Perdido em outro mundo escrita por Lilian T


Capítulo 7
Livrarias e Audiências


Notas iniciais do capítulo

Oi jovens potterheads leitores de fanfics!
Obrigada a todos que estão acompanhando minha fanfic. Se uma única pessoas ler o capítulo até o fim, ficarei realmente satisfeita. Espero melhorar a qualidade sempre e atender qualquer expectativa que surja.
Mas para descobrir se vou mesmo conseguir é melhor conferir o capítulo.
Boa leitura.



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Multiverso é um termo para descrever um hipotético grupo de universos possíveis. A realidade em que vivemos pode ser apenas mais uma entre um infinito de variações.

Existem um número imensurável de versões de nós mesmos, algumas fazendo exatamente a mesma coisa que fazemos agora. Outras, vivem vidas completamente diferentes.

O que alguém pode encontrar quando atravessa a barreira entre os universos?

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Harry se virou e viu que Ronald segurava um uniforme escolar idêntico ao que estava vestindo.

— O que é isso? — indagou, sem entender.

Gina Winston sorria, bastante animada.

— Seu disfarce — respondeu. — Você vai vestir o uniforme de nossa escola e sair com a gente como se fossemos colegas de turma. Simples assim.

— Mas se alguém suspeitar...

— Policiais não param estudantes. Ninguém vai abordá-lo na rua e pedir documentos se pensar que você é um aluno indo à livraria estudar.

— E a propósito — acrescentou a ruiva — é para lá que vamos.

— E por que iriam querer que eu os acompanhasse até lá?

— Porque você simplesmente não tem mais nada para fazer — falou Ronald, como quem achava que aquilo estava demorando demais.

Gina, contudo, cruzou os braços e o mirou com firmeza.

— Estive observando você — contou ela. — Desde que chegou, você fica sentado do lado da janela. Há quanto tempo não sai de casa? Há umas duas semanas, mais ou menos?

— Quase isso...

— Pois aí está uma chance de sair. Pode vir com a gente ou não, você é quem sabe. Mas seria bom se fosse.

Ronald não demonstrou sentir a mesma coisa. De fato, parecia aborrecido com aquele transtorno.

Harry queria mesmo ir um pouco até a rua, repirar ar puro para variar e, em uma situação normal, teria aceitado a oferta sem pestanejar. Desde que entrara em Hogwarts, ele desobedecera mais regras do que qualquer outro aluno que conhecera e era destemido o suficiente para se arriscar em um passeio proibido. Contudo, ali havia os Parker.

Pensava no que aconteceria ao casal se algo desse errado e ele fosse preso.

— Meus pais podem ficar preocupados se notarem que fugi — argumentou Harry.

— Você estará conosco. Não haverá problema algum — insistiu Gina.

— Vamos lá! — esbravejou Ronald, impaciente. — Aceita logo para a gente ir depressa.

— Certo. Eu vou.

— Ótimo. Vista isso!

Ronald entregou o casaco e a calça para Harry e Gina saiu para que ele se trocasse.

Minutos depois, os três alcançaram o saguão de entrada da estalagem. Gina passou por Marta Winston e avisou:

— Mãe, se precisar de mim, vou estar lá com o Ronald e o Harry.

— Claro, Gina.

Gina esperou a mãe desaparecer na cozinha antes de sair. Havia uma meia verdade no que dissera. Ela, Harry e Ronald estariam juntos se a mãe os procurasse, mas não dentro do prédio como dera a entender na frase. Se os Parker perguntassem por Harry, a Sra. Winston apenas diria "Está lá com Ronald e Gina", sem se preocupar onde era o tal "lá".

Assim que atravessou a porta, Harry inspirou profundamente o ar gélido sentindo-o invadir seus pulmões. A rua estava quase vazia, se não fosse por umas duas ou três pessoas transitando por ali. Os três garotos então puxaram as golas das blusas e avançaram pela calçada cheia de neve.

