Perdido em outro mundo escrita por Lilian T


Capítulo 11
Sobre livros e magia


Notas iniciais do capítulo

Oi jovens!
Leram o último capítulo e querem saber como o Prof. Dumberton descobriu que Harry Potter é um bruxo? Então é só ler o texto aí embaixo.
Boa leitura.



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Multiverso é um termo para descrever um hipotético grupo de universos possíveis. A realidade em que vivemos pode ser apenas mais uma entre um infinito de variações.

Existem um número imensurável de versões de nós mesmos, algumas fazendo exatamente a mesma coisa que fazemos agora. Outras, vivem vidas completamente diferentes.

O que alguém pode encontrar quando atravessa a barreira entre os universos?

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Alfonso Dumberton encarou Harry Potter por um longo momento.

— Harry, você é um bruxo?

O queixo do garoto caiu.

— Por que está me perguntando isso?

— Um palpite — disse o professor e acrescentou: — Diga-me, você é mesmo um bruxo?

Ronald não conseguiu refrear o muxoxo de descrença. Aquilo parecia ser demais para ele.

— Desculpe, professor — falou o ruivo, com a voz mais áspera do que pretendia —, mas o senhor não pode estar falando sério. Primeiro essa conversa de multiverso, ou sei lá como se chama, e agora bruxaria?

Harry olhou para Eveline e a Sra. Wallace. Ambas permaneceram quietas, mas era evidente que concordavam com Ronald — talvez fosse a primeira vez que Graham fazia tal coisa.

Dumberton, entretanto, ignorou-os completamente. Olhava fixo para o garoto, aguardando a resposta.

— Então? — insistiu.

— Eu sou — afirmou Harry. — Sou um bruxo.

— Ah, tenha dó! — exclamou Ronald, jogando os braços para cima e largando-se na cadeira com uma careta de incredulidade.

— Como o senhor percebeu? — perguntou o garoto à Dumberton, desconsiderando os olhares de desaprovação dos outros três.

— Que tipo de escola teria uma sala secreta guardando um artefato mágico perdido à séculos? E que tipo de diretor teria um livro de ocultismo na estante e daria esclarecimentos sobre magia para qualquer aluno que simplesmente perguntasse?

— Isto não é o suficiente para desconfiar que sou um bruxo.

— Não. Mas a naturalidade com que está tratando do assunto é o suficiente para mim. Você parece familiarizado com este tipo de situação.

Harry encolheu os ombros.

— Posso dizer que já vi muitas coisas estranhas — ele concordou. — Mas nada desse tipo.

— E suponho que as versões de todos nós nesta sala também sejam bruxos em seu mundo, não?

— Sim, são sim — afirmou o garoto, ainda surpreso.

Ronald abriu a boca para dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra saiu.

— Bom, se for mesmo um bruxo — continuou o Prof. Dumberton — você está com sorte.

— Como assim?

— Harry, se há alguém neste mundo capaz de fazer a Pedra Elisiana funcionar, este alguém é você.

— Ótimo! — exclamou o garoto, satisfeito. Contudo, seu sorriso logo escorreu pelo rosto e ele olhou para Dumberton desanimado. — Mas espere um minuto, eu não posso. Magia não funciona aqui, eu já tentei...

Rony deu uma risadinha de deboche.

— Ah, muito conveniente — disse ele à Eveline, alto o suficiente para que Harry escutasse.

Pela primeira vez, o garoto desviou sua atenção de Dumberton e encarou o ruivo.

— O que foi? É verdade — comentou Ronald, sem voltar atrás — Não acha no mínimo engraçado que você não seja capaz de provar nada do que disse até agora?

— Não, eu não acho nada engraçado — rebateu Harry.

— Pois eu sim! É engraçado porque é ridículo! Magia... hum, sei... — Ronald deu um sorrisinho forçado. — Daqui a pouco vai dizer que tem uma varinha mágica...

Harry meteu a mão no bolso interno do casaco e sacou sua varinha de azevinho. Ele a segurou bem no meio da madeira com a ponta dos dedos e a balançou insinuosamente para que Ronald a visse. O ruivo abriu a boca em um breve "O" apalermado, mas logo seus olhos se estreitaram cheios de desconfiança.

Eveline também fitava o objeto, espantada.

— Isto não prova nada — ponderou a garota. — Pode ser muito bem um simples pedaço de madeira entalhada. Qualquer um pode pegar um graveto e dizer que é uma varinha mágica.

Aquela observação, porém, não afetou em nada a opinião de Alfonso Dumberton. Ele estendeu a mão e Harry entregou-lhe sua varinha para que examinasse de perto.

O professor girou-a entre os dedos, tocou a madeira e avaliou-a da ponta até a empunhadura, tal qual o Sr. Olivaras fez durante a pesagem das varinhas durante o Torneio Tribruxo, há dois anos.

