O tempo nunca pareceu passar tão devagar quanto naquele dia, porém finalmente o sinal que dava fim à última aula soou pelos corredores de Rosewood High e logo Hanna tirou o celular da bolsa e digitou uma mensagem para Aria.

“Sala de Literatura em 10 minutos” — H

“Não” — A

“Não vou te atacar nem agarrar, só quero conversar com vc

Eu juro

To te esperando” — H

Na sala de literatura Hanna estava dividida entre olhar para o celular esperando uma confirmação de que ela apareceria e pensar em mil e uma coisas por minuto. Tudo parecia tão desordenado em sua mente agora. Gostava de Emily e tinha ciúmes dela ao mesmo tempo em que adorava beijar Aria sendo que apenas há algumas semanas atrás se sentia atraída tanto sexual quanto emocionalmente apenas por garotos. Que zona.

Mas pra que gastar tanto tempo e sanidade pensando nisso? Ainda era jovem demais para que se preocupar com esses rótulos idiotas. Talvez Aria estivesse certa e seu sentimento por Emily não passarem de uma confusão. E quem sabe o lance com a baixinha fosse apenas físico e passasse depois de um tempo? Afinal, toda garota de faculdade passa pela fase lésbica, não é? Era normal. Só aconteceu um pouco mais cedo no caso seu caso.

De tão introduzida que estava em sua própria crise existencial e seus questionamentos de “o que diabos está acontecendo com a minha vida?” Hanna apenas percebeu a presença de outra pessoa na sala quando sentiu seu corpo se chocando contra o chão e alguém sentando sobre sua barriga.

— Sua vadia desgraçada! — Spencer gritava enquanto distribuía tapas sem medir força em uma loira completamente atordoada.

— Spencer, para! — Pediu Hanna entre um “ai” e outro. — Me larga.

Por sorte, mesmo mudando de ideia no último minuto, Aria já estava perto o bastante da sala para ouvir os berros e correr para salvar uma de suas melhores amigas da outra.

O ódio parecia ter substituído todo o sangue nas veias de Spencer, o que tornou quase impossível imobilizá-la, porém Aria e Hanna conseguiram com muito esforço.

— Pensei que fossemos amigas. Como você faz isso comigo? — Ela gritava agitando o corpo inteiro para se soltar.

— Spencer! Me escuta! Era só parte do plano. Eu tinha que beijá-la. — Hanna tentou acalmá-la, mas era difícil falar com tom suave e segurar uma fera ao mesmo tempo.

— Não daquele jeito! — Ouvir a voz dela só fez com que a raiva e o vigor em tentar se soltar aumentasse. — Então era isso que a Emily tava insinuando naquela noite na pousada?! Isso era normal pra vocês?!

— Não, Spencer! Quando chegamos, vimos o Noel e a Peige por perto, então tinha que ser bem convincente! Só isso, eu juro. — Explicou quase gritando. — E o que ela disse não tem nada a ver com ela!

— Mentira! Se não tem nada a ver com a Emily, tem a ver com quem?

— Eu não posso dizer. — Hanna olhou para Aria de relance.

— Cadela mentirosa!

Spencer se agitava mais a cada segundo e quando estava quase conseguindo se soltar, Aria deixou que o desespero tomasse conta se si e gritou. — Conta, Hanna!

— Tem certeza? — Por mais que o momento não pedisse calma, Hanna queria se certificar de que não haveria arrependimentos por parte dela depois.

— Do que estão falando? — Spencer parou de se debater para mesclar o olhar de uma amiga para outra.

Aria assentiu fazendo Hanna suspirar e dizer. — Ok, eu te solto e conto tudo. Mas só se prometer não me bater mais.

— Tá bom, vou ficar quieta. — Prometeu.

Com cautela, as garotas saíram se cima da amiga para sentar no chão da sala. E, ao se ver livre, Spencer fez o mesmo, esperando a loira começar a falar.

— Bem, é que eu... E a Aria... Meio que... Nos beijamos. E a Emily acabou dando um flagra na gente.

— Como é que é?! Quando?

— Bom, no dia em que a Em ia pro Texas, mas desistiu, eu e a Aria fomos para a minha casa e começamos a jogar conversar fora como sempre só que dessa vez... Um assunto meio que foi puxando o outro que foi puxando outro e... Bem, acabamos decidindo nos beijar o que acabou sendo... Olha, eu realmente não estou a fim falar sobre isso com você. — Hanna cruzou os braços enquanto o rosto ficava ainda mais vermelho do que já estava por conta dos tapas que levara e do esforço para segurar a fera.

—Uau. — Spencer exclamou perplexa. — É sério isso?

— Sim. — Aria respondeu com uma expressão séria. — Mas bico fechado sobre esse assunto. Ninguém sabe além de nós duas, você e a Em.

— E o Caleb, que chegou junto com ela e viu. É por isso que nós terminamos meio que “do nada” e não estamos nos falando. — Hanna terminou de explicar.

— Aaaaaaaaaah. E agora vocês estão...

— Não! Não, nós não estamos. — Ambas enfatizaram ao mesmo tempo.

— Ok, tá certo. — Spencer se levantou passando as mãos pelas roupas para realinhá-las, então olhou para Hanna de forma fria e ameaçadora. — Sei que não foi com a minha Em, mas já que agora você tem... Esse interesse por garotas, só tenho uma coisa pra te dizer: Tente ser menos, bem menos, “convincente” da próxima vez se não quiser que eu quebre sua cara de um jeito que nem o melhor cirurgião plástico do mundo vai conseguir concertar. Entendeu?

— Entendi. — Murmurou Hanna de olhos arregalados depois de engolir em seco.