Tal qual reparara antes, havia destroços de madeira e concreto espalhados aqui e ali, além de um ou outro andaime disposto ao lado dos prédios cinzentos e danificados. Não que alguma coisa ali não fosse cinzenta, pois tanto a rua, quanto a calçada e os edifícios tinham um aspecto sem cor nem vida em meio a neve branca.

— Hum, por que escolheram ir em uma livraria? Está havendo algo especial ou só vão comprar livros mesmo?

— Ronald está estudando para um concurso e precisa de um livro do edital que está faltando.

— Que tipo de concurso? — perguntou Harry, pois não imaginava seu amigo Rony fazendo algo assim.

— É para ingressar em uma das academias preparatórias da marinha. Ele quer ser fuzileiro naval.

"Definitivamente, Rony não faria algo assim", pensou Harry surpreso. Gina continuou:

— Nosso irmão, Guillermo, se alistou na aeronáutica e é piloto. Mas César não quis ir e agora trabalha com nosso pai, numa oficina. Patrick arrumou um cargo de secretário no governo, arquivando papeis, enquanto Felipe e Gabriel conseguiram uma vaga na Academia e se alistaram recentemente no exército. Agora, Ronald quer ir também.

— Mas é claro — disse o ruivo com certo orgulho. — Estamos em guerra. Alguém tem de impedir que aqueles germânicos invadam a ilha...

— E vai ser você? Estamos perdidos — a irmã riu com gosto.

— Você está brincando com uma coisa muito séria — falou Ronald exaltado. — Não tem graça.

— E quem disse que estou debochando da guerra? — rebateu Gina. — Estou rindo especificamente de você, que pensa que será o próximo Ryder!

— Como se fosse possível haver outro Ryder — disse ele, com desprezo.

— Quem é Ryder?

Ronald e Gina olharam para ele descrentes, como se tivesse dito uma loucura.

— Você está de brincadeira? O Primeiro-ministro Ryder, é claro!

— Ahh... — fez Harry.

Ouvira Lílian e Tiago falar algo uma ou duas vezes sobre o ministro, mas sem grande importância. Achara que se tratava de uma outra versão de Cornélio Fudge, mas alguém como ele jamais inspiraria tanta admiração em um jovem como Ronald.

— Ele é um herói — continuou o ruivo. — Na Batalha por Aberdeen, depois que o navio dele foi atingido por fogo inimigo e começou a afundar, ele ficou para trás e resgatou quatro homens do naufrágio.

— Sozinho?

— Claro que sim! Ele ganhou uma medalha de honra! Todos aprovaram quando se tornou Ministro. É um homem muito inteligente e competente...

— E é muito simpático também — emendou Gina. — Todo mundo sabe disso, Ronald.

— Servir a marinha é a melhor contribuição que alguém pode dar. É bem melhor do que ficar escondido num buraco rezando para que uma bomba não caia na sua cabeça.

Nenhum dos outros dois discordaram daquela afirmação. Eles continuaram caminhando e logo Harry percebeu que muitas pessoas compartilhavam do discurso de Ronald. Dispostos em postes e paredes, vez ou outra ele via um cartaz com propagandas de alistamento e exaltação do serviço militar. Não era de se admirar que adolescente não ficasse empolgado com a possibilidade de se tornar um herói do povo.

Harry, no entanto, já tivera na vida suas doses de fama e heroísmo, e podia dizer que não havia nada de divertido em ambas.

Eles chegaram a pequena livraria e um sininho tocou quando eles adentraram pela porta. Harry sentiu o leve cheio de livros usados e antigos, e teve a lembrança distante da biblioteca de Madame Pince.

— Boa tarde, em que posso ajudar?

Harry se assustou ao ver Hermione se erguendo detrás de um pequeno balcão de madeira. Havia um livro em sua mão, no qual ela colocou um marcador de página antes de fechá-lo, depositando-o à um canto.

— Ah, é você que está aqui? — disse Ronald, com uma careta.

— É meu horário de trabalho, Ronald — retrucou a garota, retribuindo a careta. — É claro que estou aqui. Ou será que seu poder de observação é tão pobre que é incapaz de deduzir o óbvio?

