Capuz Vermelho - 2ª Temporada escrita por L R Rodrigues


Capítulo 5
Arena dos Furiosos (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 2x04.

A prioridade é não se sentir insignificante do que parece ser invencível.

Apenas aqueles que possuem um ínfimo caráter não reconhecem suas maiores fraquezas.



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— Há exatamente 200 mil anos, a Ordem dos Magos do Tempo fora fundada, com o único propósito de reunir o máximo de conhecimento possível sobre tudo aquilo que parece inalcançável para a humanidade. Tudo começou quando Cronos, o deus responsável pelo equilíbrio do espaço-tempo, surgira de repente para um grupo de homens inteligentes, que almejavam nada mais do que o poder absoluto. Os conceitos daqueles homens mudaram quando Cronos disseminou entre eles sua sabedoria, e, por conta disso, a fraternidade subsistiu por um longo tempo. - contava Charlie, seguro de si mesmo.

— Há mais magos do tempo atualmente? - perguntou Adam, cocando o queixo, curioso.

Charlie ficara em silêncio, fitando a mesa com um olhar tristonho. Lembrara-se da tragédia que tirou a vida de seu pai e as de seus companheiros. Coagiu-se para ser forte e relatar aquilo sem aparentar estar tenso.

— Bem... Na verdade, eu sou o único remanescente da última geração. - revelou. - Nós obtivemos um inimigo que estávamos sempre à mercê. Alexia, o que vou revelar agora é algo que nunca lhe disse antes. - encarou-a com certo ar de preocupação.

—  Está bem, Charlie. - disse ela, fazendo que sim com a cabeça. - Sei que se sente atormentado, tem todo o direito de manifestar sua dor.

O jovem respirou fundo e encorajou-se a falar.

— O primeiro dos quinze massacres ocorreu logo na primeira geração. Todos aqueles homens eram pais de família, casados, bem sucedidos, agraciados pelo rei. - fez uma pausa, engolindo a saliva. - Foi então que Cronos lhes informou que deveriam se proteger de qualquer modo, que algo além da capacidade física e mental deles estava os tornando alvos. E assim souberam da existência dos Coletores.

O quarteto ficou apreensivo ao ouvir o nome da entidade. Cada um sabia, até certo ponto, as lendas relacionadas à Cronos, mas suas gargantas secaram ao esperarem algo que jamais lhes foi dito.

— Os Coletores são seres da mais nefasta índole, são ladrões especializados em roubar objetos valiosos. Eles cobiçavam a foice de Cronos. Historicamente, sabe-se que os Coletores possuem um poder de viajar para diversos mundos diferentes, isto ficou provado anos depois. - fizera uma pausa, tomando um gole de água em um copo de vidro posto na mesa. - Além de ladrões profissionais, são assassinos natos. As garras são as maiores armas deles. Como Cronos não permitiu dar a foice, eles ameaçaram seus seguidores de morte. Foram trucidados até os ossos.

Êmina permanecia ávida por explicações.

— Espera aí. Então são deles que você tem se escondido desde o colegial? Como foi que escapou?

— Sim, exatamente. - confirmou ele. - É estranho. Para ser honesto, nem mesmo eu sei como escapei. Talvez eu era muito veloz ou simplesmente passei despercebido, apesar de eu nunca subestimar a precisão dos Coletores em alvejar suas vítimas. Aconteceu há cinco anos. Fiquei meses sem ir ao colégio, passei por inúmeras casas, vários lares me acolheram... vivi como um forasteiro em cidades distantes por mais de dois anos.

— E foi nesta época que você sumiu... e nunca mais o vi. - disse Alexia, recordando as noites em claro que passara procurando por Charlie em qualquer lugar que fosse.

— Quando voltei, fui transferido para a Universidade bem mais cedo do que esperava. - relembrou, mantendo seu olhar fixo em Alexia. - Minha mãe desapareceu, sem deixar rastros, nem mesmo um bilhete. Alexia já não estava mais na cidade. Em resumo, minha vida mudou completamente a partir desse ponto. Passei a viver, na maior parte do tempo, recluso nesta casa, que, para minha satisfação, estava intacta. Fiquei aliviado por minha mãe não ter pensado em vendê-la.

— Se esconde por causa da ameaça deles? - perguntou Lester.

— Sim. Estou sendo perseguido pelos Coletores, e eles não vão descansar até me acharem e cravarem suas garras na minha carne. Eles possuem memória fotográfica, logicamente sabem todos os traços de meu rosto, além de poderem assumir qualquer forma, sobretudo a humana. Desde o dia que voltei, me habituei a se disfarçar. Todos aqui da vizinhança pensam que sou um idoso bastante solitário.

Todos os quatro se entreolharam intrigados. Alexia voltou seu olhar para uma caixa que, desde o início da conversa, chamara sua atenção. Era de papelão, de tamanho médio, posta em um canto da sala próximo às janelas retangulares. Nela continham roupas de pessoas idosas, máscaras, pele falsa, óculos, perucas e bigodes brancos.

— Charlie - dizia Alexia. - Não acha perigoso o fato de nós termos entrado aqui, sendo que somos jovens e as pessoas verem você como um velho? Alguém pode ter visto e pode desconfiar...

