Perdido em outro mundo escrita por Lilian T


Capítulo 18
Sobre outros mundos


Notas iniciais do capítulo

Olá de novo.
Bem, jovens leitores, no último capítulo Harry foi levado para o gabinete do Primeiro-Ministro, Thomas Ryder, a quem ele descobriu ser a versão de Tom Riddle daquele universo paralelo. E o pior, ele parece querer alguma coisa com o garoto. Mas o quê?
Vocês podem conferir o resto da conversa entre eles logo abaixo!
Boa leitura.



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Harry se remexeu desconfortavelmente na cadeira.

O Primeiro-Ministro, Thomas Ryder, estava sentado diante dele, encarando-o com um olhar penetrante contrapondo-se ao seu sorriso simpático e encorajador. Ryder era uma versão mais madura do Tom Riddle, que o garoto vira pela primeira vez na Câmara Secreta, e correspondia ao Lord Voldemort daquele mundo.

Aquilo por si só já poderia ser bem inquietante para Harry Potter, mas as coisas estavam ficando ainda mais tensas, pois o Primeiro-Ministro não apenas acreditava em sua estranha origem, como estava pressionando-o para que a admitisse.

Harry havia revelado tudo ao Prof. Dumberton, à Ronald Winston e Eveline Graham no dia anterior, e repetira a história para Severo Statham, na prisão. No entanto, agora não parecia uma atitude prudente.

Conhecendo Voldemort em seu mundo como Harry conhecia, sabia bem que devia haver ali algum propósito mais sinistro.

Thomas Ryder observou a relutância do garoto. Inclinou a cabeça para o lado e avaliou-o com paciência, como se fosse um professor diante de uma criança teimosa, dizendo:

— Lembre-se, Harry: Tiago Parker ainda está preso em alguma cela escura, assim como estava pouco antes de vir para cá. Sei que deve se preocupar com ele. Não quer que passe pelo que você passou, não é?

Ele olhou para as pontas dos dedos do menino sobre o tecido da calça, que estavam enfaixadas, depois que teve suas unhas arrancadas a força. O rapaz cerrou os punhos e fitou-o com dureza.

— Só precisa dizer sim ou não. — continuou Ryder. — Aquilo que disse ao oficial Statham durante o interrogatório é verdade?

Contrariando todos os seus instintos, Harry respondeu

— Sim.

— Aah! Excelente!

A satisfação do Primeiro-Ministro foi evidente, ao contrário dos outros oficiais na sala. Statham se remexeu em seu canto, uma ruga de impaciência formando-se em sua testa. Turner arregalou os olhos e Campbell abriu a boca, imprimindo-lhe uma expressão apalermada no rosto.

— Muito bem, Harry — continuou o Primeiro-Ministro. — Pode me explicar exatamente como isto aconteceu?

— Foi apenas um acidente.

— Um acidente?

— Sim... Eu não queria ter vindo para cá... Eu toquei no orbe e ele simplesmente me transportou.

— Apenas tocou nele? — repetiu o Primeiro-Ministro, menos animado. — O que tinha feito antes disso? Onde estava? Quero que me diga tudo...

O garoto respira fundo e falou:

— Há pouco mais de dez dias, encontrei a Pedra Elisiana escondida em uma sala secreta na escola...

Harry então contou tudo, da mesmo forma que relatara ao Prof. Dumberton: A sala secreta, o achado da caixa misteriosa, seu encontro com diretor, que lhe explicou do que se tratava. Em seguida, relatou como a esfera de cristal caíra da mesa e a forma que brilhara quando ele a agarrou no ar, para não se espatifar no chão. Depois disso, ele só se lembrava de ter se ver em meio à uma floresta escura e caminhar até ser encontrado por Lílian e Tiago. Nenhum dos dois sabia nada sobre aquela história e só o acolheram por ser parecido com o filho deles.

— Parecido não — corrigiu Ryder. — Idêntico.

— É... idêntico.

— Então os Parker conseguiram documentos falsos para o garoto idêntico ao seu filho falecido. Ah, eles devem ter pensado que você poderia substituir o precioso menino. Eles nem pestanejaram para ajudá-lo. Sequer se importaram em se arriscar à vir a Londres para enganar o Mistério, mesmo sabendo o que se aconteceria se a farsa fosse descoberta, como de fato aconteceu.

"E você nem se dignou à dizer a verdade à eles. Visitou Dumberton e conseguiu o livro que queria. Planejava abandoná-los depois de tudo o que fizeram por você... Isso não me parece muito justo..."