Ronald deu um muxoxo de desaprovação, empinou o nariz e passou reto por Hermione. Gina por outro lado, adiantou-se alegremente até ela:

— Olá, Eveline!

— Oi, Gina — cumprimentou ela.

— Este é nosso novo hospede, Harry — apresentou a ruiva, sem delongas. — Harry Parker, esta é Eveline Graham.

Harry ficou pensando em quantas pessoas conhecidas encontraria naquela lugar. Seria apenas coincidência que aquelas as pessoas dali convivessem com as mesmas pessoas que seus outros eus conviviam em seu mundo?

— Vai levar alguma coisa hoje, Parker? — perguntou Eveline, a sósia de Hermione.

— Hum... ah, não. Hoje não. Desculpe.

— Porque não dá uma olhadinha. Talvez encontra algo que goste. Temos livros sobre arte, ciências e até alguns romances... Mas nada subversivo, é claro.

— Subversivo?

— Literatura censurada — ela notou o olhar confuso do garoto. — É claro que sabe da classificação do Ministério quanto ao conteúdo literário, não é? Todos os livros tem de ser aprovados pelo Secretaria de Comunicação e Cultura. Há uma lista gigante de textos banidos...

— Ah, sim. A classificação, sei  — disse Harry, fingindo saber do que ela estava falando.

— Vendemos livros novos e usados — continuou Eveline. — Seu amigo sempre leva algo sobre biologia e física. Alguém até poderia achar que é erudito.

— Não sei porque o tom irônico, Graham — disse o ruivo. — Eu estudo muito...

— E não aprende nada, Ronald — replicou a garota, com desdém, fazendo-o bufar. — Lembra aquela vez que tentou ler o livro de Dumberton? Não entendeu uma palavra...

— Dumberton? — o nome chamou a atenção de Harry.

— Alfonso Dumberton, o físico — explicou Eveline. — Você não deve ter lido o livro também. É um professor muito famoso.

— Ele é físico?

— Foi o que eu disse, não? Mas sim, ele é físico. Humm, veja... — ela deu a volta no balcão e foi até uma das prateleiras de livros ali perto. Apanhou um calhamaço e mostrou a foto atrás à Harry. — Aqui está ele. Não precisa ter lido o livro para saber quem é. Ele ganhou muitos prêmios por sua pesquisa cientista.

Como Harry suspeitava, na capa de trás do livro havia a fotografia de um velho igual à Dumbledore, só que sem a barba comprida e sem os longos cabelos brancos. Ainda assim, não havia dúvidas de que era ele.

— A pesquisa foi sobre o quê?

— Relatividade... e depois a Teoria das Cordas. Acredita que ele defende a existência de vários universos? Não parece loucura?

Harry arregalou os olhos. Aquilo era tão providencial!

— Hum, Eveline... Por acaso não saberia me dizer onde ele trabalha, saberia?

A garota olhou para Harry com uma ruguinha entre os olhos e depois para Gina, como quem diz "Qual o problema dele?". Então voltou-se novamente para Harry e falou:

— Ele não trabalha em lugar nenhum. Aposentou-se a muitos anos, mas sei que ainda vive em Londres.

— Sabe como posso entrar em contado?

— Bem, talvez o encontre na lista telefônica. Mas porque quer falar com ele, assim tão de repente.

Harry encolhe os ombros.

— Sempre quis conhecer uma pessoa famosa.

***

Harry deixou a livraria de Eveline Graham meia hora depois, ao lado de Gina e Ronald Winston, que carregava um livro particularmente pesado debaixo do braço.

— Aquela garota me irrita tanto — exclamou o ruivo quando chegaram a esquina.

Harry olhou de esguelha para o garoto e Gina deu uma risadinha.

— Do que está rindo?

— Ah, Ronald! Está na cara que gosta dela!

— Quê? Eu não! — negou ele com veemência. — Já viu os dentes da frente dela? E o cabelo parece uma juba!