— Está tudo bem. - garantiu ele, interrompendo-a. - No instante em que entraram, eu verifiquei as proximidades. Ninguém que parecesse suspeito. Estamos seguros aqui, de fato.

Adam se empolgara com a grandiosidade da missão que estavam prestes a tentarem cumprir.

— E também não iremos sair para, por exemplo, comprar comida. - comentou o caçador. - Charlie, apenas quero saber se há alguma chance de encontrarmos esse Coletores.

Charlie adquirira um semblante sério, como se sentisse responsável pelas vidas que estavam diante dele.

— Adam... Eu gostaria muito de dizer que a possibilidade é remota. Mas comigo ligado à vocês, não é o caso, infelizmente.

— Acha que se caso nos depararmos com um deles, vão presumir que fomos enviados por um mago do tempo?  - perguntou Êmina, arranhando levemente a mesa com suas unhas, em aflição.

— Eu não duvidaria dessa hipótese. Por isso devem estar sempre alertas.

Lester se animara de repente.

— Muito bem... Que horas a gente começa? - perguntou, arregaçando as mangas.

— Lester. - disse Êmina, meio aborrecida. - Não vamos deixar sua pressa estragar o plano. Precisamos ser pacientes. Charlie ainda irá nos mostrar como ele faz para ter acesso a outros mundos.

— O que foi? Só porque meu espírito aventureiro aflorou dentro de mim, você tá com inveja porque está calma ao invés de preparada. - disse, com um sorriso irônico.

— Não é nada disso. Você está muito imaturo hoje, sabia!?

— E você parece estar quietinha demais para aceitar o fato de que chegamos a um outro nível. - retrucou ele, a voz séria.

— Espero que com "quietinha" não esteja querendo dizer que estou com medo. - semi-cerrou os olhos, mas fulminando-o com o olhar discretamente. Suas tranças laterais pareceram duas serpentes aos olhos do rapaz.

Lester cruzou os braços e assentiu positivamente com a cabeça. Estava já estressado, embora não aparentasse.

— É. Pode-se dizer que foi eufemismo. - replicou ele.

— Olha, quer saber de um co...

— Já chega, vocês dois! - esbravejou Adam, batendo sua pesada mão na mesa. - É um trabalho em equipe, pessoal. Lutarmos entre si só vai nos fazer perder tempo e confiança em nós mesmos.

— Adam está certo. - concordou Charlie. - Precisam ficar calmos, cada um que está aqui tem consciência de que é útil e não superiores um ao outro. Irei preparar o material.

— Ótimo. - disse Adam, recobrando a calma. - Acho que vou dormir um pouco.

Alexia já se aproximara da porta.

— Bem, eu vou ler um livro lá na sala, talvez eu durma no sofá...

— Não Alexia. - disse Charlie, aproximando-se dela rapidamente. - Há quatro quartos de hóspedes aqui, pode dormir em um deles.

A jovem vidente ficara sem reação ao virar-se. A prestatividade de seu velho amigo lhe parecia um tanto exagerada. Porém, sentiu-se na obrigação de agradece-lo.

— Obrigada... Charlie. - disse, com um sorriso envergonhado. - Você realmente não mudou nada.

O relógio da sala, pendurado na parede próximo às duas janelas, marcava 23:52. Todos foram para seus respectivos quartos, com exceção de Charlie, que decidira ficar por ali trabalhando e mentalizando a maneira como fará seus visitantes lidarem tanto com seus métodos surreais quanto com a gravidade da situação. O jovem sentia-se alarmado. Apenas o ato de mencionar seus ferozes inimigos fazia seu sangue gelar a ponto de não faze-lo enxergar nada além de visões trágicas e demoníacas. Deixou tremer as mãos, enquanto organizava alguns papeis amarelados, com laterais estreitas e de textura incomum. Pôs sobre à mesa um vidrinho de nanquim e pousou um pequeno pincel dentro do recipiente. Suspirou mais vezes objetivando conter sua tensão antes de fazer o trabalho.

Pensava na ideia de que estava pondo pessoas inocentes em um jogo sádico e perigoso, no qual seus algozes sempre estiveram um passo à frente. Tentou admitir a hipótese de não sentir-se culpado, se caso falhasse. "Você é um mago do tempo. Temer o fracasso não é sua missão. Ninguém mais irá morrer diante de você, Charlie. Ninguém.", pensou, dizendo a si mesmo. Fez o pincel dançar livremente pelo papel, acreditando que não estava ali, vivo, em vão. Um símbolo fora desenhando, com uma precisão admirável. Nenhum traço fora do lugar. Desenhara aquilo tantas vezes em suas inúmeras missões pelos vastos mundos e épocas em que passou. Um lampejo de orgulho acalentou sua aflição, logo ao soltar o pincel por um momento. Olhou para o desenho ao segurar o papel com delicadeza. Havia mais folhas espalhadas na mesa, nas quais ainda faria mais símbolos distintos.

Diminuiu a luminosidade da sala, pondo um abajur com luz ainda mais fraca sobre a mesa, e acelerou o ritmo do trabalho.