— Ótimo. — Spencer sorriu e sacodiu os cabelos antes de sair da sala deixando as duas sozinhas para finalmente ter aquela conversar.

Hanna ergueu-se do chão e começou a tentar se recompor, arrumando suas roupas desalinhadas e passando as mãos pelo cabelo que deveria estar em total desordem.

Montgomery sabia que apesar de ter a amiga mais vaidosa, patricinha e perfeccionista que poderia conseguir em Rosewood High, no momento Marin estava apenas tentando adiar o inicio da conversar que ela mesma insistira em ter, então teria de tomar a frente.

Respirando fundo, também ficou de pé e cruzou os braços, apoiando-se com o quadril na mesa do professor. — Então, Hanna? Não era você que queria falar comigo? Estou aqui, como pediu. Sobre o que quer conversar?

— Sobre o que... Aria! Você sabe bem que eu quero falar de nós. Temos que resolver isso. — Hanna puxou uma cadeira e se sentou de frente para Aria.

— Nós? Não existe nenhum “nós”, Hanna. — Replicou com a expressão mais convicta que tinha. — A gente se beijou e só. Fim da história.

— Fim da história uma ova! Nós nos beijamos, nós gostamos, nós repetimos. E até me arrisco a dizer que nós queremos nos beijar de novo. — Hanna cruzou os braços e ergueu uma das sobrancelhas bem feitas como se a desafiasse. — Estou errada?

— Bom... Não, mas... — Aria na verdade não tinha algo preparado para concluir a linha de pensamento, então foi um enorme alívio ser interrompida.

— Shiii. Olha... Eu adoro te beijar. Sério, é ótimo, só que... Estaria mentindo se dissesse que gosto de você mais do que como amiga. Eu seria muito cara de pau se te pedisse pra gente ficar sendo... Sei lá. Amigas coloridas?

— Passa do limite do “muito”. Você seria... Tipo a rainha da cara de pau. — Respondeu Aria fazendo com que Hanna desviasse o olhar, extremamente sem graça. — Mas, pra ser sincera, por mais que pareça um tanto quanto horrível que duas amigas se usem desse jeito, minha atração por você tá aumentando cada vez que te olho desde o dia que nos beijamos na sua casa. Ao ponto de me fazer achar essa ideia super plausível.

Marin sorriu e levantou da cadeira, se acomodando entre as pernas de Montgomery e suavemente pondo as mãos na cintura dela. — Então não seria um problema se eu, sei lá... Te beijasse agora?

— Hmmmm. — Enquanto enlaçava o pescoço alvo com seus braços e puxava o corpo feminino mais para perto envolvendo as pernas ao redor do quadril, disse com um fingido tom pensativo. — Acho que não, mas não tenho certeza. Porque não faz o teste e descobre?

Hanna riu e finalmente uniu seus lábios em um beijo doce com dois sabores de gloss se misturando. — E agora? O que acha?

— Acho que problema mesmo seria se você parasse. — Aria sorriu maliciosa, fazendo ambas riem antes recomeçar.

O tempo parecia parado enquanto as línguas das duas amigas brincavam na boca uma da outra. Mas não estava e ao perceber isso, Hanna sussurrou sem quebrar o contato. — Aria.

— Hm?

— Que horas... São?

— Como... Como eu... Vou saber?  — Aria também não interrompia o beijo para falar.

— Se estiver... Tarde... Nós... Vamos ter... Problemas.

— Sim... Então olha... A hora... Meu celular... Tá no bolso... Da calça.

— Tá bom. — Hanna levou a mão até a parte de trás do jeans de Aria e só depois de olhar para a tela do celular, separou seus lábios de súbito para poder soltar uma gargalhada. — Caramba. Estamos aqui há tempo demais, nossas mães vão nos matar.

— Fala sério. Não pode ser tão tarde. — Replicou franzindo o cenho.

— Ah é? Dá uma olhadinha aqui, querida. — Ainda rindo mostrou o aparelho para ela.

— Ah cara! Eu estou muito ferrada! — Exclamou Aria empurrando Hanna e pulando da mesa do professor para pegar a mochila que havia deixado jogada perto da porta da sala ao ver a ceninha de Spencer mais cedo.

— Ei, calminha, senhorita. — Hanna também recolheu própria bolsa.

— O que foi? — Virou-se para encará-la.

— Um beijo de despedida. — Chamou-a com o dedo.

— Sério, Hanna? Você sabe o quão atrasadas estamos e que quando chegarmos nossas mães vão nos matar. — Aria colocou as mãos na cintura enquanto fazia sua melhor expressão de descrença.

— Primeiro: Já estamos ferradas de qualquer jeito. Segundo: Não sei quando vou te beijar de novo e, caramba, você faz isso muito, muito bem. Terceiro: O meu beijo é uma delícia e você vai se arrepender se não me der um último antes de ir embora. — Respondeu Hanna listando nos dedos os motivos que ia citando.

Aria bufou um sorriso e caminhou em passos firmes até a amiga, segurou-a por ambos os lados da jaqueta e lhe deu um beijo de tirar o fôlego. — Sim, seu beijo é delicioso mesmo. Mas, sabe, o meu melhor. — Soprou contra os lábios da loira e a soltou, deixando-a atônita.

— Uau, que garota — Marin murmurou para si mesma quando a baixinha sumiu porta a fora.

Depois de alguns segundos sorrindo feito idiota, sacodiu a cabeça e também se retirou da sala, só então lembrando-se de que estava de carona e provavelmente ou deixara mais uma amiga furiosa em um único dia ou fora deixada para voltar para casa a pé.