da multidão.

O gado estava se preparando para ser escolhido e ele não queria fazer parte daquilo.

Era incrível o quanto as responsabilidades poderiam fazer um homem abandonar seus princípios.

Ele passou alguns minutos observando a lâmina brilhante da sua espada, até que um barulho de trombeta pôs fim ao seu sossego. As caravanas das bruxas haviam chegado e o alvoroço se tornou mais intenso. Diferente dos outros servos que correram para os seus postos a espera dos bruxos, Ryu permaneceu imóvel, sentado no chão, um pouco tentado a ir lá dentro buscar petiscos, mas completamente desinteressado no evento em si.

“Em algum momento uma bruxa vai aparecer atrás de um guardião. Eu não preciso ficar correndo atrás disso” Ryu refletia.

Foi então que ele ouviu alguns passos se aproximarem, um pouco distante ele pôde notar uma garota se debruçar sobre o muro da sacada.

Ela tinha longos cabelos castanhos e encaracolados, que alcançavam sua cintura, trajava um vestido azul marinho e tinha um semblante deprimido.

— Dia difícil? — Ele soltou.

A garota, que ainda estava com o rosto apoiado na fria mármore que compunha a sacada, se virou na direção de Ryu e apenas acenou positivamente com a cabeça.

Sentindo que havia conseguido uma abertura para conversa, Ryu se aproximou:

— Não é o melhor para mim também.

— Eu não queria vir para esse maldito festival… — A garota escondeu seu rosto mais uma vez na mármore.

— Nem eu… — Ryu suspirou — Mas eu moro aqui no fim das contas.

— Isso parece ruim. — A garota finalmente se virou para o garoto — Mas qual seu problema com o festival?

— A ideia de ser escolhido… para uma tarefa tão… inútil. — Ryu carregava raiva em suas palavras. — Só estou aqui pelo dinheiro.

— A travessia para o santuário é uma cerimônia centenária, muito importante para o equilíbrio do mundo. — A garota dizia de forma séria.

— É o que te ensinaram? — Ryu dizia com desdém — A propósito, de que Fortaleza você é?

— Fortaleza? — A menina se mostrou confusa — Eu sou da cidade!

— Você é civil?

A garota endireitou seu corpo e com um sorriso orgulhoso disse:

— Eu sou uma bruxa!

— Ah que maravilha. — O guardião revirou os olhos.

— O que foi? — Catherine estranhou a reação do rapaz — Que reação estranha.

— O que esperava? Aplausos? Uma reverência?

A garota permaneceu em silêncio, um pouco confusa.

— Bruxas são todas iguais, esperam ser exaltadas assim que se apresentam. — Ryu dizia de forma debochada. — Mas é realmente estranho que você tenha se disposto a falar com um reles guardião, desses que vocês tanto desprezam.

— Não acho que eu tenha direito de desprezar ninguém…—  A garota fazia círculos na sacada com a ponta do dedo.

— Não é questão de direito é a natureza de vocês. — Ryu mantinha os olhos fixos em um ponto qualquer evitando olhar para a estranha, enquanto recitava seu discurso de ódio.

— Generalizar é cruel.

— Escravizar também. — O garoto rebateu.

—  Eu nunca maltratei guardião nenhum.

— Você é da nova geração, como todos os bruxos desse evento, nunca sequer teve um pra maltratar.

— Argh...Você é tão irritante… — A bruxa estava a ponto de explodir.

Sem mais nenhum argumento em sua manga ela mostrou a língua para Ryu e entrou para o salão.


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Notas finais do capítulo

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Até a próxima!



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