Apenas molhou a ponta do pincel com o nanquim e deixou a concentração tomar conta de sua mente. O primeiro símbolo desenhado era de tamanha relevância que o fizera reduzir seu temor. Internamente, declarou guerra àqueles que certamente dariam de encontro com seus novos amigos.

                                                                            ***

Estavam agora contemplando uma desértica paisagem, mesmo andando com dificuldade. Intensas rajadas de vento traziam consigo densas ondas de areia e deixavam o rosto de Rosie dormente, embora ela protegesse os olhos com uma mão. O sol escaldante cintilava aquela terra, deixando um ar superaquecido causar um certo desconforto na jovem, de baixo para cima.

À medida que se aproximavam do local, a tempestade de areia tornava-se cada vez mais uma barreira que impedia qualquer andarilho de seguir em frente. Rosie praguejara em voz baixa a cada 2 minutos, tentando, àquele ponto, proteger-se com a capa do capuz.

— Deve ser muito fácil para você, que pode flutuar à vontade e não sentir quase nada, sem nenhuma preocupação! - gritava ela, devido ao forte barulho das rajadas.

— No seu lugar, eu pararia com as reclamações. - disse o Guia, postando-se ao lado dela, flutuando. - Estamos bem próximos.

— Próximos do quê? - perguntou ela, ocultando ainda seu rosto com a capa, mantendo o tom de voz.

O Guia apontou seu finíssimo dedo para a estrutura que crescia cada vez que chegavam perto. No entanto, a jovem não vira nada além de areia ameaçando adentrar em seus olhos. Ignorou a espera por uma resposta... para fazer mais perguntas.

— Onde nós estamos? Por que viemos logo quando uma tempestade dessas acontece?

— Você não viu? Estamos indo em direção à um... - fez uma pausa, deixando-a rapidamente intrigada.

— Aonde? - perguntou ela, desta vez em um tom irritado.

— Você verá. - respondeu ele, friamente, enquanto se mostrava intangível para com as tsunamis de areia.

Rosie, decididamente, preferiu avançar contra a tempestade a lentos passos. Estava aliviada por, ao menos, nenhum cisco ter entrado em um de seus olhos. Minutos a fio passaram-se, percorrendo a longa estrada que levava à uma estrutura colossal. Assemelhava-se ao renomado Coliseu de Roma, diferenciando-se apenas em alguns detalhes. O lugar fora denominado de "A Arena dos Furiosos", sendo o motivo por ele ser construído no meio do deserto completamente misterioso.

A tempestade se amenizara gradativamente quanto mais o "Coliseu" mostrava-se visível. Rosie foi retirando, aos poucos, sua capa de seu rosto. Seus passos tornaram-se mais rápidos, as pegadas que suas botas cor de vinho deixavam iam ficando menos profundas. Deixou a capa voltar ao seu estado normal e encarou, em um misto de temerosidade e espanto, a construção que se erguia diante dela. Nem a luz do sol, tão inquietamente ofuscante, a fez parar de observar o gigante.

— E enfim, chegamos. - disse o Guia, indo na frente.

Rosie o acompanhara, notando sua pressa para entrar de uma vez. As pequenas montanhas de areia ficaram para trás. Lembrou-se das dúvidas que ainda a extenuavam. Tentou alcança-lo.

— Posso saber o porque da pressa? Afinal, por que será que tenho a sensação de que o próximo desafio não será nem um pouco divertido? - perguntou, enquanto seguia pelo caminho que dava na entrada.

— Então significa que gostou da experiência de ter matado um homem? - perguntou o Guia, deixando sua levitação diminuir.

— Aquilo já passou. - disse ela, endurecendo a voz. - E só agora pude perceber... Não era para eu ter recuperado uma peça do talismã? Não é esta a minha missão?

— Mão esquerda. - disse ele, novamente, frio.

A jovem arregalou os olhos ao ver a peça na palma de sua mão. O inevitável teve de ocorrer de novo: Mais dúvidas surgiram.

— M-mas... Como isso aconteceu? Você não tinha mencionado a peça em nenhum instante... Então, de que serviu tudo aquilo? - encarou-o com uma expressão confusa.

— Ouça bem, Rosie: Cada desafio que enfrenta possui um objetivo específico. A vitória lhe concede as peças. Em outras palavras, as peças são recompensas por você ter atingido a meta estipulada pelo desafio para você. - explicou, movendo seu corpo semi-esquelético em direção à entrada.

— Mas eu ainda não sei o que adquiri, o que aprendi com tudo isso. - disse Rosie, insatisfeita. - É tudo tão estranho. Não posso estar assim sem uma razão. Certamente aconteceu alguma coisa... algo que tirou minhas lembranças. - olhou para o Guia, ligeiramente desconfiada.

"Ela já está começando a suspeitar. Se continuar assim, se acabar piorando, eu sofrerei as consequências e serei obrigado a responder dúvidas das quais não sei as respostas. Além disso, mestre Abamanu, talvez, sinta-se obrigado a tirar suas memórias mais recentes e reiniciar os desafios.", pensou o Guia, seriamente preocupado.

— Como eu disse anteriormente: As respostas virão. E sim, você aprendeu bastante sobre si mesma, só ainda não está esclarecido.

