Não conseguia mais segurar minhas tosses, elas vinham quando eu estava muito preocupada, e era mais ou menos sempre quando Henry fazia alguma besteira comigo... será que estou doente por causa dele? Ah não! Bom, espero que não seja mesmo, caso contrario eu não vou morrer feliz.

 A batalha estava bem acirrada e pela primeira vez pude ver Henry tão serio e tão concentrado no que fazia, é até bonito ver ele com essa cara de bravo, mas o que mais me incomoda é: por quem ele está lutando? Ele sinceramente não pode se esquecer que tudo o que aconteceu entre a gente vai ficar no passado e pronto, e Katherine está mesmo bem animada com ele ali, lutando por ela, pelo menos é o que parece.

 Vendo que os dois estavam concentrados demais em machucar um ao outro, fui me arrastando até o outro lado e ficando bem próxima as meninas, olhei para elas achando que elas iriam me perceber, mas não, as duas estavam ocupadas demais em torcer por Henry. Perai, isso aqui é uma luta de vida ou morte ou é uma lutinha qualquer? Que isso gente! É impressionante como só eu levo as coisas aqui a serio...

- Hey! – falei baixinho – Katherine!

Os meus sussurros pareciam não fazer efeito em toda a excitação que Katherine estava tendo com aquela briga, e olha que a situação ta tão bizzara que daqui a pouco ela vai pular da grade e ficar torcendo com uma mega bandeira escrito “Henry eu te amo!”. Então, vamos apelar para Carly.

- Carly! Hey! Carly! – falei de uma vez, um pouco mais alto

E nada. Será que eu morri enquanto tossia e não percebi? Aquela situação começou a me subir o sangue e acabei perdendo o controle.

- O que vocês são? Retardadas? Estou aqui a meia hora chamando vocês e nada! Mais que droga!

 Só que tem um único problema...essa não é a hora de perder a paciência.

Tampei a boca, me levantando e olhando para Black Bart e Henry, que tinham parado de lutar só para ver o porque eu tinha gritado, mas Black Bart foi mais rápido e esperto, vendo que Henry ainda estava distraído e foi com a espada para acertá-lo em cheio.

- Henry seu idiota! Cuidado!

 Pelo menos ele me escutou e conseguiu se virar antes que pegasse em cheio nele, mas mesmo assim Black Bart conseguiu fazer um pequeno corte na lateral na barriga dele, o que o fez perder os movimentos um pouco e cair no chão, mas antes que Black Bart voltasse a atacar Henry rolou para o lado fazendo um corte e tanto na perna do nosso querido pirata que usa um tapa olho graças a mim, e por alguma razão eles pararam e ficaram encarando um ao outro. Vai começar as falas heróicas e ameaças.

- O que foi? Machuquei muito você Black Bart? – Henry disse irônico, dando ênfase ao nome dele

- Ah? Acho que você está querendo dar uma de herói, mas eu não vou deixar, você não vai sári vivo daqui meu companheiro... – Black Bart comentou com sua voz assustadora (mew, ele virou o lulaa *-* ; comentário besta da autora)

O que eu disse?  

Eles ficaram ali por um bom tempo insultando um ao outro, foi daí que veio a oportunidade de pegar as meninas e destrancá-las.

- Bebe, ajude Henry, ele esta precisando de uma mão amiga agora... – Katherine disse preocupada

- Em primeiro lugar vocês estão bem? – perguntei eufórica

- Nós estamos, mas e você? – Carly veio com uma voz mansa e com cara de “culpada!”

- Ótima... mas não posso ajudar o Henry neste momento, essa batalha é dele meninas, mas fiquem quietinhas, estou com um pequeno probleminha para pensar...

 E sim, estou com esse probleminha já que elas quase me deixaram surda nos minutos passados quando fui tentar libertá-las. Mas a situação não está nada boa Black Bart esta ganhando de Henry, apesar de eu estar surpresa com a força que ele tem mesmo sendo medroso, numa questão de vida ou morte até ele muda não é? Bom, o caso é que Henry acabou de levar uma espadada no braço... perai, eu disse espadada no braço?

 Ao ver Henry caindo no chão com as mãos no braço e com aquela expressão de dor intensa eu não consegui me segurar, foi quase que involuntário da minha parte, meus pés se moveram sozinhos e quando dei por mim já estava nas costas de Black Bart, agarrada a ele, com minhas mãos em seus olhos tapando sua visão.

- Mary, pare com isso! – Henry gritou em tom de autoridade – Você está interferindo!

- Cala essa maldita boca e acerta ele enquanto você tem chance seu idiota! Quem disse que isso tem regra? É agora ou você morre...- após ponderar um pouco continuei - ...e eu também! Então vai logo!