Harry arregalou os olhos.

Thomas Ryder dizia aquilo em tom de reprimenda, como um professor preocupado passando um sermão em um aluno desobediente, para que o garoto refletisse sobre suas escolhas. Mas no fundo dos seus olhos, Harry viu que a intenção do discurso era apenas magoá-lo.

Atrás dele, mesmo que não pudesse ver, Statham crispava os lábios, contrariado. Não acreditava naquelas bobagens, mas a mera possibilidade de Lílian ser enganada e ferida de alguma maneira por aquele garoto, enchia-o de raiva.

— E como é o seu mundo, Harry? — continuou o Primeiro-Ministro.

— Em que sentido?

— É parecido com este? Ou são muito diferentes?

— É parecido em algumas coisas, mas diferente em outras — disse Harry, mas logo percebeu que a resposta não seria o suficiente e acrescentou: — No meu mundo os países não estão em guerra. pelo menos não o meu. A Bretanha se chama Reino Unido, é composta apenas nas ilhas... Muitos fatos históricos são diferentes.

— Sem guerras? Hum... — Ryder sorriu, com o olhar longe, perdido em uma reflexão por um instante. Despertou de súbito e voltou-se novamente para Harry: — E você é mesmo um bruxo, como disse à Statham?

Qualquer um que perguntasse tal coisa poderia soar ridículo, mas Ryder tinha maneiras tão dignas e uma expressão tão séria, que ninguém riu. Os oficiais permaneceram em silêncio, ainda que a conversa inteira soasse absurda para seus ouvidos, principalmente quando o garoto respondeu:

— Sim, sou um bruxo.

— E há muitos bruxos em seu mundo? São eles quem governam?

— Temos um sistema de governo separado dos trouxas, os que não são bruxos — explicou ele, quando viu a expressão confusa do ministro. — Eles sequer sabem que existimos. Assim não há lutas pelo poder, como acontece aqui.

O Primeiro-Ministro sorriu outra vez. Parecia apreciar muito o fato de haver um universo onde os países não lutavam entre si. Harry ficou imaginando se ele queria descobrir um sistema político eficiente ou receber algum tipo de ajuda para acabar com a guerra em seu mundo. Ou se ele queria apenas pular fora daquela confusão, fugindo para outra dimensão? Ele tinha tanta certeza de que era real.

Harry decidiu perguntar:

— Você acredita mesmo que sou de outra realidade. Por quê?

Thomas Ryder piscou. Pensou um pouco, depois reclinou-se na cadeira e explicou:

— Sabe, meu maior desejo ser conhecido como o maior Primeiro-Ministro que já viveu — falou, em voz mansa. — Sempre acreditei que para conseguir isto, era preciso enxergar muito além do que os meus oficiais e cidadão podem ver. Planejar com cuidado e calcular todas as possibilidades. Com o tempo, percebi que tinha de manter minha mente aberta e trabalhar em todas as vertentes, até mesmo aquelas que um cético como o oficial Statham jamais aprovaria.

"Não me entenda mal, Statham — acrescentou, olhando para o homem parado do lado oposto da sala. — Não é uma recriminação. Na verdade, o fato de ser uma pessoa inteiramente racional é o que o torna um excelente Inquisidor. A verdade é na maioria dos casos é sempre a mais simples."

O Primeiro-Ministro mirou Harry outra vez.

— Eu, entretanto, creio em coisas que a maioria julga serem impossíveis. Creio tanto que há anos criei um departamento, que muitos poderiam considerar pouco ortodoxo. Seu objetivo é analisar assuntos ainda obscuros, como física quântica, tecnologia avançada e ocultismo.

— Pesquisam sobre magia? — indagou Harry.

— Ou o que se aproxima dela — falou Ryder — incluindo um certo artefato muito similar à este...

O garoto arregalou os olhos.

— Uma Pedra Elisiana? Existe outra com vocês? — exclamou, entendendo de súbito a situação.

— Ah, sim — confirmou o Primeiro-Ministro, sorrindo mais uma vez. — Um de meus pesquisadores estava justamente trabalhando com a esfera à algumas semanas. Estava determinado a provar a existência de outras dimensões usando o artefato, com base nos relatos sobre ela. De acordo com seus relatórios, conseguira algum progresso com o orbe, mas estacara em determinada fase do projeto. Estávamos prestes a abandonar a pesquisa, quando você pareceu, Harry.