Mesmo não sentindo-se convencida, Rosie achou melhor manter-se em silêncio até chegar ao portão que guardava a entrada. As grades tremeram, enquanto o imenso portão se abria subindo. Seguiram por um corredor escuro, mas ao longe podia-se ver uma larga escadaria. Vozes guturais ouviam-se, aumentando cada vez que avançavam. Subiram as escadas pacientemente, enquanto urros de dor e gritos de uma plateia ovacionando o que quer que fosse faziam doer os ouvidos.

Por fim, chegaram ao fim da escadaria, seguindo por uma abertura e, diretamente, adentrando numa arquibancada. Ao chegar a tal ponto, Rosie fora acometida pela luz solar e tratou de proteger seus olhos com uma mão. As arquibancadas possuíam proteções, sendo estas pequenas muretas. A jovem se desconfortara ao vislumbrar cada figura ali presente. Não eram humanos. Monstros de aparência demoníaca e bizarra torciam para os participantes que se esmurravam e se matavam na espaçosa arena. Os urros de torcida eram estridentes o suficiente para fazer Rosie quase cogitar tapar os ouvidos. A cada golpe, a cada resquício de sangue que pudesse ser visto, a plateia vibrava como se não houvesse outro combate a seguir.

Rosie chegara mais perto da mureta e olhou mais acima. Haviam mais aberturas que davam acesso.

— Por que foi tão seletivo quanto às entradas? - perguntou, voltando seu olhar para o Guia.

— Esta é a única em que estamos mais seguros. Um pouco mais abaixo, estão os seres mais instáveis e perversos deste mundo. Não tente olhar para eles, parecem estar concentrados assistindo a luta, mas estão sempre alertas.

— Você também é invisível para eles?

— Sim. Mas posso optar pelo contrário, já que, tendo em vista minha natureza, não me difiro muito deles.

— Você e seus mistérios. - semi-cerrou os olhos. - Não estou nem um pouco curiosa. - ironizou.

A jovem voltara suas atenções para a luta que estava ocorrendo. Um embate tremendamente injusto. De um lado, um gladiador medindo uns 2 metros e meio de altura, vestindo o que parecia ser uma "colcha de retalhos metálica", uma armadura com detalhes confusos. Usava um capacete dourado com chifres em cada lado, deixando expostos apenas seus olhos em duas aberturas - que, no entanto, não facilitavam muito se caso alguém quisesse ver seus olhos, dando a impressão de serem totalmente negros. Manejava um machado, cuja lâmina exibia um sangue impregnado e descascando, deixando à mostra um pouco de ferrugem. Do outro lado, um incauto e inibido guerreiro rendia-se aos impulsivos golpes do oponente. Este vestia uma armadura de prata, surrada e praticamente retorcida. Seu tamanho possuía uma diferença gritante em relação ao opressor.

O gigante o chutava como se o fizesse com uma bola de futebol. O corpo exausto e doído do pobre guerreiro se contorcia a cada golpe. Àquela altura, já nem tinha forças para reerguer sua espada.

— Vamos seu molenga! Reage! Hahahaha! - debochava ele, não cessando os fortes pontapés. - Pensei que baixinhos como você fossem mais rápidos!

O gladiador decadente deixava seu corpo balançar sob o efeito das pancadas. Seu rosto estava quase que inteiramente coberto de sangue, o inchaço em torno dos olhos e da boca eram nítidos para toda a plateia. O chute final fora dado. Bem na cabeça, o fazendo chocar-se contra o chão violentamente. O infame gladiador pisava no corpo do adversário como se estivesse tentando esmagar uma barata.

O público vibrara com o feito. Por outro lado, Rosie assistia à cena com ojeriza e revolta fervendo em seu sangue. Apertou com força a mureta onde estava, quase arrancando pedaços. Embrulhava-lhe o estômago ao ver tanta brutalidade em meio a tanta injustiça.

— Mas que tipo de luta é esta, afinal? - perguntou-se, tendo cautela ao não amplificar seu tom de voz. - Não é justo. Aquele homem tem o dobro do tamanho do outro.

O Guia já previra que ela se manifestasse daquela forma. Novamente, sentiu-se obrigado a explicar.

— Tudo isto é apenas organizado para saciar a vontade por violência que este povo tem. Aqui não existem regras. Matar é a prioridade. Nesse jogo visceral, de combate corpo a corpo e armado, predomina a lei do mais forte sobre o mais fraco. Tal como na sua espécie, Rosie. - explicou.

Rosie virara-se para ele, em mais um lampejo de curiosidade.

— Isso também acontece com os humanos? V-você poderia ter me dito isso na floresta... assim eu estaria mais preparada.

— E qual momento mais apropriado para dizer isto para alguém na sua condição senão este? - perguntou ele, inclinando seu rosto para ela. - Está em uma jornada de aprendizado, Rosie. Tudo lhe ocorrerá no seu devido tempo.

Inconformada, Rosie fechou a cara para o Guia. Voltou seu olhar rebelde para a luta. "Uma boa facada nessa sua cara feia também vai ocorrer no seu devido tempo", pensou, enquanto assistia.

O gigante continuava seu "ritual da vitória", tentando, insanamente, apagar todos os sentidos de seu adversário ao pisar nele, fazendo rachar o frágil solo da arena. O guerreiro gemia de dor, sem mover um músculo sequer de seu corpo, pois já estavam todos dormentes, atrofiados e latejando.