— Definitivamente parece um pedaço de madeira comum — comentou. — Mas imagino que haja alguma coisa por dentro, estou certo?

— Está — disse Harry, pegando a varinha, ainda mais surpreso. — A varinha tem um núcleo.

— Como o senhor pode levar a sério toda essa história, Prof. Dumberton? — interrompeu Eveline. — Pensei que o senhor fosse um cientista.

O professor mirou-a com seus olhos azuis cintilantes.

— Minha cara — disse ele e sua voz era paciente, como a de um professor que explicava a um dos alunos porque o seu é azul —, já passei por muitas coisas extraordinárias durante todo minha vida. Presenciei acontecimentos que acreditava serem impossíveis e fiz descobertas que a maioria das pessoas sequer poderiam imaginar um dia.

"Há anos, passei a crer na possibilidade de existirem outros universos, muito além desse em que vivemos. E se é possível haver um número infinito de cenários alternativos para nossa realidade, porque não existiria um em que um ser humano fosse capaz de usar magia?"

Eveline ficou em silêncio. Dumberton olhou então para Harry.

— Não acho que alguém neste mundo possa empunhar uma varinha, recitar um encantamento e esperar que uma pedra se transforme em um coelho ou mesmo que faça um objeto voar pelos ares com um feitiço. Contudo, acredito que isso possa ser completamente concebível em qualquer outro universo.

— Entendo — disse Harry lentamente. — E por que o senhor disse que eu seria capaz de fazer a Pedra Elisiana funcionar?

— Porque se você veio de um universo onde se pode executar magia então é plausível que você possa controlar os poderes da esfera neste mundo melhor do que qualquer outra pessoa daqui.

— Mas eu não consigo fazer magia!

— Só porque não consegue não significa que seja impossível.

— Eu não compreendo... — Harry estava confuso.

Dumberton fechou os olhos e ficou quieto. O garoto achou que a conversa devia tê-lo cansado e a Sra. Wallace parecia compartilhar daquela opinião, pois fez menção de se aproximar e, provavelmente, empurrar os adolescentes para fora do escritório. Mas no momento em que ela se mexeu, o professor reabriu os olhos e quando falou sua voz parecia mais firme.

— Creio que você não consiga realizar magia porque a física de nossos universos tem uma sutil diferença.

— Diferença?

— Sim, mas nada que possa alterar a mecânica de nossos mundos — explicou Dumberton — Acredito que mesmo a magia tenha uma explicação lógica para seu funcionamento. Veja bem, matéria não pode ser criada nem destruída, apenas transformada. Creio que os bruxos de seu mundo sejam apenas pessoas capazes de controlar as moléculas ao seu redor de modo que reajustá-las conforme desejarem, o que possibilita que transformem objetos em outros e que conduzam diferentes tipos de energia...

"É bem provável, no entanto, que em nosso mundo as ligações entre as moléculas sejam mais estáveis no que no seu mundo, o que impede que você as manipule. Ou seja, você não consegue fazer magia porque os mecanismos que ocasionam são mais difíceis de se dominar neste universo."

— Mas se assim — disse Harry, que entendera mais ou menos o que o professor revelara — a Pedra Elisiana também não é afetada?

— Penso que não — observou o professor. — Calculo que a Pedra Elisiana tenha sido criada para suportar tais variações. Acredito que ela possa agir como um agente catalisador para sua magia, possibilitando que você possa realizar um feitiço para mandá-lo de volta para sua escola.

— Um feitiço?

— Ah, sim. O livro descreve uma espécie de ritual para fazer a Pedra Elisiana transportar o usuário.

— Mas eu não fiz ritual nenhum para vir parar aqui.

Dumberton coçou o queixo pensativo.

— Bem, alguém em algum lugar fez — observou ele, pensativo. — Você deve ter segurado a esfera justamente na hora que alguém estava fazendo o feitiço. Como você é capaz de usar magia e vive numa realidade que a suporta, a reação foi imediata. É provável então que as pedras estejam interligadas de alguma forma.

— Então, não foi transportado só por que a toquei a esfera?

— Possivelmente não.

Harry olhou pela janela a neve branca que caia e comprimiu os lábios com desgosto. Algum idiota em algum lugar do multiverso tinha metido-o naquela enrascada. Era muito azar! Ele se virou para o professor:

— Posso dar uma olhada em seu livro, por favor?

— À vontade.

Harry caminhou até o livro, onde via-se a ilustração da Pedra Elisiana, tal qual vira no escritório do diretor. Todavia, assim como no livro de Dumbledore, a página ao lado estava escrita em runas. Ele virou a pagina e depois outra e percebeu que o livro inteiro estava escrito daquela forma. Um receio desesperador tomou conta dele de repente.

— O senhor teria uma tradução?

— Você não sabe ler as runas, não é? — indagou a Sra. Wallace.