Sou muito jovem para morrer por causa de um idiota. Então a minha idéia não tinha sido das melhores, era mais fácil ter deixando ele mo--... não, eu fiz o certo. Henry ficou parado no chão, me olhando emburrado.

- O que está esperando? – gritei desesperada – Ele vai se soltar!

- Sai de cima de mim menina! – Black Bart gritava enquanto colocava as mãos nos meus cabelos os puxando com força

- Não vou, saia daí Mary... eu sou seu capitão, estou mandando solta-lo...

- Eu não vou a lu...

Quando ia rebater senti uma dor terrível no estomago. Black Bart tinha me acertado com o cabo da espada, nesse momento tudo ficou turvo e a dor só fazia ficar cada vez mais difícil de respirar.

- ...gar nenhum...

Fui a ultima coisa que consegui dizer antes de cair mole no chão e não ver mais nada.

 Quando acordei estávamos no barco e eu estava deitada na minha cama. Parece tudo tão normal e...quieto. Olhei para o lado e Katherine com uma toalhinha molhada na mão, se virando e colocando na minha testa.

- O que aconteceu? – perguntei meio desorientada

- Acordou bebe? – ela perguntou em tom doce – Black Bart te acertou em cheio no estomago...

- Não, não é isso que eu quero saber, e sim o que aconteceu depois...

- Ah... digamos que foi muito difícil sair de lá, principalmente com Henry te carregando, mas conseguimos deixar Black Bart ocupado enquanto escapávamos...

- O que isso significa?

- Que... olha, eu não vou mentir, nem preciso... – Katherine falou toda atordoada - ... Henry entrou em um estado de fúria enorme ao ver você caindo no chão, eu nunca o vi assim, serio, concentrado e com vontade de matar alguém, Mary, ele se importa muito com você, a ponto de quase matar o pior inimigo dele...

- Que isso... – falei meio envergonhada, tentando disfarçar - ...ele estava lá por você Katherine não por mim...

- Para com isso Mary... – Carly falou, entrando no quarto - ...ele podia muito bem estar lá por nós, mas só conseguiu derrotá-lo quando você se machucou, não acha isso preocupação demais?

 Senti aquele frio e uma angustia tomar conta de mim, como se eu fosse virar do avesso. Eu sabia que eu jamais faria as melhores escolhas, mas eu não posso continuar mentido descaradamente para Katherine, eu preciso cumprir com a minha palavra e mostrar o quanto eu não me importo com Henry e o quanto ele é... apaixonado por ela.

- Ele me tem como uma irmã, é isso Katherine, não tenha medo... – falei calma, tentando abraçá-la

- Tem razão não é? Ele me ama, vocês sabem disso e confirmam não é? – ela disse animada

- Sim...

 A voz de Henry fez meu rosto se virar involuntariamente e encarar aquela expressão de dor e angustia dele, e mais uma vez senti aquela onde de tosse invadir meu peito, mas não dei espaço para isso, no momento eu não posso fraquejar. Mas Henry fez diferente dessa vez, ele se aproximou de Katherine, a beijando ternamente, o que me fez virar o rosto imediatamente, com um pouco de raiva e Carly percebeu isso, ela entendeu tudo desde o inicio e mesmo gostando de mim tenho certeza de que ela faria tudo por Katherine, até iria como prisioneira no lugar dela.

 Depois de uma leve “pegação” entre os dois, Henry falou que eu precisava descansar e saiu com as duas, uma em cada braço, ele esta um pouco diferente, está meio distante, como no inicio quando o conheci e apenas me olhou com malicia quando saiu do quarto, me deixando mais uma vez sozinha. Não consigo entender o que está acontecendo, digo, ele nunca foi assim comigo, ele era pelo menos um pouco bobo e diferente, nessas horas em que estou mal ele sempre vinha aqui brincar comigo, tentar me fazer melhorar e... porque estou chorando? As meninas estão bem certo? Estou de volta ao barco e esta todo mundo bem, então não preciso me preocupar.

- É incrível como você só se mete em problemas quando quer fazer tudo sozinha, não é Mary? – Mercedes perguntou calma, entrando no quarto – O que aconteceu?

- Eu... – falei baixinho, tentando para de chorar - ...não sei o que está acontecendo comigo Mercedes... eu me odeio...

- Por amar ele? – ela perguntou, enquanto se sentava ao meu lado

Levantei a olhando assustada.

- Como...