"Você compreende que sua história muda tudo? — indagou ele, erguendo-se da cadeira, entusiasmado. — Sua presença nesta sala é a prova para a ciência de que não somente viagens universos paralelos são possíveis como magia existe!"

Ele deu a volta na mesa e caminhou até Harry, parando ao seu lado.

— Podemos nos ajudar, Harry — disse Ryder, com convicção.

— Ajudar?

— Sim. Com a sua colaboração podemos retomar o projeto e descobrir no que falhamos. Quando corrigirmos o erro, podemos mandá-lo de volta para seu mundo. Teremos a chance de dar um salto na ciência e você de retornar ao seu lar.

Harry ficou olhando para o rosto de Thomas Ryder. Quando falou, sua voz era fria:

— O que você quer?

— Desculpe? — disse o Primeiro-Ministro, franzindo a testa, mas Harry sabia bem que ele entendera o sentido da pergunta.

Ainda assim a repetiu, desta vez claramente:

— Quis dizer, o que você quer realmente? Porque seu interesse em outros mundos? O que pretende ganhar com isso tudo?

— O que irei ganhar? Pensei que já havia explicado: Quero ser o maior lembrado como o maior Primeiro-Ministro que já existiu. Serei um visionário! Em meu governo o conhecimento sobre o universo será levado a outro patamar.

— E o que mais?

A pergunta fez Thomas Ryder rir. Sua risada foi jovial, muito diferente da risada sem alegria de Voldemort, como se de fato estivesse achando graça. Harry, contudo, sabia que estava entrando num terreno perigoso.

— E você acha que este feito é pouco, Harry? — perguntou Ryder, ainda sorrindo.

— Acho que não é motivo suficiente de feito. É óbvio para mim que quer mais alguma coisa. O que vai fazer se conseguir abrir um portal para outra terra?

— Mandá-lo de volta seria a primeira providência.

— Você não está nem aí se vou voltar ou não para casa! Qual o motivo real para isso tudo? Pretende fugir para uma realidade menos destruída? Pedirá ajuda para ganhar sua guerra? Ou vai simplesmente tentar tomar o que precisa para vencer?

Harry estava arfante quando terminou.

Podia ter passado dos limites nas perguntas, mas aquelas possibilidades enchiam-no de revolta. Ele continuou fitando Ryder, com firmeza e viu que o Primeiro-Ministro já não sorria. Não havia raiva em seu rosto, mas sua expressão era séria e grave.

— Uma guerra é muito dispendiosa — disse Thomas Ryder, em voz baixa e sem emoção — Aviões, navios, tanques, bombas, armas e balas. É preciso metais, do chumbo ao cobre, do fero ao alumínio, pólvora e madeira. Tudo tem um preso. E tudo precisa de matéria prima para ser feito. Até mesmo soldados precisam de comida. Sabe à quantos anos estamos em guerra?

— Há sete anos, ouvi dizer...

— Não, muito mais do que isto — rebateu Ryder. — É a mesma guerra desde do início do século. Ela nunca acaba. Temos pequenas pausas, mas logo o conflito recomeça. É preciso. Não pode terminar.

— O quê? — indagou Harry, em voz baixa, ao ouvir a última frase. — O que quer dizer com não pode terminar?

— Será que tenho de ficar repetindo tudo o que digo? — falou o Primeiro-Ministro agora impaciente, afastando-se de Harry, e caminhando de volta ao seu lugar. — Não me ouviu quando disse que a guerra gera despesas? Nosso mundo tem recursos finitos e as batalhas antigas esvaíram-se com grande parte deles. Já não existem tantas fontes de água pura, nem depósitos de minerais como antes e muito menos meios de garantir o sustento da população.

Ryder parou de pé, do outro lado da mesa. O garoto franziu o cenho, tentando compreender o que ele estava dizendo, mas não fazia sentido algum. Ryder continuou:

— Quando as famílias passam fome ou não tem saneamento básico, elas culpas a guerra. Quando as crianças não recebem educação de qualidade, os pais culpam a guerra. Se não há produtos nos mercados, a fabricas são fechadas e o desemprego aumenta, as pessoas pensaram que é devido à guerra. Se terminarmos com ela, teremos de resolver todos esses problemas. Quando não conseguíssemos, a população acabaria se revoltando.

Os olhos de Harry se arregalaram por detrás das lentes trincadas de seus óculos.