— Não achei tão cheio assim — falou Harry, sendo sincero. O cabelo de sua amiga Hermione era bem mais volumoso. — E ela pareceu ser bem inteligente. Foi bem educada comigo.

Ronald mirou-o com um brilho nos olhos.

— Foi, é? Por que não a convida para sair, se gostou tanto dela?

Harry piscou e segurou o riso. Pelo tom de Ronald, se ele fizesse tal coisa, o ruivo lhe daria um soco. Gina gargalhou ao lado deles e o irmão bufou, mal humorado.

— Eveline é mesmo bem legal — disse ela à Harry. — Ronald fica implicando por que ela não concorda com guerra. Diz que o governo devia tentar um tratado de paz e acabar com isso.

O ruivo resmungou com ironia:

— Ah, claro! Como se já não tivéssemos tentado antes.

— O pai dela morreu na guerra, sabe? — contou Gina ignorando o irmão. — Ele era médico e foi convocado pala linha de frente. Desde então Eveline é contra o conflito. A livraria é da mãe dela.

— E você acha que ela está certa? — comentou Harry.

Gina encolheu os ombros, mas Ronald foi taxativo.

— Obviamente, não! Não entende que os países vizinhos nos odeiam. Se não revidarmos, invadirão nossas terras e tomaram tudo o que é nosso. Vai implantar aquele governo horrível deles aqui e não poderemos fazer nada. Estamos lutando para nos defender.

O discurso de Ronald era fervoroso e, desta vez, Gina concordou com ele.

Harry se perguntou como os outros países podiam ser piores que a Bretanha, cujas leis eram bastante rígidas e pareciam apavorar a população. Ficou imaginado se havia algum tipo de Grindelwald ou Voldemort governando as tais Germânia e Balcânia.

Se fosse o caso, os bretões tinham mesmo que lutar. Não era isto que ele estava tentando fazer em seu próprio mundo?

De repente, Gina parou.

— Olha Ronald, quem está ali? — ela apontou para o outro lado da rua, um garoto carregando uma pesada sacola de compras. — É o Neville. EI, NEVILLE!

Ela gritou tão alto, que o jovem se assustou. Ele olhou na direção deles e Harry confirmou que se tratava de Neville Longbottom — ou pelo menos um garoto igualzinho à ele.

— Oi, Gina!

Eles atravessaram a rua para cumprimentá-lo.

— O que faz por aqui, Neville? — perguntou Ronald, se aproximando.

— Comprando verduras para minha mãe — o rapaz de rosto redondo ergueu as sacolas. — Neste bairro vendem as frescas mais baratas...

Harry registrou a palavra "mãe" e não pode refrear a pergunta:

— Sua mãe está bem?

— Eu espero que sim — ele respondeu, olhando para Harry surpreso. — Pelo menos era assim que ela estava quando saí de casa.

— Então você mora com sua mãe?

— Moro, sim — disse Neville, achando as perguntas estranhas. — Ainda moro com meus pais. Quer dizer, sou novo demais para viver sozinho...

— O que é que tem ele morar com os pais? — perguntou Ronald. — Você também mora com os seus, ué?

— Nada. Só estou perguntando...

Harry olhou para Neville. Tal qual Lílian e Tiago nunca foram mortos por Voldemort naquela realidade, Franco e Alicia Longbottom jamais foram torturados pela Maldição Cruciatus. Neville fora criado pelos pais, assim como Henry Parker vivera ao lado dos seus até os doze anos.

— Neville, deixe-me apresentar Harrison Parker — disse Gina. — Harry, este é Neville Leeford.

— Leeford? — repetiu o garoto. "Outro sobrenome diferente", pensou. — Prazer em conhecê-lo.

— Igualmente — eles apertaram as mãos. — Desculpe não ficar para conversar. Preciso levar essas sacolas para casa e ir ajudar meu pai na farmácia.

— Farmácia?

— O pai de Neville é farmacêutico.

— E minha mãe também — completou ele, sorrindo. — Mas só meio período. O resto do tempo ela fica me mandando fazer coisas.