— Eu não consigo. - disse Rosie, cerrando os dentes. - Não suporto pensar em como isso vai acabar. Matam apenas por diversão? Que lugar mais... doentio.

— O que fez com o assassino do baile não foi menos brutal ou doentio que isso. - replicou o Guia, insistindo em uma trama já passada.

— O quê? Ainda com essa história!? - reclamou, virando-se para ele. - Estou tentando esquecer isso, portanto faça o favor de colaborar.

— Me perdoe, mas foi inevitável associar seu ato com o que está diante de nós. - justificou, cabisbaixo.

— Chega, não quero mais falar desse assunto. - e voltou novamente seus olhos para a arena, aborrecida. - Como se não bastasse eu não lembrar de nada do meu passado, agora tenho que aceitar um destino sombrio como uma assassina. Isso nunca.

O gladiador opressor cessara sua tortura. Observou a plateia. Intensa, louca e vibrante. Esperavam que ele fosse dizer algo.

— Ouçam! - sua voz ecoou em toda a arena, amenizando os gritos de torcida. - Eu estou com tanta preguiça... Já venci mais de 50 duelos só hoje... Portanto, eu pergunto à vocês: Como eu mato este miserável? É tão fácil que chega a dar dó!  - apontou para o corpo imóvel abaixo dele.

— Estripa ele inteiro! - disse um.

— Fatia cada pedaço dele com o machado! - bradou outro.

— Dá para sua esposa para ela usar como brinquedinho de gozar! - disse um brutamontes de pele azul e rosto demoníaco, vestindo uma jaqueta preta e com espinhos.

Rosie não escondera seu constrangimento.

— O que aquele homem disse me deu nojo. - fez uma careta, em desaprovação.

— A perversão, a obscenidade e tudo o que concerne coisas similares são bastante apreciadas neste mundo. - revelou o Guia.

— Nem quero tentar imaginar como são as vidas desses bizarros. - comentou ela, rapidamente retornando sua atenção à luta.

Reluzindo à luz flamejante do sol, o machado erguera-se sendo apertado com bastante força pelos volumosos braços do gladiador gigante. Visivelmente rendido, o guerreiro inapto mal se aguentava em pé. Movera apenas poucos músculos de sua face inchada, tentando fazer com que sua voz reproduzisse qualquer som que fosse. Suas últimas palavras? Não naquele dia. Viu a morte certa na lâmina do machado, tão previsível que imagina-la serviria como anestésico e não se surpreendesse com a dor na hora exata. Numa fração de segundo, o gigante levantara com um único pé o corpo do homem. Deixou-o suspenso no ar por alguns segundos, até que, em rápida ação, o partiu pela metade. A pesada lâmina chocou-se contra o chão, em uma vibração arrepiante. As duas metades do corpo do guerreiro caíram por lados diferentes, enquanto uma cortina de sangue, adereçada com pequenos pedaços de entranhas e vísceras, lançou-se no ar, quase ocultando o vencedor do combate.

Rosie entrara em súbito estado de choque. Suas pupilas dilataram-se em horror. A íris azulada de seus olhos parecia mais viva. Mordeu os lábios em apreensão. Não tardou para lembrar dos dois desafios anteriores, que vieram-lhe à mente como filmes executados em velocidade máxima. Se viu abrindo o tórax da quimera na floresta, tirando-lhe o coração. Viu-se também enfiando a adaga no peito do assassino na mansão, sem qualquer escrúpulo. Procurou esvaziar sua mente e acalmar sua tremedeira constante fechando os olhos. Suspirou um ar leve desta vez.

— Você está bem? - perguntou o Guia, a voz cortando o instante meditativo da jovem.

Em um sobressalto, Rosie abrira os olhos e somente vira o gigante na arena, balançando seu machado, esperando o próximo oponente para esmagar.

— O-o que aconteceu? Onde está aquele homem? - procurava-o por todos os arredores da arena.

— Já recolheram o corpo. Você estava muito pensativa... Enfim, é bom que esteja reflexiva.

— O que quer dizer? - perguntou ela, lançando-lhe um olhar intrigado.

— Quem você acha que aquele monstro enorme está esperando?

Repentinamente, um forte bater em seu coração a fez gelar de medo. Virou seu olhar novamente para o palco do combate e fitou por um instante aquela montanha de músculos repugnante. O gladiador pôs o machado sobre seu ombro, apenas para observar a plateia, que não interrompia os gritos de torcida. Já foram 53 naquele único dia. Sua envergadura inabalável denunciava a ausência de cansaço. A crueldade estava estampada em cada extremidade de seu corpo. Rosie virou sua cara depressa para o Guia, preocupando-se.

— Se for o que estou pensando...

O Guia fez que sim com a cabeça, lentamente. Rosie engoliu subitamente sua saliva. Não entendia porque sentira medo naquela situação, sendo que executou duas criaturas a sangue frio. A resposta mais convincente estava na óbvia diferença de tamanhos.

— Rosie... - disse o Guia - Sinto em você um desejo crescente de vingança. Liberte sua revolta, sua raiva. Hora de sabermos como suas habilidades combativas estão.