- Eu sei? – ela riu um pouco e logo começou a explicar – Mary, eu cuido do Henry desde quando ele era um menininho, e sei muito bem as expressões dele, é fácil, para alguém que convive com ele a tempos, entender o que se passa na mente dele... ele esta apaixonado por você, e isso você já sabe, Mary... vocês se amam...

 Virei meu rosto para o lado, essa afirmação é uma sentença de morte para mim. Quando voltei a encará-la, seus olhos estavam cheios de lagrimas e não pude controlar as minhas ao ver que talvez compartilhássemos da mesma dor.

- O que exatamente aconteceu com você Mercedes? – perguntei um pouco curiosa, e ao mesmo tempo preocupada

- Mary, tem uma historia que você não sabe e acho que está na hora de entender...

- O que? Sobre o passado dele? Não obrigada, saber sobre ele jamais me confortaria em um momento como esse...

- Tem a ver com o porque ele matou seu pai...

- O que? – disse surpresa – O que o meu pai tem a ver com isso?

- Está interessada agora? – Mercedes disse sarcasticamente, passando a mão no meu rosto

- Ele não sabia da sua existência Mary, ele foi atrás do seu pai por vingança...

- Perai, vocês manteram tudo isso em segredo desde o inicio?

Quando ela ia responder a porta se abriu e Henry apareceu, completamente eufórico e assustado. Estava obvio que ele estava escutando atrás da porta e que ele não queria que Mercedes contasse o grande segredo dele.

- Mercedes, para com isso... – ele continuou se aproximando - ...ela não precisa saber disso...

- Ela não precisa mesmo, ela deve Henry... – ela disse em tom serio

- Não Mercedes... – ele tentou, mas ela continuou

- Mary, o Henry matou o seu pai porque o seu pai... causou a morte do dele a alguns anos atrás...

- O..-que? –

 Nesse momento meus olhos se arregalaram e meu coração disparou. Meu pai conhecia o pai de Henry quando éramos menores? Que brincadeira ridícula é essa? E porque ninguém me contou isso antes!

 Olhei para Henry que rapidamente virou seu rosto, o que indicou que ele era culpado, na mesma hora me levantei e o segurei pelos ombros e comecei a gritar que nem uma louca.

- Me conta essa historia agora seu demente! Como assim? Eu tenho o direito de saber porque vocês estão falando essas porcarias do meu pai? Ele não mata ninguém! Nunca matou! Agora que eu estava conseguindo entender e aceitar a morte deles vocês vem com essa? Não, parem de mentir! Se querem que eu vá embora falem, mas por favor, me digam que isso não é verdade... – enquanto isso eu ia deslizando lentamente para o chão, chorando - ...por favor...

- Não... Mary – Henry falou friamente -...não é mentira, o seu pai é um assassino sem coração... e estou começando a pensar que você é igualzinha a ele

Aquelas palavras me acertaram em cheio, foram como facas cortando cada pedacinho vital e por ultimo o coração a onde meus sentimentos estavam armazenados. Olhei para cima novamente e ele estava lá com aquele olhar impiedoso, me acusando com aqueles perfeitos olhos azuis.

- É culpa sua o que esta acontecendo no meu barco, ou pensa que tudo o que tinha dito pra você era verdade? – ele comentou irônico – Mary, você pensa que não ingênua mais é...

A esse ponto Mercedes já não estava mais lá, tinha saído, parecia que ela não estava agüentando tudo o que estava acontecendo tanto quanto eu.

- Você fala muita besteira Henry, saia daqui... – falei magoada, me levantando e o empurrando

 Mas ele foi mais rápido e mais forte, me empurrando na cama, alias, me tacando lá como se eu não fosse ninguém, a situação está tão estranha que nem mais reconheço ele. Onde o Henry verdadeiro foi parar?

- ...Mary, eu só falei tudo isso, agi dessa forma para te mostrar o quanto eu ainda poderia destruir a família Boonie, sabe, seria muito ruim só matar todo mundo, e quando descobri que ele tinha uma filha, nossa, o que seria mais divertido? Matá-la ou roubar seu coração e depois fazer em pedacinhos? Bom, acho que você descobriu qual é o meu preferido...a questão é... – ele continuou irônico perto de mim - ...você não significa nada, nunca significou e no final só consegui te provar o quanto você é fraca e que eu pude roubar o seu coração...

Minhas mãos praticamente voaram no rosto dele, dando um tapa tão forte que Henry chegou a quase cair no chão. E então ele se levantou, com os olhos baixos e uma expressão um pouco triste, enquanto ia saindo do quarto.

- Você... não vale nada assim como todo o resto da sua família... então, me odeie o tanto que eu te odeio, por favor...

Foi a ultima frase dele, que saiu com a voz do antigo Henry. Isso... não está acontecendo, está?