— Está dizendo que vocês estão em guerra — falou ele lentamente — para não ter de lidar a situação real do país?

 — Estamos em guerra porque há anos as nações decidiram que era mais fácil brigarem umas com as outras de forma organizada do que lidarem com rebeliões internas. As gerações passadas gastaram tudo o que podiam e agora não sobrou nada para fazermos, além de continuar o que eles começaram.

— Isso é a mais pura loucura! — bradou Harry, horrorizado. — Não é possível!

— Criança, você veio de outro universo e acha que uma coisa dessas não é possível?

— Mas... mas você devia querer acabar com o conflito! Você disse! Disse que queria ser lembrado como o maior Primeiro-Ministro que já existiu, não foi? Como vai conseguir ser lembrado pelo povo se não venceu a guerra?

— E eu serei lembrado — comentou com um sorriso cínico. — O povo pensa em mim como um herói que salvou quatro companheiros e que mantém o pais unido diante do inimigo. Meus sucessores se lembraram de mim como aquele que possibilitou a continuação deste governo por mais cem anos.

Harry tremia dos pés a cabeça.

Sabia que Tom Riddle era um mentiroso assassino, mas aquele Thomas Ryder era um genocida degenerado. Quantas pessoas não haviam perecido durante aquela guerra? Os Parker haviam perdido um filho e Gina perdera uma amiga. Quantas vidas ele não arruinara com aquele egoísmo?

Atrás dele, os oficiais continuavam em silêncio, agora muito mais intenso.

Mesmo que nunca tivessem escutado tais palavras, pois ninguém nunca ousara dizer aquilo em voz alta, eles no fundo sempre souberam daquela realidade.

Alissa Campbell sorriu por dentro, pois achava mesmo Ryder um visionário audacioso, e o admirava por isso. Turner, por sua vez, pouco se lixava para o Primeiro-Ministro e pensava consigo que o mundo era mesmo podre e que ele tinha sorte de estar por cima, ao contrário da população lá fora.

Severo Statham, contudo, achava aquilo uma hipocrisia sem fim. Lembrava-se de como o Primeiro-ministro elogiava seu trabalho por manter a ordem, mas ele mesmo tirava proveito do caos. Será que não se podia confiar em ninguém?

— Então pretende descobrir — ponderou Harry, entre os dentes — como viajar para outros mundo para poder conseguir recursos para continuar sua guerra absurda? É isso?

— Basicamente, se você tiver prestado a atenção na conversa inteira — concluiu Ryder com ironia.

— E ainda acha que vou ajudá-lo depois de tudo o que disse?

O Primeiro-Ministro suspirou. Já não tinha mais aquela fisionomia simpática de quando entrou na sala e quando olhou nos olhos de Harry, o garoto viu a convicção homicida que Voldemort tinha quando sentia raiva.

— Eu lhe dei a chance — falou ele, em voz baixa e contida — de fazer isso por vontade própria, mas você não a aproveitou. Mas você nunca teve muita opção, Harry. Como eu já sabe, a vida de Tiago Parker está nas mãos do Ministério, bem como a sua. Se ambas serão poupadas, depende de você cooperar ou não. Estamos entendidos?

Harry lançou-lhe um olhar de ódio como resposta.

— É um bom menino — disse Ryder, assumindo novamente seu tom carismático. — Oficial Turner leve-o até Baltazar Crowler. Oficial Campbell, acompanhe-os. Oficial Statham, você fica. Quero conversar com você.

O garoto sentiu Turner agarrar seu braço com um aperto de aço e levantá-lo da cadeira com um puxão. Viu Alissa Campbell fechar o livro sobre a mesa e colocá-lo debaixo do braço para, em seguida, apanhar a caixa com a Pedra Elisiana.

Harry foi arrastado para a saída, mas olhou por cima do ombro antes de alcançar a porta. Severo Statham o observava se afastar com uma expressão indefinível, mas o garoto não se importou com ele. Fitou Thomas Ryder, que ainda sorria.

O Primeiro-Ministro ergueu a mão, em sinal de despedida e disse em voz meramente educada:

— Adeus, Harry Potter!


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Notas finais do capítulo

E este foi o capítulo!
"Oh, Lily! Que motivo torpe você deu para a guerra!"
Acredite jovens, guerras sempre tem motivos idiotas, sejam eles por ganância ou poder, mas no fim são sempre estúpidos pois não trazem nada de bom.
Aguardo vocês nos próximos capítulos.
Tchau!



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