E, de repente, a voz gutural do gladiador atravessou como uma vibração violenta pelos tímpanos de Rosie.

— Escolham o próximo! Agora!

Havia apenas uma regra naquele torneio rústico e brutal. A plateia tinha total direito de selecionar um próximo adversário dentre eles, se caso um participante obtivesse um número considerável de vitórias. O vencedor deveria apontar para uma parte da arquibancada, na qual estariam os espectadores que decidiriam. O gigante ergueu seu indicador direito e o rodeou à sua volta, apontando para várias direções.

Apontou para a arquibancada onde Rosie se encontrava. A jovem sentiu uma pontada em seu coração ao encarar aquele grosso dedo, como uma lança prestes a ser atirada. Os espectadores mais próximos debatiam entre si sobre quem se mostraria disposto. Segundos depois, as conversas paralelas cessaram.

Em uma decisão rápida, todos se viraram e apontaram seus dedos para Rosie.

                                                                          ***

Apreciando a decoração e deleitando-se no conforto, Hector e Eleonor comemoravam a aliança já dentro do quarto de hotel, imediatamente reservado. Um relógio folheado à ouro, acima da cabeceira da cama, marcava 00:30, cada ponteiro movendo-se mais lentamente que o normal. O local possuía iluminação agradável, através de abajures com luminosidade amarelada e moderada. O caçador, sentado na dianteira da cama, mostrava-se um tanto abatido. Eleonor entendera aquilo como uma rápida mudança de humor. Minutos atrás parecia um desbravador do desconhecido, imbatível e pronto para a guerra.

— Bem, se lhe serve de consolo, eu também... me sinto como você agora, internamente. - disse Eleonor, preparando uma surpresa em uma cômoda.

O caçador virou o rosto, mas sem olhar para ela.

— Não devia esconder seu sentimento de culpa. - aconselhou ele. - Cedo ou tarde ele irá consumi-la de dentro para fora, como está ocorrendo à mim agora.

— Depende de alguns detalhes. - disse ela, deixando à escuta um barulho de líquido derramando.

— Que detalhes? - perguntou Hector, curioso.

— A intensidade da culpa, é o principal deles. Eu, neste exato momento, me culpo por ter abandonado minha mestra, a única pessoa que verdadeiramente tinha algum respeito por mim. O Coven sem ela era como um exército sem seu general. Me envergonho do quão egoísta me tornei. - contou, agora produzindo barulhos de vidro colidindo-se suavemente.

— Você abandonou seu lar por um propósito, por um bem maior. E eu... O que eu fiz? Abandonei meus amigos por deixar um medo corroer minha coragem. - disse Hector, a voz não tão calma quanto antes.

Eleonor surgira atrás dele trazendo nas mãos duas taças com champanhe.

— Talvez isto aqui nos ajude a encarar nossos demônios. - disse, entregando uma taça à Hector.

Surpreso, o caçador não deixou de comentar antes de aceitar.

— Você comprou bebida!? - deu um sorriso leve. - Não creio que tenhamos algo para comemorar.

— Somos parceiros agora, certo? - perguntou, dando a dica para o motivo do brinde. - Portanto, enquanto esteve na recepção, pensei nesta pequena festa entre nós dois. Agora tome. Não aceito "não" como resposta.

Hector, sem escolha, teve de aceitar. Empolgou-se ao ver o tom dourado do líquido espumante.

— À nossa aliança. - disse Eleonor, propondo o brinde.

— À nossa aliança. - repetiu Hector, levantando-se.

As duas taças chocaram-se em um brinde. Simultaneamente, tomaram o champanhe.

Após um gole, Eleonor tivera uma ideia que talvez amenizasse o fardo de seu companheiro.

— Acho que sei o que deve fazer. Sorte que este hotel disponibiliza telefones nos quartos.

— O que tem em mente? - perguntou ele, enxugando a boca com a mão.

— Simples. - ela andou em direção à uma pequena mesa, próxima ao espelho. - Um telefonema vai acalmar essa sua aflição. - disse, puxando o fone e o entregando para Hector.

— Eleonor, por favor. Será inútil se já tiverem saído da cabana de onde estavam.

— Como presume algo assim? Não seja tão pessimista. Não custa nada tentar saber. - disse ela, insistindo em lhe entregar o fone.

Novamente sem escolha, Hector rendeu-se à ideia. Deixou a taça na pequena mesa de madeira e pegou o fone. Discara apressado o número de telefone da cabana.

Não demorou para a grave voz de Rufus atende-lo.

— Alô?

— Rufus? É você mesmo?

— Hector! Eu é quem pergunto: É você mesmo? - sua surpresa era nítida pelo tom. - Eu, Alexia, Adam, Êmina e Lester estávamos todos preocupados com você.

— Eu imagino. - disse ele, a voz tensa ao ouvir aqueles nomes. - Apenas liguei para... para saber se eles estão aí.

— Infelizmente não. - respondeu, desta vez, de modo frio.

Na cabana, Rufus estava ao telefone, deitado na cama já de pijama. Seu tom de voz grosso permanecia mesmo após um cochilo. Decidira dormir no quarto onde ficava Alexia.