Neville riu com gosto antes de se despedir e continuar o caminho. Apesar de reclamar das tarefas, parecia feliz.

Harry e os Winston retornaram para a estalagem da família dos ruivos sem nenhum imprevisto ou encontro inesperado.

Não haviam demorado mais que uma hora e ninguém dera por falta deles. Ainda assim, Harry procurou o Sr. e a Sra. Parker pouco depois de tirar o uniforme que Ronald emprestara-lhe.

Contou à eles que tinha saído do prédio com os ruivos e atravessado dois quarteirões sem permissão. O garoto podia ter saído limpo daquela infração, mas considerou que devia ser sincero com eles que, afinal, estavam fazendo de tudo por ele sem terem a mínima obrigação.

Esperou uma bronca daquelas, do tipo o tio Válter costumava dar. Contudo, não houve berros nem castigos. Os Parker se mostraram primeiramente assustados, depois preocupados e por fim aliviados.

— Bem, faz mais de uma semana que estava trancado — disse Lílian, com voz compassiva. — Não o culpo por querer sair. Mas foi tudo uma questão de sorte não ter sido pego. Da próxima fez que quiser respirar lá fora, tem de nos contar. Teremos de planejar como será, mas não vamos impedi-lo, entende?

Harry ficou olhando para ela.

Lílian Parker era do jeitinho que ele sempre imaginara sua mãe: carinhosa, preocupada e paciente. O garoto teve vontade de abraçá-la, mas não o fez.

Tiago Parker também não parecia aborrecido. Na verdade, tinha um ar de quem o compreendia bem. Falou apenas que fora uma imprudência e que devia tomar cuidado para não se meter em apuros.

Os três ficaram juntos até a tarde do dia seguinte, quando deixaram a hospedaria e seguiram de metrô para o Ministério, onde seria a audiência de Harry.

Seria em uma das salas do segundo andar do Palácio de Westminster.

Era estranho para Harry entrar lá, pois em seu mundo aquela era a sede do Parlamento trouxa.

Ali, porém, sem a presença da monarquia, as Câmaras dos Lordes e dos Comuns foram reformuladas e rebatidas Câmara Superior e Inferior. Elas ocupavam todo o primeiro andar, enquanto quase mil salas restantes foram preenchidas com salões de conferências, escritórios e departamentos públicos

Harry e os Parker entraram por uma das suntuosas entradas e se dirigiram para o Departamento de Registros, localizado na parte leste do segundo andar.

O garoto estava tão nervoso com o que aconteceria a seguir que mal pode reparar nos detalhes da arquitetura interna. Eles seguiram pelas longas escadarias e percorreram um longo caminho até chegarem a uma pequena recepção, onde se sentaram em um banco de madeira comprido e aguardaram.

Assim que o relógio badalou às onze da manhã, uma mulher apareceu e Harry levou um susto ao ver que era Rita Skeeter.

— Venham comigo — disse ela, com voz entediada.

O emprego de secretária não devia ser nem um pouco empolgante quanto o de uma repórter mexeriqueira, pensou Harry.

Eles seguiram-na por um comprido corredor e pararam diante de três portas, destinadas a cada um deles.

— As entrevistas são feitas separadamente — disse ela ao ver expressão de Harry. — Assim não haverá possibilidade de combinarem respostas ou interferirem no relato um do outro.

Harry lançou um último olhar ansioso à Lílian e Tiago, antes de girar a maçaneta e atravessar a porta.

Deparou-se com uma sala não muito grande, que não conservava nenhum um pouco do glamour do resto do prédio.

Ali, havia um homem sentado atrás de uma mesa e o Harry também o reconheceu. Seu rosto estava sério e cansado, muito diferente da face angustiada que o garoto vira da última vez, quando tivera de contar-lhe como seu filho fora assassinado.

De fato, aquele Amos Diggory tinha a expressão de um homem que se conformara em trabalhar em um emprego que detestava.

— Sou o oficial Amadeu Kirke. Sentem-se — mandou ele, os olhos fixos em uma folha em suas mãos. — Harrison Tiago Parker. Está aqui porque conseguiu perder sua autentificação.