O garoto balançou a cabeça negativamente.

— Bem, infelizmente, nós também não.

Harry ergueu os olhos arregalados para ela. Dumberton confirmou.

— É verdade. Não sei traduzir este tipo de escrita.

— Mas o feitiço está mesmo descrito no livro? — indagou Eveline, que escutava tudo em silêncio até ali. — Como o senhor descobriu sobre o ritual se não sabe decifrar as runas?

— Por que a pessoa que sabe traduzi-as me contou — o professor esclareceu. — De fato, foi ele quem me deu o livro para que guardasse.

— Um livro ilegal — comentou a garota. — Que eu saiba livros de ocultismo bem como os religiosos fazem parte da lista que deve ser entregue ao Ministério para destruição. É literatura proibida pela Secretaria de Comunicação e Cultura, passível de cadeia, não é?

— Exatamente — respondeu a Sra. Wallace. — Por isso o escondemos. É um absurdo que uma raridade como essa fosse entregue para destruição. Faz ideia de quantos séculos este livro tem?

— Meu colega era um historiador e especialista em dialetos antigos — disse Dumberton. — Ele descobriu o livro e começou a traduzi-lo. Me falou da Pedra Elisiana devido ao meu estudo sobre a existência de múltiplos universos. Quando o Ministério ordenou a entrega dos livros, no entanto, ele abandonou o estudo, mas não teve coragem de destruí-lo, então, pediu que eu o guardasse.

— O senhor acha que seu colega ainda tem os registros?

— Creio que as chances são mínimas.

— Mesmo que tenha cedido o livro ao Prof. Dumberton — disse a Sra. Wallace —, Eugênio Spriggs jamais se arriscaria a ser preso.

— Spriggs? — repetiu Harry.

— Ele também se aposentou e mora atualmente em Sheffield — contou a Sra. Wallace.

— Acha que ele poderia me ajudar com a tradução se eu o procurasse?

— Seria impossível, sem o livro.

— Deixe que ele o leve — falou Dumberton.

— Mas professor...

— De que ele nos serve, se tem de permanecer trancado debaixo do assoalho? — argumentou ele. — Deixe que seja útil para o rapaz.

Matilda Wallace não discutiu. Fechou o livro e entregou-o à Harry.

— Leve-o se precisa — ela disse — Mas aconselho-o a guardá-lo bem, pois pode se meter em grandes problemas se descobrirem que tem posse dele. Se isto acontecer, você deve esquecer que um dia esteve aqui.

— Entendo perfeitamente.

— Para alguém que admitiu ter documentos falsos — comentou ela. — Carregar um livro ilegal não deve ser nada de mais.

Harry não pode deixar de sorrir, mesmo que não fosse um caso para isso.

— Obrigado — disse, pegando o livro e colocando-o debaixo do braço.

— Se encontrar Eugênio, diga-lhe que mandei lembranças — disse Dumberton, estendendo-lhe a mão, a qual Harry apertou. — Sinto que está é toda a ajuda que posso lhe dar.

— Ela foi muito útil. Foi bem mais do que esperava.

— Creio que não tornaremos a nos ver. Desejo-lhe sorte para encontrar seu caminho.

— Obrigado! Foi um prazer conhecer o senhor — falou Harry e acrescentou: — Sabe, no meu mundo o seu outro você é um grande bruxo, o maior que existe...

Dumberton sorriu.

— Nossos universos são parecidos. Esse foi um grande elogio. Adeus, Harry Potter.

— Adeus, professor.

Dumberton olhou para os outros dois garotos de pé ali perto.

— Foi um prazer conhecê-los, Srta. Graham e Sr. Winston — disse ele. — Espero não tê-los frustrado demasiadamente.

— Fico feliz por tê-lo conhecido, professor — falou Eveline em tom educado. — Espero que fique bem. Adeus.

— Adeus — disse Ronald secamente.

Dumberton sorriu enquanto eles seguiam a Sra. Wallace até a saída. Eles acertaram as mãos quando chegaram a porta e se despediram sem grandes comoções. Quando saíram para o ar frio da tarde, a Sra. Wallace advertiu-os:

— Se algo acontecer, vocês nunca estiveram aqui. Boa sorte aos três.

E com um último olhar preocupado, deu-lhes as costas e fechou a porta.


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Notas finais do capítulo

Queridos, o capítulo chegou ao fim.
Peço desculpas aos amantes de física se a minha explicação sobre o motivo de Harry não poder usar magia foi totalmente infundada. Quando eu pensei na fanfic este foi o argumento que veio à mente na hora, mas conforme escrevia fiquei pensando se era possível. Quer dizer, se como a física poderia ser diferente sem alterar o espaço que conhecemos?
Sei lá, não sou física! kkk Sou formada mesmo é na faculdade DC Comics/Marvel, com pós graduação em ficção científica em geral.
Bye!



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