— Rufus, seja mais específico. - exigiu Hector. - Onde eles estão?

— Seja específico você primeiro, rapaz. - parecera um pouco bravo. - Coisas ruins acontecem e você simplesmente some. Seus amigos estavam aqui, aflitos, achando que alguma coisa terrível aconteceu á você também.

— Eu não tive escolha. - tentou justificar. - Eu não me vi em condições de priorizar dois casos diferentes. E quando digo isso, refiro-me ao verdadeiro mal que está aqui neste mundo.

— Se refere aos tais dos Red Wolfs?

— Sim, exatamente. Eu imaginei que a Legião iria cuidar do caso de Rosie. Eu poderia lhe contar tudo o que houve dentro daquele templo... você seria uma espécie de confidente meu. Mas no momento eu não posso falar sobre isso. - entristeceu o olhar, lembrando-se de Rosie.

— E onde você está?

— Em um quarto de hotel. Arranjei um novo parceiro. Ele é um caçador vindo de uma região distante, já havia trabalhado com ele antes. Iremos pegar os Red Wolfs juntos. - mentiu, deixando Eleonor um tanto aborrecida ao seu lado.

— Ah sim. Contanto, que esteja vivo, já ficarei aliviado.

— Ahn... Não respondeu minha pergunta anterior: Onde eles estão?

— Ah sim sim! - recobrou a atenção, após quase cochilar novamente. - Eles foram até a casa de um antigo amigo de Alexia, eles vão ficar lá por uns dias. Eu não sei bem o que ele é ou que ele faz... mas ouvi dizerem que é a única esperança de salvarem Rosie. Se você quiser, eu posso te passar o número do telefone da casa. Alexia o manteve guardado desde os tempos do colégio. - e deu uma pequena risada. - Acredita? Isso que é amizade. Não sei se estão acordados à essa hora, mas tente ligar mesmo assim. - e tirou a gaveta da mesa de cabeceira um papel amassado com o número escrito.

Hector ouvira atentamente cada número proferido por Rufus, assimilando ao mesmo tempo.

— Anotou? - perguntou o homem.

— Sim, já. Eu memorizei. - disse o caçador, firme.

— Memorizou foi? - perguntou, meio surpreso, franzindo as sobrancelhas. - Bem... Então, está certo. Boa sorte, Hector. Não é fácil ser um morador solitário.

— Consigo imaginar. - disse, pensando em como o robusto homem está sentindo a falta de Alexia. - Obrigado, Rufus. Até mais.

— Até mais. E, por favor, tente não morrer. Espero que quando for reencontra-los os faça entender.

Hector sentiu sua garganta secar ao ouvir aquela última frase. Um vazio em sua mente ocupou trazendo de volta à tona a culpa. Ambos despediram-se de novo e, por fim, desligaram. Deparou-se com a face incomodada de Eleonor.

— Caçador não é? O seu parceiro é um caçador. - cruzou os braços.

— Perdão, claro. Eu tive que mentir. O que ele iria pensar se caso eu dissesse que estava na companhia de uma bruxa?

— Poderia ter dito uma amiga que reencontrou ou até mesmo uma caçadora. - disse, aproximando dele.

— Hum, então sente desejo de se tornar uma caçadora? Interessante. - o jovem vira vantagem naquele aparente desejo reprimido de Eleonor.

— Não é bem assim, querido. Valorizo minha magia e não a trocaria por estacas de prata e balestras tão facilmente.

— Ótimo, agora que já explicou, vou ligar para a casa onde eles estão. - disse, pegando o fone novamente.

Sua discagem fora mais rápida do que anteriormente. Mais uma vez não vira uma falha em sua memória eidética.

Uma voz feminina atendera.

— Alô?

— É você Alexia?

— Não posso acreditar. Hector!? - dera um sorriso largo. - O-onde você está? Por que só agora está ligando?

Alexia estava sentada no sofá da sala de estar, apreciando uma aprazível leitura. Largou seu livro no móvel apenas para viver a felicidade que era ouvir a voz de Hector novamente.

— É uma história bem longa. Acho que é necessário que alguém em especial repasse para você e para os outros. Estou em um quarto de hotel.

— E quem é, afinal?

— Adam. Ele lidera a Legião atualmente, então tem o direito de saber primeiro. Será que você pode chama-lo para mim?

Sabendo que informações cruciais seriam fornecidas, Alexia não perdera tempo nem discutira sobre o pedido de Hector. Dirigiu-se ao quarto onde o caçador estava, correndo depressa. Do outro lado da linha, Hector segurava o fone com a mão demasiadamente suada, denunciando seu nervosismo ascendente.

— Não posso acreditar! É ele mesmo? - espantou-se Adam, arregalando os olhos.

Alguns minutos depois, Hector finalmente pudera ouvir a voz de seu estimado companheiro de caçada. Eleonor o observava com ar levemente aflito, mantendo os braços cruzados, temendo que ele não se portasse de maneira segura diante do problema que o afetava.

Enfim, Adam atendera.

— Hector!? Como descobriu o número daqui?

— Err... Adam, olá. - cumprimentou-o, timidamente. - Rufus me deu o número. Eu não tenho muito tempo, eu só liguei para lhes alertar.