— Sim, senhor.

Ele deu um resmungo de reprovação, como se fosse a coisa mais idiota de que já tivera notícias.

— Como conseguiu fazer isso, Sr. Parker? — indagou

— Eu estava patinando em um lago congelado quando o gelo cedeu. Eu afundei e tive de tirar o casaco par conseguir sair. Ele sumiu na água. Meus documentos estavam no bolso dele.

O Oficial Kirke ergueu os olhos para ele, avaliando-o.

— Quantos anos tem, Sr. Parker?

— Dezesseis, senhor.

— E onde mora, Sr. Parker?

— No Largo Evergreen, número 121 — Harry contou —, em Windshill. Região norte da ilha.

— Há quanto tempo mora lá?

— A cerca de quatro anos, senhor — mentiu.

— Onde morava antes?

— Em Castleton, senhor, com meus avós paternos — mentiu Harry novamente.

— Como se chamavam?

— Fernando e Efigênia Parker.

— Por que não morava com seus pais?

— Porque trabalhavam em Londres e eu tinha asma. Fui morar com meus avós nos arredores de Castleton, onde o ar era mais puro. Eles ficaram na capital com meu irmão, Henry.

E assim correu a entrevista.

Uma sessão de perguntas e respostas intermináveis. No início não eram difíceis, talvez um tanto monótonas. Em que escola estudou, onde ficava localizada, quem eram colegas de classe — coisas simples que Andy Russell elaborara e que Harry decorara com o auxílio de Lílian.

No entanto, conforme a entrevista avançava, as perguntas continuas se tornaram mais pessoais. Como era a aparência das crianças, com quem conversava mais, onde a avó fazia compras? A pior parte foi dizer como era seu relacionamento com Henry, onde estava e o que fazia no dia em que ele morreu, e como se sentira quando recebeu a notícia.

Harry percebeu que não Kirke queria vencê-lo pelo cansaço, tentando fazê-lo entrar em contradição. Fazia perguntas detalhadas, repetindo-as muitas vezes. Mostrou-lhe as fotos — as quais Andy falsificara — e quis saber a história por trás de cada uma. Pegou também os boletins da escola — também falsos — e mostrou a Harry, para que ele as confirmasse.

O processo inteiro demorou várias horas e deixou Harry esgotado. Foi por um milagre que ele não se enrolou com as mentiras. Ou talvez fosse o desejo de que as coisas que dizia fossem verdades.

E mesmo que o Oficial Kirke não parecesse inteiramente convencido, tal qual os Parker afirmaram, a semelhança de Harry com eles favorecia a história: pareciam um casal comum com um filho descuidado.

Não havia a necessidade de averiguar de forma mais minuciosa a autenticidade dos documentos.

Já era tarde quando Harry foi liberado sentindo seu estômago dolorosamente vazio. Ainda esperou um tempo até que Tiago e depois, Lílian. Depois disso, aguardaram mais uma hora antes que a versão secretária de Rita Skeeter lhes entregasse os papeis de identificação carimbados.

Ele apanhou os documentos e os três apressaram-se à sair dali, as pernas bambas de fome. Não tardou para que chegassem às imensas portas de saída do Ministério, mas mal haviam acabado de atravessá-las, quando Harry ouviu uma voz horrivelmente familiar:

— Ora, ora, e o que temos aqui?

Harry arregalou os olhos e deixou escapar em um gemido:

— Não pode ser!


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim.
Bem, então a versão da nossa querida Hermione apareceu. Ohhh!
Tenho de pedir desculpas aos fãs da personagem por trocar o nome dela, mas a verdade é que "Hermione" é um nome bastante incomum, então me pareceu mais plausível mudá-lo. Aguardem a aparição de um Dumbledore em breve, heeeeh!
E quem será a pessoa que Harry encontrou ao sair do Ministério? Só digo que coisa boa não é.
Comentários, críticas e sugestões são sempre bem vindos.
Obrigada por lerem até aqui.



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