— Hector, por favor, você tem que me responder: Onde esteve durante todo esse tempo? Ficamos preocupados.

— Sim, eu sei, mas eu tive minhas razões. Enfim, serei direto: Não foi Loub quem comandou o ataque à Londres. - revelou, em uma tentativa de driblar qualquer pergunta que fosse feita relacionada ao que ocorreu no templo dos Red Wolfs.

— Mas o quê? - franziu o cenho. -  Bem, obviamente ele estava preso. Eu tive uma teoria: Ele fez um aviso prévio à seu exército para que conseguisse sua liberdade, explicando o ataque à delegacia.

— Mas é aí que você se engana. - contrariou, retomando o tom firme. - Loub, àquela altura, já perdera o controle de seu exército. Não era nada além de uma vítima fácil. Portanto, a invasão à Londres e à delegacia foram comandadas por algo ainda mais perigoso.

Adam sentou-se no banquinho de madeira próximo do sofá, atordoado com a revelação. Alexia escutara tudo atrás da parede do corredor. A luz alaranjada do abajur cintilando sua expressão ansiosa e estática.

— Hector, isto está me assustando, confesso. O que você descobriu?

— Eu sei que estão focados em salvar Rosie. Temos dois graves problemas. E um deles se chama Mollock. Ainda se lembra do caso da mansão de Ethan Nevill, certo? - perguntou, remoendo a investigação feita na residência do ex-Red Wolf.

Não demorou para Adam ligar as coisas enquanto fizera um silêncio preocupante para Hector.

— Não pode ser... Então há um monstro à solta por aí que tomou o exército de Loub, é isso? - veias saltaram na sua testa em desespero.

— Exato. - disse, em tom seco. - Além disso, no meu último encontro com Loub, ele havia me contado que sua primeira cobaia se fundiu à criatura, originando, assim, Mollock. No ataque à delegacia, inúmeros policiais fora mortos, mas prisioneiros foram libertados por ele. Também, na manhã de hoje, ele tomou o Museu de História de Londres.

O braço forte da Legião tombara em ansiedade.

— E-eu não posso acreditar... Então, ele é a razão por você ainda não ter vindo até nós? Deseja acabar com ele?

— Sim. Se Loub foi levado por ele, irei entrar escondido lá... e vou ter minha vingança. Mesmo que isso custe minha própria vida no final. - disse, com uma convicção aterradora. - Mas antes disso, tenho que arrancar informações do filho de Ethan Nevill.

— É... parece que nós estamos jogando um jogo perigoso... de novo. - sorriu, desconcertado. - Vou ser sincero com você, Hector: Tenho a leve impressão de que o desaparecimento de Rosie e esse tal Mollock tem um ligação direta.

— Por que diz isso? Aliás, você sabe o que realmente aconteceu com Rosie? - empolgou-se Hector, num lampejo de esperança.

Eleonor, um tanto tensa, teve de intervir na conversa.

— Ahn... Hector... - pôs a mão em seu ombro. - O hotel, infelizmente, não permite ligações muito longas, ainda mais á essa hora. Acho que deve deixar os detalhes para quando se reencontrarem.

Hector lançou um olhar desconfiado para ela. Justo naquele instante, a chance de saber o que acontecera à sua grande parceira e protegida. Viu uma brecha para se encorajar e desabafar algo para Adam.

— Hector? Ainda está aí?

— Err... Adam, me desculpe, mas preciso desligar. Estou em um quarto de hotel e não permitem ligações longas. Eu acredito em você e em todos os outros. Salvem Rosie, onde quer que ela esteja. Eu falhei em protege-la. Portanto, eu não sou digno para a tarefa que estão designados.

— Bom... está bem. - concordou, intrigado. - Eu ainda quero te ver vivo, amigo. Ouviu bem? Não morra. Me prometa isso.

Hector sentira como se inúmeras mãos quisessem esmagar seu coração. Pensou, naquele exato instante, em revelar toda a verdade de uma vez. Mas não. Dois sentimentos lutavam para conseguir um espaço onde brilhar, como duas feras ensandecidas apostando uma corrida. Coragem e hesitação. A garganta de Hector secara por completo, fazendo restar apenas o cair de uma lágrima nascida de seu olhar entristecido. E desligou o telefone, sem mais uma palavra à seu amigo.

Adam estranhara logo o ato repentino.

— Ué... - disse olhando desconfiado para o fone. - O hotel cortou as linhas telefônicas? - perguntou-se.

Enquanto ele pusera de volta o fone no seu devido lugar, Alexia correra para seu quarto, a fim de não ser vista. A palavra monstro a apavorou. Trancou-se no quarto em que ficaria e encostou-se na porta, arquejando de pânico. Pensou em Rosie, em Rufus... em sua família, que residia na Alemanha, na época já à sombra das primeiras ações do nazismo.

"Controle-se Alexia.", pensava consigo mesma, repetindo. Agachou-se e juntou os joelhos, abraçando-os depois. Fechou os olhos, deixando os ruivos e alaranjados cabelos tomarem conta de sua face ao abaixar a cabeça.

Tamanha tensão só poderia significar uma coisa para ela: O prenúncio de uma nova visão. 

CONTINUA... 
                             


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